Em setembro de 1999, precisamente em 7 de setembro, estava em casa assistindo ao jornal da televisão quando me deparei com uma reportagem sobre uma corrida que estava acontecendo no Ibirapuera, uma corrida de 24 horas. Antes de voltar ao tempo, vou me apresentar - meu nome é Duarte (1º nome) e pr...Continuar leitura
Em setembro de 1999, precisamente em 7 de setembro, estava em casa assistindo ao jornal da televisão quando me deparei com uma reportagem sobre uma corrida que estava acontecendo no Ibirapuera, uma corrida de 24 horas. Antes de voltar ao tempo, vou me apresentar - meu nome é Duarte (1º nome) e pratico corrida há 24 anos, ou seja, o esporte está no sangue. Já participei de muitos eventos, mas um como aquele seria o auge, correr durante 24 horas. Naquele dia, à noite, dirigi-me à pista de atletismo do Ibirapuera e fiquei deslumbrado com aqueles “loucos” correndo e se divertindo, era uma verdadeira festa.
Em 2000, ano do famoso rodízio de água, fiz a minha inscrição e pude me juntar àquele pelotão de malucos. O evento tinha evoluído, agora não era apenas a corrida 24 horas, havia também a opção
48 horas. Como não sou “louco”, fiquei com a 1º alternativa.
Sábado, 10 horas da manhã, começou a minha maratona ou melhor, a ultramaratona. O que estaria à frente me esperando? Qual a sensação de correr tanto? Tanto esforço pra quê?
A corrida aconteceu dentro da Pista de Atletismo do Constâncio Vaz Guimarães e havia regras a serem seguidas. A cada 2 horas o sentido do percurso mudava ou seja, 2 horas corríamos no sentido horário e nas outras 2 horas no anti-horário, assim evitaríamos sobrecarregar os joelhos. Havia uma infra-estrutura montada com direito a massagistas para aliviar as dores nas pernas, plantão médico, uma tenda para descansarmos e um verdadeiro self-service 24 horas à beira da pista com uma vasta opção de massas, purê de batata, frutas, barras de cereais e líquidos. Mesa não tinha, a minha e a de muitos atletas era correr com o prato na mão e uma garfada na boca, só não podia sujar a pista, essa era outra regra.
Depois de 6 horas as dores foram aparecendo e as visitas nas tenda das massagens foram constantes. Estava ali para ver a sensação de correr tanto e era algo diferente. Quando entramos em uma corrida de 10km sabemos que correremos aquela distância e pronto, mas correr durante tanto tempo sem saber qual
a distância era algo inusitado.
Durante o dia havia muitos atletas na pista, uma grande parte correndo bem leve, outros andando, mas nenhum rastejando. Pensei que à noite o pessoal iria descansar e eu poderia ganhar mais quilômetros percorridos, que engano Mesmo com um temporal que desabava em São Paulo aquele local ficou repleto de corredores.
Dei uma telefonada para casa a fim de dar notícias sobre o meu desempenho, ou melhor, dar ares de que ainda estava vivo. Antes não tivesse feito isso, levei uma bronca pela minha “insanidade” de estar ali e outra pelo meu pai que tinha ido fazer uma caminhada noturna na Serra do Mar. Heranças hereditárias
24 horas depois, 91kms completados, medalha no peito, auto-estima lá em cima e dores pelo corpo todo. Descobri que cabelo, sobrancelha e os lóbulos da minha orelha não doem, porque o resto do corpo... meu Deus
Ao chegar em casa estava sozinho... o que fazer? Tomar banho e dormir até o dia seguinte, se as dores deixassem? Ficar na sala até melhorar? Nisso chegou a minha mãe que perguntou como tinha ido e ao mesmo tempo as broncas surgiram. Perguntou-me o que iria almoçar e pedi que fosse algo que não precisasse mastigar.
No dia seguinte recebi um telefonema da Faculdade Paulista de Medicina – Setor de Psiquiatria, para fazer um estudo comigo. Dizem que esse foi o verdadeiro prêmio Não sei por que...Recolher