Sou uma criança dos anos 60 e começo do 70 (dizem os psicólogos que todo adulto é um pouco a criança que foi) Como milhões de brasileirinhas e brasileirinhos, e como bilhões de outras crianças em todo esse mundão, tive uma infância pobre, embora fosse em sociedade com esses mil...Continuar leitura
Sou uma criança dos anos 60 e começo do 70 (dizem os psicólogos que todo adulto é um pouco a criança que foi) Como milhões de brasileirinhas e brasileirinhos, e como bilhões de outras crianças em todo esse mundão, tive uma infância pobre, embora fosse em sociedade com esses milhões e bilhões, dona da rua dos campos e do céu. Do campo sim, pois nele viajava sem sair do lugar, passava hora deitada nos gramados vendo as figuras que as nuvens iam formando no azul profundo do céu de Minas Gerais. Ás vezes a viagem terminava com um acidente de percurso: o susto com um rugido de uma vaca muito próxima ou uma pedra que o estilingue destinara a um passarinho e que atingiu o meu nariz.
Tinha uma enorme agilidade para subir em arvores e tinha também uma boa garganta para com o medo de descer chamar meu pai: não temia as alturas quando olhava de baixo, mas me apavorava a baixura quando eu olhava de cima.
Gostava de brincar com as meninas e os meninos, bambus, latas e roupas velhas, fazíamos casinhas, carrinhos e o melhor, circo quase de verdade, tanto é que cobrávamos ingresso, caixas de fósforos com alguns palitos, velas que ainda poderiam ser acesas, carretéis com um pouco de linha, lixa de unha pouco usada, restos de esmaltes.
Respeitávamos muitos os mais velhos e principalmente os professores, ficávamos em pé quando entrava na sala e só sentávamos quando vinha á ordem:
- Podem sentar
Gostávamos sim de aprender as coisas que, de certa maneira vinha de outro mundo com que interagíamos entusiasmados era o da natureza que, em cidades pequenas, circundavam
nossas casas e até adentrava por ela, pois era comum, galinhas, patos, e outros animais sentirem- se dentro, como se “estivessem em casa”
Ainda na escola participava de todos as festas: danças, desfiles, teatros, parece incrível para as crianças de hoje, mas nosso mundo era tão movimentado que eu rejeitava veementemente qualquer assédio amoroso, com dez anos, na escola ia representar ima dança indígena e quando a professora escolheu para meu par um menino que demonstrava por mim interesses que nascem no coração, chorei tanto que foi me permitindo dançar sozinha. Não tínhamos televisão, games e computadores. Um radinho, sim. Ou seja, não tínhamos imagens, mas vivíamos um mudo real, que transformávamos com plena utilização da imaginação de os sonhos, que nos foram roubados, em grande parte pelas imagens prontas e acabadas da sociedade.Recolher