Correios 350 Anos
Depoimento de Karina Pereira Gonçalves
Entrevistada por Stela Tredice
São Paulo, 18/07/2013.
HVC039_Karina Pereira Gonçalves
Realização Museu da Pessoa.
Transcrito por Iara Gobbo.
MW Transcrições
P/1 – Karina eu queria então que você começasse falando o seu nome completo, onde você nasceu e a data do seu nascimento.
R – O meu nome é Karina Pereira Gonçalves, nasci no Jabaquara aqui em São Paulo, e nasci no dia 20 de janeiro de 1979.
P/1 – E qual é o nome dos seus pais?
R – Zilda Pereira Gonçalves. Só minha mãe.
P/1 – E que que a sua mãe faz ou fazia?
R – Atualmente ela é do lar, mas ela era cozinheira.
P/1 – Tá.
R – Ela era cozinheira.
P/1 – Hoje ela tá aposentada.
R – Não se aposentou ainda, mas se sentindo muito cansada. Trabalhou demais já. A gente falou: “Deixa ela ficar em casa agora um pouco descansando”.
P/1 – Tá. E a sua mãe ela veio da onde? Ela é de São Paulo mesmo?
R – Minha mãe é da Bahia, mãe veio da Bahia pra cá pra São Paulo já há muitos anos. Eu já estou com 34, ela já tá aqui há uns 40 anos.
P/1 – Ela veio como? Você sabe?
R – Não sei. Veio sozinha. Depois que os pais dela, os meus avós se separaram, aí veio ela e minha tia. Isso, veio ela e minha tia Alice pra cá, pra São Paulo.
P/1 – E você conhece os avós? Conheceu?
R – Não, só conheci minha tia Alice, da família da minha mãe, só. Do meu pai ninguém.
P/1 – E a sua mãe assim, tem, tinha o costume de quando você era criança, de contar histórias pra vocês, pra você?
R – História assim como?
P/1 – Ah, histórias infantis.
R – Ela sempre foi muito presente, minha mãe, sempre muito presente. História sempre e Papai Noel, coelhinho da Páscoa.
P/1 – E Karina, você tem irmãos?
R – Tenho, tenho mais quatro irmãos.
P/1 – E como que eles se chamam?
R – O André, o Edilson, o Adriano e a Maísa.
P/1 – Tá. E o que que eles fazem, os seus irmãos?
R – A Maísa é professora, o Adriano é publicitário, o André trabalha nos Correios e o Edilson também, nos correios.
P/1 – Legal. Então você nasceu em São Paulo, né?
R – Isso.
P/1 – E como é que foi? Onde é que você morava na sua infância?
R – No Embu, Embu das Artes. Atualmente estou em Cotia, mas toda a minha infância foi no Embu.
P/1 – E como que era a sua casa? O que que vocês...
R – Ah, era bem humilde. Humilde, mas a gente tinha o principal que era a união, o amor, minha mãe sempre presente, sempre presente, em tudo. Na escola, mesmo assim com pouco tempo que ela tinha pra dedicar, mas o pouco que ela tinha ela conseguia dividir com a gente, dar atenção.
P/1 – E você gostava de brincar na sua infância?
R – Ah, muito. Nossa! Brinquei de boneca até 13 anos (riso). O primeiro beijo foi com 15 anos (riso). Muito, muito, nossa infância foi muito divertida. Muito, apesar de todos os problemas que nós passamos, foi muito. Aproveitei bastante. Todos nós.
P/1 – Você tinha muitos amigos? Como que era?
R – Tinha os amigos da escola, os amigos da rua, na época eram os amigos da rua. Bastante amizade, ainda tenho.
P/1 – E qual que era a brincadeira assim, além de boneca, que mais brincadeira de rua que você gostava?
R – Esconde-esconde, pega-pega, hoje nem tem mais, né. Era mais esconde-esconde, pega-pega, morto-vivo. Ah, eram tantas, nem lembro mais. Mas a maioria é essa, que era brincadeira de rua. Amarelinha, queimada.
P/1 – E vocês gostavam de fazer festinhas assim, como que era?
R – Bom, em casa não tinha, porque a gente também não tinha muitas condições, né? Então não tinha festinhas não. Aniversários minha mãe sempre fez um bolo pra gente, mas só ficava entre a gente mesmo, que era pequenininho, não tinha como chamar ninguém.
P/1 –E você tinha assim algum sonho de quando crescesse, queria ser alguma coisa?
R – Ah tinha, nossa! Nossa, tinha tantos sonhos. Ainda tenho. Eu sempre quis ser professora, né, de educação física, sempre quis, sempre. Quando eu crescer então eu vou trabalhar em escola, dar aula de educação física. Eu quero trabalhar com esporte. A gente vai crescendo, vai mudando tudo, né?
P/1 – Bacana. E me conta da escola, como é que foi? Você se lembra do seu primeiro dia de aula?
R – Olha, o primeiro dia eu não lembro não, mas lembro da minha professora. A primeira professora foi a tia Silvinha. Ah, eu adorava aquela professora. Lembro de uma vez que teve, ela foi ensinar a hora, a gente ver os horários, né, a hora no relógio e eu era a única que já sabia da sala. Eu ficava ah, ela pediu: “Karina ajuda os outros coleguinhas, ajuda o fulano, ajuda a Sabrina, que era a minha melhor amiga da sala. A tia Silvinha nunca vou esquecer. (risos).
P/1 – E como é que vocês iam pra escola? Era pertinho? Vocês iam...
R – Era perto, a gente ia a pé.
P/1 – Tinha uniforme sua escola?
R – Tinha, no começo tinha. Tênis acho que bamba, a meia branca, aquela sainha rodada azul e camiseta branca.
P/1 – E você se lembra desse período escolar assim de alguma memoria, algum fato marcante assim pra você? Boas lembranças, enfim.
R – Ai, agora eu não tô lembrando de nada.
P/1 – E seus irmãos iam pra mesma escola?
R – Os meninos... A Maísa sim, minha irmã, agora o André, o Dico não, Adriano (riso). Adriano, Júnior. Acho que não. Eu e a Maísa numa escola, Maísa e eu, e os meninos foram em outra escola.
P/1 – E você falou então que o seu beijo foi aos 15 anos.
R – (riso) Aos 15 anos o primeiro beijo.
P/1 – E qual foi o seu primeiro namoro?
R – Ah, namoro de criança. Ele ia lá dava um chocolate pra mim (risos). Aí tinha dia que eu queria vê-lo, tinha dia que não queira. Às vezes eu estava lá em casa conversando com minha mãe, com os meus irmãos, ele aparecia eu falava pra ele ir embora. Ah, foi muito engraçado. Ele tinha 16 anos e o primeiro namoro sério, 21. Ah, eu demorei pra tudo. (risos)
P/1 – E você gostava de fazer o que, na sua juventude, assim? De passear, de músicas, como é que era?
R – É, gosto de música, de shopping, sair com as meninas da escola e sair com a minha mãe.
P/1 – Quer dizer, teve um momento que vocês saíram do Embu, vocês se mudaram, não é isso?
R – É nós saímos do Embu e estamos na casa atual agora, que é essa de Cotia, né, essa recente.
P/1 – É mais recente.
R – É recente, mas essa aí tem dez anos. É, foi quando eu entrei na empresa. Foi quando começou a melhorar mais.
P/1 – Foi quando você entrou que...
R – É, foi quando eu entrei na empresa, minha mãe tinha acabado de comprar. Porque eu tinha passado no concurso da Empresa, então ela comprou esse terreno. Eu passei no concurso, ela comprou o terreno.
P/1 – E aí como foi a construção dessa casa?
R – Nós começamos no correio, aí o André e o Júnior entraram junto no concurso. Os dois passaram junto no mesmo mês. Aí começou nós três. Minha irmã também, foi quando ela começou na escola, na primeira escola. Aí juntou toda a família pra poder levantar a casa, construir essa casa.
P/1 – E como é sua casa? Como que é a casa que vocês construíram?
R – Eu gosto, eu gosto que é tranquila, o lugar onde eu gosto, a casa é boa, do jeito que a gente quer. A gente está em acabamento, né, tá acabando ainda, demora. Mas tá do jeito que a gente sempre quis, por enquanto, né, que em breve, em janeiro eu vou embora, agora pra minha casa. Atualmente é casa da minha mãe, não é mais minha, que depois que eu vou pra minha casa quando eu casar, apartamento.
P/1 – Que bom. Me fala um pouquinho então, qual que foi o seu primeiro trabalho mesmo?
R – Primeiro trabalho... Quando eu tinha 15 anos. Eu comecei trabalhar numa empresa de material escolar. Fiquei um ano porque o pai dos meus irmãos não queria mais que eu fosse, que o salário era muito baixo. Ganhava muito pouco, aí ele pediu pra eu sair, eu saí. O segundo foi da loja, fiquei na loja acho que três anos. Aí na loja eu fiquei como... Eu era repositora, aí passei pra chefe de caixa. Aí de chefe de caixa, eu fui pra chefe de caixa também do açougue. Aí quando eu tava no açougue eu prestei o concurso da Empresa, os Correios, que eu tô até hoje.
P/1 – E o que te levou a prestar esse concurso?
R – Eu sempre admirei o serviço do carteiro, sempre admirei o carteiro. (choro) De novo! O uniforme, eu achava bonito o uniforme. Aí comecei a querer ter pouco mais assim, contato. Então eu comecei a ter amizade por correspondência. A rapidez com que chegava as cartas que eu respondia, rapidinho. Às vezes na mesma semana, chegava resposta. Eu olhava no selo, carimbo do correio, falei: “Nossa, essa foi postada ontem, chegou hoje”. E admirando falei: “Vou prestar o concurso do Correio”. Aí prestei, fui trabalhar na Empresa.
P/1 – E como foi essa troca de cartas? Você trocava com quem?
R – É, atualmente agora é Facebook, né? Era Orkut, agora é Facebook, mas eu comprei uma revista, tinha aqueles recadinhos, as pessoas procurando novas amizades, aí eu comecei. Escrevia, as pessoas respondiam, indicavam meu nome pra outras pessoas e vice e versa e aí vai aumentando, vai aumentando o circulo.
P/1 – Você tinha muitos amigos?
R – Ah, tinha. Tinha mais de trezentos. Eram muitas cartas, mais de trezentas. Tinha semana que chegava 30, 40 carta por semana. Eu ficava fim de semana respondendo.
P/1 – E que tipo de troca de histórias que vocês faziam nessas cartas?
R – É experiência, falava muito da cidade: “Ah, como é sua cidade? Os parentes, os familiares, como que era. Mais da cidade mesmo, conhecer um pouquinho de cada um, né? Conhecer melhor a minha família, a família dele, focava mais nisso.
P/1 – E você escrevia as cartas à mão?
R – À mão, escrevia à mão, todas. Desenhava.
P/1 – Então você acha que foi essa troca de cartas que te...
R – É, que também incentivou a prestar o concurso, né? Já admirava assim, o serviço do carteiro. Aí quando comecei a me corresponder assim, a rapidez com que chegava as cartas, só me levou a ter certeza de que eu queria prestar concurso do correio. Aí que tudo mudou, né? (riso)
P/1 – Você teve que estudar muito? Como que foi?
R – Eu estudei. Me esforcei bastante. Eu falei: “Ah, quero que me chamem logo”. Eu sei que é muita gente, muitos concorrentes. Estudei, meus irmãos me ajudaram, o Andre, o Edilson e passei. Pouco tempo. Acho que três meses, quatro meses, me chamaram.
P/1 – Como que você se sentiu quando soube?
R – Ah, nunca esqueço quando a Zilda me ligou. O nome dela é Zilda, nunca esqueço. Ela ligou e falou: “Karina...”. Não, voltando. Eu liguei pra um colega meu que trabalha no correio. Com isso me aproximei de um carteiro que hoje é meu namorado (risos). Eu liguei pra ele e falei pra ele ver se eu tinha passado no concurso ou não. Ele foi ver lá no Diário Oficial. Ele falou: “Karina, você passou”, eu não acreditei. Liguei: ”Mãe, mãe, eu passei, Júnior passei, Dé passei”, todo mundo. Aí passou uns dias, aí ligou a Zilda, pra fazer os exames, os testes, pra dar continuidade no processo, né. Aí passei também. Aí passou uns dias, “Surgiu uma vaga no CD Bonfiglioli. Eu vi que você mora no Embu, só que é um pouco distante, então você pode... Vou desligar telefone, você pensa, vou te retornar amanhã”, aí eu: “Não, não, eu quero”. Ela falou: “Não, amanhã eu retorno”. Aí foi o que aconteceu, no outro dia ela retornou, eu falei: “Eu aceito a vaga”. Eu lembro quando eu cheguei, nossa, gordinha! Ah, eu era bem gordinha. Pesava 83 quilos.
P/1 – Você emagreceu?
R – Emagreci. Entrei no correio, emagreci. Aí entrei, cheguei lá de preto. Nossa, coloquei uma calça social, sapato social e a blusa também social, tudo preto. Aí cheguei, olhei, sentei lá, fiquei. O pessoal começou a se aproximar de mim, eu um pouco assim, acanhada, né? Tudo que é novo a gente fica com medo, mas foi rápido eu me enturmar com todo mundo, me entrosar.
P/1 – Que lindo. Então olha, agora a gente vai deixar esse momento que a gente vai entrar nos Correios, pra gente fazer os três juntos.
R – Ah, tá.
P/1 – Porque até agora foi super legal.
FINAL DA ENTREVISTA
Correios 350 Anos
Depoimentos de Karina Pereira Gonçalves
André Gonçalves de Almeida
Edilson Xavier de Almeida Junior.
Entrevistados por Stela Tredice
São Paulo, 18/07/2013
Realização Museu da Pessoa.
HV039_ Karina Pereira Gonçalves - R/2
HV040_ Andre Gonçalves de Almeida - R/3
HV041_Edilson Xavier de Almeida Junior - R/1
Transcrito por Iara Gobbo.
MW Transcrições
P/1 – Bom, então queria que cada um contasse um pouquinho que faculdade resolveu fazer, e por que você escolheu essa faculdade? Quer começar, Edilson?
R/1 – Então, a minha faculdade foi o seguinte. Eu fiz a inscrição no ProUni, como eu havia dito, e na faculdade mais próxima de casa eu quis me inscrever pra matemática. Aí eu mês inscrevi em outras em matemática e na faculdade mais próxima de casa não tinha. Eu fiz, relacionado ao que eu gosto, eu me inscrevi pra administração. Aí eu fui selecionado nessa bolsa pra administração na faculdade mais próxima da minha casa. Aí eu comecei, gostei né, e pretendo seguir carreira.
P/1 – Legal. E você Karina?
R/2 – Eu sempre gostei de esportes, desde criança e também me inscrevi pro ProUni, ganhei a bolsa de educação física, terminei, tô contente com ela, não quero parar por aí. Só que vou fazer uma segunda faculdade, totalmente diferente da educação física. Eu quero agora assistente social.
P/1 – Você pretende trabalhar com isso?
R/2 – É, eu gosto de trabalhar com pessoas, né? Eu quero assim trabalhar mais próximo, bater um papo, conversar, poder ajudar, ajudar mesmo os problemas de outras pessoas na base da conversa.
P/1 – Legal. E você, André?
R/3 – Então, eu como falei pra você não eu não tinha um sonho específico de alguma coisa quando eu era criança. Então foi difícil pra eu decidir. Eu entrei na faculdade, aí eu desisti. Eu entrei em outra, aí eu como já estava nos Correios decidi fazer logística que é o foco da empresa pra eu poder continuar na empresa. Primeiro tive que fazer na área de edificações, depois área de mecânica, aí depois eu optei pela logística.
P/1 – E você se formou?
R/3 – Hum hum (Sim)
P/1 – E quem foi o primeiro que acabou entrando nos Correios?
R/2 – Eu fui a primeira. Primeira depois eu trouxe os dois. Então como eu tinha dito, eu sempre admirei assim os Correios, os carteiros principalmente que…
o contato, né, foi com os carteiros. Sempre admirei e tinha amizade também por correspondência e a rapidez com que as cartas chegavam, que via o carimbo no selo. Postava um dia anterior, chegava no dia seguinte. Falei: “Nossa, mas é muito rápido”. Aí conversando com um carteiro aqui, outro carteiro ali, falei: “Ah, vou prestar o concurso. Prestei o concurso, entrei na Empresa, os meninos também gostaram. Eu falava muito bem da empresa, aí os dois vieram junto.
P/1 – Quer dizer, você foi se informar do concurso com os carteiros?
R/2 – Com os carteiros. Perguntei, o carteiro na rua, na época na onde eu trabalhava, perguntei pra ele quando que era o concurso. Ele falou: “Em Abril”. Falei: “Você lembra o dia?”, falou: “Não lembro, acho que é 27 de Abril, mas eu não tenho certeza”. Mas depois falei: ”Isso aí já é de menos, né?”. E onde eu morava também, que eu perguntava para o carteiro que atualmente é meu namorado, ele falou: “Vai abrir, eu sei que vai abrir, mas acho que no mês que vem”. Aí já fiquei atenta, procurei em revista de concursos, para ver a data certinha, fiz e passei.
P/1 – E como é que a irmã convenceu vocês?
R/3 – Muito fácil. Não, não é que convenceu. Ela ficava falando e a gente resolveu também entrar, né A gente estudou na mesma unidade que a gente entrou também.
R/2 – Ah é.
R/3 – O CDD era pequeno. Na mesma unidade.
P/1 – Vocês três?
R/3 – Não, eu e ele. O dela era próximo, mas a gente estava na mesma unidade quando a gente entrou no correio.
P/1 – Vocês começaram juntos?
R/1
– Juntos.
R/3 – Começamos juntos.
P/1 – E hoje?
R/3 – Ah, hoje... Depois eu fui pro CDD de Alphaville. Aí quando eu passei pra essa função…
Agora eu tô no CEE Jardins.
P/1 – E vocês se lembram assim o que vocês aprenderam, a primeira coisa que vocês aprenderam? Como que foi?
R/1
–
Assim, apesar da Karina já ter trabalhado nos Correios, eu ainda não tinha noção que tinha que fazer a separação das correspondências antes de ir pra distribuição. Aí foi primeiro…
R/3 – A maior parte do tempo era separando correspondências. A entrega é só à tarde. A maior parte do tempo a gente ficava separando as correspondências.
R/1
– Aí depois é diferente. Quem tá de fora, a maioria nem imagina isso, acha que você chega e vai pra distribuição.
R/2 – É, não imagina que a gente faz parte de todo o processo, né? Desde o começo que é separar por bairros. Depois cada carteiro vai, arruma seu distrito, pra poder fazer a distribuição. E quando a gente entra acha que vem tudo prontinho. Pegar a bolsa e ir pra rua.
R/1
– Decorar rua, decorar numeração.
R/3 – Decorar nome. Decorava... O distrito que eu fazia geralmente eu várias vezes me mandaram fazer favela. Aí na favela tem muita numeração repetida, então você tem que decorar nome. Eu decorei tanto nome
R/2 – Verdade.
R/3 – Decoro, eu sei o nome de todo mundo por nome assim. Às vezes você não sabe nem quem é a pessoa, mas você sabe o nome de todo mundo da rua, do bairro.
P/1 – E teve alguma dificuldade assim que vocês se depararam nessa função?
R/2 – Eu muito com cachorro. Cachorro assim, nossa, é o que todo mundo fala mesmo. Na hora que o carteiro chega na porta, já vem a cachorrada. A gente chega porque a região deles, eles tomam conta, acho que vêm a gente como inimigo, né? Fui mordida várias vezes. Você também né, Dé?
R/3 – Eu já fui mordido, não várias vezes, umas três vezes, mas eu nunca fico cismado não. Mas é coisa leve. Uma vez mordeu o braço aqui.
R/2 – Mordeu seu braço, Dé?
R/3 – Mordeu. Outra vez pegou aqui o cachorro e outra vez mordeu o calcanhar. Eu nunca fui cismado não, os pequenininhos gosta de ficar. Agora o que pegou meu braço aqui era um grandão. A caixinha do correio da pessoa era dentro assim do portão, eu não percebi que tinha um cachorro deitado ali. Aí enfiei o braço assim, o cachorro puxou. Mas eu estava de blusa nesse dia, estava frio. Sorte que estava frio. Ele pegou mais a blusa, rasgou a blusa e só pegou a pontinha dos dentes no braço.
R/1
– Eu nunca fui mordido. O que eu achei mais complexo foi na caminhada. Apesar que eu jogava futebol, sempre joguei, não senti muito cansaço. O que eu achei estranho era o seguinte: no correio, o carteiro ele carrega a bolsa dele e em locais estratégicos ficam correspondências, porque ele terminou o que tá na bolsa, ele carrega a bolsa de novo. Então quando ele terminava a bolsa, falou: “Acabou agora?”, ele falou: “Não, calma que tem mais aí”. Ele pegava outra.
R/2 – Enchia a bolsa de novo.
R/1
– ”Toma aqui tem mais”, falou: “Aí acabou?“, “Acabou não”. E o carteiro que me ensinou, inclusive tenho uma consideração por ele, ele era um pouco estressado e ele fala engraçado, ele: “Ô primo, não é não, é na mercadoria, volta lá…” (risos) Nossa, mas eu gosto, gosto dele.
R/2 – Eu também.
R/3 - Eu dei sorte. O carteiro que me ensinou, o primeiro, totalmente calmo, sossegado, era paciente, explicava direitinho, o Altenberg ele explicava direitinho, era calmo pra caramba. Ele já me deu essa sorte.
R/2 – Ah, nem eu. Eu também não. Ele fez um mapa pra mim, arrumou a bolsa, o distrito, falou: “Vai pra rua. Qualquer dúvida você liga” (risos) Eu aprendi rapidinho.
P/1 – E assim, como é a relação - vocês já falaram como é a relação com os cachorros. E a relação com os moradores? Com o público, né, não sei como vocês chamam. Ou com os porteiros de prédio? Como que é?
R/1
– A gente estreita a relação com o , a gente chama de cliente. Um cliente tinha residências lá na região onde eu fazia distribuição e tinha uma senhora que todo dia ela vinha com suco de goiaba pra mim, natural, porque lá no quintal – ela era empregada lá na residência, e no quintal tinha um pé de goiaba. Todos os dias ela vinha com um copo de suco de goiaba pra mim, bolo. A gente não podia parar em todos os locais assim, não conseguia fazer a distribuição, mas a relação é muito estreita com o cliente.
R/3 – É, área residencial a gente tem muito contato direto com a pessoa. Eu tenho experiência em aérea residencial, mas eu já entreguei conta lá no Alphaville, entreguei bastante área comercial. É um pouco diferente que sua relação é só com aquela pessoa que tá te atendendo ali e ele tá trabalhando também então não tem, não é tão estreito. Você conversa um pouquinho, tem uma certa intimidade, mas não é como uma área residencial, né, que é outra historia. Teve um distrito que eu fazia, que tinha uma senhora, ela morava sozinha. Isso aí é chato, mas quando eu passava na frente da porta dela, ela vinha assim, aí conversar com você. Você tá com vontade de ir embora, terminar pra ir embora, ela falava uns 20 minutos, mais que a Karina – , ela falava. Ela era gente fina, mas tinha hora que você estava com um pouco de pressa, aí quando ela fazia assim, eu fazia de conta que eu não ouvia às vezes e ia embora. Quando eu estava com tempo eu parava, mas quando eu estava com pressa assim, com alguma coisa pra fazer, aí eu fazia de conta que não estava vendo e ia embora, mas ela era legal.
R/2 – É, tem que selecionar um cliente por dia, porque senão a gente cumprimentar bom dia, boa tarde, mas não dá pra parar que se deixar mesmo, fica meia hora, 40 minutos, uma hora batendo papo. E não dá, não dá tempo, mas o carinho é muito grande. Que nem os meninos falaram, os pedaços de bolo separado, o suco já separado, a fruta. Tinha uma que era sempre. Ah, nunca esqueço, Dona Midores. Sempre
P/1 – E aí vocês param e comem?
R/2 – Era maçã, todo dia. Só que era correria. Ela me via, a maçã já estava lá dentro da caixinha de cartas. Eu abria a caixinha por trás, pegava a maçã, colocava na bolsa e ia. Todo dia estava lá, a maçã separada.
R/1
– Deve ser por isso que a imagem do carteiro é magrinho, né? Tem muito carteiro barrigudinho.
R/3 – Quando eu entrei nos Correios não era assim não. Eu não fiquei assim depois que eu parei de trabalhar na rua, mas trabalhando na rua mesmo fui engordando quando eu estava trabalhando andando. Aí quando eu parei de andar eu até estabilizei mais ou menos no peso. Diferença pouca, mas a época que eu engordei mais quando eu andava todo dia.
P/1 – E quantos quilômetros que vocês andam por dia?
R/3 – É bem variado. Relativo, depende da região.
R/1
– Dez, 15 quilômetros.
R/2 – É, depende do distrito, da região.
R/3 – É, quando eu trabalhava no Rio Pequeno eu andava bem mais, que eu trabalhava, mais ou menos uns cinco ou dez mais ou menos.
R/1
– Uns cinco ou dez.
R/3 – Quando eu fui pro Alphaville, como tem bastante prédio, eu ia em condomínio, aí eu andava bem menos. Tinha distrito que eu fazia três ruas, quatro ruas. Era bem menos. Mas era mais cartas, mas andava bem menos.
R/2 – Em Vargem Grande mesmo são o que? Quinze quilômetros, 13 quilômetros. Por quê? Porque a área é mais rural, né? Que é próximo já do interior. É a última cidade já antes do interior. Então tem muitas chácaras, as casas são muito distantes, os terrenos são grandes. Então você entrega um ponto e anda metros e metros. Entrega outro ponto, então uns 15, 13, 14 quilômetros.
P/1 – E vocês se sentem respeitados como profissionais?
R/2 – Ah, muito.
R/1
–
Sim.
R/3 –
Sim. Respeitados e admirados.
R/1
– Muito admirados. Tá de uniforme, é tratado de outra forma
R/2 – Confiança, abrem a porta, convidam a gente pra entrar. “Não, entra, entra. Senta na sala. Vou pegar alguma coisa.” Então é assim, é confiança mesmo. O respeito é muito grande.
R/1
– Até por que quem faz a distribuição nos Correios é quem leva a imagem nos Correios pros clientes, né? Principalmente a área residencial. Então essas pesquisas de como que se diz? Confiabilidade, nos Correios estão ali praticamente equivalente aos bombeiros.
R/3 – Não só residencial. Você vê empresa. Tem empresa que é aquele esquema de segurança todo. Aí você chega com essa camiseta assim, eles já vão abrindo a porta pra você.
R/2 – Banco.
R/3 – Banco, sem olhar e já chega e já desliga o negocinho, você já entra direto. Não precisa ter aquela burocracia. Você tem aquela confiança, o correio tem aquela confiança. Pros outros tem outro tipo de recepção, pra gente é diferente.
P/1 – E assim, tem alguma história marcante pra vocês que vocês tenham vivido nesse período, engraçada, curiosa, que vocês gostem de contar? Não sei se pode também, mas enfim... Tem, assim?
R/3 – Engraçada tem.
R/2 – Tem várias.
R/3 – Já aconteceu de rasgar minha calça na rua. Às vezes dependendo da calça, tá mais apertada, se dá um passo maiorzinho... Já aconteceu, rasgou minha calça, ter que amarrar a blusa ou colocar a blusa por dentro. Você tem que terminar o serviço.
R/1
– Teve uma senhora, eu lembro até o bairro, no Jardim Brasil, São Paulo. Eu descia do ônibus e em frente o ponto de ônibus tinha um bar. Nesse bar eu deixava algumas correspondências pra não carregar o peso. Aí entrei, inclusive eles nem sabe disso, né, vai descobrir agora. Entrei no bar, estava tirando as correspondências, uma senhorinha chegou por trás de mim e pegou na minha bunda. Aí ela falou assim: “Nossa e tá durinha ainda, porque o nosso carteiro tá ficando velho, já não tá essas coisas”. Falei: “Caramba”. Levei um susto, né? Ah, mas eu já conversava com eles, o pessoal da região mesmo, mas foi engraçado. Eu era um meninão, acho que uns 21 anos.
P/1 – E, eu sempre fico curiosa. Vocês têm dificuldade muitas dezes de ler o endereço pela caligrafia das pessoas. Existe isso? Já teve alguma história?
R/3 – Isso é mais carta, né? Agora tem pouca carta. A maioria é fatura, já vem impressa. As cartas...
R/2 – É, foi substituída pelas redes sociais, né, mas já aconteceu comigo do endereço tá bem... Pelo endereço não consegui identificar, mas pelo nome sim. Às vezes o que eu pego, começo a desenhar em cima da letra do cliente, a gente vê o nome e o sobrenome. E já consegue identificar qual é o endereço, mas aconteceu bastante.
R/3 – Mas mesmo carta impressa vem com vários erros. A gente já vai porque a gente sabe. Tem bastante coisa errada, mesmo impressa, não só escrita à mão.
P/1 – Pra você já teve alguma situação?
R/1
– Tem porque aquela cartinha social tá ficando em desuso, né? Ainda utiliza as regiões mais precárias, mas tá ficando em desuso. E essa questão, pelo nome, você vai pelo nome, sobrenome, e às vezes a pessoa na rua vai tá saindo e indica a casa pra passear, você já sabe quem era e entregava a correspondência na mão.
R/3 – Eu gostava quando encontrava a pessoa na rua quando era carta de viela. Eu já via: ”Ah, você tá aqui?”, não precisava nem entrar, já ia direto, aí já ganhava um tempinho. Aí era bom.
R/2 – E quando vem com endereço, né? Que nem cartas sociais, muitas vezes vem sem endereço, você levava pelo nome.
P/1 – E encomendas, telegramas é usual vocês entregarem também?
R/3 – A gente já trabalhou em CDD, a gente entregava carta registrada assim, entregamos não muito, mais era carta mesmo. Encomenda é uma caixinha pequena, porque o setor de entrega de encomenda é o CEE. Agora eu trabalho em CEE. Lá só vem caixa, né? Você trabalha na entrega só tem caixa assim. Aí é outro tipo de serviço. O cara trabalha no carro, vai com motorista particular, entrega.
R/2 – Na minha unidade tem, tem bastante encomenda. Encomenda e telegrama lá na região de Vargem Grande, até por ser um município distante, então é muita coisa pela internet. Compra muita coisa pela internet. É muita encomenda. Que nem o Dé disse, vai pelo carro, não tem como a gente colocar uma caixa dentro da bolsa, vai pelo carro. Mas com a internet, até a gente achou que a internet ia diminuir até o nosso serviço. Pelo contrário, com a internet aumentou muito porque compra, a gente vai entregar.
R/1
– E nós quando carteiro pedestre, dificilmente leva telegrama ou encomenda. O Andre e a Karina aqui foram carteiro pedestre, dificilmente. Eu fui motociclista também. Eu fui carteiro pedestre, fiz um concurso interno pra motociclista, então entreguei muito telegrama e telegrama é complicado. Pra qualquer região, então. Tinha um plantão telegráfico no domingo, domingo não tem entrega de correspondência, tem só de telegrama. Então ia o motociclista, mesmo sem conhecer a região. Então a gente ia com o Guia na mão lá entregar. Igual motoboy, a mesma coisa.
R/2 – Ah, é verdade. Que o telegrama não foca só naquele bairro. Às vezes tem um telegrama aqui nesse bairro e tem outro telegrama em outro bairro, que ele faz toda a região.
R/1
– Porque telegrama é urgente, né? Geralmente é prazo de quatro horas, então você tem que ser moto. Moto que é mais flexibilidade de transporte.
P/1 – E chegava?
R/2 – Chega!
P/1 – E como é que é na casa assim de vocês, quando vocês chegam todos uniformizados. E a mãe de vocês?
R/2 – Ah, a mãe... (riso) Fala aí da mãe.
R/1
– Agora que eu passei pra gerente, né, fiz o processo seletivo pra gerente. Nossa! Minha mãe praticamente quase chorou no telefone.
R/2 – Foi que ele ligou primeiro pra mãe pra falar.
R/1
– Quando acontece alguma coisa assim, primeiro eu ligo pra minha mãe. Ela tá muito contente. Karina agora também passou pra supervisora.
R/2 – Foi
P/1 – Supervisora do que?
R/2 – Supervisora operacional. De CDD, de distribuição. Passe também no RE pra supervisora. Já era pra ter começado a fazer o curso, já pra assumir uma unidade, mas devido a necessidade da unidade, então jogou meu curso pro dia 29 já pra mim começar a assumir e ficar no lugar do meu irmão, quem sabe a gente trabalha junto e eu viro gerente.
R/1
– Quem sabe?
R/2 – É, já pensou que legal, né? (risos) Então. A minha mãe ficou muito contente, nossa, quando a gente entrou no correio minha mãe que alegria. Que alegria quando a gente chegava com a roupa, né Júnior? Agora mais ainda. Cada vez que passa, dá mais orgulho pra mãe, né Dé?
R/3 – Outra curiosidade que eu encontrei uma vez, eu estava prestando serviço no setor internacional. Então lá vem diversas coisas, a gente vê de tudo. Eu estava passando uma caixa lá no raio X, aí apareceu aquele formato assim diferente, a gente ficou olhando o que que é, aí aquela cabeça aqui embaixo… (risos)
R/2 – Credo André, que vergonha.
R/3 – Não, primeira vez que eu vi eu estranhei, mas depois eu vi passando mais um monte. Vinha bastante dessa coisa aí. O pessoal tá comprando bastante.
P/1 – E compra pela internet.
R/3 –
É, e tá comprando bastante, Tem que vim de outros países, que lá no internacional compra vem é de outros países, vem importado.
R/2 – Mas sabe do que ele tá falando, né?
R/3 – Aí você vê o formato direitinho do objeto.
R/1
– Quer dizer que o correio entrega de tudo, sem exceções.
R/3 – Entrega de tudo.
P/1 – Quer dizer então, quando chega esse tipo de encomenda, passa por um raio X?
R/2 – Essa é a função dele, que ele era pedestre, ele prestou esse recrutamento interno pra essa função, né, Dé?
R/3 – Mas o que tá aqui no país não é passado. Tem aquela porcentagem que é passado, não é tudo. O que é internacional, aí tem que passar tudo. Aí como eu trabalhei um mês no setor internacional, eu passei de tudo. Aí você vê bastante. Agora na minha unidade mesmo, você tem aquela porcentagem que passa. Aí não sai muita coisa diferente não, mas lá... Nesse um mês que eu trabalhei lá, eu vi muito mais coisa que de dois anos que eu trabalho na minha unidade, lá vi bastante coisa.
P/1 – E teve alguma carta assim, social que vocês chamam, alguma carta em especial que tenha emocionado vocês, sei lá, pelo envelope, alguma coisa assim?
R/2 – Já, já teve, vou até mudar um pouquinho. O Papai Noel dos Correios, não sei se a senhora já ouviu falar? Aí tinha uma cartinha, ai cartinha linda, nossa! Teve assim duas, de todas as cartas que é assim, a gente lê, né, tem aquela equipe que, assim, colaboradores, quem quiser ler as cartinhas, a gente identifica, numera as cartinhas, né. Depois vem as pessoas e adota a carta. E tinha uma que tinha a menina pedindo, ai... - essa eu adotei, menina não, menino pedindo: “Papai Noel, onde eu moro a gente não tem dinheiro, a gente não tem condições”, que ele mandou como social. Então eu gostaria muito que o senhor desse pra gente um panetone, porque a gente adora panetone, só que minha mãe não pode comprar. Também ela não pode comprar nas Casas Bahia porque ela tem o nome sujo” (risos). Essa carta aí eu me emocionei muito, nossa. Eu peguei e adotei, até a gente comprou uma cesta, né, pra dar pra essa criança. E teve outro também, o menino falando da avó: “Papai Noel, essa aí é a receita da minha avó. Ela fez exame de vista só que ela não pode comprar o óculos. Será que o senhor pode comprar um óculos pra dar pra ela?” Aí na época a gente também adotou essa cartinha porque ele mandou a cópia da receita. Então assim, tem cartas que emocionam. Tem cartas também que os clientes... é sempre com cliente, que não chegava carta dela, do filho dela. Ela pedia pra ler, não pode, é antiético, mas ela não sabia ler, né, era ignorante mesmo, não tinha estudo nenhum, morava sozinha. Aí toda vez que chegava carta eu abria. Ela abria e eu lia e contestava, ela falava do filho dela que estava na Bahia, que nunca esteve lá. Ela chorava, eu chorava junto.
P/1 – Vocês têm alguma?
R/1
– De Papai Noel também eu adotei uma. A família ficou tão contente porque era uma cartinha e estava pedindo pra três crianças, né, na época eu não podia, não tinha condição de dar pros três, né? Aí eu comprei um jogo pra brincar a família toda. Aí cheguei lá pra entregar, nossa, ficaram tão contente. Inclusive eu fazia entrega na região, nossa, pegaram um respeito por mim ali, em consideração, né? Parecia que eu era da família, depois dessa.
P/1 – Quer dizer, você adotou a cartinha, você entregou o brinquedo pra família?
R/1
– Isso, eu mesmo entreguei pra família.
R/3 – . Eu também já fui entregar um brinquedo na comunidade, né? Aí você vê, tem aquelas cartas que são escolhidas, você já tem o endereço pra entregar, mas quando você chega na rua que a criançada vê aquele monte de brinquedo. Aí você tem aquele endereço certo da carta, aí você fica até meio sem graça porque você já tem aquelas pessoas pra você vai entregar, então não dá pra dar presente pra todo mundo. Aí você vê a criança: Tio, não tem pra mim?”. Aí não tem como. Aí a gente levava uns docinho e dava um docinho pras crianças que não tinha, mas dava dó. Você vê que não tinha condições, que era criança bem pobre, né?
R/2 – É, e pelo que escreve é muito humilde. Pediam meia, roupa, que falam que as meias tão furadas. Pra ir pra escola na aula de educação física, que na hora que tira o sapato as outras crianças tão rindo deles. Pede calcinha. Já li carta também pedindo calcinha, que a dela estava tudo furada. Essa também a gente adotou. A gente não pode adotar todas, né, na verdade tem muita gente que participa, né, que adota.
P/1 – Bom, e hoje, tem alguma pergunta que vocês acham interessante? Alguma coisa que eu não tenha perguntado sobre essa experiência profissional de vocês no correio, que vocês gostariam de...
R/1
– Eu queria só complementar. Que a minha esposa também eu conheci ela também no correio, na unidade que trabalhava, era motociclista e a gente foi na festa de um colega, aí eu fiquei admirado, né, gostei dela. Falei: “Eu vou investir”. Investi e casei, agora tô com uma filhinha. Então o correio também me proporcionou uma família.
P/1 – E o que que a sua esposa faz lá?
R/1
– Carteira feminina.
R/2 – Eu também, né?
R/3 – Você já falou isso.
R/2 – Já, mas vou falar de novo. O Lindomar também, a gente se conheceu. Ele era carteiro da onde eu morava, região do Embu. A gente teve o maior contato nas corridas dos Correios, na Corrida do Carteiro. Aí a gente se aproximou, começou a ficar, começou a namorar. Tá noivo, vamos casar em Janeiro e compramos nosso apartamento juntos. Ai... (risos)
R/3 – Quem sabe também eu caso com alguém dos Correios e nós fica tudo em família?
R/2 – Olha só, hein Dé.
R/3 – Quando eu tiver com uns quarentinha.
R/2 – Ô louco.
R/3 – De preferência. Não pode ainda, né?
P/1 – Tem Corrida dos Carteiros? Vocês participaram?
R/2 – Tem, Corrida e Caminhada do Carteiro. O meu namorado ele é corredor, ele é atleta também. Mas tem, foi lá que a gente teve um maior entrosamento.
P/1 – Você correu junto com ele?
R/2 – Não, eu caminhei. Ele correu, mas tem todo ano. Todo ano tem Corrida dos Carteiros.
P/1 – E você também já, Edilson?
R/1
– Não, eu nunca participei da Corrida ainda não. É mais fácil campeonato de futebol. Também e proporcional, funciona, né? Que nem hoje eu falei, né, eu tô um pouco sedentário. Eu preciso voltar a praticar esporte.
R/3 – Nosso esporte agora é truco, a gente participa do campeonato de truco que é mais fácil.
P/1 – Gente, bom, e hoje em dia, quais são as coisas mais importantes pra vocês, na vida?
R/1
– Bom, pra mim é família. Minha família de um modo geral é minha esposa, meu filho, meus irmãos, meus pais e trabalhar, crescer dentro da empresa e me dedicar também pela empresa.
R/2 – Eu também, minha família em primeiro lugar. Em geral também os meninos, os irmãos, minha mãe, meu namorado, a nova família que eu vou construir, a empresa também, procurar sempre me dar, sempre um pouco mais pela empresa, crescer, assim, porque depois que eu entrei as coisas começaram a fluir mais, tirei habilitação, a primeira, é impossível. Eu terminei a faculdade. A gente comprou o apartamento.
R/1
– Pagar condomínio.
R/2 – É, ficar aguentando agora, né? Eu vou casar com o rapaz dos Correios, então é assim. O importante é a família, continuar na empresa, continuar crescendo na empresa, né Dé?
R/3 – Eu também, minha família, e também viso adquirir mais conhecimentos que a gente tem que tá aprendendo. Meu objetivo é esse. É crescer pessoalmente, profissionalmente, adquirir conhecimento e conviver bem com a família e com os colegas de trabalho e amigos.
R/1
– Casar, né?
R/3 – Não, casar não tenho tanta pressa, mas eu quero também.
R/2 – Que pressa!
P/1 – E o que vocês gostam de fazer sem ser trabalho, na hora de lazer, o que que vocês gostam de fazer?
R/1
– Eu gosto de ficar com a minha família. Churrasco, com meus pais, com a minha mãe. Eles estão separados, na casa da mãe, churrasco na casa do meu pai. Futebol, assistir o Corinthians, foi campeão de novo. É o que eu gosto, né, meu lazer é esse.
R/3 – Eu também, eu gosto de churrasquinho, gosto de ir num samba todo fim de semana, pelo menos uma roda de samba…
R/2 – Tá vendo?
R/3 – Eu gosto do videogame ainda, de ver o Coringão ganhar também e essas coisas. Jogar um baralho.
R/2 – Eu também, com a família, sempre os meninos, a mãe, um churrasquinho, que sempre tem churrasco lá em casa. Gosto de passear, gosto das corridas, de acompanhar o Lindo nas corridas e eu faço a caminhada. Gosto assim de estar numa área verde, onde a gente mora tem muito verde. Eu gosto de tá indo sempre em parque ecológico, gosto bastante. Enfim, gosto também de tá lendo, gosto bastante.
P/1 – E o que que foi pra vocês aqui nessa experiência de gravar a história de vocês, de dar aqui esse depoimento.
R/1
– Acho muito bom, interessante e me sinto valorizado. Tô me sentido valorizado e é um reconhecimento, com certeza. Em fazer parte de um livro, de um, né, um site de um Museu, fazer parte da história do Museu me sinto valorizado com certeza.
R/2 – Eu também.
R/3 – É, porque são poucos, né? A gente foi escolhido no meio de tantos funcionários que tem na empresa, então a gente sente orgulhoso, né?
R/2 – Ah, eu também.
R/3
– Sou meio tímido por causa da câmara, mas me senti orgulhoso.
R/2
– Ah, eu a mesma coisa. Me sinto assim, depois de dez anos que eu tô na empresa. A gente fez parte dessa história. Nós sermos escolhidos assim, sinto uma homenagem, lisonjeada. Tô tão feliz.
P/1 – São méritos, né?
R/1
– Com certeza, não é toa, né?
P/1 – Todo esforço de vocês, né. Então olha gente, foi um grande prazer conversar com vocês. Realmente foi muito legal pra mim também. Se vocês quiserem colocar mais alguma coisa, fiquem à vontade, senão é isso por hoje.