Correios – 350 anos aproximando pessoas
Depoimento de Gustavo Kuerten
Entrevistado por Rosana Miziara
Florianópolis, 25/06/2013
HVC_022_Gustavo Kuerten
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
História de vida
P/1 – Você pode começar falando o seu nome c...Continuar leitura
Correios – 350 anos aproximando pessoas
Depoimento de Gustavo Kuerten
Entrevistado por Rosana Miziara
Florianópolis, 25/06/2013
HVC_022_Gustavo Kuerten
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
História de vida
P/1 – Você pode começar falando o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Nome completo: Gustavo Kuerten. Data de nascimento, 10 de setembro de 1976, aqui mesmo em Florianópolis.
P/1 – E os seus pais, são de Florianópolis?
R – Meus pais são do estado, mas a minha mãe nasceu em Brusque e o meu pai é de Braço do Norte, são cidades, a distância quase equivalente, em torno de cem, 150 quilômetros, uma para o norte, outra para o sul, se encontraram e depois pararam no meio do caminho (risos).
P/1 – Como que é o nome da sua mãe?
R – Minha mãe é Alice Thümmel Kuerten, meu pai é Aldo Amadeu Kuerten, os dois de origens alemãs, com algumas influências polonesas, austríacas.
P/1 – Seus avós paternos são da onde?
R – Ainda nascidos aqui no Brasil, meu avô, eu acho que ele é nascido também em Brusque, mas não tenho certeza, talvez ele seja de São Paulo, a minha avó é nascida em Brusque, na mesma cidade que a minha mãe; e os meus dois avós por parte de pai e mãe são lá de Braço do Norte também, dessa mesma cidade que o meu pai nasceu.
P/1 – O que seus avós paternos faziam?
R – O meu avô paterno era muito envolvido com a política, foi deputado, prefeito, foi presidente da Câmara aqui durante um bom tempo, sempre envolvido com as pessoas, com vínculos de desbravamento e coisas um pouco à frente da sua época e com um alto grau de confiança, uma pessoa que tinha muito entusiasmo e convicção. A minha avó, esposa dele, eu conheci pouco, e também nessa época, acredito, as mulheres também exerciam um papel já mais de mãe de família, tanto é que o meu pai tem oito irmãos, então é uma família grande, só aí já é um belo de uma atividade de criação, todos os filhos e
tal. Eu não tive a oportunidade de conviver com nenhum dos dois, mas sempre bons relatos e alguns entusiasmadores, principalmente por parte do meu avô, assim, que muita gente ainda recorda até hoje.
P/1 – E os seus avós maternos?
R – A minha única, dessa geração a única pessoa viva ainda é minha avó, que a maioria das pessoas conhece também por ter se aproximado dos meus maiores momentos, lá em Roland Garros chegou a entrar na quadra comigo, em Stuttgart, na Alemanha. É uma super entusiasta do tênis, acompanhou toda a minha trajetória, desde pequenininho. Eu digo que ela rejuvenesceu 30, 40 anos na época que eu comecei a ter sucesso nos principais torneios, aquele primeiro Roland Garros, foi algo de muito orgulho, ver um descendente já de duas gerações e poder acompanhá-lo ainda, eu vejo que isso teve uma vibração e uma importância muito forte – até hoje tem – na vida da minha avó. Ela está com 92, está firme, continua dando os meus puxões de orelha, é uma pessoa que nos direcionou muito em termos de disciplina, de empenho, esforço para adquirir resultado, é muito séria, muito dedicada nas coisas que faz, então é o nosso maior exemplo na hierarquia da família. O meu avô por parte de mãe eu cheguei a conhecer também, mas já faleceu. E nós não convivemos muito porque quando eu nasci eles já tinham se separado também, ele estava morando em São Paulo, a gente teve algum convívio com os filhos, irmãos por parte de pai da minha mãe, uma relação boa, mas nunca teve uma proximidade comum, assim, de está frequentemente no entorno do nosso dia a dia. Então hoje, assim, ainda é uma gratificação enorme poder... a minha avó mora aqui muito próximo, no Balneário Camboriú, local onde eu, o Larri tem o centro de treinamento, eu gastei grande parte da minha juventude, e como profissional, naquela cidade. Comprei o meu primeiro apartamento do lado do dela para poder ficar mais tempo em Balneário, não precisar ir e voltar todos os dias, como às vezes acontecia, e poder os outros meninos também ficar comigo, já éramos uns três ou quatro que treinávamos com o Larri. E aqui próximo, a gente se vê constantemente, ainda a pouco teve lá em casa, com o nascimento do meu filho veio visitar. Mas a gente sempre brinca que ela já reclama muito, eu acho que ela sempre foi a autoridade máxima, assim, quanto maior a idade isso se torna mais presente, ela disse que para vir para cá é muito longe, está muito cansada, mas eu brinco que quando é para ir para Paris ou para Alemanha ela já está disposta (risos). É uma pessoa que tem essa fibra assim, fibra da nossa família, representa bastante, eu acho, todo esse desejo da gente de seguir em frente e viver.
P/1 – Guga, como, um vindo do norte, outro do sul, como é que eles se encontraram, o seu pai e a sua mãe, você sabe?
R – O meu pai foi morar lá em Brusque, na época ele se destacava como jogador de basquete, tem essas competições dos jogos abertos que acabam recrutando alguns jogadores.
P/1 – Ele era jogador de basquete?
R – É, ele jogava, naquela época não existia um profissionalismo, então eu diria que o meu pai, em termos comparativos, ele poderia ter sido atualmente um jogador profissional de basquete, mas ele era como segundo ou terceiro nível nas categorias melhores aqui do Brasil, assim, dos jogadores, mas, assim, em termos de estado se destacava muito. Então ele foi contratado para jogar por essa cidade de Brusque e começou a dar aulas de basquete lá. E foi aí que conheceu a minha mãe, que ela frequentava o clube e também jogava vôlei, se eu não me engano, ou teve algumas aulas de basquete com o meu pai e foram se conhecendo por lá, sempre com a custódia da minha avó lá (risos) em cima dos dois. Mas é gostoso escutar essas histórias, que são outros tempos, acho de um romantismo também muito presente e tudo muito próximo, o convívio. É um local, a bem dizer, que ainda estava em expansão, naquela época, então os dois saíram de lá para vir para cá, já morar em Florianópolis.
P/1 – Vieram casados?
R – Agora tu me pegaste, eu acho que eles, deve ter sido aquela pressão, ou casa para ir ou não vai e tal, mas eu não tenho certeza se casaram lá ou aqui, possivelmente devem ter casado lá, lá em Brusque mesmo. Aí vieram para cá, a minha mãe veio fazer faculdade, os estudos, não tinha, as universidades já teriam, eu acho que era exclusivamente para Florianópolis, então esse que foi o principal motivo, acho, da migração deles, que a gente acabou nascendo por aqui.
P/1 – Aí a sua mãe foi fazer faculdade aqui?
R – A mãe fez faculdade aqui como assistente social, o curso, eu acho que ela fez depois, já mais avançados, cursos mais técnicos no Rio de Janeiro, que ela foi para o Rio de Janeiro também. A mãe sempre teve uma vocação de atendimento para as pessoas, eu lembro que ela me contou que já morou no Rio de Janeiro uma época sozinha, em convento, aí atendia as crianças que apareciam lá e ganhava acomodação, um local de hospedagem para
poder estudar e já, consequentemente, se envolvia junto das tarefas e das contribuições necessárias ali para auxiliar as pessoas. Ela adorava ir finais de semana nos locais para cortar as unhas do meu bisavô, então a minha mãe sempre foi, com, acho que uma necessidade ela tem, hoje é muito perceptível, de estar muito em contato com as pessoas e proporcionar um contentamento, uma felicidade, para o ser humano, isso que traz a realização dela. E aí ela teve essas experiências no Rio muito precocemente, depois voltou para cá, continuou dando o desenvolvimento dessa parte de assistência social, foi funcionária, iniciou na companhia telefônica que existia aqui, estatal, que era a Telesc naquela época, depois acabou se aposentando na Telesc depois de muitos anos. E aí entrou no instituto já, consequentemente, também já foi presidente da Fundação Municipal de Educação Especial aqui, não teve muito sucesso, ou não se convenceu com esse engessamento da área política, ela tinha muito ímpeto e vontade de fazer as coisas, e ali estava enquadrada e foi impossibilitada. Então foi uma passagem bem precoce, até antes mesmo de eu me destacar, e até hoje é o nosso coração pulsante da família, ela que tem esse empenho, a força.
P/1 – Isso que eu ia perguntar, quando você era pequeno, aí o seu pai e a sua mãe se casaram, o seu pai continuou jogando basquete? O que ele fazia, dava aula?
R – Pois é, o pai jogava basquete, o pai, ele tinha uma empresa que era, eu percebo que a partir do momento que ele deixou o basquete ele tinha um caráter de empreendedorismo, ele iniciou uma empresa de esquadrias de alumínio, montava boxes e janelas, numa época, isso eu estou falando de 80, por aí, aqui em Florianópolis, era ainda começando, ou talvez uma das primeiras. Porque todo mundo dessa época que eu comento fala: “Pô, meu, teu pai fez lá em casa o muro de ferro, tal”, “Teu pai fez lá em casa o box do banheiro”. E é legal esse retorno porque eu convivi com o meu pai oito anos, mas a sensação que eu tenho, e é plena, é que era uma pessoa muito dada, sociável, sempre de bom astral. A gente brinca, o avô dos filhos do meu irmão até esses dias estava comentando: “Pô, esse Aldo aí não dá porque a comparação com ele é muito forte, em todo lugar que eu vou: ‘Bah, o Aldinho, o Aldinho, que cara fantástico”, tal. O meu tio brinca muito até hoje, que um, meu tio também trabalhou na assembleia, no TCU, teve essa vocação do meu avô, o irmão do meu pai. E é um dos irmãos do meu pai, o tio Silvio, que o meu pai era o caçula, o que mais era ligado com ele e direcionava o meu pai para a vida, que meu pai era mais tranquilão, que nem eu, minha mãe toda certinha, meu pai tranquilo assim. Às vezes observava bem o prazer da vida, assim, de estar bem, como é que eu posso explicar? Às vezes me complico, posso usar a palavra errada, mas era um cara que tinha uma abordagem de vida, acho, muito bonita, assim, muito gostosa. O meu tio, que agora eu acabei me perdendo no assunto ali para trás, que eu ia contar, que essa história é bacana, o meu tio Silvio falava.
P/1 – Esse do TCU?
R – É, o tio falava do pai, ta ta ta, puxa vida, agora me deu um branco total! Esses dias eu ainda levei um troféu de um torneio de tênis que fizeram em homenagem ao meu pai depois que ele faleceu, eu dei de presente para esse meu tio, ele ficou todo empolgado, feliz da vida. Ele disse que, tem uma passagem bacana nesse último momento que eu falei com ele, que é a primeira vez que ele conheceu a minha mãe, que o pai levou a mãe lá no apartamento do tio Sílvio em Balneário Camboriú, essa mesma cidade que a minha avó mora atualmente, para ter o aval do meu tio para ver: “O que é que tu acha da Alice, o que tu acha, Sílvio?”, tal. E meu pai dizem que era namorador, era um cara de serenata, era, aí o tio Sílvio falou: “Ó, Aldo, essa menina não é bonita, é uma pessoa muito social, mas tem uma educação fenomenal, se eu fosse tu eu não deixava escapar”, falou pro me pai: “Tu não pode deixar escapar” e acabou levando a risca, essa dica, e foi o motivo da gente estar aqui hoje.
P/1 – Vocês são em quantos irmãos?
R – Nós somos dois irmãos, mas eu perdi um irmão há cinco atrás já, faleceu o nosso irmão mais novo, que é o Gui, que nasceu deficiente também, ele viveu 28 anos, foi uma experiência marcante para as nossas vidas até hoje, o envolvimento, a relação com ele, forma de aproximação. Ele tinha microcefalia, então a paralisia cerebral que ele desenvolveu limitava a engatinhar basicamente, balbuciava algumas palavras, mas não conseguia completar nenhum tipo de palavra e fazia-se entender pela alma, pelos gestos e ações. E isso eu acho que provocava na gente já uma necessidade de estar sempre próximo, mais atento, juntos entre a família, mas também continuamente nós nos sentimos úteis, que eu vejo que é um dos grandes motivos do ser humano e uma forma de encontrar a felicidade muito simples. Então diversas situações com ele, às vezes ajudar a botar na cama ou dar uma comida, tudo isso fazia a gente se sentir mais forte. Ele tinha uma percepção de vida que esses nossos pequenos atos já era o suficiente para ele está super feliz, confortável, satisfeito com o dia a dia dele e para gente já era um ensinamento contínuo de, acho, percepções, detalhes pequenos da vida, mas com grande importância. Agradecer por alguns privilégios que a gente considera normal, mas não são para todas as pessoas tão evidentes assim, ou até nem todos convivem com essa mesma realidade. Então ele foi um parâmetro, e principalmente quando eu cheguei, depois, lá no auge da minha carreira, para sempre me deixar muito próximo do que a nossa experiência trouxe do que significa a vida. Isso foi fantástico porque hoje terminou minha carreira, tudo já passou, aqueles momentos de correria do circuito, grandes títulos, conquistas, uma atrás da outra, mas a vida também continua, então hoje eu acho que essa adaptação para mim foi mais tranquila, mais serena.
P/1 – Quando que você começou a jogar?
R – Comecei aí já muito cedo, o meu pai era fanático pelo esporte.
P/1 – Por tênis?
R – Por tudo em geral.
P/1 – Por esporte em geral.
R – Em geral, é, meu pai, o principal esporte dele era o basquete, mas aí ele se apaixonou pelo tênis já com uma certa idade, depois dos 35, em torno dos 40 anos, foi algo surpreendente e foi, ele é o grande motivo de eu ter me tornado um jogador. Não existiria uma outra forma porque aí no início da minha carreira, 82, 83, para dizer, não carreira, mas na minha história de fase bebê dentro da quadra de tênis, com cinco, seis anos.
P/1 – Cinco, seis anos, então, você começou?
R – É, eu teria ali, eu, possivelmente, com três anos de idade, estaria arrastando que nem, os filhos do meu irmão, a minha filha, hoje existe umas raquetinha menor, tal, as bolinhas, acho que estão brincando de tênis, mas isso seguramente aconteceu comigo também porque o meu pai ficou um apaixonado pelo tênis, nos incentivou a jogar o tempo inteiro e não tinha muito nexo essa situação.
P/1 – Você, seu irmão também?
R – Meu irmão, que começou praticamente com, nessa mesma faixa etária, com sete, oito, e eu já fui muito precoce, eu iniciei com cinco, seis anos, eu ia ao clube frequentemente, jogava duas, três vezes por semana, isso fez eu desenvolver já uma capacidade bem adiantada do que muitos dos outros garotos que eu conhecia na época. Eu procuro às vezes tentar entender o porquê, desse incentivo do meu pai ao tênis, não tem muito sentido para situação que ele vivia, pô, aqui em Florianópolis, pouquíssimas quadras, a realidade do brasileiro, o envolvimento com outros esportes ele também tinha o basquete. Então eu acho que aí já começa uma série de acontecimentos que houve na minha vida, e necessários para eu depois deslanchar na minha carreira.
P/1 – Quando que você participou da primeira competição?
R – O primeiro torneiro foi ainda com o meu pai vivo, bom, eu diria assim, um torneio já, a gente costumava jogar aqui em Florianópolis, algo, torneiros do clube, tal, mas a primeira experiência num torneio mais marcante, que era uma viagem, um comboio, todo mundo indo junto aqui da cidade, foi lá em São Paulo, mas eu tinha ainda seis para sete anos, super jovem, aquela brincadeira.
P/1 – Como se sentiu indo para São Paulo?
R – É, brincadeira dentro do ônibus, todo mundo, tudo é muito fantástico nessa faixa etária, o meu pai era super homem, o outro menino, que tinha 14 anos, que tinha chance de ganhar um campeonato, era o Federer já, tudo era lindo, maravilhoso, é muito o imaginário com essa idade. Eu ficava observando o meu pai jogando carta no caminho com os amigos ali, é incrível porque é marcante e eu acho que traz uma ilusão, assim, de fantasia muito forte. O pessoal pegava no meu pé porque eu tinha uma estatura já mais avantajada, eles diziam que eu era gato: “Ah, não sei o que”, eu cheguei a chorar um dia inteiro no clube, levava a carteira de identidade para o clube para mostrar: “Não, está aqui, é a minha idade, tal”, aí o meu pai: “Não, eles estão brincando” (risos). E essas coisas que a gente já aprende com uma velocidade diferente quando está envolvido com esporte, com esses ensinamentos de jogar, o meu primeiro jogo, obviamente, eu perdi, tinha seis anos, joguei com um menino que tinha sete, oito anos, perdi, mas foi na negra, aí o pai vibrando ali, o outro pai do menino lá do outro lado. Depois a gente foi jogando até 14, 15 anos, a gente se enfrentava e, pô, mantém a relação com a família até hoje, sabe, jogadores que eu também considero, aí sim, talvez o meu pai tenha encontrado isso, o tênis, um canal de educação muito bom. E eu tive essa experiência, até hoje me ajuda muito, além de abrir toda essa lacuna competitiva, mas também de formar amigo, de conhecer locais, de relacionamento com as pessoas, algo fantástico.
P/1 – E a escola, como é que você lidava com a escola?
R – Aí até os 14 eu diria que eu viajava bastante, mas não tanto para comprometer a escola, conseguia gerenciar bem.
P/1 – Você tem professoras que te marcaram dessa época?
R – Tenho, as minhas lembranças principais são esporte, com meu pai mesmo é incrível, todas as lembranças que eu tenho dele é algum vínculo com o esporte, até bocha, que ele jogava, eu lembro, mas tem um laço esportivo. A escola, em situações, porque era muito raro para mim, depois de um momento, ir à aula, eu era o turista da turma, o último ano que eu completei eu fui 50 dias à aula, eu acho, ou menos, 40 dias à aula. Mas eu acho que tinha mais valor também para mim, porque eu estava muito distante, não era tão rotineiro está dentro da aula, então, meus amigos, tem uma ocasião que eu escrevi, não tinha dez anos, tinha nove, para um dos meus melhores amigos da escola, que eu escrevi, aquele negócio de autógrafo quando termina o ano, eu botei meu autógrafo: “Ah, guarda esse autógrafo, um dia valerá milhões” (risos), botei na caderneta dele. Tinha um respeito e relação com os meus professores, tanto afeto quanto quase idolatria, eu acho que isso me ajudou muito, porque eu tinha total confiança nos professores da época, a gente tinha lá amarelinho, vermelhinho, que é creche, eu não lembro, mas depois primeira série, segunda, terceira, que eram os meus mestres, para minha vida, eu tenho, tinha muito orgulho e, tanto da escola que eu participei quanto dos professores que eu sempre tive envolvido. Então eu acho que isso me ajudou a valorizar bastante a parte de educação, não me livrou de, volta e meia queria fazer Educação Física, então teve uma vez que eu fui para aula de Educação Física, mas não era a minha turma, aí fui parar na sala da diretora, também era criança. Mas o colégio era um local especial para mim, não, tem algumas, tia Regina, tia Silvia, algumas depois mais para frente, outros professores, a Kika também, que é parente nossa, que me deu aula de Inglês, outros tantos assim que eu lembro. Não tinha também a questão de um professor especial, mas para mim o papel do professor sempre, ainda tem, assim, muita importância. E, além disso, e aí na aula cada vez eu fui tendo menos contato, menos contato, me virava, teve uma vez que eu fui três meses para Europa, já com 15, 16 anos, no terceiro ano do Estudo Complementar já, que é o último, aí levava as apostilas todas naquela época, um negócio assim só de apostila, ia lendo, o Larri cobrando os meus deveres, aí fazia com ele, aí, pô, o Larri às vezes não sabia também algumas coisas, aí não tinha internet para buscar (risos) e era gostoso. É uma fase interessante, aí voltava, fazia todas as provas, a minha mãe fazia questão que eu fizesse todas as provas, não me dava espaço para, só por eu está atendendo aula, era bem restrita, rigorosa perante a ela. E o tênis era muito duvidoso, teve um lado que poderia muitas coisas, essa mais uma delas, poderia ter sido ruim, mas para mim acabou sendo benéfico, que é essa dúvida, o que é que, o Guga é jogador de tênis com 15, 16 anos, mas não existe profissional, não tem, hoje está muito claro.
P/1 – Mas você tinha isso na cabeça: “Eu vou ser profissional disso, eu vou chegar”?
R – Pois é, não existia para gente ainda.
P/1 – Você não tinha isso na cabeça?
R – Aí apareceu na minha cabeça quando eu já era mais maduro, ali com 16 anos, e mesmo assim é: “Pô, vou ser profissional, mas será que vai dar para viver disso?”, hoje isso me ajudou porque fazia com que eu não deixasse nada de lado, ia levando as minhas possibilidades para se tivesse uma zebra, tal, fazer por aqui. A gente, nesse espaço aqui que é o meu acervo, tem ali currículo com 12, 13 anos de idade, para ganhar uma passagem para cá, para ir para lá e não podia ir, aí o Larri ficava. Então não era uma condição, hoje, de um atleta preparando para ser, para estar nas Olimpíadas, o esporte com essa evolução toda que hoje é de empresas patrocinando, existe uma profissionalização do esporte de uma forma geral que é muito ajuda muito, o tênis também. Mas por um lado é prejudicial porque vem uma carga também na criança, com 13, 14 anos, para ser assim ou assado e todo restrito, então deixa de estudar e tal, e, às vezes começa a tomar decisões erradas que atrapalham os dois lados da vida. Então na minha trajetória foi essa, eu fui cumprindo com as minhas tarefas na escola, consegui me formar sofrido, era paulada, na hora que tinha que ir pro quarto para dar uma descansada tinha que lá ficar estudando. Mas foi super valioso, até mesmo para eu desenvolver uma das minhas principais habilidades dentro da quadra, que foi saber solucionar as dificuldades, me livrar dos problemas, utilizar essa minha inteligência pro esporte que eu já estava aprimorando.
P/2 – Sabe o que eu queria, Guga? Que você falasse sobre o Larri, sua relação com ele, que vem desde criança e tudo, falasse um pouquinho sobre o Larri Passos, sobre a importância dele na sua vida.
R – O Larri, ele encaixou literalmente na minha vida como, eu digo, uma parcela do meu pai, porque eu enxergo o meu pai tão grandioso que todo mundo depois começou a ocupar um espaço para tentar suprir esse elemento sublime que ele é para mim. E o Larri ocupou um grande espaço nisso, porque ele que conviveu comigo durante a minha juventude, muito mais do que qualquer outro ente familiar, ele introduziu aspectos em mim para me tornar o profissional e o campeão que eu fui, que eu não obtinha, quer dizer, até existia, mas eu não tinha descoberto ainda, ele fez com que aflorasse muita coisa na minha personalidade, nesse instinto de vencedor, que foram fundamentais. Ele me demonstrou uma visão de vida, de ética, de disciplina, dedicação, de fidelidade surpreendente, e é um cara que tem uma energia fora de série, então ele, a afinidade que existia, que existe entre nós, ela se transformou muito em algo muito natural porque eu tenho esses indícios.
P/1 – Como que começou o contato com ele?
R – Começou através do meu pai também (risos), em oito anos o meu pai fez o que, de repente, demoraria uns 80 para ter cumprido. Mas talvez ele soubesse que o momento, a passagem dele aqui fosse curta, porque levou o Larri lá em casa quando eu tinha sete, levou o Larri lá em casa quando eu tinha sete anos, fez um churrasco lá para o Larri e já querendo que o Larri viesse morar em Florianópolis para me treinar. Pô, e não tem, essas coisas são absurdas para pensar, tanto é que o Larri falou para ele: “Ó, tu está maluco, teu filho tem sete anos, cara, não tem nenhuma, estás perdendo a noção da realidade, não tem cabimento”. E são duas coisas engraçadas, porque o meu irmão também se destacava bastante nessa época, mas o meu pai tinha uma convicção diferente comigo, sabe, ele, a gente diz ‘intisicar’ aqui, que é um verbo de ficar assim pegando no pé e insistindo, que eu ia ser um campeão, que o Guga, tanto é que um dia antes de ele falecer ele falou pro meu irmão: “Pô, cuida bem do Guga, ele vai precisar de ti”, meio que já dando uma mensagem para ele de quase que afastamento do tênis para ele poder ficar mais me observando mais. E assim o Larri veio para cá com um jogador, que da época é esses que eu digo, que tinha 13, 14 anos, que o Larri já treinava, que é lá de Brusque, da cidade natal da minha mãe, e, pô, o menino teve lá em casa, para gente ele era um Federer de hoje, o Larri também, pô, que entusiasmo, que alegria, mas o Larri falou: “Não, isso não existe, cara, mas eu te prometo que um dia eu vou treinar o Guga” e aquilo ficou marcado na cabeça dele, ele sabia que um momento a nossa trajetória ia se cruzar. Até hoje o Larri frisa bem como uma missão de vida dele, eu acho que foi seguramente algo que o levou a ter uma relação e um contato comigo também diferente. Nós éramos, em alguns momentos, três, quatro, cinco jogadores, era perceptível que ele via em mim algo distinto e também eu nele, por si só essa relação foi se aprofundando e criando laços que até hoje são de suprema integração, confiança e carinho. O Larri, quando eu falo família, assim, às vezes não fica tão explícito, mas ele já está embutido aí nesse núcleo, é um cara que foi, para minha vida, uma pessoa fundamental, tão importante quanto todo esses meus familiares mais próximo.
P/2 – Roland Garros, em 97, se eu não me engano foi o seu primeiro título da ATP, não foi?
R – Foi.
P/2 – Não sei, eu imagino que você deveria ser lá pro 50 do mundo, na época, como é que foi? O que aconteceu que de repente você ganhou um Grand Slam assim, apesar de você não ter ganhado nenhum título de ATP, o que foi ali, foi uma confiança, o que foi o fator que fez o diferencial naquelas duas semanas? Falasse um pouco sobre esse torneio que foi tão surpreendente.
R – O torneio de Roland Garros ali em 97, ele até hoje é inexplicável, não tem como tentar unir os fatos, encontrar algum motivo ou, sei lá, teria que ser uns cem motivos diferentes, mas, resumindo, ele não era para ter acontecido. A minha carreira, ela é muito sistemática e progressiva e a única coisa de estranha que tem, que ainda bem que foi estranho assim, foi o Roland Garros, esse 97 o natural era eu ter ganho dois jogos lá, já teria saído do torneio abrindo champanhe já em comemoração. Mas se tiver que tentar explicar ou buscar um trilho, visto que justamente aconteceu, eu vejo que o principal é que eu já estava preparado para fazer o feito, de outra forma não teria acontecido. Eu tinha ao meu lado pessoas também que conseguiram segurar a imponência dessa situação, que foi crescendo, crescendo, crescendo, para gente era tudo novo, mas, é novo, mas tem tentar lidar, e normalmente não dá, o cara assusta muito, é grande demais, mas deu certo. Eu acho que o fato do desconhecimento me ajudou bastante, para mim Roland Garros, se eu soubesse o que é Roland Garros hoje naquela época eu não teria ganho, eu já tinha: “Não, não, está muito ainda para mim, eu vou esperar um pouquinho”, isso também me ajudou. E, claro, entrando numa parte mais técnica, um momento de inspiração excepcional, que eu consegui jogar tênis num avanço de dois ou três anos da minha carreira, o que eu fiz ali eu depois só fui alcançar de novo num período de dois anos. E durante 14 dias seguidos, contra caras bem melhores do que eu, todos que eu ganhei ali, a partir da primeira rodada. A primeira rodada era um jogo talvez mais parelho, mas a partir da segunda todos eram melhores do que eu, a não ser o cara da semifinal, que também era mais parelho ali, que foi uma surpresa tão grande quanto eu. Então, e na hora que tinha que ser, o ponto mais importante, que eu precisa ganhar e não podia duvidar, eu ganhava, isso aconteceram umas 30, 40 vezes, por isso que eu digo que juntar tudo isso não dá para explicar. Ou então, e realmente lembrando de cada detalhezinho e falando: “Cara, foi porque nessa hora eu isso, na outra também estrelei e lá na frente, ao invés de me acuar, eu sorri, e o pessoal me abraçou, como o francês, eu já estava a roupa colorida, já achava engraçado”. Então tudo que foi... dar entrevista eu também tirei de letra, então tudo isso foram sintomas positivos que fez com que em 97 eu alcançasse a maior façanha da minha carreira absoluta, o que eu tinha de capacidade para o que eu exerci ali foi algo sobrenatural e está entre as maiores cinco ou dez façanhas da história do tênis, porque o tamanho do absurdo que foi aquele título, né? O primeiro torneio que eu ganhei da ATP, para chegar naquele estágio, que é o último estágio, teria que ter passado todas as faixas, de repente já fui para faixa preta direto lá e comecei a achar que, me convenci que eu era, fazia parte daquele contexto e tudo aconteceu. Demonstrou também que Roland Garros era um lugar sagrado para mim, que foi, a primeira vez que eu pisei lá em Roland Garros eu já tive a sensação, que ali eu vi o que era profissional e ali eu quis ser um jogador profissional, eu tinha 15 para 16 anos, entrei lá. Eu fui para jogar o Qualifying do juvenil, cheguei lá eu nem no Qualifying do juvenil eu entrei, pô, fiquei desesperado, desesperado, desesperado, ah, vamos conhecer Roland Garros, a hora que eu entrei, que eu vi aquilo tudo lá, aquelas quadras, cara jogando na quadra oito, lá longe, lotado na outra, mais longe ainda lotado. Aí o Jaime estava jogando já, logo que eu entrei, um brasileiro, começou a ganhar do Lendl lá, eu falei: “Pô, é isso que eu quero para minha vida, é estar aqui dentro”. E aí em 97 já se demonstrou que ali era muito especial para mim, é algo literalmente sagrado, eu lá dentro eu me sinto outra pessoa, é parte da minha casa, é minha vida, e isso no dia a dia era assim, e já em 97 aconteceu também por causa disso. E se a gente for falar aqui duas horas eu vou ficar lembrando de mais um fator e mais um e mais, então é nesse crivo que eu levo o título de 97 para mim. Eu não faço nenhuma interpretação até de importância, e vejo que outros, como em 2001, esse do Master foi... já estava jogando mais tênis ainda do que lá em 97, mas em comparações reais de possibilidades, pô, isso aí foi.
P/2 – Mais incrível até do que em Lisboa, quando você ganhou do Sampras e do Agassi e você virou o número um?
R – É, eu acho que essa palavra descreve bem o que significa 97 para mim, é incrível, sabe, se me contarem eu não vou acreditar, se eu não for lá ver e o cara fazer na minha frente, não tinha como acontecer. Em Lisboa tinha, é difícil, tal, muito complicado, mas era impossível ali em 97, cara, tanto é que nem eu nem o Larri, que podia dizer: “Pô, o cara tem chance de ir as quartas de final, tem chance de...”, a gente estava meio que seguindo o fluxo, deixando o bonde andar para frente. E lá na semifinal, daí quando eu ganhei do Kafelnikov, que eu venci as quartas dele, que ele foi o atual campeão, depois de ganhar do Muster, do Medvedev, e do Kafelnikov, os três jogos de cinco sets, aí eu senti que eu ia ser campeão, aí mesmo durante o torneio, antes de acabar eu tive a sensação: “Não, agora eu vou ser campeão”. E eu não tinha a mínima ideia de que era Roland Garros e que eu ia ser campeão de Roland Garros de verdade, como eu entendo hoje, mas que, pô, aquele torneio lá eu ia ganhar, eu já tinha ganhado de um monte de cara, os melhores do evento já tinha passado, agora, pô, esse restinho aqui tem que dar certo. E essa lembrança aí que ficou do divisor de águas e de uma espontaneidade que depois não dá para existir mais, eu acho que ainda continuei sendo um cara muito... a vida ali do tênis, sem ter tanta influência do macro que é, o tênis é um esporte desejado pelo planeta inteiro, a forma como as pessoas observam, mas, e eu acho que eu levei isso de uma forma meio natural, mas não é mais a mesma coisa. Eu ganhei em 97 ali, aqui no Brasil já explodiu, as pessoas já me observavam tudo de outra forma, então.
P/1 – Como foi essa volta?
R – Ali ainda foi, pô, eu ainda o Guga daqui de Floripa, ganhei em 97 depois já era o Guga do mundo todo, que comecei a entender qual era a consequência dessa minha busca obstinada pelo tênis, que tinha esse reflexo mundial que eu não tinha ideia ainda. Eu com 12 anos, eu olhava lá, tinha o McEnroe no meu quarto de um lado, o meu irmão tinha o Borg, mas é fantasia para mim, não era, não tem o entendimento que, pô, isso é um ídolo, para o jogador o que representa, isso, isso, isso: “Ah, ele é o meu favorito, eu gosto dele, nem sei porque muito, mas é o cara que eu adoro”.
P/2 – Tem dois jogos em Roland Garros, Guga, que eu acho o título mas não é tão lembrado, que foi aquele jogo contra um cara completamente inexpressivo, aquele Michael Russel, foi uma virada absolutamente incrível, eu acho que aquilo representa muito o que é o tênis, falasse um pouco sobre esse jogo, sei lá, porque foi uma coisa tão maluca e não é um jogo que está nos holofotes. E o outro aquela vitória arrasadora contra o Federer, quando você já não era, você já não estava mais no topo, se eu não me engano foi em 2003, aquilo foi uma espécie de, sei lá, de despedida em grande estilo, ainda que você tenha jogado depois em Roland Garros, aquilo foi uma espécie de fechamento? Enfim, esses dois jogos para mim, como fã, são super marcantes, eu queria que você falasse um pouco sobre eles.
R – Eu vejo que a gente traz a tona os meus, esses são os meus principais momentos dentro da quadra, e às vezes eles nem, quer dizer, nem sempre eles estão ligados ao título. Acho que isso é um valor que eu considero bem importante da minha carreira porque eu acho que ultrapassou um pouco as linhas das quadras ali, não era basicamente ou restrito a levantar o troféu de Roland Garros. Esse jogo com o Russel era uma oitavas de final, eu joguei 50 partidas iguais a essa, só que nenhuma igual aquela ali, do tempero que existiu, da forma que foi, da entrega, de eu ver o jogo perdido, eu era favorito, pô, aquele ano eu tinha tudo para ganhar o torneio, tinha sido, já era bicampeão, tinham um ou dois que podiam me incomodar. Mas, pô, aquele cara já, não existe no tênis, sabe, entrar menosprezando o adversário, a gente sabe como é que é, vai lá e vê como o cara joga, tal, mas eu sabia que mesmo ele jogando o máximo, tal, ele não ia, pô, não é possível que ele ia me vencer, mas esporte é isso. Então de repente eu vi a minha cara contra a parede, já era match point e o cara só não ganhou de mim porque foi, é mais essas coisas que não dá para explicar, cara, é Roland Garros e na hora H, sei lá, meu pai botou a bola, deu uma soprada, foi para linha e a torcida. Eu brinco, pô, 180 milhões, naquela época lá, que olhavam e aquele pensamento positivo que faz a diferença mesmo, pô, eu tive um match point, a gente jogou 20 e poucas bolas, eu acertei duas vezes na linha e eu já estava convencido que eu ia perder, tudo o que eu no início eu tinha certeza que ia dar certo depois já estava, pô, eu estava pensando na minha passagem, que eu ia embora já para o Brasil, cara. E nem passava pela minha cabeça uma forma, já tinha tentado tudo que era possível para reverter aquele jogo, não deu e de repente, pá, já foi mesmo, aí um ponto, opa, pode ser que surja uma oportunidade, eu comecei a virar e a torcida foi entendendo ali que eu queria muito virar aquele jogo e eu comecei, fui jogando um pouco melhor, o cara deu uma sentida e em questão de no máximo dois, três minutos eu fiz aquele game, foi 5 a 4 e parecia que eu entrei num estado de espírito incrível, porque o tênis é quase que uma atuação assim, uma apresentação com, sei lá, centenas de coisas aleatórias tem que controlar, inclusive público, vento, torcida, barulho, silêncio, emoção, tudo. Então tudo que estava fora das minhas mãos ou dos meus controles de repente, sabe quando parece que você se isola e está, vem um maestro ali tocando a música, e torcida, e aí você joga a bola lá agora no ponto, começa a fluir com uma eficácia e uma beleza tão grande e essa conexão é tão forte com as pessoas que parece que eu estou voando depois dentro da quadra de tênis. E essa emoção eu nunca senti tão forte na minha vida quanto nesse jogo, foi a maior de todas que eu tive, foi o jogo mais profundo dentro de uma quadra de tênis, nesse sentido de integração com a torcida para o desempenho e a felicidade, pô, e eu joguei diversas vezes aqui no Brasil, Copa Davis inclusive, que era a minha maior alegria, poder defender o meu país aqui, com dez mil brasileiros berrando o meu nome o tempo todo. Mas, cara, aquele momento foi especial, e é óbvio que era também Roland Garros, em outro local não ia acontecer isso, e o jogo todo, aquela montanha russa que houve durante a partida. E possivelmente, depois ainda quando acabou eu consegui acertar de novo na mosca, assim, com esse ato de tentar, pô, como é que eu agradeço essas pessoas pelo o que elas me proporcionaram, porque se eu tivesse jogando sozinho com o cara nunca ia acontecer aquela emoção para mim, então. Mas isso foi questão de eu ir lá apertar a mão do cara, ir até a minha toalha, quando eu estou na toalha eu falei: “Pô, já sei, eu vou ali”, não dá para pegar microfone, não tinha microfone, eu vou lá, eu desenho um coração na quadra e no meio do caminho que eu fui desenhando eu já fui me lembrando: “Ah, agora que está pronto eu vou me jogar aqui no meio”, porque, para me realizar. Então isso bem espontâneo como eu acho que é quase uma marca registrada minha, aconteceu esse, talvez o maior ace de todos da minha carreira, minha principal vitória, que é a lembrança, quando se fala do Guga o pessoal pensa, escolhe três momentos marcantes, vai estar esse, dois vai estar esse, talvez se tiver que escolher só um vai ser o principal feito dentro de uma quadra de tênis, não foi nenhum título que eu ganhei. Está certo que está vinculado a toda minha trajetória, mas acho que isso que é muito prazeroso e bem empolgante para mim, poder ter entrado mais por esse nosso lado brasileiro, emocional nas pessoas, de mexer com a vibração, autoestima, eu acho que esse que foi o papel que sempre me motivou nessas entranhas da disputa, competição que é o tênis.
P/2 – Você tinha falado sobre ou jogo com o Russel e ia falar um pouquinho sobre aquele jogo com o Federer em 2003.
R – Está certo, falamos ali, só para retomar, o aquecimento da minha conversa, do Russel, tal, aquele jogo, e aí depois a minha partida com o Federer, daí já em 2004. Foi minha última grande aparição nas quadras, eu tive mais, sei lá, um lampejosinho em outros torneios, mas nada de especial, aquele ano ainda foi quartas de final de Roland Garros, e bateu na trave ali, era um dos anos, assim como 99, que eu tinha chance de título, que não aconteceu, mas também outros que eu não tinha tanta chance e acabaram vindo. E aquele jogo, talvez a façanha de Roland Garros, 97, ela é muito mais abrangente, até mesmo porque são sete partidas, é todo um caminho muito mais árduo, mas se tirar um momento específico de atuação eu acho que aquele é possivelmente o momento de melhor, não dá para dizer performance, porque eu joguei muito melhor que aquilo já, mas de extrair do que eu era capaz. Porque eu vivia com dificuldades, eu fiquei seis semanas na Espanha, que era injeção a cada cinco dias, aí ia para o hospital, ficava lá, anestesia, fazia o procedimento no quadril, células, que eles chamam lá, agora me fugiu a palavra, mas tipo sangue, que eles tiram lá as plaquetas do sangue e botam no quadril para melhorar, tal, tal, tal, treinava pouquíssimo. Cheguei lá a Roland Garros, jogando ainda tecnicamente bastante bem, mas brinco, que eu falo saci pererê, meio que numa perna só e ganhei um, dois jogos, o primeiro até foi emblemático, contra o Almagro, uma maratona. E de repente fui jogar com o Federer e eu tinha, tirando todo o aspecto favorável de volume de jogo, ele ser número 1, a fase dele que era excepcional, eu jogava meio como franco atirador, naquele momento já, mesmo sendo em Roland Garros, no saibro, mas os meus resultados já não eram tão consistentes assim. Só que lá, além de tudo acontecer, eu também já conhecia o caminho das pedras, então eu precisava ser muito eficaz e, além disso, conseguir também fazer com que ele não se sentisse à vontade na partida. Pô, garantir que isso vai acontecer é muito difícil e eu não podia, então, dessa forma, dar nenhum respirinho a mais, ou qualquer tipo de margem para que ele visse uma hipótese no jogo. A minha alternativa qual era? Fazer ele acreditar que eu ainda jogava como eu jogava antes, acertar as bolas certas no ponto preciso, depois não me desgastar tanto também na outra, tudo calculadinho assim, aos mínimos detalhes e contar com que ele fosse também entender essa minha mensagem e ficar mais acuado. E aconteceu, desde o início até o fim, a forma com que eu lidei, jogando com um cara que naquela situação era melhor do que eu, tinha muito mais condições de ganhar o jogo, físicas principalmente e técnicas também, pô, o Federer estava voando baixo já naquele ano, e de repente eu fui vendo que a coisa foi aparecendo, acontecendo, parece que vai dar certo, e de repente eu ia me deparar com uma nova grande alegria lá no Roland Garros. Tudo isso é entusiasmo que o jogador sempre busca, por isso tanto empenho para tentar fazer acontecer. Não gastei forma de tentar elaborar esse plano, de empenho, acho que esse sempre foi o meu grande trunfo, se eu tinha uma forma para ganhar o jogo ia dar um jeito que ela acontecesse, e ali foi uma resposta disso. Por isso que eu digo que a maior eficácia, talvez, que eu tive dentro de uma quadra de tênis, do que eu tinha, consegui botar acima daquilo ainda, das expectativas e eu não esperava que eu pudesse, principalmente ganhar dele daquela forma, mas sabia que era o único jeito. Então, no final eu tinha que acreditar que eu ganhava dele também, porque eu sou competidor e aí tanto ele precisava entender como eu me convencer que era possível. No início do jogo foi um pouco mais difícil, mas a própria partida foi demonstrando que de repente isso podia acontecer e eu lembro que eu fui conduzindo a partida da forma que ele foi assimilando: “Pô, esse cara aí não vai deixar eu ganhar, não vai deixar eu ganhar”, e até então ele não tinha ganho em Roland Garros ainda, parecia que aquele ano era um dos favoritos, o Nadal ainda não estava por perto também, ele mesmo sentia isso. Mas eu era competitivo ainda, não estava em plena forma, mas era super competitivo, então passei por ele, três a zero, minha última grande lembrança, como eu falei, aquele Roland Garros bateu na trave ali com o Nalbandian nas quartas de final, me escapou o set point para ir para o quinto set e ainda fica marcado assim, como um outro grande ano lá em Paris e aquele, como eu não quero lembrar do, talvez esse momento especial também foi a minha última partida lá, foi especial também, apesar de uma derrota. Mas nesse ano eu não quero lembrar de uma partida que eu perdi, eu fico resgatando as lembranças desse jogo com o Federer, que até hoje o cara não perdeu ainda antes das quartas de final, desde daquele jogo comigo que ele perdeu na terceira rodada, isso faz já quase dez anos, quase 40 torneios atrás, então são esses feitos assim que dão o temperinho, para gente estar (risos) ainda hoje se glorificando.
P/2 – Guga, para encerrar um pouco essa parte mais específica do tênis, da sua carreira, eu queria que você falasse um pouquinho sobre a rotina do circuito, assim, porque é um, deve ser super estafante, é um ambiente ultra competitivo e de muita viagem, enfim, essa relação até com outros jogadores, porque, se é possível você conversar, ter amizade, porque é uma coisa muito cansativa, eu imagino, muito competitiva. Como é que essa rotina? Também ficar longe da família, às vezes, fala um pouquinho sobre.
R – É, eu acho que o tênis, ele exige uma adaptação para um convívio que é bem particular. Não vejo um outro esporte, primeiro que é assim, isolado, depois, isso considerando ou o australiano, que também acontece, mas principalmente o latino-americano aqui, qualquer um, ou sul-americano, quer dizer, desculpa, qualquer um do nosso continente vive a mesma dificuldade que eu vivi, que é passar nove meses do ano fora da sua casa, e não tem uma outra forma, não dá para lidar com isso mais ou menos, a não ser que o cara leve a carreira de forma distinta. Mas no meu caso, não querendo deixar nenhuma brecha, eu precisei acho que encontrar um jeito que no final é para render bem, ter uma performance final, ir lá ganhar o jogo. Mas nesse meio termo cada um tem o seu caminho e eu dependo muito de me sentir bem, de estar um pouco mais próximo da minha vida, não consigo entrar lá dentro da quadra e falar: “Agora tudo”, assim, o jogador vai entrar em quadra e depois sai, é o Guga de novo. Eu preciso estar mais colado ali dentro e tanto é que sou um cara emotivo dentro da quadra, preciso me adaptar, que eu não vou estar em casa no meu aniversário, no aniversário da minha avó de 80 anos não estava aqui, Natal, muitos eu passei fora de casa, até ano novo. E isso tudo eu acho que é um, cada vez mais tarde é mais traumático, então, como o Larri já entrou na minha vida bastante cedo, ele foi me provocando ou inserindo a forma com que eu pudesse levar isso de uma maneira bacana. Uma fase marcante que eu lembro, no início, ele falou: “Ó, saudade, tenta encontrar essa palavra no vocabulário que não seja o brasileiro, é missing, mas não é, é eu sinto falta, tal, não existe”, ele falava para mim: “Não tem, saudade é só do brasileiro, então isso aí não, por isso que a gente tem dificuldade de jogar tênis, porque a gente está acostumado a estar em casa, tal, tal, tal, sente saudade, saudade não pode existir”, e precisa ser assim. É claro que, pô, é muito gostoso de eu estar com a minha família depois de me acompanhar ganhando Roland Garros, mas eu vivi dez anos lá que eu não os via quase nunca, mandava meus cartões postais para casa, às vezes eu voltava, o cartão já tinha chego, não tinha chego ainda, eu contava o que que eu tinha escrito, depois vinha, falava por telefone uma vez por semana, no telefone pago. Eu saboreio a minha família, mas não tinha outra alternativa, isso não podia me fazer mal, se não lá eu não ia conseguir andar para frente, aí vão entrando algumas adaptações, que elas são tanto de hábito quanto de atividades, assim, no circuito, que é esse lado competitivo que eu tive que aprender também, a ser mais rigoroso. A minha mãe é assistente social, então quando eu olhava para o cara, quando tinha 13, 14 anos de idade, pô, o cara meio que chorando do outro lado, de eu ficar com pena dele: “Que sentido é esse? Eu fazer uma coisa para o outro ficar chorando”, mas aí dava pena, perdia, quem estava chorando era eu no fim do jogo, e aí eu conseguia ver que também esse final não me alegrava, mas eu não tinha ainda um espírito de matador ali no final do jogo. O Larri trabalhou comigo isso durante anos, depois virou uma das minhas principais virtudes, e o circuito é extremamente competitivo, ao ponto de todo minuto ser valioso, cada segundo que eu estava em casa era importante para mim, o detalhe do detalhe do detalhe. O tênis é extremamente profissional e num ritmo de excelência espetacular, assim, pô, a gente se dedicava para estar encontrando, eu acho, uma sintonia que era uma dedicação contínua e uma busca obstinada por isso, mas do meu próprio jeito, que tinha que ser mais, com um convívio mais ameno entre os jogadores, eu estava mais próximo, batendo papo. Eu acho que, de qualquer forma, é impossível, assim, o cara não ter amigos no circuito, porque não dá para se isolar lá, viajar sozinho o ano todo, aí de repente algumas semanas, mas não dá para ficar sozinho, sozinho, o tênis não dá essa abertura porque o esporte já por si é individual. Então a gente se relacionava bem com as pessoas, com os próprios jogadores, fazia um círculo de amizades mais próximo com eles, com alguns locais que encontrava já amigos daqui que foram morar longe, que vinham visitar, mas tinha que ter algum, que o circuito fosse mais caseiro para mim, porque eu não estava em casa, e aí no início é um pouquinho mais complicado, tal, daqui a pouco entra num ritmo de normalidade também, mas é o grande segredo do tenista. Tem tenista que não atende tanto a imprensa, é mais ríspido, é mais objetivo, pô, mais o cara faz tudo aquilo para na hora vencer, porque se ele perder o culpado é ele. Então a gente que passa por isso tudo, é compreensível entender as formas como os outros lidam para montar o seu caminho. E a minha era mais caseira, então por isso que eu também chegava lá, eu ficava com os caras, batia umas fotos, tal, brincava, tal, e sabendo dosar também, não podia passar muito do ponto para não comprometer a minha performance e até mesmo sempre estimular. Eu tive a felicidade de conseguir esse vínculo com as pessoas me trazer uma energia para subir de escala, isso foi determinante na minha carreira, então era necessário também para mim. Eu acho que esse foi um fator que compensava um pouco a minha ausência de casa aqui, e esses diversos detalhes. Mas eu temo que o tênis seja o esporte mais competitivo que existe, assim, atualmente, pela grade de tempo durante o ano, a constância dentro da quadra nos dias e o horário durante esses dias, além da competição, o treinamento. Na minha época eu não parava mais do que dez dias nas minhas férias, aí teve alguns anos que eu não tive, mas tinha ano que era sete dias, dez dias e não era, pô, dez dias não dá para ter férias, o cara estar no segundo dia já pensa: “Putz, já vai acabar”, então a cabeça nem dá tempo para realmente entrar num estado de relaxamento completo. Mas aquilo, eu acho que um dos principais segredos, que eu aprendi muito cedo, é que aquilo me fazia bem, esse esforço era o sacrifício legítimo, no sentido etimológico da palavra, que é ofício sagrado, e não tinha problema se tinha que ir mais além, uma hora mais na quadra, tal, porque aquilo já estava me fazendo bem. Então é esse esforço sempre foi interessante, eu convivia bem com isso e dessa forma eu fui explorando cada vez mais a minha capacidade.
P/1 – Você recebia cartas, a tua mãe te mandava carta, quem te mandava carta?
R – A gente não conseguia receber porque a gente ficava pipocando para lá e para cá. Às vezes precisava mandar alguma coisa, tinha que mandar com um mês e meio de antecedência, mas aí no caso era alguma raquete, um tênis que precisava, tal, pô, imagina o que eu vou escrever com um mês e meio de antecedência para ele ler lá na frente, uma novidade, assim, já tinha passado. Então recebia, no final eu recebia muito material, porque a gente consumia demais raquete, corda, tal, e aí na Europa, com esse circuito já montado, os locais estipulados, hotéis melhores, serviço, aí ficava até mais fácil de organizar a logística, mas no início ia para Europa lá com as malas, tudo, levava tudo, não recebia mais nada, era carinho do Larri e bola para frente.
P/1 – Em que momento você começou a receber cartas dos fãs?
R – Isso começou a acontecer literalmente a partir de 97, antes disso era um contato mais restrito ao tênis e ainda num grau comparativo de outro universo, então as pessoas admiravam, eu recebia pessoalmente alguma coisa já numa Copa Davis, eu já, 95 eu já era jogador de Copa Davis, então me entregavam algumas coisas em mão. Mas para receber em casa, com que as pessoas pensassem em mim sem eu estar presente naquele instante, isso foi a partir de 97 e já aconteceu da noite para o dia, foi num momento que estava iniciando esse processo de informatização, também existia já esse email, mas algo muito rudimentar ainda para minha realidade, e começou a acontecer assim, nas duas escalas. Claro que é interessante porque eu peguei o início da minha vida, que, pô, eu lembro da minha ida aos Correios que a escola me levou, lá na Praça XV aqui na cidade, a gente foi lá para ver como é que bota o selo então na carta. Aí mostra, pô, e eu sempre fui de manusear coisas com a mão, e pequenos movimentos, fui muito ruim, Educação Artística, aquilo me dava um desespero, que as coisas ficavam na minha mão. E eu lembro que para botar aquele selo na carta lá foi um trabalho, eu devia ter no máximo dez anos de idade, nove anos eu acho, aí fiquei lá numa trabalheira, ele grudava de um lado e grudava no outro, e, pô, não dava certo, e a cola, lambe, tenta de qualquer jeito, mas é uma experiência marcante. Eu peguei tudo isso, depois escrever, caligrafia também, que tinha que botar o remetente, eu sempre confundia, pô, é na frente ou é atrás, eu perguntava: “Ô, Larri, como é que é”, até hoje, se bobear eu não lembro direito, aí eu ficava lá, depois futuramente escrevendo, depois para casa, que era o que normalmente acontecia, para facilitar eu pegava cartão postal, que já estava, já indicava mais ou menos onde é que eram os pontos para enviar. E um momento que eu acho que é legal de lembrar também, que eu fiz coleção de selo durante um período, eu devo ter guardado em algum lugar aí uma pastinha que eu tinha, e foi numa época que estava tendo Olimpíadas e aí eu recebi um selo de Olimpíadas passadas, eu guardava tudo direitinho, mas, pô, coisa de menino, que durava seis, oito meses, aí já era coleção de uma outra coisa. Mas isso me acompanhou durante a trajetória porque fui percebendo na prática essa evolução e a minha necessidade constante de alguma forma estar me relacionando com as pessoas, porque o meu caso é explícito disso, estar sempre longe de casa, sempre longe de casa: “Como eu me sinto mais próximo, de que maneira?” e era assim. E eu acho que daí as pessoas, para chegarem até mim, tinham essa mesma convicção: “Ah, o Guga, pô, campeão, Roland Garros, tal, como é que eu me aproximo dele?” Ah, eu vou escrever alguma coisa para ele, milhares de cartas que eu tenho, eu nunca vi as pessoas na minha vida.
P/1 – Chegavam por onde, pelos Correios?
R – Ah, aí chegava pelos Correios, tinha época que botava ‘Guga’ chegava, nem botavam nada, só falava: “Guga”, tchuf, aí vinha parar: “Como é que chega essa carta aqui? O pessoal dos Correios está eficiente demais” (riso). Eles já sabiam, porque aí começa a acontecer uma atrás da outra e tinha carta do mundo todo, tem do Japão, do Oriente Médio tem, África, tem carta aí, e constantemente ainda chega, o pessoal que pede autógrafo, uns que são colecionadores, uns que me viram jogando e tal, tal, tal, contam uma passagem que viram comigo. Hoje em dia quem está mais próximo já se conecta de outra forma, mas ainda recebo ocasionalmente algumas coisas por via carta, principalmente quando requer esse tipo de assinatura e tinha época que chegava de tudo, brinquedo, presente, flor, carta, pedido de casamento, vinha.
P/1 – Pedido de casamento você recebeu por carta?
R – Vinha, a minha mãe, ela gostava muito de ler, porque eu estava na correria também, volta e meia ela me mostrava umas coisas engraçadas para caramba, umas passagens, aí vinha também episódios tristes, pessoas que pediam alguma coisa, pô, e não dá assim, atender um, dois, é um monte e eu falo: “Pô, mãe, mas às vezes não se envolve tanto”, porque ela lia, já se envolvia, ficava triste, também não dá, como é que vamos fazer, aí volta e meia ajudava um. Mas eu acho que é uma aproximação muito forte, o marcante é isso, as imagens que vêm à cabeça, volta e meia eu chegando: “Ó, tem isso aqui que chegou”, depois de seis semanas na Europa, bum: “Chegou isso aqui”, mais uma caixa e coisas que vão acontecendo. E eu peguei um momento já que começou a minimizar, esse tipo de interesse, depois, a partir de 2000, 2001, o pessoal já acompanhando meu jogo em internet, já mandava na mesma hora, então toda velocidade expandiu de uma maneira que eu senti toda a diminuição desse tipo de abordagem, que para eles era mais fácil já me encontrar de outra forma. E aí começou a vir mais quando era alguma caricatura, alguma foto ou o pessoal manda, eles guardam reportagem depois mandam, o filho que é promissor no tênis, o primo que não sei o que, alguém que jogou comigo, manda foto de criança, então tem todos os tipos de história.
P/1 – Guga, quem foi o seu primeiro patrocinador?
R – Patrocinador eu tive, o primeiro deles foi a Schlösser, que é a empresa que o meu bisavô fundou aqui, de tecido, a minha avó é da família Schlösser, a minha mãe acaba não tendo no nome, mas, só que eles que, o meu bisavô, quando veio para cá, que tinha todo esse ímpeto de empreendedorismo alemão. E aí eu tenho quase que certeza que ele veio quando era bastante jovem, eu acho que o meu bisavô, não, o meu bisavô nasceu aqui, quer dizer, o pai dele veio para cá por causa da Primeira Guerra, alguma coisa do tipo. E eles se instalaram nessa região, Brusque, Blumenau, que é colonização bem alemã, e criou umas das tecelagens mais reconhecidas daqui da época, a Schlösser era enorme, provia tecido para toalhas de qualidade, assim, de maquinário, algo espetacular, e a gente tinha um orgulho danado, de usar essa marca, porque ainda mais que era da nossa família. Era uma ajuda simbólica, hoje seria, sei lá, 300 reais por mês, 500 reais por mês, mas para gente só o fato de ter a empresa, o uniforme, tal, e a marca que representava uma importância muito grande, já era sensacional. E na minha carreira eu fui, primeiro que eu sou de uma classe média ou média mais para alta do que, se tiver que escolher entre média alta ou baixa eu tenho que escolher para alta, e fui privilegiado em ter as oportunidades, até mesmo por esse caso de ter um certo apoio, tive que correr atrás para caramba, um monte de coisa que eu não consegui fazer, mas o suficiente para eu desenvolver minha carreira, tanto é que aconteceu. Então hoje até fica uma consequência natural de metas, tentar retribuir um pouco ao tênis, ao esporte, uma condição melhor para os jogadores, é supersatisfatório ver que alguns garotos que a gente apoia aí não precisam mais passar por esse caminho ardiloso que eu tive que percorrer, tem muitos ainda que não conseguem por falta de condição financeira também, e outros que nem encontram o esporte porque a vida não lhe proporciona essa oportunidade. Então eu tive, todas as chances para desenvolver meu talento, encontrei as pessoas certas também, não é só a questão financeira, e aí fui galgando em termos de patrocínio, sempre com ajudas, ajuda, ajuda, ajuda, até 96 basicamente, que eu era um jogador de Copa Davis, já reconhecido, não popular, mas um cara que era número 2, número 1 do Brasil, já tinha a sua importância para o nosso espaço local. E aí isso fez com que eu tivesse um aporte já que é diferente, a empresa já tendo um investimento direto, um retorno direto, não é mais um auxílio ou uma ajuda acreditando na carreira de um garoto, então aí já uma imagem que está sendo recompensada. Mas até lá basicamente era se vira nos 30, economiza aqui para comer lá mais um dia, na Europa, tal, mas tive sempre apoiadores importantes. Teve uma situação muito difícil porque eu tinha um contrato de dois anos, que foram com 17 e 18 anos, eu, 93, 94 terminei entre os dez melhores do mundo juvenil, durante todo esse período já era razoavelmente posicionado no profissional, mas aí a empresa cortou meu patrocínio, eu não entendia porque e no momento que eu mais precisava, que era no inicio de 95, que eu ia me tornar profissional e já não tinha mais o juvenil para eu me sustentar. Foram os quatro ou seis piores meses da minha vida como tenista, resultados, eu me questionava, não entendia, falava: “Pô, mas como, cara?”, “Não, nós não vamos mais investir no tênis, vamos investir só na Fórmula Indy agora”, “Mas as metas todas, eu fui dez vezes melhor do que as metas”, falando: “Será que eu sou tão bom assim. Porque se nem os caras não tão acreditando”. A gente não tinha essa convicção toda e nem o apoio. Não dá mais para ir para Europa, então vamos para cá, vai ter que jogar esse torneio, espera duas semanas, o Larri já não vai junto e tal, e começa a se virar nos 30. E um amigo meu, que tinha uma outra empresa que patrocinava ele, me levou pessoalmente até o patrocinador dele para meio que repartir a ajuda que ele tinha comigo. Aquele ato foi incrível, até hoje, é um cara que desde criança, assim, a gente se formou junto, até hoje é um grande amigo meu, o Ricardo Schlachter. E o dinheiro ali fez a diferença para mim também, mas a simbologia daquele momento, pô, tem o meu amigo, mas também a empresa, eu tenho crédito, eu vou seguir em frente, foi determinante, a partir dali a minha evolução galopante, assim, e não parou por nenhum momento.
P/1 – Quando que você criou o Instituto?
R – O Instituto, coincidentemente, veio no ano 2000, no ano que eu me tornei número um do mundo, mas ele veio precoce a isso, são dessas tacadas de intuição que a recompensa vem a galope já. A ideia de tentar retribuir sempre existiu, o ano anterior eu fiz um programa que era relacionado às partidas que eu ganhava ou aos aces, e doava uma quantia de dinheiro com o objetivo de fazer uma casa para os deficientes que eram órfãos, ou até mais alguns que eram mais velhos que queriam morar ali na APAE, e a gente arrecadou em torno de 30 mil dólares, algo desse montante e construímos a casa, inauguramos, tudo. Pô, mas aí terminou e falamos: “Caramba, uma experiência tão magnífica”, eu tenho elo direto com os deficientes, que era o meu irmão ainda vivo naquela ocasião, então não pode parar por aqui, aí pum, pum, pum.
P/1 – Você que teve a ideia do Instituto?
R – Por isso, aí nós pensamos juntos, as decisões, elas normalmente são tomadas das pessoas que eu falo aqui, o meu irmão, o Larri, a minha mãe, a gente senta, conversa, tal, aí pega o aval da avó para ver se está ok. E aí foi dessa forma e, é claro, por uma essência muito maior da minha mãe, que ela já estava sendo transmitida para gente e que era quem até hoje bota o barco para andar. Ela é a veia pulsante do Instituto, está constantemente oxigenando, se identifica totalmente com isso, conhece de A a Z os desafios, a forma de atuação, pô, é fantástico, é contagiante trabalhar com a minha mãe no Instituto.
P/1 – Aí vocês construíram a casa e decidiram.
R – A gente decidiu: “Por que não fazer um Instituto”, “Ah, vamos”, e ok, fizemos uma pesquisa, na prática, obviamente, tudo foi muito mais complexo do que parecia, então montar o Instituto foi de extrema, acho que dificuldade não seria a palavra, mas um desafio bem interessante. Nós nos aproximamos do Instituto Ayrton Senna também para pegar know-how e saber um formato de sucesso para dar longevidade ao nosso. E óbvio que quando eu comecei, no auge, já fui número 1 do mundo e a quantidade de gente que queria se aproximar, de fazer parte do Instituto, era enorme, desde os meus patrocinadores, que até hoje o nosso procedimento aqui é um percentual direto já vai para o Instituto do que eu arrecado, até outros tantos: “Ah, vamos botar as crianças, tal” e nós ficamos cinco ou seis anos nessa pujança de fazer mais e mais e mais. E se deparar também com uma situação que o Instituto estava muito bem estabelecido na parte administrativa, tinha uma montagem extremamente decente, mas a folha anual já de orçamento era muito alta e eu já estou parando de jogar e de que forma a gente vai dar uma adaptada ao Instituto com a realidade atual, com a nossa capacidade de atendimento e exigência. E nós encontramos hoje um formato extremamente saudável, dinâmico, até a gente se controla, mas não consegue, esse ano crescemos novamente para 700 crianças, nós chegamos a atender mil crianças.
P/1 – Então qual que é o público, a missão continua sendo a mesma?
R – A missão do GK, ela continua a mesma do início: trabalhar com os deficientes, de qualquer faixa etária e crianças da escola pública. Então a gente atende esses dois segmentos, que foram definidos já no início. Acho que foi um tiro certeiro porque a minha identificação com os deficientes é a minha vida lá dentro, assim, é algo espetacular, é um valor muito importante que eu adquiri e quero preservar. E as crianças de escola pública para tentar vinculá-los, além do tênis, ao universo do esporte, mas do esporte como educação e até esse foi o método que hoje existe, a gente desenvolveu um método próprio do Instituto de ensino, utilizando a ferramenta esportiva como educação, é baseado nos quatro pilares da educação. É algo que foi muito aprofundado, elaborado durante esses anos para atenderem essas crianças da escola pública no contraturno. Nós ficamos com eles em parceria com as escolas, atendendo ou de manhã ou de tarde, vinculamos os pais aos projetos, parece distante ou irreal, mas aqui em Florianópolis, dentro dessa sociedade, a gente lida com crianças com todos os piores tipos de problemas, envolvendo droga, envolvendo assédio sexual e por aí vai. Então é entender verdadeiramente que o Brasil é muito carente nesse aspecto e poder fazer uma diferença concreta na origem. Eu encontro na rua caras que... esses dias estava num restaurante: “Pô, eu fiz parte do núcleo do Itacurubi, foi incrível a minha experiência, tal, obrigado, Guga, se não fosse por isso eu estaria nas drogas até hoje”. Pô, isso é muito emocionante, sabe? Direto os pais, normalmente, que as crianças estão lá vinculadas, crianças que hoje conseguiram entrar em universidade federal e um atendimento para esse grau de carência e necessidade de umas maiores cidades do Brasil, que em Florianópolis também existe já isso e existe bastante. A gente tem alguns núcleos daí que trabalha com essa ferramenta esportiva, hoje estamos com sete e aí cada um deles em torno de cem crianças. Então novamente estamos trabalhando com já mais de 500, quase 700 crianças, o Instituto cresceu novamente nos últimos dois anos, que também acho que nós fomos muito assertivos com os parceiros e os retornos à sociedade, vai aumentando a credibilidade. Teve um projeto incrível que a gente fez com os deficientes, que chama-se FAPS, Fundo de Apoio a Projetos Sociais com os deficientes, a gente percorre o estado todo, abre para eles enviarem os projetos, todos relacionados aos deficientes para o Instituto, nós selecionamos. Aí tem esse projeto que eu acho fantástico, é um dos meus especiais do Instituto, que é o FAPS, é o Fundo de Apoio aos Projetos Sociais que vinculam os deficientes. A gente pegou o estado todo, repartiu em nove regiões, e aí dessas nove regiões todos poderiam enviar os seus projetos e tem um conselho que é formado para fazer o estudo e ver quais os projetos adequados para gente ajudar financeiramente, capacitação, tanto de montagem de projeto administrativo como depois prático, no dia a dia. E nesses últimos, acho que está em torno do décimo para o décimo primeiro ano que existiu já, que existe o FAPS, nós percorremos, já demos a volta no estado todo, deu 165 municípios, 188 entidades, e agora estamos dando a segunda volta, falamos: “Vamos fazer novamente” porque as pessoas já ficam naquela expectativa de quando vai aparecer novamente. E para gente foi também uma forma de expansão do Instituto com controle, que é o nosso maior medo, a gente ainda é restrito às atuações aqui em Santa Catarina porque o grau de exigência as atividades é muito alta, então a minha mãe gosta de ir e estar lá, ela vai a essa cidades todas do interior dando capacitação ela mesma. Eu fui a algumas, Anita Garibaldi, por exemplo, aqui, que tem cinco mil pessoas o município e o grau de carência da comunidade é impressionante, o dinheiro federal não chega nunca numa cidade dessa, é o fim, assim, é tão distante que os subsídios são muito pequenos, então a diferença que faz num local desses, aí entrega uma van ou monta um centro de ginástica para os deficientes. E o contato com eles, aí eles mandam, a mãe vai para lá, volta com o carro recheado, recheado de coisa, é banana, é bolacha, rapadura, de tudo, volta lá para casa, eles fazem muito trabalho manual também. E agora eu lembrei, só vou mudar de assunto porque eu acho que vale a pena acrescentar para vocês, que chegava muito à minha casa também pelos Correios banana e bala de banana, essas coisas tudo, porque ficou registrado que toda a virada de lado, eu ficava quatro horas na quadra, eu comia uma bananinha, que era o mais fácil de digerir e também saudável. Na época de 97 até 2004, volta e meia ainda aparece, mas tinha vezes que chegava em casa caminhão, tinha que distribuir, aí chamava a redondeza toda.
P/1 – Vinha pelos Correios?
R – Pô, vinha pelos Correios, vinha, eu acho que era contêiner de bala, vinha tudo, chegava a assustar às vezes, aí vinha a vizinhança toda: “Ó, chegou a remessa”, reparte, reparte, reparte, era engraçado: “Agradece ao Guga porque nós nunca vendemos tanta banana na vida”, o pessoal fala e um dos grandes produtores é aqui em Santa Catarina, se eu não me engano era Maravilha, uma cidade assim, comédia.
P/1 – Guga, quando começou, que tipo de patrocínio e desde quando você tem com os Correios? A relação, quando começou e que tipo de relação você tem com os Correios?
R – A nossa relação com os Correios começou, eu diria, uns dois, três anos já, uma aproximação, os Correios como patrocinador do tênis há mais tempo do que isso, então naturalmente a gente se aproximou nas atividades, os objetivos eram comuns, de desenvolvimento do tênis. Eles começaram já apoiando a gente na Semana Guga, que é um evento que eu faço aqui para os tenistas juvenis, é para o Brasil todo, mas também é internacional, vieram 20 e poucos países já o ano passado. E algumas Copa Davis que eu fui e consequentemente uma convergência para essa mesma missão, de formar novos grandes tenistas no Brasil, isso foi aumentando e evidenciando quase uma necessidade de estar junto cada vez mais.
P/1 – Mas você tem o trabalho do Instituto e você tem esse trabalho de formação de...
R – Esse aí é outro projeto já.
P/1 – Ah, me fala dele.
R – Pois é, esse é um outro projeto.
P/1 – Dá para falar resumidamente?
R – Dá, dá, aí na semana que eles são nossos parceiros já há uns dois anos nós vamos para quinta edição, a gente faz um evento aqui que se chama Semana Guga Kuerten, às vezes estranho falar o meu nome, (risos), mas funcionou de uma maneira espetacular. A ideia foi primeiro, a principal era resgatar o ambiente que existia nesse âmbito juvenil na época que eu jogava, porque uma das mistificações que apareceram no tênis foi essa de: “Ah, juvenil já não vale, é profissional agora, é Guga, Roland Garros, tal, tal, o meu filho, 12 anos, vai ser o melhor do mundo” e começou a dar a invertida e ser prejudicial esse tipo de estímulo. Aí dentro de uma crise nós vimos essa oportunidade, vamos fazer um torneio juvenil novamente, resgatando esses valores de família, de início de competição, sociabilização desses jogadores, respeito mútuo, convívio e inserir a competição dentro disso, trazer um alto nível, os melhores jogadores. E de que forma vamos fazer isso, ah, com um torneio de tênis, pô, legal, com uma exibição do Guga no final, aí eu participo de uma partida de exibição que eu já fiz quatro, a maioria delas é com os meus principais rivais, joguei já com o Bruguera, com o Moya, com o Lapentti e com o Kafelnikov. Além disso, o que mais? Tênis dentro das escolas, quadra de tênis no shopping center e aí a gente: “Vamos fazer uma festa de tênis na cidade”, é mais ou menos esse o resultado final. No primeiro ano tinha o objetivo de massificar o tênis, o campeonato e a exibição e de repente a gente percebeu, pô, é uma festa de tênis, traz todo o histórico do Guga embutido, mobiliza essa garotada toda com o exemplo de conquista, de vitória. E, dentro desse objetivo macro, desenvolvimento dos atletas já mais direcionado ao profissional, com os treinadores que vêm para cá, proporcionamos clínicas para os treinadores, para os jogadores, o Larri sempre está envolvido, outros profissionais, fazer amadurecer o nosso conhecimento de tênis, já específico para esse âmbito. Paralelo a isso, espalhar o tênis pela cidade toda e virou realmente uma festa, as pessoas saem pela rua e vêm, aí tem o Guguinha de dois metros de altura, cabeça desse tamanho, que desfila pelo shopping, então é uma forma de trazer um pouco o esporte mais para as pessoas, não eles terem que ir até o campeonato. Uma composição de evento que no terceiro ano já se tornou internacional, os nossos melhores juvenis todos passam por aqui, a gente procura premiar com alguns incentivos. O ano passado foi uma televisão, outro ano teve passagem, tem bolsa de estudos para os Estados Unidos, para dar um valor ainda especial para os meninos que ganham o torneio e provocar uma competição de alto nível aqui dentro do Brasil entre os nossos atletas. Vai para o quinto ano já, o ano passado tivemos 21 países, se eu não me engano, uma menina da Suíça e aí trouxe também chocolate, sino da Suíça, que ela treinava com a mãe da Martina Hingis, que me conheceu, de todo o histórico, veio jogar aqui, veio uma da Tailândia e histórias, assim, de pessoas que acompanharam toda a minha trajetória. A maioria, obviamente, são os brasileiros, mas é um projeto que deu muito certo e principalmente com efeito direto no tênis. E esse foi um vínculo já muito próximo com os Correios, que eles perceberam também que uma coisa leva à outra, então naturalmente, desde o ano passado, eu comecei a ter uma parceria já com eles de imagem, com eventos, elaborando também estrategicamente qual seria o melhor caminho para o investimento que eles têm hoje, que é fundamental no tênis. Hoje o tênis brasileiro definitivamente é muito melhor do que era até na época que eu jogava, claro que lá tinha um ídolo e um destaque excepcional, que hoje é inexistente, mas o base de tênis em termos de investimento, a garotada, o suporte que existe, hoje está bem na frente. E é essencialmente por causa do investimento dos Correios, eu acho que eles têm uma parcela de 70 a 80 por cento nessa conquista de importância. E aí não, foi só uma questão de timing, porque não precisou muito ver de que forma a minha figura era compatível, todas as atividades são muito naturais, para mim é um baita de um privilégio porque, eu mesmo brinquei, hoje é uma família que são mais de cem mil pessoas ao redor do Brasil todo, diretamente vinculado a qualquer tipo de atividade dos Correios. Eu faço parte de um patrimônio nacional, são quesitos que para mim são dos mais importantes da vida, assim, esse meu vínculo com o meu país, com as pessoas daqui do Brasil. Então hoje eu estou inserido dentro desse universo, é fantástico, tem momentos que eu estou com o presidente e outros com a faxineira do prédio de algumas das sedes ou com o carteiro no meio da rua, eu buzino, vejo o carro: “Eeee” e os caras já ficam. Foi bem massiva até a campanha que eles fizeram comigo porque eles já estão no tênis há muito tempo e isso, assim, já passou para, contagiou as pessoas muito rapidamente, então o mais bacana que eu vejo na prática para mim é esse, é a interação no dia a dia, no Guga cidadão aqui de Floripa, que volta e meia eu encontro, até mesmo em outra cidade: “Eeee”, então: “Agora estamos junto, parceria, tem que chegar”, eu brinco com eles: “Tem que chegar logo aí essa carta”, pego no pé, e é esse que eu acho que é um dos grandes privilégios meu, porque qualquer lugar que eu estou também, ao redor, eu sinto acolhido pelo tamanho da magnitude também que é a entidade tão valiosa dos Correios.
P/1 – Para encerrar, o que você achou de dar o depoimento para o Museu da Pessoa?
R – Achei muito, qual que seria a palavra que mais sintetizaria e encaixaria assim? Muito, eu já usei tanto satisfatório, gratificante, até, porque teve um tempero de interesse no meio também, de provocativo, se tivesse um palavra que envolvesse tudo isso, foi gostoso, resgatou algumas lembranças magníficas, eu vejo que talvez o diferente é ainda mais vinculado à pessoa, que eu acho isso fantástico. Gosto de lembrar desse meu papel como cidadão mais próximo do dia a dia comum assim, da vida normalizada, eu sei que a minha vida, ela se transformou numa amplitude maior e não tem como ser mais comum ou parecida com a média das pessoas, mas eu gosto de tentar deixar ela o mais próximo possível. Então eu acho que a própria palavra resume muito isso, o Museu da Pessoa, de tentar transmitir um pouco aqui o que é que eu fiz dentro dessa história toda para ser o jogador que todo mundo basicamente conhece, não é tão difícil assim porque essa proximidade, ela é bastante evidente para mim, não tem grande diferença. Mas tem momentos que, e a vida para mim, ela faz muito sentido também fora desses holofotes, dos títulos, de todo, ser número 1 do mundo, é o dia a dia, é estar com as pessoas.
P/1 – Seus filhos.
R – É, a minha família, tentar me interar um pouco mais também das outras histórias que vão estar junto as minhas, só eu acho que o próprio nome já é muito assertivo, não teria como ser diferente, eu acho que todo mundo e cada um é a sua pessoa e por isso tem que, de alguma maneira, tentar resumir essa história da melhor forma, espero que o pessoal curta aí, para mim foi super gostoso.
P/1 – Que bom, obrigada!
R – Valeu!Recolher