Entrevista de Maria do Carmo Alves Guajajara
Entrevistador(a) por Dailson Maricõ Guajajara e Rairiza Oliveira Guajajara
VIM_HV008
Tabocal, 18 de fevereiro de 2022
Projeto Vida Indígenas Maranhão
Então dona Maria, a gente em nome de toda a nossa equipe a gente quer agradecer a sua colaboraçã...Continuar leitura
Entrevista de Maria do Carmo Alves Guajajara
Entrevistador(a) por
Dailson Maricõ Guajajara e Rairiza Oliveira Guajajara
VIM_HV008
Tabocal, 18 de fevereiro de 2022
Projeto Vida Indígenas Maranhão
Então dona Maria, a gente em nome de toda a nossa equipe a gente quer agradecer a sua colaboração de tá dando uma entrevista pra gente contando a sua história, a gente quer agradecer também pela sua paciência e dizer que a sua história ela é muito valiosa pra gente em termos de contar, é quem a senhora foi. Pra futuras gerações, o quão importante a sua história é. A gente quer agradecer a senhora por a senhora conceder esse momento.
01 : 04
P – primeiramente é, qual o seu nome completo e sua data de nascimento?
R – Eu sou do dia 12 de outubro eu tenho 70 anos já, eu sou do dia 12 de outubro, agora minha era que eu não tô, só nos meus documentos, o dia que eu nasci foi no dia 12 de outubro a minha idade tá constando 70 anos, eu não sei se tá certo mas nos meus documentos tá e na minha palavra também tá eu acho que é isso mesmo que é a minha idade. Se lá no constando do ano por ano, a data tá certa.
P – A senhora poderia falar o seu nome Pra gente?
R – O meu nome é Maria do Carmo Alves Guajajara.
02 : 20
P – É, onde você nasceu, a senhora nasceu?
R – Eu não a lembro assim da era.
P – Não, onde que a senhora nasceu ?
R – Onde foi que eu nasci, o meu pai ele foi um índio de da Grajaú, agora o meu pai ele viajou fora da Aldeia aí ele encontrou a minha mãe. Aí ele depois é que
construiu a família, aí ele saiu de aldeia em aldeia pra gente morar, por causa que a aldeia dele, foi atacada aí ele saiu da Aldeia, foi atacada pelos Karayw, pelos brancos, aí ele saiu e foi pra Coroatá e lá em Coroatá que eu nasci, ele casou com a minha mãe e aí depois que a gente já tava grandin ele saiu em aldeia em aldeia e aí a gente veio aqui pra aldeia do Lagoa comprida e lá não tinha mais índio e aí a gente desceu aqui pra Santa Inês; chegamos aqui em Santa Inês no lugarzinho relampo próximo aqui a aldeia Aí a gente encontrou os parente e aí os parentes falaram que aqui tinha uma aldeia aqui próximo aos Pindaré, aldeia Pindaré, Porto Pindaré aí ele disse, até kuringueira, até morreu aí ele disse bora pra lá parente aí lá tem terra pra gente trabalhar, pra você acabar de criar seus filhos e aí a gente veio na companha dele e aí até hoje meus pais já morreram e a gente ficou, ele deixou uma semente dentro dessa aldeia e essa semente constituiu muitas sementes, tem muitas sementinha, agora tinha um garoto aqui o meu neto e outros garotos e garotas ali tudo são meus netos e a gente tá aqui, quando a gente chegou Aqui, aqui tinha muita mata, meu pai botava lavoura de roça. Eu não estudei por causa que a gente trabalha de roça, a gente plantava arroz, a gente plantava milho, mandioca, fazia farinha e aqui tinha muita caça né nessa época, aqui não era assim, era outo, era outo vida pra nós ia na floresta era grande a floresta aqui, era muita mata, bem aqui a gente saia matava caça era perto as mata e aí a gente cresceu aqui , e a gente fundou a vida nessa aldeia e a gente chama hoje em dia a nossa aldeia, foi o que Tupãn botou nós aqui, Tupãn é o senhor Deus é esse Deus Guardou nós aqui, o meu pai ta enterrado aqui, a minha mãe, a minha filha, tem uma netinha também enterrado e tem muitos antigos que ensinou muitas coisas pra nós também que já é enterrado aqui e aqui eu sempre tenho falado pra meus irmãos, pra mim, pra meus netos que daqui eu não vou sair, por que aqui que foi que meu pai deixou a gente e aqui nessa aldeia nós tem trabalhado, eu tenho enfrentado também pa gerar as pessoas que os que vão nascendo os que estão se criando a gente dizer uma palavra pra eles, olha meus fi ou parentes aqui é nosso, nós tem que lutar por essa terra até o final, por que aqui, aqui é nosso, nosso Território ele a onde tem o peixe pra nós comer, hoje em dia não tem muita caça mas já tá gerando que nós estamos criando as mata, eu trabalho no, meu esposo é Guardião eu já tenho fundado a vida de Guardião com eles, hoje eu paguei uma resfriagem andando dentro do mato mais ele, nas águas viu, eu era conselho de mulheres e a gente andava e eles botaram meu nome de Guardioa aí a gente andava ai dentro Rio, ai ia correndo nas canoas nas voaderas aí não guentei, criei uma resfriagem na coluna, aí eu vivo de tratamento de coluna aí eu não trabalho mais com eles Aí as minhas amigas, as minhas parentas Aqui que são indígenas que andam com eles nas matas, mas pra mim é o território que eu mais amo é aqui no Porto Pindaré e aí eu acho bom aqui, que aqui o papai lutou muito pra encontra essa território pra nós morar e até aqui a gente nu aprendeu a língua, hoje em dia eu entendo um pouco, e eu sou Crente Evangelho, eu canto, ajudo a cantar na Língua indígena o hino e aí eu tô aprendendo viu e aí a gente tem muita paixão, por que o pai da gente não ensinou a língua pra gente, mas nos estamos aqui pra contar as histórias da gente viu e pra mim eu Sou
muito feliz. A gente já morou ali no Januára, a gente, meu pai que fundou aquele lugar do domingão ali oh, ali era pra nós ter uma aldeia grande só da famía mas aí a gente
ficou morando assim pra cá, aí o domingão lá ficou um manto depois que meu pai morreu aí o domingão fez lá, fez aquele território pra ele e ta lá criando os netos dele os filho, ajuntou aquele filho que vivia também pela aí, o Manel a minha irmã tá morando lá.
Aqui eu moro eu a minha filha, meu filho, oto que mora pra li o nome dele é Reginaldo que mora ali, dali e a socorro e a gente tá aqui nesse monti e tem ela lá que é a minha irmã e o domingão que é meu irmão. O resto tão morando em Barra do corda, o meu irmão, meus sonbrin tão tudo morando lá, o meu irmão mesmo por parte de pai e mãe nos somo uma família que nós não fomos
estautiado não, meu pai morreu deixou a família dele grandona e aí eu tenho um irmão que anda por mundo também que ele largou a gente e aí pegou a vida dos brancos ele mora, ninguém sabe onde ele mora também, a natureza dele foi a natureza do meu pai. Meu pai largou o pai dele criança e ganhou o mundo, largou as aldeia mas o sonho dele que ele tinha era morrer nas aldeia e ele morreu e foi enterrado aqui na Aldeia Jenuára,
ali no cemitério, e a minha mãe também.
09 : 37
P – É dona Maria, qual lembrança você tem dos seus pais e dos seus avós, dos seus tios a senhora poderia contar um pouco assim sobre eles?
R – Eu tenho lembrança do meu bisavô, tenho lembrança da minha bisavó, da minha vó, a minha vó era Maria do Santo a minha bisavó se chamava Joana e o meu avô era Dioclides e o meu Bisavô era Raimundo Santo e aí os meus tios, eu tenho um tio que ele mora pra aí no Coroatá no Itapecuru mas a gente nunca mais teve contato, eu só tenho um tio irmão da minha mãe agora tia eu tenho 3, uma é chamava Maria Raimunda ai a outra era Ozebra aí um faleceu e as outras também não tem contato e aí nós nunca tivemos contato com os tios meus. Meu bisavô morreu e ainda fiquei criança, mas eu lembro dela, eu fiquei uma garota ainda de 9 anos, nós tudo novo, tudo novin, mais eu lembro dele, no dia que meu avô adoeceu, meu Bisavô ele pedia pra gente balança ele, balança, ele morreu e a gente balançando ele, agora meu avô ele ficou em Coroatá num tempo a minha mãe foi lá ele tinha morrido numa casinha sozinho, tinha morrido e a minha avó já tinha outro esposo aí ela morreu também e esse esposo da minha avó, foi que achou meu avô morto na casa eles moravam tudo perto, aí a minha mãe andou lá aí ele disse pra ela, o Marta o teu pai morreu tá com poucos dias achou ele aí na casinha dele morto aí a minha avó era trabalhadeira de roça também, a minha avó, o meu pai, meu Bisavô criou a mamãe, criou minha tias tudo fazendo farinha trabalhando de roça, quando meu pai encontrou minha mãe, a minha mãe tava numa casa de forno trabalhando, meu disse assim, ele podia ter a sua idade por ai assim, ele disse: eu vou me casar com uma moça daquela que são trabalhadeiras e ele casou com a mamãe e hoje em dia meu pai faleceu mas a gente tem muita saudade dele ainda, por que ele era uma pessoa muita
coisa doce com a família aí eu acho assim que a gente tá aqui mas a gente tem muita, muito parente por ai por fora mesmo que são índios também; a gente não tem contato.
13 : 01
P – É, Dona Maria na sua aldeia assim tinha Pajé, Cacique, como eles eram, o que eles faziam assim a senhora poderia dar detalhes assim pra gente um pouco da história?
R – Tinha.
P – É, a senhora poderia conta assim como era, contar um pouco da história?
R – Tinha pajé que ele fazia remédio ele cuidava da, dos oto índios, ele cantava também pra pessoa fica bom daquelas enfermidades, eles fazia casa de pau, eles fazia Garrafada pra gente ficar bom, ele curava as pessoas com aquelas palavras que ele tinha né, antigamente se chamava bisimento né, o pessoal vendia curava aí o pajé passava a mão nas pessoas pra ficar Bom viu. Eu conheci muitos pajés assim, que curava as pessoas, aqui mesmo, aqui na nos aldeia que a gente mora tinha o curino véi que ele curava gente eu tinha um neto, tinha não, ele mora aí, quando ele nasceu, ele deu uma doença que rachou a cabeça Aqui aí ele disse que era uma doença que entrava pela o vento na criança quando nasce aí ele arrumou umas palha de tukum e ele curou meu netinho, quando nasceu o Erinaldo, ele amarrou as palha de tukum e acendeu um Tuwary e assoprou aí ele tirou aquela enfermidade que entrou na cabeça da criança e a criança ficou bom, eu conheci Paraipe também que ele até teu tio né, Paraipe também, ele cansou de fazer remédio da mim; quando eu tava numa dor na enfermidade ele chegava ele acendia um cigarro e assoprava e eu ficava bom daquela dor, era um Pajé muito bom ele. Eu conheci, tinha também um Pajé aqui que aí a gente não botou muita fé nele, que ele aprendeu demais. Era o finado Mirim, era um Pajé muito forte, ele curava a gente aí a gente ficava bom mas depois ele começou as coisas nas pessoas aí a gente não deu mais apoio por que a gente quer que cura pra sarar as enfermidade pra curar pessoas pra ficar Bom. Não pra fazer o mal né, e ele era um Pajé muito bom mais ele do meio por fim a gente não botou mais fé nele por que ele já tava botando coisa diferente nas pessoas aí aqui foi os que eu conheci. Lá em Barra do Corda eu conheço 2 também, lá onde meu irmão mora, a vida de um Pajé é uma vida que ele conheci, conheci seu Nelson também, ele conhece o que que o senhor tem, ele conhece assim a Duduça chegar aqui né, Ele diz assim o Duduça tá acontecendo isso contigo né, tá acontecendo isso assim, o que é seu Nelson que eu tenho rum, tu tenha cuidado menina e é assim que a gente tem os pajés, que a gente conhece, que ele cura a gente, faz remédio, tira assim uma casca de pau faz um remédio pra gente, ensina muito remédios assim pra gente.
Eu boto muita fé assim quando, que nem hoje eu sou Crente né, eu não tenho mais essa assim essa ilusão de pajé, tenho não. O meu Santo poderoso é aquele, eu tenho tanta fé naquele Tupãn que eu chego aqui dentro da minha casa e ali eu ajoelho aí eu peço pra ele e ele me dar força, agora mesmo eu tive, agora que eu melhorei, já tô mais forte, mais eu quase morro com esse vírus que veio agora ai eu fiz um voto com ele e eu tô aqui, eu conversei com ele.
17 : 47
P – É , Fala um pouco agora sobre a cultura, qual era a língua que era falada assim na sua Aldeia ?
R – Língua falada de, da cultura. Que a Cultura era boa.
P – É, Qual era a Língua assim, a Identidade assim é.
tenetehara que vocês falavam ?
R – É língua tentehara de, a língua mesmo de, da cultura.
P – Um pouco da Cultura ?
R – Que se a gente, se eu gosto da Cultura, que eu do ponto na Cultura. Por que eu sou Crente mais eu não largo a minha cultura, eu gosto de tá, também brincando, de tá brincando com eles, eu adoro tá na cultura, eu gosto de me pintar, quando a gente rela o jenipapo, eu gosto de me pintar, eu gosto da Cultura.
Eu não quero que a Cultura se acabe não, eu sempre, eu gosto da Cultura do índio, gosto de ter aqueles cantos com a gente viu.
19 : 08
P – É, ainda sobre a Cultura assim, a senhora é, como é, sobre as festas, qual foi a mais marcante assim, pra senhora que marcou assim, a senhora ?
R – Os cantos?
P – Não, As festas, que festa.
R – As festas indígenas?
P – Qual é o que foi que mais marcou a senhora, que a senhora não esquece, que a senhora não quer esquecer nada desse dia?
R – Eu da menina moça assim, pode ser da menina moça?
P – A que a senhora mais gosta, que a senhora lembra até hoje?
R – Ah, eu gosto da festa da menina moça, eu gosto dessas festas que a gente faz cantoria assim só pra Brincar mesmo na cantoria pra cantar, pra pula, quando nós dança na cultura, essa eu adoro viu. Quando a gente tá cantando, eu adoro essa, pra gente tá dançando aí fazendo a roda, eu adoro,
a festa da menina moça, eu adoro também.
20 : 29
P – A senhora lembra de uma festa da menina moça, que a senhora nunca esqueceu ou numa festa que a senhora foi e nunca quer esquecer aquele momento?
R – Eu a lembro.
P – A senhora poderia contar pra nós, de quem foi, como que foi, onde ?
R – Eu a lembro, a primeira festa que eu vir da menina moça, foi da Maria Helena e eu nunca esqueci, Seu Manezinho a Maria Vitória, ela fez a festa, eles cozinharam as comidas dele no Tastiao viu até a minha mãe ajudou e eu nunca esqueci dessa festa dela, aí depois ela saiu com o domingão, fugiu, ai foi ser esposa do Domingão aí eu nunca esqueci dessa cultura dessa festa dela eu nunca, era 5 quando foi feita a festa, era 5 meninas que se formou e eu nunca esqueci.
21 : 36
P – E ia senhora lembra quem era os cantores lá, antigamente lá?
R – Lembro, era Curino véi, era curinin, era Paraipe, era um senhor que se chama Marcelino véi que ele foi capitão esse eu não lembro mais dele, por que eu saí, passei muitos anos assim fora da Aldeia viu, quando eu cheguei acho que ele tinha falecido, tinha um senhor que se chamava Raimundinho aleijado, tinha seu avelino, tinha muitos pessoas que tava cantando. Nesse tempo eu lembro, tinha pepino véi que era novo mais ele também gostava de sacudir o maracá, eu lembro das pessoas que tava nessa cantoria.
22 : 26
P – A senhora falou da dona Maria Helena com seu domingão, você pode contar um pouco dessa história pra nós?
R – Eu posso! Oia o domingão, ele levou a Maria Helena Criança, foi até ajudada mesmo por mim, a gente brincava muito e aí ele disse pra mim que queria casar com a Maria Helena, queria morar com a Maria Helena aí eu disse: ela é criança meu irmão, eu tinha 15 anos de idade nessa época e aí ele foi e tirou ela, nos tiramos ela lá pra casa ai ele foi embora pros prato, aqui por limoeiro com ela e a noite a minha mãe, ela não era indígena, aí a minha mãe tinha medo dos índios aí os índios se ajuntaram lá em casa com um monte de flecha alí no areinha e aí minha mãe tremia assim oh com medo de seu manelzin que era o pai dela, viu do Paraipe, com medo dos meninos que tudo, só o aderino que era afastado um pouco que não queria tá com flecha assim, e aí a mamãe chorou, a mamãe dizia eu tenho medo dessa aldeia Por que o paolino te Acalmar marta, já que a gente vai ajeitar isso, aí chamou os parentes, conversou com os parente, aí ele disse: parente eu não quero que minha fia ficar longe daqui ai o papai foi buscar ela, aí eles vieram, fizeram uma casinha ali no areinha mesmo e a gente ficou lá viu e ela ficou com ele e ficou até hoje, aí tem o Valte e não gerou mais criança mais ela cria os Sobrinhos com filho e meu irmão cria também, cria filho do Cunhado dele e ai eles viveram tão até hoje vivendo junto viu. Mas ela foi embora com ele criança, criança depois da cantoria dela Aí a gente quis que ela vivesse com ele meu pai e aí ela vive até hoje com ele.
24 : 42
P – Quando a senhora chegou Aqui, como que era esse lugar aqui?
R – Esse lugar aqui era uma matinha, esse lugar aqui não tinha ponte, quando eu vir morar aqui, não tinha ponte, aqui não tinha estrada, a gente atravessava lá no Januária pra ir pro zé boero, pra Bom jardim aí aqui não tinha estrada, em lugar nenhum nem pra ir pras aldeia não tinha estrada e a gente atravessa lá. Aí depois de muitos, acho que uns 5 anos atrás Assim que começaram o DNE a abri essa estrada aí começaram a fazer a ponte viu, aqui não tinha ponte quando nós viemos morar pra cá não viu, aí aqui era uma mata, uma matinha ali onde o Santo morava é uma mata, tudo era mata, mata, mata, tinha madeira muito mais grossa que essas daqui duduta, muita, muita mesmo, muita caça eu comi muita caça dessa aldeia, acabamos de se cria, pra gente entender as coisas foi comendo caça daqui, caça tinha muito peixe, ligume a gente comprava aí tinha milho, tinha mandioca, macaxeira, inhame, Abóbora, quase a gente não comia essas coisas assim aí a gente comia mais era mingau de inhame essas coisa viu e aí hoje em dia a gente diz assim os índios senti muita doença, por que não come as que era de antigamente, a gente já come é a comida dos brancos, já come é manteiga, já come é óleo, já come essas coisas comida temperada e é assim e aí diz que a gente ficar fraco com essas comidas assim. Eu acredito que é mesmo.
26 : 49
P – Como que se chamava esse lugar aqui ?
R – Aqui Tabocal?
P – Aham.
R – Tabocal, aqui ele se chamava era, beira da estrada de Ramal não tinha estrada né, Mas aqui não era aldeia Tabocal, aqui se Chamava, o lugar do Cearense, que o cearense que morava ali com a Cotinha. Só uma casinha que tinha lá dentro do Mato onde a comadre Maria mora, quando e eu entendi era bem ali a casinha deles a onde tem aqueles pés de manga, ali da comadre Maria, ali era duas casinha, era uma casinha do moço que chamava Deusdeth que era marido da minha irmã que a mulher dele era uma senhora que chamava Margarida ela morreu e aí esse Deusdeth ficou só, e a Cotinha morava com cearense e era só um lugarzinho que tinha ali, que se chamava assim viu, lá da aldeia do Cearense viu, aldeinha. Era ladainha ali, só era duas casinha que tinha bem ali perto da comadre Maria, onde ela mora, aqui não era aldeia Tabocal.
Essa aldeia Tabocal foi fundada, quando eu dei uma viagem pro Pará e ela foi fundada com o Finado Luiz Pico, Luiz Pico começou a fazer essa aldeia e aí começaram vir gente, vir gente aí minha mãe morava no Joroga aqui pra dentro, aí a minha mãe morava , aí a minha mãe voltou veio morar aqui na aldeia Tabocal.
O avô dela morava Aqui, Luiz Pico, uma velhinha que tem ali, você já viu ela, que é a avó dela, a asemira. Aí começou a crescer e hoje ela tem 50 família né ou é 60, pois é, e
ela tá crescendo. Ela pode não crescer mais por que aqui é uma ilha aí ela pode não crescer mais.
29 : 09
P – É, Dona Maria sua aldeia passou assim por alguma invasão de madeireira ou fazendeiro assim colonos?
R – Passou, posseram, o pessoal invadiram muito, fizeram muita lavoura aqui dentro, hoje que ela tá criando, mais ela virou capoera aqui ela não tinha lugar pra gente trabalhar de roça, só tem ali por lado do Joroga que já criou, mas aqui não tinha, aqui foi devorado, ali mesmo onde o domingão mora, ali tinha era madeira mais alta, mais grossa o madeireira que tinha ali em Santa Inês, ele devorou ali, levava as madeiras viu, ela foi muito, aí o pessoal invasou e fizeram muita roça aqui dentro o pessoal ali da colonha do bambu, pessoal da rua viu. Aqui ficou diferente demais viu, quando a gente, aí os índios, os indígenas começaram mesmo a rendar o pessoal botava na cabeça deles que era tinha que arrendar, aí eles arrendaram aí estoraram muita as matas, as florestas daqui, foi e virou só capoera, não ficou mais mata pra gente trabalhar mais viu.
30 : 48
P – Assim a senhora teve alguma história Assim que a senhora não contou, que gostaria de contar agora nesse momento?
R – Coma?
P – Se a senhora tem alguma história que a senhora não contou, que a senhora queria contar pra nós? Que a gente não lhe perguntou?
R – A eu tenho uma História pra me contar, mais a história da minha vida aqui, eu tinha muita vontade de casar com índio igual eu, não casei só branco, toda vida Minha sorte deu com branco. Eu quando foi uns anos, eu tinha arrumei um ajuntacão com um índio era o raiva de carneiro, me ajuntei com ele mas não deu certo eu tinha 15 anos de idade ele também era novin e aí a gente não deu pra construir a vida juntos e aí eu fiquei só. Aí eu arrumei um branco trabalhador do meu pai, ele trabalhava aqui dentro da Aldeia de roça mais meu pai, ele até pai da Socorrinha viu, aí eu fiquei com esse branco até os 3 anos aí ele foi embora não deu de nós viver, que ele era assim muito rebelde pra aquele judiar da filha, ela criancinha ainda bateu nela ainda com 2 meses de idade ela tinha, quase que ele mata ela e aí ele foi embora, papai mandou ele ir embora e ele foi e eu fiquei sozinha.
Aí quando passou uns tempo, aí eu deu vontade de sair da Aldeia pra mim, procura emprego, pra me trabalhar aí deixei minha filha com idade de 4 anos, 4 aninho, que eu saí, eu passei 18 anos fora da Aldeia, mas também eu sei contar muitas coisas da minha vida pelo mundo. Eu passei bem, eu passei mal, eu fui tratada mal, eu fui tratada bem viu, eu andei até em Manaus só que eu não conheci a cidade, eu passei uns tempo mais o pessoal que trabalhava na camaca correia, mais eu não passei nós cursos que eu fiz pra trabalhar, mesmo de cozinheira eu não passei, aí eu voltei pra Tukuru'y, aí eu fiquei em Tukuru'y a muitos tempos, aí tinha muitas fazendeiro pra lá e eu encontrei um rapaz que chamava um Tonhão e este rapaz, fiquei lá na hotel que trabalha servindo mesa lá eu e outa amiga e aí eu Simpatizei dele e aí gente viveu 8 anos, e esse 8 anos eu trouxe meus filhos pra cá, meus filhos são registrados aqui mas eles não nasceram aqui, eu trouxe eles pequeno só o Régis que eu trouxe Rapazin aí eu trouxe eles todinho pequeno o Jhony e a Lidia eu trouxe ela mocinha já e o Régis também Rapaizin.
Aí hoje em dia eu registrei eles, que eles não tinha registro. Aí eu registrei eles como índio, por causa da minha mãe, do meu pai, de mim. Mas eu sofri muito pelo mundo mais eu voltei e tem umas indinhas que elas foram pra lá, pro meio do mundo mais elas não voltaram mais e eu tô aqui oh contando a história, eu tô aqui e hoje meu esposo é índio viu, ele é índio a gente se atende muito bem, ele é mais novo do que eu, ele tem 56 anos.
35 : 05
P – Como foi pra senhora contar um pouco assim da sua história pra gente hoje?
R – Outra história.
P – Não, como foi pra senhora contar a sua história hoje pra nós aqui?
R – Por que, eu acho que chegou assim o momento certo deu contar né história pra dois indígenas
e pro senhor que não é.
Eu simpatizei muito dele pra me contar essas histórias, aí então assim, acho que é assim né, que quando chega um dia da gente se encontrar, para conversar um historinha, acho que chega aquele momento né, aquela hora, aquele dia, chegar aquele momento que Deus dar, Tupãn dar o momento pra gente e agora chegou a hora deu conversar com a Duduta com Dailson e com o senhor, como é seu nome? Márcio. Marcos. E com seu marco e a gente se entendeu, eu Simpatizei de conversar essa história com ele, contigo, com ela ali e eu contei as histórias né, do passado viu.
P – Gratidão!
R – Eu fui muito sofrida na minha adolescência, fui muito sofrida quando era Novinha. Esses daqui são tudo neto meu, esse daqui, essa daí, esse daí, aquela ali é uma filha adotiva. Pois é seu marco eu criei aquela filha ali oh.
37 : 11
P – Se a senhora fosse levar pra sua Vida, uma memória que a senhora não quer esquecer nunca que foi importante pra senhora, o que a senhora levaria?
R – É, como é duduta?
P – Se a senhora fosse levar pra sua Vida, algo que a senhora nunca quer esquecer, o quê que a senhora levaria? Uma lembrança, uma memoriazinha marcante?
R – Uma lembrança marcado da minha vida?
P – É, o que a senhora
levava pra sua vida, o que a senhora não quer esquecer nunca, que a senhora vai leva pra sua vida ?
R – Eu acho que, o que eu marquei na minha VIDA, foi eu tá junto com meus irmãos, brincar com meus irmãos, a gente inventava uma festa, a gente tocava, tinha uma radiolinha de braço, e o que eu nunca esqueci da minha lembrança da minha vida de novinha foi essa, eu com o domingão com o Taurino. Pois é, eu sempre tem levado a, o meu irmão fez uma taboca, ele fez ir uma música ele tocava, ele disse que era uma clarineta que ele tinha, que ele tocava, ele botava uma paeta aí o taurino batia no pandero, o domingo tocava aí nós cantava. Isso daí eu nunca esqueci que a gente brincava essa brincadeira, a gente dançava viu e aí nós aprendemos até que os vizinho vinha, os meninos indígenas da Aldeia ali vinha e dançava com a gente e eu nunca esqueci de quando eu tinha a uns 14 anos, eu nunca esqueci dessa dai viu.
As vezes assim quando eu andava dizia eu mais meus irmão a gente brincava, nos tocava, nos fazia carnaval, e aí eu nunca esqueci desse aí.
39 : 31
P – Então dona Maria a gente quer agradecer novamente por essa sua entrevista, pela sua história de vida, é uma história de vida muito bonita, eu creio que não é só essa história que a senhora tem, que senhora viveu muito, mas a gente agradece o momento que a senhora contou um pedacinho da sua história pra gente, pra ficar marcado a gente nunca vai esquecer!
R – Tá!
P – Gratidão!
Marcos – Muito obrigado Dona Maria a senhora foi incrível, maravilhosa,
Muito obrigado!
R – Tá certo! Comi muita Cutia aqui, assada, Cutia, paca, e hoje eu como muita capivara que é a Caça que mais tem, muita capivara tem comida aqui, depois eu tá idosa, eu boto ali no Varal seca, eu como assada, eu como cozinhada, as vezes meu esposo mata mais os outros aí eu boto um quarto inteirinho pra muquiar, fica muquiado aí eu faço aquela farinha molhada ai eu como com molho de pimenta e
limão viu. A carne de capivara é gostosa viu, do mesmo jeito é Pira, eu como pira Mimoi, eu como pira mirrira, me diga o que é Pira mirrira ?
Marcos – Eu não conheço? A senhora pode contar também?
R –
Pira mimoi. É cozido e assado viu. É o que é, a gente assa come assado ou Moquiado a gente faz um Giral e bota pra assar com escamas e tudo a gente come é gostoso viu, pira mirrira, pira mimoi e a gente adora a comida viu com um xibeuzin, farinha azeda. Um dia que você anda por aqui e tiver uma capivara muquiada nós vamos comer viu.
Marcos
- Muito obrigado!
R – Se tiver um pira mimoi nós come também, eu sei que você já comeu por ai nas aldeia, não já, panela de peixe, agora que não tá tendo o Rio cheio, eu até suei (risos), eu não gosto de tá contando essas histórias assim de cantoria dessas coisas que eu lembro do meu pai. É uma história muita que meu pai contava pro curino vei assim das aldeia, de Grajaú viu. E meu pai contava duma ilha do Bananal que tinha muita aldeia nessa ilha do Bananal e aí eu não gosto de lembrar assim que me recorda muito, aqui tem um lugar tinha uns pé de pequi pra culá a gente chama cruaçu né, Cruaçu viu, eu não gosto de passar nesse lugar lá, que lá lembra meu pai. Cantoria eu brinco mais as meninas e quando tem cantoria, mas primeiro eu choro as vezes a gente olha assim pra mim e eu tô chorando, eu a lembro meu pai, não tem uma brincadeira também que chamava de boiada você conheceu?
P – Não!
R – Essa também me traz na lembrança do meu pai, meu pai gostava. Agora meu pai gostava de cantoria, as vezes eu vou ali pra casa do meu filho e a gente bota cantoria no YouTube, tem hora que, para mim tu que é chorar, eu lembro do meu pai demais de cantoria, por que não tinha uma cantoria pra ele não ir, não cantar e não bater o pé também, meu pai gostava. Aí eu a lembro demais, quando eu tô conversando assim do meu pai e da minha mãe. Eu a lembro, as vezes quando eu sento aqui na porta que eu olho pra li eu lembro da minha mãe, por que a minha mãe é, ela morreu de depressão e a Apendicite espocou nela também lá em São Luiz, mas a minha mãe andava 6 vezes num dia da areinha pra cá com a trouxinha debaixo do braço aí as vezes quando eu olho pra li a tarde eu a lembro dela, aí eu digo a minha mãe podia está aqui com nós, eu a lembro dela demais. Essa estrada ali marca muita história da minha mãe, eu não gosto de andar de pé ali naquela estrada não que eu a lembro da minha mãe, a minha mãe morreu, ela as vezes ela caia ali no meio da pista as carretas passavam quase botando ela, as pernas dela trupicava só dela andar, ela andava muito a minha mãe muito, muito mesmo, aí ela tem um marido índio timbira aí ele disse que o domingão falou que ele não queira ele lá mais que a mamãe não tinha mais assim jeito de cuidar da casa, a minha mãe deixava as coisa queimar, ela esquecia por causa da depressão, aí ele disse assim pra mim arruma um lugarzinho aqui pra ele, pra ele mora aqui, aí eu fui e trouxe ele, ele mora ali, ele é um índio timbira mais eu gosto dele como meu pai, aí eu marco essa história no meu da minha mãe. Por que as vezes tem umas mulheres que é as irmãs da igreja pegava ela ali na estrada e mandava me chamar. Maria do Carmo tua mãe tá ali, nos tiramos ela da frente da Carreta, ela caída, acho que vinda ela dar 6 vezes, ela vinha no correr do dia aí as pernas dela acho que não aguentava ela caia na pista com a trouxinha embaixo do braço ela, aí quando ela chegava aqui mamãe a senhora veio com quem, eu vir com Deus assim que ela dizia pra mim, eu vir mais Deus o mamãe larga de andar, domingão fez uma cerca pra mamãe não vir pra cá e a mamãe furou o buraco na cerca e veio aí ela disse assim, eu venho pra onde o meu marido que tomaram meu marido e era ele, e ainda hoje tá aqui junto com nós é uma bela pessoa ele, ele é timbira ainda, um índio timbira, ele não sabe a língua de Guajajara só de timbira mesmo.
Aí eu marco essa história no meu coração da minha mãe, a minha mãe era trabalhadeira, minha Guerreira e a mãe não morreu velha não, nova, nova minha mãe morreu, ela fazia tudo, varrea terrero, capinava, ela morreu da doença que matou ela.... Ela foi Morrer em Barra do Corda, mas ela foi enterrada aqui com a gente, nos ficamos o velório dela aqui, ela foi selado aqui. Eles levaram ela pra
operar ela lá e morreu que não era pra ter levado, por que ela, o abalo da viagem infecionou a operação dela do apendicite que foi espocada, o médico botou uma tripa de borracha nela, aí levaram ela pra tratar dela.Recolher