Tenho dedicado muito tempo e esforço na busca de dados de meus antepassados. E a busca não é só na vertical (avós, bisavós, trisavós, etc.) mas também na horizontal (tios, primos, filhos do primos, etc.), às vezes, também, na busca dos antepassados dos cunhados, concunhados, amigos, etc. D...Continuar leitura
Tenho dedicado muito tempo e esforço na busca de dados de meus antepassados. E a busca não é só na vertical (avós, bisavós, trisavós, etc.) mas também na horizontal (tios, primos, filhos do primos, etc.), às vezes, também, na busca dos antepassados dos cunhados, concunhados, amigos, etc. Datas, locais e documentos de nascimento, casamento e morte.
Os três registros chave de nossas vidas!
Alguns podem achar que tal atividade seja coisa de velho, aposentado, saudosista, desocupado, ou qualquer outro rótulo, mas independente de qual classificação eu me encaixe, devo reconhecer, que essa busca tem me fascinado e, inclusive, tenho me policiado para não me tornar o chato das rodas de conversa, onde tudo cai no que deseja falar, ou seja: um fanático.
Mas, voltando ao motivo dessa mensagem, e tentando não agir como um fanático, preciso dizer que na busca desses dados e na reconstituição do entendimento de onde viemos, me deparei com muitas curiosidades e a compreensão de algumas histórias contadas ao longo dos anos, em nossos encontros na casa da Avó MARIA E Vô JOÃO! Sim, porque não há nada mais significativo da conexão que existe entre os descendentes desse casal, do que os almoços de domingo ou o café da tarde que todos nós alí usufruímos, por muitas e muitas vezes.
Ao me deparar com os dados citados acima, apesar da quantidade enorme desses dados e de chegar, em alguns casos, a 7 gerações antes de mim, percebi que minha árvore genealógica estava pobre. Ela se resume a dados, pouquíssimas fotos e nenhuma história. E quão rica é a história da vida de uma pessoa. Quantos momentos de alegria, tristeza, angustia, dor, compreensão, aprendizado (físico, moral, intelectual, espiritual, filosófico), erros e acertos, entendimento, desentendimento... etc. Sim, acredito que faltam as histórias, ou fragmentos de histórias...
Dou três exemplos que vivenciei:
PRIMEIRA HISTÓRIA: FAUSTO
Certa vez perguntei para minha avó Maria de Paiva (mãe de meu pai) quantos filhos ela tinha. Ela prontamente respondeu: Seis.
Meu pai, ouvindo a conversa, intercedeu e disse: não mãe, são cinco. Ela o corrigiu: Seis. Você se esqueceu do Fausto. Ele morreu cedo... mas é meu filho!
Claro que as palavras devem ter sido diferentes, mas a ideia permanece. De certa forma, todas as alegrias e dores dessa ligeira, mas não rasa história, se perderam com o passar dos anos e com a morte de minha avó, em 1992, aos 81 anos. Ela perdeu um filho com 1 ano e 11 meses. Tinha 23 anos quando isso aconteceu. [
Hoje eu tenho a maturidade e a vivência para compreender o tamanho dessa dor. Talvez por eu ter participado dessa pequena história, fiquei profundamente emocionado ao encontrar os documentos de nascimento e morte de meu Tio Fausto. A grande parte de nós, descendentes, sequer sabem de sua existência de curtíssima passagem. Senti-me homenageando a memória dele e da mãe, que nunca deixou de sentir sua falta!
FAUSTO PIRES MOREIRA
* 10/03/1933 – Vila Novais - SP
+ 25/02/1935 – Vila Novais - SP
SEGUNDA HISTÓRIA: OLIVIA E VALDESI
Me lembro de ter conhecido Tia Olivia, já idosa (mais de 75 anos). Tinha o hábito de caminhar. Se precisasse de uma linha ou tecido, lá ia ela até o centro da cidade buscar. Ia à pé. Três km pra ir, mais três pra voltar. Os PIRES parecem ter uma genética longeva, mas seus representantes davam uma boa ajuda. Alimentação correta (o que será que é isso?) e caminhada constante. Talvez característica da época e condições em que viveram.
Tia Olivia era bem organizada. Dia certo para fazer pão! E que pães maravilhosos ela fazia. Tive a oportunidade (mais de uma vez) de prová-los. Dia certo para passar roupa... e assim ia. Parecia se dar muito bem com a nora (Saturnina) e com os netos, com quem vivia mas, com certeza, era uma mulher DURONA!
Na verdade ela era minha Tia avó. Tinha um rosto que era xerox autenticada e com firma reconhecida de seus irmãos. Até onde apurei tanto mulheres como homens tinham nomes padrão: Mulheres se chamavam:
XXXXXXXXXXXXX MARIA PIRES
Amélia, Augusta, Brasilina, Conceição, Deolinda, Idelfina, Olivia, Valdesi e Virginia,
Homens se chamavam:
YYYYYYYYYYYY PIRES MOREIRA
João (nosso avô), Joaquim, José, e Virgílio. Participei da festa dos 80 anos de Tia Olívia.
Conheci seu filhos, mas um pouco mais o filho João, atuante e respeitado membro da comunidade católica de seu bairro, seus netos e a bisneta Jéssica, de mesma idade de Rafael, meu filho! Ela morreu aos 99 anos, 3 meses antes de completar os 100. Antes de partir ela velou 2 netos e a bisneta Jéssica, que com 7 anos, nos deixou por causa da Leucemia!
No dia de seu enterro, sentada ao lado do caixão encontrei Valdesi, a mais nova de seus 12 irmãos e irmãs. Até onde sei, a única viva. Cumprimentei-a e ela me disse:
- Viveu o que tinha de viver, sofreu o que tinha de sofrer. Missão Cumprida!
Isso foi em 2011. Nunca mais me esqueci dessa frase!
OLIVIA MARIA PIRES
* - 16/02/1912 – Cravinhos – SP
OO - 23/08/1934 – Vila Novais - SP
+ - 31/10/2011 – São José do Rio Preto - SP
VALDESI MARIA PIRES
*02/05/1932 – Vila Novais – SP
TERCEIRA HISTÓRIA: MARIA E LUZIA
Sempre gostei de “sacanear” a Avó Maria. Mas ela sempre consentia. Talvez por ter, ela mesmo, me sacaneado várias vezes. Uma dessas vezes, quando pequeno (6 anos), e eu lembro claramente desse episódio, estava prestes a iniciar a vida escolar, e eu gritava aos sete ventos que preferia ser lixeiro a ir para a escola. Então ela me contou que os soldadinhos de plástico que vinham dentro dos vidros de TODDY eram meninos que não quiseram estudar. Aquilo me incomodou bastante!!! (KKKK).
Depois de adulto brinquei com ela perguntando se não sentia vergonha de ter mentido para uma criança, e ela respondeu: Eu não, vc acreditou e resolvemos o problema!!!
Mas voltando à história original, todos nós sabemos como nossa avó Maria sofria com os excessos alcóolicos de seus filhos. Certa vez, ela veio nos visitar, e como já tinha feito anteriormente tirei uma foto dela segurando duas garrafas de bebidas. Se fosse hoje, postaríamos no “zap zap” e/ou Instagram e/ou facebook e tiraríamos inúmeros “sarros”. Ela não ligou e tirou a foto.
Muitos anos depois a Tia Luzia veio com a Tia Izabel (suas filhas), aqui em casa. Fomos na Festa das Nações, organizada pela igreja católica. Tia Luzia, nem água bebeu na festa! Já em casa, em determinado momento, mostrei a foto da Vó Maria... disse-lhe que queria tirar uma foto igualzinha, no mesmo lugar e ainda mais... segurando as garrafas de bebida.... Ledo engano meu. NÃO DEIXOU MESMO!!!! (kkkk). E olha que nem tinha essa história de redes sociais...
MARIA DE PAIVA MOREIRA 21/04/1911 – Cajurú – SP
OO - 07/01/1928 – Vila Novais - SP
+ 23/07/1992 – São Paulo - SP
LUZIA PIRES DA SILVA
* 10/10/1928– Vila Novais – SP
+ 10/07/2020 – São Paulo - SP
Talvez, hoje, eu compreenda melhor a ânsia da Tia Izabel, da Vó Maria e do Vô João, e dos demais parentes mais idosos do que eu, quando eles me “pegavam”, pra contar histórias que já tinham me contado outras vezes e que eu, de certa forma não dava a atenção almejada por eles. Histórias que tanto valor tinham em seus corações e de tão grande significado para eles.
Eu não tinha a bagagem necessária para essa compreensão, para valorizar pequenos momentos, memórias, lembranças.
Preciso me policiar, e não deixar que o cotidiano tire de mim, a oportunidade de conhecer tudo isso melhor!Recolher