Inisio Caleffi nasceu no dia 13 de novembro de 1927, na fazenda Cruzeiro, no município de Monte Santo, região Sul do estado de Minas Gerais. Primeiro filho do segundo casamento de Santo Caleffi e Maria Frania Uzae Caleffi. Santo Caleffi era italiano, vindo do Norte da Itália, da Região da Lombar...Continuar leitura
Inisio Caleffi nasceu no dia 13 de novembro de 1927, na fazenda Cruzeiro, no município de Monte Santo, região Sul do estado de Minas Gerais. Primeiro filho do segundo casamento de Santo Caleffi e Maria Frania Uzae Caleffi. Santo Caleffi era italiano, vindo do Norte da Itália, da Região da Lombardia, Província de Mantova, Comuna de Poggio Rusco. Os avós de Inísio Caleffi por parte de pai era Teodoro Caleffi e Vincenza Bastasini Caleffi. Seus bisavós eram Luigi Caleffi e Luigia Bulgarelli Caleffi; Maria Frania Uzae Caleffi era de família de origem italiana, mas ela nasceu no Brasil. Os avós de Inisio Caleffi por parte de mãe era Francisco Usai e Frany Usai. Eles eram da Ilha da Sardenha na Itália, da Província da Sardenha do Sul, da Comuna de Sardara.
Inisio Caleffi viveu nesta fazenda de café no município de Monte Santo até os dez anos de idade junto com seus pais e avós. A vida ali não era fácil não. Tudo era muito difícil e regrado. Trabalhavam de empregados. Viviam em uma colônia de italianos e espanhóis. Todos imigrantes com histórias muito parecidas. Ali na fazenda do fazendeiro Major Vicente Ferreira Cavalhaes o trabalho era duro e a renda era pouca, as vezes chegavam a passar necessidades.
Inisio era um menino inteligente, esperto, vivaz, puxou um pouco mais pela mãe sardenha que era bem morena, estatura mediana, de cabelos negros, olhos negros, linda. Ele era um menino lindo, moreno igual a mãe, olhos negros, cabelos pretos. Enquanto seu pai era loiro, olhos claros, cabelos claros, alto, forte. Tinha um carinho muito grande a seus avós, que quase não falavam português. Sua avó Vincenza Bastasini Caleffi já havia falecido quando ele nasceu, não teve a oportunidade de conhecê-la. Brincava muito com as crianças da fazenda assim como com o Antonio Caleffi e com Cândida Caleffi que era seus irmãos mais velhos do primeiro casamento de Santo Caleffi com Genoveva Bonato Caleffi. Cândida com doze anos de idade morreu de tétano.
Quando Inisio Caleffi tinha mais entre dez a doze anos seus pais decidiram mudar da fazenda Cruzeiro do município de Monte Santo para uma fazenda não muito longe dali no município de Guaranésia. Já tinha outros irmãos que também nasceram ali na mesma fazenda Cruzeiro do município de Monte Santo: Mario, Valdomiro e o caçula Onofre. A avó de Inisio, Frany Usai, mãe de sua mãe, foi morar com eles, pois seu marido Francisco Usai tinha falecido. Além de um filho do irmão de Maria Frania Uzae, chamado Osvaldo Uzai, foi morar junto com eles, pois Joaquim Uzai, irmão de Maria Frania Uzae, que era mascate e viajava muito e acabou arrumando outra família no interior do estado de São Paulo e abandonou a mulher Rosa Antonioli com três os filhos, um menino e duas meninas em Monte Santo, ai os parentes acabaram por acolher as crianças. Osvaldo Uzai era da mesma idade de Inisio Caleffi ficou por um tempo morando junto com minha avó Maria Frania Uzae e com o Avô Santo Caleffi, ainda em Monte Santo. Inisio cresceu vendo esta solidariedade e acolhimento de seus pais.
Despediu de seu avô Teodoro Caleffi, que ficou morando na fazenda de Monte Santo junto com seus outros filhos e filhas, e foi junto com seu pai, sua mãe e seus irmãos para a fazenda de Guaranésia, para a nova moradia, tinha uns doze anos de idade. A Fazenda de Guaranésia tinha mais estrutura e até uma escola, era bem organizada. Foi bom para ele e seus irmão, apesar da saudade do avô Teodoro. Inisio aprendeu ali a ler e escrever. Estudou até a terceiro ano. Ele era inteligente e interessado nos estudo, gostava de estudar, de ir para a escola. Foi o que mais estudou dos irmãos.
No ano de 1944 seu pai e sua mãe resolveram mudar de novo, em busca de uma vida melhor. Agora iriam mudar para um outro estado. Vieram para o estado do Paraná. Para Inisio foi uma verdadeira aventura. Ele já era um moço bonito na flor de seus 17 anos. Moreno, alto, olhos castanhos, cabelos pretos, magro, inteligente, educado, ativo, esperto, feliz. Foi morar no município de Cornélio Procópio numa fazenda a sete quilômetros da cidade.
Ficou pouco tempo ali em Cornélio Procópio. No ano de 1946 muda junto com sua família para o município de Cambé, numa fazenda que ficava a quinze quilômetro de cidade de Cambé. Ali tiveram que derrubar mata virgem e formar uma lavoura de café. Muito trabalho, trabalho duro. Inisio já tinha 19 anos de idade.
Em Cambé foi muito bom para a família de Inisio Caleffi. Conseguiram ter boas colheitas e juntar um bom dinheiro para comprar um pedaço de chão para eles, um sítio, para deixar de trabalhar de empregado. Era sonho antigo que eles buscavam. Sonho buscado há muito tempo. Realizou-se.
No ano de 1948, seu pai Santo Caleffi comprou um sítio no município de Marialva. Um sítio muito bom, de dez alqueires paulista. Sonho realizado, alegria plena. No ano de 1951 a família toda mudou-se para o sítio de Marialva, que agora era deles. Foi muita alegria. Santo Caleffi registrou o sítio no nome dos seus quatro filhos, Inisio, Mario, Valdomiro e Onofre. Era deles! Atitude bonita de Santo Caleffi. Mas quem mandava mesmo era Santo. Foram muito felizes ali.
Inisio Caleffi conheceu uma moça muito bonita uma rapariga em flor que morava ali pertinho, quase vizinho do sítio deles, só que era do outro lado do rio Marialva, há uns dois quilômetros de distância, indo pela beira do rio, do sítio que ele morava. Ela era linda, na flor de seus 19 anos de idade. Ele tinha vinte e quatro anos. Ela clara, magra, estatura mediana, olhos claros, inteligente, meiga, feliz. Os dois eram lindos, como é lindo a juventude, cheia de alegria pura, verdadeira, natural, cheia de esperanças, de sonhos, de utopia, sem medo no futuro, a vida neste momento é eterna, seus olhos brilhavam de alegria, tinham se encantado, tinham o futuro todo pela frente para ser feliz. Felicidade plena. Para eles o céu existia, estava ali, acontecendo naquele momento eterno. Há! a juventude! Por que será que o tempo permite que ela passa?! Devia ser eterna. Quem sabe não é e é nós que não percebemos ainda?! Não capitamos? Quem sabe?!
Madalena era filha de uma família enorme de italianos assim como Inisio. Ela era filha de João Santiago e Carmella Artoni Santiago, também imigrantes. Eles tinham um sítio de quinze alqueires paulista ali perto. Carmella era muito boa, coração bom, afável, mas João Santigo era um italiano enfezado, bravo, de poucas palavras. Ele era alto, claro, magro, olhar firme. Deve ter sido duro para Inisio. Mas fazer o que estava apaixonado, então não tinha outro jeito a não ser superar o medo e enfrentar o velho João Santiago. Foi o que fez. João permitiu e começaram a namorar. João Santiago não era tão bravo assim, era um bom coração de italiano. Tinha na verdade ciume da filha caçula. Namorava sempre sobre a vigilância do olhar de João e Carmella. Além do que Madalena tinha quatro irmão enormes, e ela era a caçulinha. Imagina o que Inisio passou. Mas valeu a pena, o amor sempre vale. Se casaram no dia 17 de fevereiro de 1953 na igreja Matriz Nossa Senhora de Fátima de Marialva. Vieram os filhos. Dois meninos e duas meninas. Quando tiveram a sua filha no ano de 1958 Madalena ficou muito doente, teve febre tifoide, sofreu muito, Se recuperou.
Um fato marcou muito a vida de todos lá no sítio, especialmente Inisio. Pegou fogo lá no sítio. A lavoura pronta para a colheita, todos esperavam uma boa colheita. Depois de muito trabalho, cuidado, preparação, expectativas, estava chegando a hora da colheita. Ía ter a melhor colheita dos últimos tempos. De repente pega fogo destrói tudo, queima tudo, plantações, colheita, cafezais, tudo, desespero total, pânico geral, tristeza, desolação. Tentaram apagar o fogo, mas não adiantou, queimou quase tudo. Todos sofreram muito, ficaram desolado, Tristeza total. E agora?! Inisio em especial sofreu muito, ele esperava muito daquela colheita, tinha trabalhado muito, fazia planos. Ele levou um choque, foi o que mais sentiu ali no sítio. Entrou em desespero, se desequilibrou. Ele começou a achar que era um vizinho que tinha botado fogo na lavoura deles, queria de todo jeito tirar satisfação com ele, se não fosse Santo e seus irmãos segurar ele, teria ido brigar com o vizinho. Mas não deixaram. Na verdade ninguém sabia direito o que tinha provocado aquele fogo no sítio.
A partir daquele momento, daquele choque Inisio já não era mais o mesmo, entrou em uma depressão profunda e nos momentos de crise ficava agressivo com sua mulher, tinha ciume, não era mais o mesmo, homem cordial, educado que sempre foi, adoeceu. Só obedecia seu irmão Valdomiro. Sofria muito. Era muito triste de ver. A vida de Inisio e de sua família mudou muito depois daquele fato. Ele era muito bom, trabalhador, mas quando dava a crise nele ficava agressivo. Chegou ao ponto que ele foi internado em um sanatório. Sofreu muito, nós também. Levou muito choque forte, sofreu, tomava remédio muito forte que tirava dele toda a sua energia e vitalidade. Uma vez foi internado no sanatório, depois de levar muito choque elétricos, não aquentou mais, a primeira chance que teve, que os funcionários do santório descuidaram ele fugiu. Imagina o desespero, o que ele sofria com este tipo de tratamento. Fugiu com a própria roupa do sanatório, descalço, como conseguiu ninguém sabe. Mas fugiu, daquela tortura. O que fez muito bem. Veio a pé, pegou carona, como não sei, deve ter andado muito. Que sofrimento! De repente apareceu atravessando a ponte do rio Marialva, que dava acesso ao nosso sítio. Todos ficaram espantados de ver aquela cena, foram correndo lhe encontrar. Estava descalço, todo sujo, desnutrido, cansado, queimado do sol, mas estava sereno, tranquilo, em paz, calmo, sorriu e abraçou a todos. Quando viu toda sua família em seu entrono ficou feliz e sorriu tranquilo. Era o Inisio de sempre. Ele nunca contou como fugiu e como veio, nunca reclamou de nada, tranquilo, descansou, depois voltou a trabalhar na roça normalmente, como todos. Ele era muito carinhoso com todos. Só tomava seu remédio. Nunca mais voltou a ser internado no santório. Quando dava a crise, tomava o remédio forte e dormia. Tio Valdomiro ficava por perto, ele obedecia. Qual era sua doença?! Há! se eu tivesse o entendimento que tenho hoje naquele tempo iria lhe ajudar.
Inisio caleffi vinha passando até bem nos últimos anos, mas no ano de 1973, no dia 12 de outubro ele faleceu, tinha apenas 46 anos de idade. Eu tinha 12 para 13 anos de idade. Inisio deixou uma linda história, uma linda lembrança, de luta, de luta contra o preconceito, de dignidade, de homem bom, de amor, de pai bom, carinhoso, que nos enche de orgulho. Enfrentou seu problema com dignidade, com os recursos e informações que existia na sua época, disponíveis na época. Sofreu mas nunca entregou os pontos. É um exemplo e luz para sempre. Deixou uma linda família, deixou uma linda história. É um exemplo que não podemos desistir de lutar nunca mesmo diante dos desafios mais difíceis, que devemos ter fé na vida, ter fé em Deus, ter fibra, de que o vale é o amar sempre. Lembro que quando eu chegava da escola ele pegava meus cadernos e livros passava o olho e quando encontrava uma folha em branco seu olho brilhava, ele passava a mão sobre a folha branca e na minha cabeça de menino, me olhava e dizia:"Olha filho, que coisa linda esta folha em branco, dá para escrever muitas histórias aqui." Há! que saudade! momento eterno. Parece que estou vendo ele me dizer essas coisas com todo carinho de pai. Hoje escrevo um pouco de sua história nestas folhas brancas. A sua profecia e seu desejo se realizou. Não sei se com toda dignidade que ele merece, mas ele me perdoa se eu deixei a desejar, ele sabe que fiz com amor. Tenho certeza disto, pelo seu amor de pai que não esqueço. Escrevi esta pequena história, um pouco de sua história, que marcou-me definitivamente para sempre, está no meu coração, está na história.
Inisio Caleffi meu pai.Recolher