Refleti muito antes de me propor a escrever essa história. Pois estamos num momento difícil de pandemia e penso que temos que nos nutrir de boas lembranças. Irei contar uma parte da minha história que remete a lembranças e memórias de alegria, felicidade, desafios e superações. Tinha acabad...Continuar leitura
Refleti muito antes de me propor a escrever essa história. Pois estamos num momento difícil de pandemia e penso que temos que nos nutrir de boas lembranças.
Irei contar uma parte da minha história que remete a lembranças e memórias de alegria, felicidade, desafios e superações. Tinha acabado de completar 20 anos, estava repleta de sonhos e ansiosa para conseguir meu primeiro emprego. Na minha humilde concepção, um emprego representava mais do que a minha liberdade financeira, iria me constituir como cidadã. Tinha o hábito de ir à Lan house, onde fazia meu currículo e imprimia, então, com o coração transbordando de esperanças, saía para entrega-los, acreditando que “o sol nasce para todos”, hoje compreendo que o sentido dessa frase tem mais complexidade do que eu imaginava.
Certo dia eu sai com exatamente 100 currículos embaixo do braço, na época não tínhamos a possibilidade e a facilidade de enviar currículos pela internet, tínhamos que entregá-los pessoalmente e de preferência para o gerente do estabelecimento. Gostava de entregar os currículos no shopping, não me importava se tivesse que trabalhar aos finais de semana, eu almejava apenas trabalhar. Estava num belo dia entregando meus currículos com minha amiga D, me recordo claramente, enquanto subíamos pela escada rolante do shopping, eu sentia e me deliciava com o cheiro da pipoca. Lembro da primeira vez que pisei no hall de entrada do cinema, me encantei com tudo que lá havia, as mesas bem postas, os cartazes dos filmes e principalmente a alegria nos olhares das pessoas que ali estavam. Eu morava em um sítio no extremo da Zona Sul de São Paulo, meu acesso à cultura, na época, era precário, tinha ido ao cinema apenas uma vez, quando já tinha 15 anos. Falei para minha amiga D que algum dia eu iria trabalhar no cinema, logo minha amiga D e eu deixamos nosso currículo com o funcionário que estava na entrada, pois o gerente encontrava-se ocupado para nos atender no momento.
Após alguns dias me ligaram dizendo que era do cinema, e que tinham se interessado pelo meu currículo, não consigo descrever em palavras qual foi meu sentimento diante da mínima possibilidade de trabalhar naquele cinema. O que para muitas pessoas seria pouco, no entanto para mim era um sonho. Antes da entrevista eu já fazia planos, pensava animada em todos os filmes que eu poderia assistir, no cheiro da pipoca, nos olhares e rostos felizes das pessoas que eu teria a oportunidade de presenciar diariamente. Por mais incrível que pareça, o salário para mim não era o fator mais importante. Na verdade, eu estava ávida por descobrir aquele mundo que até então era desconhecido. Fui para entrevista feliz da vida, apesar de extremamente ansiosa, refletia comigo mesma: - Preciso apenas de uma oportunidade, se me derem essa oportunidade não irei decepcionar ninguém, mostrarei que tenho capacidade. No entanto, meu senso crítico achou que não fui bem na entrevista, porém para minha sorte meu senso crítico errou. Fui chamada para uma segunda entrevista com o gerente geral do cinema, nunca esquecerei o quão nervosa eu estava. Não tinha muita coisa a meu favor, não tinha nenhuma experiência, e por mais que eu tentasse, não conseguia esconder toda a minha ansiedade, me recordo do olhar penetrante do gerente, suas últimas palavras foram: - Se eu te contratar, você promete que não vai me decepcionar? Minha resposta foi óbvia na ocasião.
Assim, consegui meu primeiro emprego no Cinema, a princípio com o cargo de Profissional de Atendimento ao Cliente. Tiveram muitos desafios, porém também tiveram muitas superações, muitas lágrimas, muitos sorrisos, muitas aprendizagens. Depois de algum tempo fui promovida a Operadora de Projetor Cinematográfico. Quando o Gerente geral do Cinema me ligou para comunicar que eu iria ser promovida, confesso que as lágrimas expressaram tudo o que eu estava sentindo naquele singelo momento da minha vida. A sensação era de conquista, eu havia mais uma vez me superado, superado minhas limitações. Aquela menina que mal conhecia o cinema, que havia ficado encantada apenas com a possibilidade de trabalhar no cinema, agora iria ser responsável por montar, testar os filmes e dar start nas salas. Na época para mim foi uma conquista enorme.
Conheci muitas pessoas, algumas se tornaram meus melhores amigos como: W, N e a E. Posso dizer que deixei um pedaço do meu coração naquele cinema, me recordo com muito carinho e gratidão de todos os filmes que tive a oportunidade de ver, com certeza ajudaram a ampliar minha visão de mundo e meu repertório cultural. Foram anos de dedicação que deixaram saudades. Mas a vida tem os seus mistérios. Hoje trabalho na área da Educação, sou professora de Educação Infantil, escolhi essa profissão por amor, porque aprecio a alegria e a inocência das crianças, e porque acredito que todos nós temos que ter as mesmas oportunidades. No que depender de mim irei lutar para um país com menos desigualdades. Os desafios são enormes, porém me acostumei a superá-los, atualmente estou estudando MBA - Gestão Escolar na USP e me dedicando a cada dia, não apenas por mim, mas pra ter embasamento para ensinar e ajudar ao próximo. Certa vez durante a reunião pedagógica no CEI Vila Inglesa, a Coordenadora Paula perguntou o que nos move. Na ocasião eu fiquei em dúvida, não soube responder com precisão. Hoje posso responder com certeza: Sou movida pelos meus sonhos e pelos desafios que preciso enfrentar para conquistá-los.
Sempre que vou ao cinema, sinto uma nostalgia muito grande, são inúmeras lembranças, recordações e saudades. Para mim o cinema sempre será um lugar mágico, não apenas pela cultura que ali está inserida, mas pelas lembranças que me remetem. Meu primeiro emprego estará na minha memória para sempre. Guardo com muito carinho vários objetos que adquiri na época em que trabalhava no cinema: Caneca do filme do Homem Aranha, lata do filme Wall-e, bonecos do filme Shrek, carrinhos do filme Carros, maleta do filme Nárnia, entre outros. Todo ano (até completarmos 05 anos) ganhávamos um “Pin” broche, em comemoração por mais um ano na Rede de Cinemas, guardo esses broches como se fossem troféus, na verdade são, pois tem um significado especial na minha vida, me recordo quando ganhei cada um deles. São objetos que me remetem a lembranças muito significativas.
Orgulhosamente trabalhei no cinema entre 2006 e 2013.Recolher