De toda a história que vivi até agora, trago a alegria de ter vivido intensamente, plenamente, de ter vivido cada momento, com todo o vigor que a vida dá. Fui vivendo de acordo com meu coração, sem medo, assumindo cada desafio, cada risco, com coragem e ousadia, sem arrependimentos. Fiz o que ...Continuar leitura
De toda a história que vivi até agora, trago a alegria de ter vivido intensamente, plenamente, de ter vivido cada momento, com todo o vigor que a vida dá.
Fui vivendo de acordo com meu coração, sem medo, assumindo cada desafio, cada risco, com coragem e ousadia, sem arrependimentos. Fiz o que meu coração, inteligência, sensibilidade, me pedia. Segui aquilo que a vida me apresentava, com alegria, cheio de sonho, de esperança. Parado não fiquei.
Segui o ritmo do tempo, sem forçá-lo, sem retardá-lo, no seu ritmo, no seu tempo. Fui descobrindo de acordo que a vida ia me apresentando e ai fui construindo. Mas nunca fiquei sozinho. Sempre junto com minha família, minha comunidade, amigos, com minha história. Fui construindo o meu caminho no caminhar. Do meu jeito. Senti-me feliz e realizado com o que construí até aqui.
Sei que não fiz esta história do nada, não fiz sozinho, tenho plena consciência disso.
Desta minha história que vem de longe, que foi ai a onde a semente foi lançada, profunda, que brotou e alimenta-me até hoje, com toda a intensidade. Essa semente é eterna, vem de longe, alimenta a muitos, vai alimentar muitos que ainda virão. Tenho consciência que faço parte dela, dessa história, dessa energia boa, não sou sozinho, tenho história, um passado, antepassado, que me alimenta e possibilita construir essa história linda, que é só minha.
Ela vem de longe, de um passado distante, que tem raízes profundas, que alimenta esta seiva eterna, de uma história de lutas, de alegrias, vitórias, coragem, ousadia, amor, solidariedade, esperança e sonhos. Sem esta história, este passado, eu não teria raízes, não teria construído a minha história como ela é, e é ela que alimenta-me. Por isso, tentei buscá-la até com uma certa obsessão, pois tenho consciência, que sem ela, não dava para escrever está história que vivi. Meus antepassados fazem parte de minha história, de minha identidade. É um itinerário de uma vida. Eu sou resultado dos meus antepassados. Sei que sou uma pessoa que começa muito tempo antes de mim e continua depois de mim. Pertenço a raça humana. Tenho uma história. Não me fiz sozinho.
Tenho consciência, que o texto supremo, é aquele que se escreve olhando para sua história, para seus antepassados, onde de verdade, está a vida, está em jogo a vida. É entrar em contato com o interior, com a intimidade. É na verdade, entrar em contato com o desenvolvimento da história do indivíduo, com a história de sua alma, com a história de seu próprio ser, história de sua descoberta do mundo, das alegrias e tristezas. É buscar a primeira história, de todas as histórias humanas. Batalhas, batalhas, batalhas! Pela vida. Todo tipo de batalhas. Virando-se para voltar ao lugar onde está de fato o ganhar ou perder a vida. A questão é voltar-se ou não, entrar em contato com o interior, com a intimidade de sua história? Eu decidi que sim. Haja coragem e ousadia!
Fui até a onde pude e tive condições, fui buscá-la longe, lá na Itália, nos meus tataravós Luiggi Caleffi e Luiggia Bulgareli Caleffi, até muito antes. Para mim, eles voltaram a viver, tornaram-se eternos. Tenho a sensação de que estou vendo eles no seu dia a dia, na labuta para sobreviver, para criar os filhos, lá na Itália, parece que estou vivendo com eles, em Bondanello, em San Giácomo, na Comuna de Quistello, na Comuna de Poggio Rusco, estou visualizando eles em sua casinha simples, feita de pedra, no seu trabalho na lavoura, cuidando dos animais, cuidando dos filhos ainda pequenos, os filhos brincando na relva, vendo-os nos seus afazeres diários, andando pelas ruas da Comuna de Quistello, nas Vias de Poggio Rusco, em sua dignidade, amorosamente, carinhosamente. Eles me dão a certeza, o carinho, a serenidade, a alegria, a paz, de reencontrá-los. Quase abraçá-los, tocá-los, senti-los. Dá-me a graça de poder tirá-los da invisibilidade e trazê-los a eternidade da história, do tempo, da vida. Agora eles fazem parte de minha vida, da minha família, eles eram para mim desconhecidos, agora os conheço, são meus, minha raiz profunda, agora sei de onde vim. Agora para mim eles tem uma história. Que responsabilidade! Agora eles fazem parte de minha história, de minha vida.
Fico imaginando sua história, seu passado, que ainda não cheguei a ver, de onde vieram, quem eram seus pais, seus avôs, bisavôs, tataravôs, antes até, seus antepassados, sua família parentes, amigos, sua história, sonhos, alegrias, o que deles eu ainda carrego comigo ainda hoje?! O que eu tenho deles comigo, o que vou deixar deles para meu futuro, nos filhos, netos, bisnetos, em todos que ainda virão, quais são suas marcas que ficaram, misturadas com as minhas e vão continuar, persistir, no tempo, na história, na vida, eterno?!
São eternos! Fui buscar nos meus antepassados as raízes de minha história. Fui pesquisando, descobrindo, revelando, encontrei, com muito orgulho e gratidão, revelando-os, se encontrando, me encontrando, entendendo-me, me identificando.
O que me levou a esta história, foi a pesquisa sobre meu avô Santo Caleffi, que sempre me encantou, que levou-me a Itália, a meu Bisavô Teodoro Caleffi e a minha bisavó Vincenza Bastasini, que eram meus desconhecidos. Foi amor a primeira vista, apaixonei-me por eles e não consegui mais parar de encontrá-los, entendê-los. Primeiro conheci meu bisavô Teodoro ainda jovem. Que nasceu em uma pequena Comuna chamada Bondanello, no dia 22 de junho de 1863 e depois mudou-se para San Giácomo, na Região da Lombardia, na Província de Mantova, Norte da Itália, perto da Comuna de Quistello e de Poggio Rusco. Ele ainda jovem, teve que servir ao exército italiano, ali na sua região, como soldado. Fico imaginando! Depois encontrei sua amada, Vincenza Bastasini. Como foi este amor?! Este encontro? Tentei descobrir este segredo deles. Lindo! Fui até onde deu.
E a Vincenza como era?! Quem eram seus pais Ângelo Bastasini e Teodora Poppi Bastasini, meus bisavôs? Tinha irmãos? Nem tudo eu consegui descobrir ainda. São poucas as informações que descobri, mas agora já sei pelo menos os nomes de meus tataravôs, pai de minha bisavó Vincenza Bastasini.
Teodoro Caleffi e Vincenza Bastasini, casaram-se e foram morar na Comuna de Poggio Rusco e tiveram cinco filhos. A situação era muito difícil na Itália da época deles. Fico imaginando, qual foi a reação deles diante desta situação, com cinco filhos para criar, tendo que achar uma saída. Mas sempre aparece. Apareceu. Já que em sua Itália não tinha jeito, a saída foi emigrar, procurar outro país para sobreviver, para criar os filhos. Vieram para o Brasil, a convite da irmã de Teodoro, Regina, que já morava aqui no Brasil, em Minas Gerais. Recebem o convite, por meio de uma carta de Regina e vieram. Deixam tudo, atravessam o mar, com os cinco filhos pequenos, foi a única saída que encontraram, naquele momento. Vieram empurrados pela miséria. Atrás de um sonho. Não fraquejaram. Terra desconhecida, terra estranha, povo estranho. Não foi fácil. Vieram trabalhar na lavoura de café. Tiveram mais dois filhos aqui. Vincenza morreu. Imagina! Teodoro teve que cuidar e criar dos sete filhos, ainda crianças. Credo, o mais velho, tinha apenas 14 anos, Santo(meu avô) tinha apena 11 anos de idade e os outros cinco filhos, eram bem menores ainda, alguns de colo. Imagina agora sem a companheira Vincenza, morando em terras dos outros. Enfrentou! Criou os filhos com dignidade. Não se casou novamente. Ficou morando nesta mesma fazenda por cinquenta anos. Cada filho tomou seu caminho, seu destino. Venceu, criou seus filhos. Teodoro cumpriu sua história com dignidade. Morreu aos 90 anos de idade, tranquilo, sereno, missão cumprida, vencedor, em paz. Fez história, a sua história. Lutas, sonhos, história.
Seu filho Santo Caleffi teve seis filhos, dois do primeiro casamento com Genoveva Bonato, Antônio e Cândida, Cândida com 12 anos de idade morreu por causa de um tétano. Sofrimento, muita dor. Depois casou-se com Maria Frania Uzae, vinda da Ilha da Sardenha, teve quatro filhos, todos homens. Santo saiu de perto do pai, foi procurar vida melhor para criar os filhos. Luta, batalha, imigração. Mudou-se para a Cidade de Guaranésia, outra fazenda de café, depois veio para o Paraná, terra a ser desbravada. Primeiro para a Cidade de Cornélio Procópio, depois para a Cidade de Cambé e por fim Marialva. Lutas, sonhos. Enfim conseguiu, seu pedaço de terra, sonho antigo. Santo morou neste sítio até morrer, com 83 anos de idade, no ano de 1975. História que vivi.
A partir deste ponto eu entro nesta história. Nasci no dia 08 de fevereiro de 1961.
Mas toda a história que contei até aqui eu também vivi, ela é minha, sem ela eu não seria nada. Tenho muito orgulho dela. É a partir dela que vou construindo a minha história, sem ela nada seria possível, é o alicerce, o meu porto seguro, a semente lançada na terra fértil. História que tenho que honrá-la, tenho consciência disso. Vim de longe. Raiz profunda. Tenho a honra de narrá-la, de contá-la.
Sem história, sem passado, sem respeitar os nossos antepassados, não somos nada. Eles estão em nós. Eles continuam fazendo história conosco, em nós. Tenho honra disso, desta minha história, é minha identidade, meu orgulho.
Meu pai, Inisio Caleffi, nasceu em Minas Gerais, na Cidade de Monte Santo. Casou-se com minha mãe Madalena Santiago, descendente de italianos também, nasceu no interior de Estado de São Paulo, na Cidade de Dourado, depois mudo-se para a Cidade de Echaporã, também no interior do Estado de São Paulo e no ano de 1944, com apenas 12 anos de idade, mudou-se para o Estado do Paraná, no Município de Marialva. Ela nasceu no dia 24 de fevereiro do ano de 1932. Seus pais, meus avôs, chamavam -se João Santiago e Carmella Artoni Santiago. Moravam quase vizinhos lá do sítio de Marialva, onde meu pai morava. Inisio e Madalena tiveram quatro filhos, dois meninos e duas meninas. Vivíamos no sítio de meu avô Santo Caleffi. Meu pai ficou doente e morreu no ano de 1973, com apenas 46 anos de idade. Eu tinha apenas 12 anos de idade. Foi muito duro. Minha mãe e meu irmão mais velho tiveram que assumir a liderança da família. Imagina! Minha mãe foi uma guerreira, marcou-me profundamente, para sempre. Mulher forte. Mudamos para a Cidade de Maringá, no ano de 1974. Muito trabalho, estudo, luta. Fui Vice-prefeito e Prefeito de Maringá.
Quantas histórias, lutas, batalhas, sonhos, esperanças, vitórias. A vida é assim. História que vivi.
Chegando em Maringá, vivi uma nova experiência de lutas, trabalhos e sonhos. Menino ainda, sem pai, órfão, sob o comando de minha mãe, em sua fragilidade física, mas com um poder, uma energia, sem fim. Com um poder de influência, afetivo, sobre mim, extraordinário, que marcou-me profundamente. Essa mulher foi decisiva na formação de minha personalidade, do jeito de eu ver e compreender o mundo, de encarar a vida, na minha alma, de ser. Era o poder, a presença feminina em minha vida, marcou-me definitivamente. No seu silêncio, discrição, ternura, no falar baixo, no seu jeito de ser, no seu jeito único de ser, de encarar a vida, determinação. Puro amor. Foi determinante em tudo para mim, para minha formação, para a minha vida para sempre. Sem forçar, sem se impor, sem pedir, se impunha pela sua autoridade natural, só amor, presença, dominava todos os espaços da minha vida, de minha personalidade, deixou marcas profundas, determinantes, que nunca mais largou de mim, queria estar perto dela, fazia bem, faz bem. Eu sou esta mulher, Dona Madalena, minha mãe.
A cidade foi envolvendo-me, fui se soltando aos poucos, conhecendo-a devagar. Primeiro, fiz amizade com os vizinhos mais próximos de minha casa, que também tinham vindos da lavoura, igual a mim; andando no bairro próximo da minha casa; se enturmando na escola; ampliando essas amizades no meu trabalho; no cinema, principalmente nas matinês no Cine Horizonte, que ficava perto de minha casa, na Vila Operária, nos domingos a tarde, com sessão dupla; com outras turmas, mais longe de casa, ia ganhando confiança, descobrindo outras regiões da cidade. Ia aos poucos perdendo o medo, se incorporando na vida da cidade, tornando amigo da cidade, sempre mais, fomos cada vez mais se tornando amigos, eu e a cidade. Sempre sob o olhar carinhoso de uma mulher, minha mãe Dona Madalena, que no seu silêncio acompanhava tudo. Eu sabia disso. Era o meu porto seguro. A cidade e eu também fomos crescendo juntos. Um convivendo com o outro, juntos. Um conhecendo aos poucos o outro. Construindo uma relação amorosa.
Fui crescendo, estudando e trabalhando, sonhando. Novos trabalhos, novas esperanças, novos sonhos. Fui ampliando minha vida nesta cidade, participando naturalmente de sua vida, na minha comunidade, no meio em que estava vivendo, no meu espaço na cidade. Nunca fui de ficar isolado. A vida ativa sempre foi meu jeito de ser, livre, sem controle, não aceitava de jeito nenhum ser tutelado. Sempre discreto, discreto ativo. Tive uma juventude muito ativa. Sempre participando de tudo que podia e que valia a pena, que empolgava-me, na escola, no teatro, na comunidade, na cultura, na igreja, no trabalho, era sonho, ousadia. Depois, mudei-me de cidade, fui para a Capital, fui para Curitiba, fui estudar. Foi decisivo para minha formação como pessoa, para minha formação intelectual, para a minha vida. Que experiência! Estudo, conhecimento, pensar, reflexão, liberdade, filosofia, história, participação, engajamento, política, mudar o mundo, mudar o Brasil, descobri outro mundo, que outro mundo era possível, outro horizonte, ampliou, abriu-se o mundo em minha frente, cheio de possibilidades, encantou-me, inesquecível. Outros amigos. Amadureci.
Volto para Maringá, já adulto, outro, graduado em filosofia, mas ao mesmo tempo, o mesmo de sempre. Vou recomeçar minha vida, junto com a família, sempre a família, porto seguro, esperando, braços abertos. Junto com minha mãe, meus irmãos. Sempre ela minha mãe Dona Madalena. Estava me esperando de coração aberto, não questiona, apenas aceita, recebe em casa de volta com alegria, é filho que volta para casa, estava esperando, sempre esperando, de braços abertos do mesmo jeito, com o mesmo amor, com o olhar alegre de ver o filho que volta para casa. Acho que ela sabia que eu ia voltar. Ela deu o tempo necessário, aceitou o ritmo do tempo, não forçou o tempo, tudo a seu tempo. Deixou o tempo seguir o seu curso, deixou o tempo ajeitar tudo, no seu tempo. Tudo estava do mesmo jeito lá em casa me esperando. Tudo estava no seu lugar. Ela viveu comigo esta experiência, longe, mas na verdade, nunca estive longe dela, nem ela de mim, eu sei disso. Ela sempre estava por perto.
Retomei minha vida, no trabalho, no estudo, participação, vida ativa, ainda mais, na comunidade, na política. Tinha algo que me empurrava. Eu não me aquietava. Comecei a lecionar. Nunca mais parei. Estudando sempre, participando sempre. Ser educador é uma experiência única, decisiva para a vida toda. Fui diretor eleito de um Colégio Estadual em Maringá, primeira experiência. Agora como líder, liderando uma comunidade. Experiência coletiva. Dediquei-me de corpo e alma, vinte e quatro horas por dia, todos os dias de meu mandato. Cresci muito. Aprendi.
Casei-me com uma mulher maravilhosa, que sonha comigo, meus sonhos, meus projetos, nossos sonhos. Sonhamos juntos. Tivemos dois filhos lindo. Vida. Amor.
Fui eleito diretor do sindicato dos professores do Estado, experiência nova, lutas, conquistas.
Tudo foi se ampliando. Fruto da luta, do trabalho, da dedicação, da minha história, do amor, do sonho de construir um mundo melhor, justo, humano, livre, feliz, pleno, o sonho humano, para todos. Lutei, participei, joguei-me. Dediquei minha vida. Queimei meus navios nisso.
Fui eleito vice-prefeito e depois fui prefeito de Maringá. Consequência natural de uma vida de lutas, dedicação, dignidade e sonho. Saí de Marialva, do interior de Marialva, da "curva do vento", da curva da história, na área rural do Município de Marialva, de longe, vim de longe, longe de tudo, mas ao mesmo tempo tão perto. O que é a vida da gente! Perdi meu pai com 12 anos de idade, órfão de pai. Agora prefeito de Maringá. História. Acredito que aquilo que tem que ser tem muita força. Ser prefeito de Maringá era para poucos, para os ricos, da alta classe social, de outra classe, só permitido para os poderosos, espertos, sagaz, muito distante dos da minha classe social, impossível, inimaginável, para um comum do povo, sem dinheiro, sem proteção dos grandes, fora dos grupos fechados da cidade, que mandavam na cidade, dos que dominavam a cidade, sem nada, livre, honesto. Agora eu prefeito de Maringá! Nem em sonho! Nem no mais profundo sonho de criança, nem no mais profundo delírio, loucura profunda, poderia eu imaginar isso. Que coisa! O que é a vida! A minha história, que vem de longe, profunda, levou-me a isso, naquele momento histórico, que a cidade mais precisou, precisava, eu estava lá, pronto para servir, maduro, preparado, fazer história, na curva da história. Servir a cidade, a minha cidade, no momento que ela mais precisava. Foi o que fiz. Não fraquejei. Como explicar isso?! Eu não queria, não passava pela minha cabeça, nunca passou, nem sonhava com isso, estava muito longe de meus sonhos e desejos. Eu resisti muito em aceitar esta missão. Mas aquilo que tem que ser tem força, maior que a nossa vontade pessoal, vai além da gente, muito além, acontece. Não é destino não, é que tem que acontecer, tem que ser, acontece, aconteceu, estava maduro. Mas é também fruto de uma história, que vem de longe, de muito preparo, de dignidade, de vida. Prefeito de Maringá. Como explicar isso?! Não fraquejei. Aceitei. Cumpri minha missão.
Estava acostumado a desafios desde pequeno, fui forjado na luta, fui forjado no fogo, pela minha história que vem de longe. Foi uma experiência maravilhosa. Muitos não entenderam! Fazer o que?
Eu e a cidade já nos conhecíamos há um bom tempo, tínhamos história juntos. Iríamos agora ter um encontro definitivo, de sintonia total, um junto com o outro, integração. Acho que este encontro já vinha sendo preparado, engendrado, forjado,
desde o dia em que cheguei aqui, ainda menino. Eu conhecia ela, ela me conhecia, chegou a hora. Andei pelas ruas, avenidas, curvas, bosques, praças, bairros, centro, área rural, estradas, carreadores, trilhas, veredas, periferias, distritos, vilas, becos, ela conhecia meus sonhos, minhas intenções, angústias, esperanças, amor, disponibilidade, generosidade. Minha mãe Madalena acompanhou tudo isso, as vezes aflita, as vezes feliz, orgulhosa com as conquista do filho, com as conquistas da cidade. Sonhávamos juntos, sofríamos juntos, se alegramos juntos. Que luta! Que história!
Eu estava com minha esposa e companheira Zenaide, que viveu tudo isso comigo, sonhos, tristezas, alegrias, conquistas, lutas, fé. Meus filhos, ainda pequenos, vivia tudo isso também, as vezes ainda sem entender tudo o que estava acontecendo, que estávamos fazendo história, história nossa e da cidade, juntos. Eu não estava sozinho, estava junto com muitos outros companheiros, em especial um muito querido, que sonhávamos juntos desde o início desta saga, quando ainda ninguém acreditava, ele já acreditava e sonhava com essa vitória, sonhava com isso. Ele amava a cidade junto comigo. Foi meu companheiro da vitória e do mandato. Sonhávamos juntos, realizamos juntos este sonho. Vivíamos a cidade todo dia, todos os dias, pulsava junto com a cidade, a nossa vida era a vida da cidade. A cidade estava viva, efervescente, todos participavam, era uma cidade viva, plena de vida, em movimento, livre, feliz, havia muito diálogo, participação, direção, amor. Não era uma cidade do silêncio, parada, estagnada, do medo, consagrada ao domínio da ordem e da cristalização das relações de poder, muito pelo contrário, estava livre e feliz, em movimento. Tivemos alegrias e tristeza juntos. Mas infelizmente ele foi embora muito cedo. Fiquei sozinho, fiquei muito triste, chorei. A cidade ficou triste por ele. A cidade chorou por ele. Continuei a nossa luta, agora sem ele.
Amor do povo, sintonia, participação popular, obras, democracia, ouvir a todos com atenção e respeito, avanços, humanamente, realizações, diferente de tudo, algo novo, empolgação, encontro, dificuldades, traições, rasteiras, processos injustos, difamações, vitórias, lutas, alegrias, determinação, respeito, realizações, a cidade pulsando, viva, feliz, a cidade na mão do povo, no coração de todos, inédito, sonho, histórico, nunca vai passar, momento único, lindo, experiência única, nova, doação total. A cidade se reencontrou, feliz. Tudo isso eu vivi. Ficou na minha alma, na alma do povo, na alma da cidade, na história, para sempre. Valeu a pena.
Que experiência! A vida, a história, coloca-nos, em cada experiência! Que é na verdade fruto de nossa própria história, consequência de nossa história, de nossas decisões. É vida, é história para sempre. Ninguém tira.
Depois de tudo isso, desta experiência linda de amor, de sintonia com a cidade, despertou em alguns a inveja. Ai foi duro. As vaidades, os interesses, a luta foi dura, desleal. Venci, mas levaram. Se uniram de novo para retomar o controle da cidade, a cidade não queria, o povo não queria, mas uniram-se, forçaram a barra, forçaram o tempo. Venci, mas levaram. A cidade ficou triste! A cidade chorou! Eu chorei junto com a cidade. Recuei, triste, mas com a sensação boa de missão cumprida, com a sensação dos justos, aliviado. Fiz o que pude, o melhor que pude. Ai veio a calúnia, a perseguição, de todo tipo, política, econômica, jurídica, isolamento provocado, ostracismo provocado, tramado, pensado. Veio a censura, um certo jeito de censura, sutil, mas poderosa, aparentemente sem face, a censura do desprestígio, do isolamento, da desconstrução da imagem. Eles queriam que as pessoas se esquecessem de mim tanto quanto fosse possível. Entendi, que já tinha cumprido minha missão. Sofri. Mas tinha consciência, sabia, que seria assim mesmo. Imagina ousar ser prefeito de Maringá! Imagina deixar uma pessoa que ama de verdade a cidade, que só quer o bem da cidade, do povo, sem espaço para artimanhas, projetos pessoais ou de grupos, só de amor a cidade. Uma pessoa que não transige com o mal, nem pensar. Se uniram para derrotar a cidade. Foi difícil para eles, pois o povo, a cidade, já estava acostumada com esse novo jeito, diferente, humano, dialógico, de sinceridade, de verdade, de respeito e amor a cidade. Foi difícil para eles, tiveram que usar de todas as armas possíveis e usaram, desde calúnia, mais baixa e rasteira, dissimulada e divulgada por todos os meios possíveis, inconfessáveis, que a história da cidade um dia ainda vai revelar, vai contar, vai narrar e com certeza deixará muitos em situação muito desconfortáveis e difícil diante da história da cidade e da sua própria história, diante de seus descendentes. A história é implacável, ela cobra o preço, ela, mais cedo ou mais tarde revela tudo, revela a verdade histórica. Revelará.
A história sempre se encarrega da verdade, sempre se encarrega de trazê-la à tona, as vezes não na velocidade que urge, precisa de um socorro para desnudar certas artimanhas do presente. A história é amante do passado e gosta de fletar com o futuro.
Mas valeu a pena está história e experiência de amor com a cidade. Sofri, o povo sofreu, mas sai mais forte, com serenidade, em paz, honrado, de cabeça erguida, amado, com o dever cumprido e com a certeza de que esses momentos vividos de amor profundo, de sintonia, de identidade, ficará para sempre na história da cidade. Eternamente. Ficará para sempre no coração do povo. Ficará no tempo. Uma memória boa, uma história boa. Momento único. Foi uma honra poder ter sido Vice-Prefeito e Prefeito de Maringá, poder ter vivido esta experiência de ser prefeito de minha cidade, ser prefeito de Maringá. Foi inesquecível, uma honra para sempre, para minha história, para a história da cidade. Um sonho imóvel, eterno, ainda não imitado. A luta é assim mesmo. Vamos construindo nossa história, fazendo nossa história no tempo. Eterno. Nossa vida, nossa história, a vida, vai nos levando por caminhos, que as vezes, nem mesmo nós temos pleno controle dele, a onde vai dar, nos levar, é fruto de nosso passado, de nossos antepassados, que vem de longe, é fruto também de nossas ações, decisões, que vai nos moldando, construindo caminhos, abrindo picadas, abrindo caminhos na história, fruto de nossas decisões e ações, sustentada pelo nosso passado, pela nossa história, que segue sempre adiante, mas fica marcado na história, na nossa vida, para sempre e nasce dai um recomeço, uma nova história, sempre com suas raízes no nosso passado. Tudo isso vai nos colocando em situações históricas que exige de nós muita dedicação, determinação, lucidez e consciência de estar fazendo história.
Fazemos história. Podemos aceitar ou não esse caminho. Mas temos que decidir tomar um caminho, ficar sem decidir é impossível. Na encruzilhada, temos que tomar um caminho. Nossa história passada já nos orienta o nosso caminho, mas mesmo assim, a decisão é sempre nossa, presente. Tomada a decisão vem as consequências, as responsabilidades. A decisão é nossa, a responsabilidade também. Fazemos história com nossas decisões, com nossas ações.
Esta história que vivi, nestes meus primeiros cinquenta anos de vida, vividos tão intensamente, bem vividos, de muita história, tão amorosamente, é a minha história. Tenho orgulho dela. Dediquei-me totalmente nela com alegria e generosidade, com paixão, com amor. Valeu a pena. Sempre vale a pena viver intensamente, amorosamente.
A política foi para mim, neste meus primeiros cinquenta anos de vida, um instrumento fabuloso, poderosíssimo para realizar meu sonho de solidariedade, de justiça, de amor ao ser humano. É possível. Foram anos de doação e de amor. Sai mais forte, mais maduro, quem sabe mais feliz.
É a história que vivi até aqui, neste meus primeiros cinquenta anos de minha vida. É a minha história e de muitos. Dá-me muito orgulho ter vivido está história e hoje poder narrá-la, contá-la. É uma alegria. Valeu a pena.Recolher