Uma vez eu li que o nosso chamado estava relacionado com aquilo que nos deixava inconformado. Cresci com isso em mente, e em determinadas situações me perguntava se estava inconformada, se eu poderia fazer algo para gerar mudança. Foi quando, dia 25 de janeiro de 2019, me deparei com uma ...Continuar leitura
Uma vez eu li que o nosso chamado estava relacionado com aquilo que nos deixava inconformado. Cresci com isso em mente, e em determinadas situações me perguntava se estava inconformada, se eu poderia fazer algo para gerar mudança.
Foi quando, dia 25 de janeiro de 2019, me deparei com uma notícia, fui pega de surpresa: ‘’Barragem da Vale se rompe em Brumadinho’’, o coração apertou e um misto de sentimentos veio à tona: revolta, tristeza, angústia, indignação… inconformidade.
O que fazer para ajudar essas pessoas? Qual seria a ajuda necessária para elas? Eu precisava ir atrás dessas pessoas, precisava fazer algo por elas! Mas, quem eram essas pessoas? Como uma garota de dezoito anos poderia ajudar nestas circunstâncias?
Foi quando, a Construide (ONG que tem como intuito impactar vidas transformando moradias), abriu inscrições para reformar duas moradias!
Em maio, fomos para Brumadinho reformar a casa da Dona Izabel, ela havia perdido o seu irmão na tragédia, sua família tentava se reconstruir a cada dia, mas ela se mantinha firme nas promessas que o Senhor tinha feito, não deixou de sorrir nem por um minuto, mas nos encorajava a seguir cada dia confiando em quem Deus é. Ela, abriu a sua casa, para que nós pudéssemos entrar e ser usados de alguma forma para transformar a moradia dela, que geraria tanto impacto ao redor dela.
E, em agosto, voltamos para Brumadinho e eu tive a oportunidade de com mais 4 meninas, ficar na reforma do Seu Wilson e do Lázaro (em parceria com o SP Invisível), que experiência! A casa deles fica próximo ao Córrego do Café, lugar em que a barragem se rompeu.
Seu Wilson, carregava nas costas o seu filho de 19 anos todos os dias, Lázaro tem algumas deficiências e um problema no pé que o impedia de andar direito, então, Wilson o carregava para todos os lugares que eles iam, o SP Invisível fez uma campanha para conseguirem uma cadeira de rodas elétrica para ele. Conseguiram!
Seu Wilson, com toda a sua garra, amor, alegria, com um coração bondoso e generoso, apenas sonhava com o seu novo lar, ele fazia questão de ver como cada detalhe da casa estava ficando, e fazia questão de nos ajudar, era o seu lar, ele queria fazer parte daquilo, então, pegava o pincel e pintava as paredes de sua casa, nos encorajava a continuar e nos dava força, sem nem saber, para pintar e continuar aquilo que estávamos fazendo. Lá, não conheci apenas a história dessas duas famílias, mas de algumas outras que me mostraram que a nossa vida ela vale mais do que qualquer outra coisa, que a força é o nosso armamento para enfrentarmos os nossos dias mais difíceis e que, a alegria, ela vai chegar, pode ser depois de uma tragédia, mas ela vem, ela está dentro daqueles que se doaram a fim de que cada pessoa pudesse ser amparada.
Ser voluntário é abraçar uma causa que não diz a respeito a você, mas ao próximo. E existe alguém mais importante do que o nosso próximo?
É abrir os braços e ser consolo para corações que foram encharcados com a lama que levou os seus entes queridos, a sua cidade, a sua paz.
Ser voluntário é saber ler o olhar daquele que perdeu o brilho dos olhos ao perder aquele que fazia com que ele brilhasse.
Ser voluntário é sobre ouvir a dor do outro, é secar as lágrimas derramadas com tanta dor. Ser voluntário, não tem a ver com idade, mas com a nossa humanidade, com o valor que damos ao próximo e com o que entendemos de uma vida que vale a pena ser vivida, uma vida por amor ao outro. Ser voluntário em Brumadinho foi a experiência mais marcante que eu já tive e que jamais vou esquecer, foi doído ouvir o sofrer de cada família mas gratificante poder ajudá-los e de alguma forma levar um pouco de amor e esperança de quem tanto foi tirado.Recolher