Maria Auxiliadora da Luz Alves, mulher, negra, brasileira, nordestina, baiana, casada, nasceu em 24 de maio 1948. Filha de Ângelo Fernandes Alves (mestre de obras) e Ismênia da Luz Alves (costureira e bordadeira), residente no bairro Vasco da Gama, chamado rua da lama – periferia de Sal...Continuar leitura
Maria Auxiliadora da Luz Alves, mulher, negra, brasileira, nordestina, baiana, casada, nasceu em 24 de maio 1948. Filha de Ângelo Fernandes Alves (mestre de obras) e Ismênia da Luz Alves (costureira e bordadeira), residente no bairro Vasco da Gama, chamado rua da lama – periferia de Salvador.
Morava numa casa com seus treze irmãos, totalizando quinze pessoas. A relação de Mª Auxiliadora com sua família era uma “bênção”. Sua mãe faleceu cedo e ela foi criada por seu pai e seus irmão mais velhos. Ela aprontava muito quando pequena, cantava músicas impróprias para a época, sambava na rua. A família era unida, quando brigavam, um minuto depois, já estavam se falando, eram humildes e felizes.
Mª Auxiliadora teve uma infância divertida, alegre, com muitas brincadeiras. Gostava de brincar de chutar lata, esconde-esconde, pega-pega, patinete, bicicleta, pula corda e tocar campainha das casas e sair correndo. Brincava com muitos amigos, mas tinha uma em especial, Edvirgens, que se conheciam desde criancinhas e juntas aprontavam muito.
Na escola, foi uma aluna regular, não gostava de estudar, só ia forçada, porque a irmã mandava. Estudar português e matemática para ela era especialmente horrível. Tinha um péssimo comportamento na escola, entre brigas e idas para diretoria, ficou suspensa durante duas semanas.
O que definiu sua vida profissional, foi acompanhar sua irmã mais velha para o trabalho. Ela era professora e Auxiliadora a ajudava fazendo as pontas dos lápis dos alunos, mas não ganhava nada. Isto a motivou estudar o magistério e despertou o seu interesse pela Educação. Com seus quinze anos de idade, Auxiliadora começou a ensinar em casa, gratuitamente, para crianças que tinham dificuldades na escola. Após formar-se em Magistério, sua primeira experiência profissional foi numa creche, onde trabalhou por vários anos. No entanto, foi no ano de 1985, quando chegou em nossa escola, Municipal Doutor Marcos Vinícius Vilaça, que se realizou profissionalmente. Foi uma relação de amor.
A escola era muito diferente de hoje. Antes de ser escola, era uma fazenda com animais. Aqui também tinha uma horta. O bairro era um lugarejo, com cocheira, cavalos, bois, vacas, porcos, galinhas etc. Todo tipo de animal andava livremente pelas ruas.
A primeira turma que trabalhou no Vilaça foi o 1º ano, onde nasceu seu amor pela alfabetização. Não lembra a quantidade de alunos que foram alfabetizados por ela, mas lembra que foram muitos, principalmente aqueles mais indisciplinados.
Com uma metodologia toda particular, trabalha com paródias, poesias, histórias que ensinam os conteúdos aos alunos de forma lúdica, são os famosos projetos da pró Dôra, que movimentam toda escola, alcançando até os alunos que não gostam muito de estudar.
Sua relação com a comunidade do Brongo, como é conhecida a localidade onde está inserida a escola, é de amor. Ela declara, sempre que pode, que ama essa comunidade, e que na verdade ela mora na escola e dorme em casa. Diz sentir-se muito melhor aqui do que em seu próprio bairro. Muitas vezes nossa professora esteve na área da escola, até mesmo no final de semana, quando até visitou casas de alunos, para saber porque estavam faltando na aula.
Em sua fala deixa claro que seus alunos são os filhos que ela não teve. Casada com Sr. Altino, companheiro de toda sua vida, não teve filhos biológicos, mas assim considera cada aluno de nossa escola, com amor de mãe, avó e quem sabe até bisavó.
Por essa escola, já foi capaz de dar o remédio ao marido doente e ir trabalhar, para honrar seu compromisso com as crianças.
Nos conta que dia de pagamento é o melhor dia do mês, é o dia que vai “na cidade” comprar muitos presentinhos para seus alunos. Nos conta que separa sempre um dinheirinho no mês para os lápis, borrachas, canetas, cadernos e outras coisinhas que os alunos estão sempre precisando.
Dona de uma voz muito potente e que é só sua, circula pela nossa escola chamando os alunos que estão fora da sala de aula, fazendo-os entrar, pois, hoje a professora Auxiliadora é a coordenadora de disciplina na nossa escola. Muito intrigante essa situação, já que ela mesma disse que não era uma criança muito quietinha, e que já deu muito trabalho na escola.
Nossa querida Dôra, como é carinhosamente chamada em nossa escola é famosa por sua alegria de viver, carinho e dedicação com nossa comunidade, ela é considerada uma professora feliz e realizada.
Sua presença nas festas da escola é sempre marcante. Ela se fantasia e entra em qualquer personagem para garantir a diversão e atenção de todos para o evento. Dançarina profissional, nunca está cansada demais para uma boa reboladinha. Convidando seus alunos, pais, mães, avós, tios, tias, professores e funcionários para dançar e brincar, sempre nos ensinando que a escola é lugar para todos, independentemente de cor, raça ou religião.
Por muito motivos ela será sempre lembrada pela família Vilaça, mas de uma coisa nunca esqueceremos, mexam com ela, mas não mexam com seus alunos. Ela não deixa ninguém falar mal da gente. Quando precisa chamar nossa mãe ou pai para fazer uma queixa, ela sempre dá um jeito de amenizar as coisas. Mas ela não deixa barato nossa bagunça, briga, grita, mas é sempre com muito amor.Recolher