Museu da Pessoa

As luzes da metrópole

autoria: Museu da Pessoa personagem: Arnóbio Luiz dos Santos

Projeto ADC – Eletropaulo
Realização: Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Arnóbio Luiz dos Santos
Entrevistado Nelly Aguero Aronovich e Carmen Silva Natale
São Paulo 20 de Setembro de 1994
Código: ADC_HV007
Revisado por: Beatriz Santos


P- Bom então eu gostaria que você falasse seu nome, local e data de nascimento, pra gente começar.


R- Bom, meu nome é Arnóbio Luiz dos Santos. Nasci numa cidade com o nome de Panelas, Estado do Pernambuco, dia 16 de fevereiro de 1960, às 4h horas da manhã em um dia de sábado.


P- E quem eram os seus pais, o que eles faziam?


R- O meu pai é agricultor, né, trabalha na roça e minha mãe dona da casa, e ele vive da agricultura.


P- E você tem irmãos?


R- Tenho. Somos em quatro, quatro irmãos, irmão carnal, e tenho uma irmã de criação, que eu te falei. Aliás, irmão de criação é consideravelmente como irmão, né, porque totaliza cinco irmãos no caso contando comigo. São quatro homens comigo,

e com minha irmãzinha, cinco, totalizando cinco irmãos.


P- E quais as lembranças, Arnóbio que você tem da sua casa, como era a rotina na sua casa?


Ah, tem muitas lembranças, de quando era criança. Apesar da minha mãe, quando começou...adotou a menina a gente já era grandinho, o pessoal era pequenininho mas já era grandinho e eu ajudava minha mãe, carregava água, eu varria a casa. A gente sempre tinha aquelas de rotina de casa. Ajudava meu pai tirava o leite, gritava para minha mãe: "Alzira manda o menino buscar o leite". A gente ia pro mercado, né, trazia..minha mãe brigava com a gente, a gente vinha com pote de leite na cabeça derramando, sabe [risos]. Quando chegava em casa com a camisa toda molhada de leite trazia um balde na cabeça. E aí minha mãe brigava com a gente. E

essa vida do interior é assim mesmo, né, tomar banho de cachoeira, fazer traquinagem, roubar coco no sítio do meu avô, que era o que a gente mais fazia. Meu pai... a gente tinha coqueiro na porta de casa, mas a gente só ficava contente se fosse buscar no pé de coco do meu avô, que é um coqueiro alto difícil de subir, né? Então a gente tinha que ir lá buscar coco lá naquele pé de coqueiro, fazia maior traquinagem, derrubava, estragava. Meu avô ia lá reclamava pro meu pai, e acabava, né, batendo às vezes até batia na gente, coisa de infância. Depois eu fui... a gente vai crescendo, o tempo vai passando e o meu irmão,encostado mais velho, veio embora pra São Paulo e mandava carta pra gente lá, sabe como que é aquelas fotografias, tirada aqui em São Paulo. E todo mundo. São Paulo é conhecido mesmo acho que no mundo inteiro, né, todo mundo tem vontade de conhecer, de querer, de vir morar em São Paulo, arrumar um emprego, mudar de vida. E foi isso que me trouxe para São Paulo, onde estou.


P- E voltando um pouquinho Arnóbio como é que era o lugar onde você morava, a cidade?


R- Olha, a cidade que eu morava é uma cidade pequena, cidade do interior, eu não sei se você conhece Santana de Parnaíba, conhece?


P- Sim.


R- É mais ou menos daquele tipo de Santana de Parnaíba, mais ou menos da quantidade de pessoas. Você olha pra aquela cidade mais ou menos e já tem a noção do tamanho da minha cidade, tá? Uma cidade pequena na época. Agora não, agora está evoluindo bastante depois que eu saí de lá... às vezes eu falo pro meu pai que depois que eu saí daqui tudo mudou.A gente não tinha dentista, não tinha hospital, não tinha maternidade.Então era

precário a situação.Hoje em dia, graças a Deus, melhorou bastante, tem asfalto, luz elétrica por tudo quanto é lugar. Então, aquelas faltas de água não tem mais, tem poço, né, o governo montou aquele negócio de emergência, aquelas frentes de trabalho, abriram poço em tudo em quanto é lugar, onde tinha terreno, foram lá, cavar, fazer aqueles açudes. Então graças a Deus está bastante evoluído, bastante modificado. Mas

falando daquele assunto que você tratou anteriormente, é muito difícil nossa.. situação era precária. A gente, por exemplo, tinha de tudo mas não... ao mesmo tempo não tinha nada. Por exemplo, eu nunca comprei leite na minha vida, por exemplo, vim comprar leite quando eu cheguei aqui em São Paulo. Eu nunca comprei queijo na minha vida, vim comprar queijo quando cheguei aqui em São Paulo, eu não sabia o que era isso. Pagar pra morar numa casa eu nunca paguei, vim pagar aluguel quando eu cheguei aqui em São Paulo, sabe.

Então, não sei realmente é mudar de vida, sabe, é outro esquema, é outra coisa. A gente tinha carro, meu pai tinha uma Rural lá no interior.

Eu tinha sete ou oito anos, ainda me lembro de uma façanha quando eu era pequeno. Meu pai mandou a gente lavar a Rural dele lá no rio, a gente foi lavar, aliás lá no açude, né? Só que nós...a Rural andava no barro e a gente ia lavar, ela muito estava muito suja debaixo dos guarda lamas. A gente foi jogar um balde de água e não conseguimos lavar o carro. Pegamos as chaves do carro escondida, eu e meu irmão mais novo fizemos essa presepada, pegamos a chave do carro, a gente sabia dirigir porque meu pai mandou meu irmão mais velho ensinar a gente. Fui lavar o carro no rio, quase que atropelamos um moleque, foi uma confusão enorme, vixe, meu Deus, pusemos meu pai na maior enrolada. Ainda hoje, toda hora que eu olho para cara dele eu falo: "O senhor me perdoa pai". Coitado! Isso aí eu devo a ele, que

foi um bom pai, graças a Deus, eu tive um bom pai e tenho uma santa mãe, tá. A quem eu

sabe, eu devo acho que até a minha vida, sabe, no que se trata de pai e mãe e que existe pai que é pai e mãe que é, mas a minha mãe é uma santa mãe, né? Então eu devo muito a eles, meu pai que lutando também, pouco pôde mas me educou na medida do possível porque a gente por exemplo, tinha que estudar, tinha que trabalhar. Ele determinava tal período de tempo, por exemplo, eu trabalhava de manhã até meio-dia na roça junto com eles ou, às vezes, até pastoreando o gado no cercado, no pasto. Depois do meio-dia eu deixava o gado em um outro cercado que o gado podia ficar à vontade. Aí eu ia pra casa tomar banho, almoçar, ir pra escola. É aquele caso da professorinha que eu falei pra você. Quando eu saía da escola ia tirar ração pro gado terminava de tirar a ração, às vezes, até saía mais cedo porque a professora deixava eu sair mais cedo. Eu voltava pra casa ia tirar ração, prender o gado, tudinho. Quando eu terminava a jornada de trabalho 7h30. 8h da noite a gente ia descansar, tomar banho, se lavar lá no poço atrás da casa, dormir. E assim era a vida do interior até eu vir aqui pra São Paulo.



P- E a escola? Quando você entrou pra escola...


R- Olha, a escola eu comecei a estudar eu tinha acho que uns 8 anos,

8 ou

9 anos. Porque aqui em São Paulo tem prézinho tem isso, lá pra nós no Norte, Nordeste não existe prézinho, tá? Então, a criança só vai pra escola depois de 9 ou

10 anos, depois que começa a falar, a andar, ir sozinho e voltar, porque aqui não... quem tem pai que pode põe no carro, aluga ônibus, perua, não sei o que lá. Mas lá não tem isso. Então a criança, enquanto é inocente, a criança está na saia da mãe, depois que fica grandinho já começa a fazer as traquinagens, que já sabe andar sozinho aí vai pra escola, né? Vai na escola, faz a matrícula e o menino se matricula na escola se junta com os outros vão, vão e voltam sozinhos. E assim foi minha formação escolar, que também não foi muito boa porque eu estudei até a 4° ano primário. A minha professora era professora de primário. Por exemplo, a 5ª série, eu já tinha que estudar na cidade já ficava longe, não tinha condução era uma légua de distância, quer dizer seis quilômetros, da minha casa pra cidade. Já não dava pra ir mais, é obrigado a parar de estudar. Então o que me fez vir pra São Paulo foi o pensamento de arrumar um emprego, de estudar, né, de aumentar mais o meu grau de escolaridade e foi assim que aconteceu. Um encadeamento, uma série de fatos que faz a gente vir parar numa cidade grande.


P- E como é que foi essa vinda pra São Paulo?


R- É, a minha vinda pra São Paulo foi também engraçada.. O ano de 1977, que foi o ano que eu saí de lá, como eu falei pra você, esse ano foi um ano que choveu bastante, choveu muito mesmo lá no estado do Pernambuco porque raramente acontece isso, chuva no Norte. Mas esse ano choveu demais. E o meu irmão mais velho também estava lá, morava lá,era vizinho nosso lá, meu irmão mais novo estava aqui em São Paulo e o meu irmão que seria o encostado ao mais velho também estava aqui em São Paulo, esse que eu fui morar no Jardim Miriam na casa dele, quando eu cheguei a São Paulo. O que aconteceu naquele ano,o meu irmão mais velho tinha casado em 1976, estava morando numa outra casa próxima da casa de meu pai, mas já estava na casa dele. E na casa de meu pai tinha só eu, a minha irmã que ainda era pequenininha, né, meninota de uns 7, 8 anos e meu pai, aqueles já velho de idade, sabe como é, enjoado. Então a gente, molecão, queria passear, queria ir pra cá, queria ir lá, o velho já não deixava e achava ruim e eu tinha um tio também que era muito festeiro, a gente saía a noite para as festas. Quando eu chegava à noite eu dormia na garagem, às vezes dormia dentro do carro. O meu pai não gostava que minha mãe levantasse tarde pra abrir a porta pra gente entrar. Eu queria ter a minha vida própria, sabe? A gente

precisa ter a vida própria. Chega uma certa idade que você precisa ter independência. Precisa conhecer também um pouco do mundo e

ter a sua própria vida. E como ia falando, naquele ano foi um ano que eu trabalhei bastante, eu tinha uma roça grande trabalhei. Nossa trabalhei pra caramba, sabe? E aquele ano eu perdi toda a minha... tudo o que plantei, eu perdi tudo. Porque choveu demais, acabou tudo, sabe? Alagou tudo. Eu não consegui colher nada

daquela roça que eu pus naquele ano, o ano de 1977. E aí falei: puxa vida trabalhei, perdi o ano. Vou ficar fazendo o quê aqui? Acho que eu vou embora pra São Paulo. Eu vou tentar outra coisa diferente. Quem sabe, né, lá em São Paulo eu consiga arrumar um negócio diferente, um emprego, mudar de vida. E foi assim que aconteceu. Peguei minha roça, que não deu quase nada e dei pra minha mãe. Juntei com meu irmão mais velho que também perdeu bastante,a

lavoura dele perdeu bastante, com esse negócio de muita chuva, muito inverno e juntei com ele e falei: "Vamos pra São Paulo" e ele falou: "Vamos". E nessa época existia uma empresa com o nome Viação João Teotônio que hoje em dia não existe mais. Agora é Itapemirim, São Geraldo,

Gontijo, essas empresas. A Viação João Teotônio, que existia na época, era do presidente do Central de Caruaru, campo de futebol. Não sei se vocês já ouviram falar pelo menos. Também acabou, isso aí já não existe mais, só tem o campo lá. E comprei passagem nessa empresa de ônibus. Saí da minha cidade no dia 8 de novembro de 1977. Se não me engano foi num dia de quinta-feira. Se não me falhe a memória foi num dia de quinta-feira. A minha madrinha veio com a gente que ela veio visitar uns filhos dela que já tinha aqui em São Paulo,a minha madrinha de batismo. A gente veio junto, chegamos aqui em São Paulo no dia 10 de novembro. Acho que umas 10h30, 11h nessa rodoviária da Estação da luz. Lembra da rodoviária antiga aqui, né, da Estação da Luz... Aquele fato que eu te falei que eu vi o japonês, fiquei assustado,eu nunca tinha visto japonês na minha frente. De repente eu estava do lado desceu do ônibus pôs as mala no chão. A minha madrinha deu aquele cutucão aqui. "Arnóbio, olha pro teu lado um japonês". Quando eu olhei pra cara assim: "Nossa, que bicho feio". Nunca tinha visto né? E ela: "Se acalme, fique quieto" e eu falei "Não tudo bem, estou calmo, estou quieto". Mas realmente é esquisito porque eu nunca tinha visto um japonês na minha vida. O povo falava, sabe, tinha aquele contos lá que o japonês tinha um pezão, que o japonês era não sei o que lá, sabe? Tinha um monte de história que contava sobre japonês, que lá no Japão quando ia chover o japonês botava o pé pra cima e que parava a chuva com o pé assim pra cima.. Então tinha esse monte de história. E aí quando eu vi, olhei pra cara, já vi que a cara era muito feia e falei: "Vou já olhar pro pé do sujeito pra ver se também é grande". E depois a gente vê que não é nada daquilo, coisas inventadas, né. E vim trabalhar aqui em São Paulo, era de menor tinha 17 anos e meio.. Não tinha idade de tirar documento, na época de alistamento do exército. Eu vim,

mas pessoas que não... meu pai e minha mãe também não queria que eu viesse. Eu vim quase a contragosto do meu pai e da minha mãe. Eu falei: "Vou quebrar cabeça, vou... sabe, vou tentar arrumar emprego mas eu só volto pra lá pra visitar meu pai, minha mãe, quando eu tiver direitinho", porque senão a minha mãe fala: "Eu já falei pra você. O que eu disse pra você pra não ir pra São Paulo".. Aí eu vim como realmente eu acabei de falar. Eu vim pra São Paulo e fui morar na casa do meu irmão aqui no Jardim Míriam. Aqui pro lado do Jabaquara, depois do Aeroporto.. Estava tentando arrumar emprego não estava fácil porque eu não tinha documento e estava na época do exército. Eu me alistei na Junta Militar de Santo Amaro, tirei a carteira... a carteira de trabalho, tirei o meu

o meu RG que foi tirado na 43 aqui da Cidade Ademar, os meus documentos são todos aqui de São Paulo. Praticamente ainda é emancipado como

cidadão paulistano, foi tudo tirado aqui em São Paulo. Só minha nacionalidade, né que seria naturalidade Pernambuco.. Aí depois veio a segunda batalha que foi tentar arrumar emprego.Difícil pra caramba porque na época que eu me alistei não tinha sido dispensado do exercito, sei que eu lutei

de tudo quanto é jeito e não estava conseguindo. Aí eu fui nessa empresa que era a Pires, uma empresa de serviços gerais que fica no 1102, aqui na Alfredo Pujol

no Alto de Santana. É uma empresa que presta serviços para várias empresas

por exemplo, pra Eletropaulo, pros bancos, pra todo tipo de repartição pública inclusive. E lá tinha um encarregado de serviços gerais que é da minha terra, é lá do Pernambuco também. E eu conversei com ele, ele falou: "Só que está em época de..." Aliás, ele é conhecido de um parente meu que também trabalhava, de um primo meu que também trabalhava nessa empresa, né. Aí ele falou: "Está difícil, está na época do exército, vai ficar ruim de arrumar emprego para você. O quê que a gente faz?". Aí eu falei: "Não tem um jeito aí de eu assinar um tratado, qualquer coisa que eu vou... se por acaso eu for servir o exército, eu peço a conta e vou embora. Eu só quero trabalhar, não quero complicar vocês". Eu entrei em acordo. Na época, eu cheguei a conversar com o dono da empresa, que chamava seu Manoel Pires, é um português, o dono da Pires. Hoje em dia você não consegue mais falar com o homem. A empresa cresceu, está em São Paulo, no Paraná, Rio de Janeiro, você não consegue mais falar com o dono da empresa. Mas eu cheguei a falar com o dono da empresa, seu Manoel Pires, quando eu saí de lá, que foi na época que eu disse o caso pra vocês que eu saí da Pires que eu entrei pra própria ADC [Associação Desportiva e Cultural], que seria ACEL. Na época, foi um acordo que eu fiz na outra empresa.. Ele ainda disse pra mim: "Se você quiser, pode voltar, as portas estão abertas. A hora que você quiser serviço pode vir aqui me procurar". Como é que eu vou procurar o homem? Hoje você não acha o homem. Ele deve andar com tanta segurança na rua, que você não consegue nem chegar perto, nem em pensamento.E nessa época aqui na Eletropaulo, na Brigadeiro até... quem tocava os serviços gerais era a Pires. Os prédios eram a Mofarrej, a zeladoria, ou seja, jardinagem era a própria Mofarrej, que que tinha o serviço de jardinagem. E o serviço de limpeza era feito por essa empresa de conservação que era a Pires.E estava precisando de gente na Brigadeiro, pra trabalhar nos prédios da Eletropaulo, na limpeza. O encarregado disse: "Onde é que você mora?". "Eu moro no Jardim Míriam", "Pra você na Brigadeiro serve". "Serve sim. Opa! É pra mim mesmo. Está bom". "Então vou mandar você pra lá". Então ele mandou uma cartinha e me mandou para a Brigadeiro,

.pra eu

trabalhar. Me deu o uniforme, uma farda azul que é aquela farda que eu mostrei pra senhora. Estava tudo prontinho, duas roupas. "Olha, segunda-feira você se apresenta lá na Brigadeiro". E me deu o nome do encarregado. "Você se apresenta para o Sr. Oswaldo". Oswaldo, é conhecido por Calixto, Sr. Calixto. Falei: "Tudo bem", fui pra casa. Quando foi na segunda-feira fui até o prédio, peguei o ônibus de manhã cedo, vim até a Brigadeiro, como eu também não conhecia, peguei uns três ônibus errados até chegar na Brigadeiro. Sabe como é né? Eu sabia ler um pouco, mas eu não sabia que ônibus pegar e onde descer. Então, descia, perguntava, "É mais na frente". Voltava para o ônibus de novo e andava mais outro pouco. Até que eu

cheguei na empresa. E assim desse jeito foi a... a minha entrada na Eletropaulo, né? [risos]. Quando desci, cheguei na portaria, fiquei assustado, olhei pra cima, pro tamanho do prédio, 22 andares... Falei "Vixe, que coisa grande, meu Deus do Céu! Será que eu vou...

vai me dar tontura lá em cima desse troço, não?". Aí entrei no prédio, conversei com os caras da portaria, conversei direitinho. "Olha o encarregado não chegou ainda, você espere um pouco que daqui a pouco ele chega". Dali uns 10, 15 minutos chegou o encarregado, eu conversei com ele. Ele falou: "Tudo bem, vamos lá em cima, vamos trocar de roupa, vamos trabalhar". Aí eu subi no prédio. Foi a primeira vez que eu também andei de elevador na minha vida, porque eu não tinha entrado num elevador, né. Aquele negócio lá fechou as portas, eu fiquei olhando para cima, pra baixo, tudo quanto é lado, todo assustado, né. Quando chegou lá em cima, no último andar, que seria a... a área que ficava tomando... os serviços gerais, né, a cobertura do prédio, né. Tinha umas salas grandes, a gente ficava lá em cima. Eu desci lá com ele, me ensinou tudo direitinho: "Ali se troca, pá, pá, pá. Depois você pega o balde, o pano e começa a varrer por aí, tá". Aí eu comecei trabalhar naquela época, né. E foi justamente que paralelo a isso estava acontecendo aquele outro fato que eu te falei, aquelas reuniões, aquelas atas, que estavam se juntando aqueles clubes, que estavam dando origem a ACEL, na época, né. Então quando eu comecei a trabalhar, com pouco tempo começou a ACEL, tá. Aí de repente teve... tiveram que mandar um guarda pra lá, um segurança, mandaram uma pessoa... um senhor, uma mulher pra fazer a limpeza, tá. E falaram: "Bom, vamos procurar uma pessoa pra mandar pra lá. Mas como é que é?". Foram lá, lá tinha geladeira, tinha bebida, tinha tudo. "Quem é que de vocês que não bebe?". "Eu bebo", o outro "Eu bebo", "Ah, mas lá tem cerveja, mas não pode beber, tem que trabalhar sem beber". Sei que mandaram umas duas pessoas pra lá que trabalharam... não chegaram a trabalhar dois, três dias. Sei que foi um que... ficou bêbado, ficou nu, andou lá pelo meio do salão, arrumou confusão, mandaram buscar de volta. Foi um outro que se embebedou e embebedou-se é junto com o guarda, começaram a dar tiro também lá pelo meio do prédio. Recolheram de volta. Sei que fizeram lá um... um checkup lá dentro e... naquela época eu não bebia, era moleque pequeno, né, molecote, né, criado até os 17 anos na casa de meu pai, meu pai não dava muito... não tolerava muito esse negócio de bebida, eu não tinha hábito. Inclusive hoje graças a Deus, eu bebo mas é muito pouco, né, não tenho muito o hábito de beber. E falaram: "Você não quer ir pra lá, trabalhar lá no clube?". "Não sei se vou, não vou". "Vá, se você quiser, se ficar... se você gostar, você acaba ficando lá". Eu falei: "Olha, tudo bem, só que aqui nesse prédio eu limpo vidro". E eu ganhava um prêmio a mais porque eu botava aquele cinto lá e ficava nas vitrines do prédio limpando. Eu falei pra aquele senhor, falei pro encarregado: "Se o senhor me der o prêmio do vidro, eu vou ficar lá". Ele falou: "Vá pra lá, que lá também tem vidro, tem bastante vidro e eu falo com o encarregado, com o supervisor da Pires e ele te dá... continua te pagando o prêmio do vidro". "Então, tudo bem". Aí fui pra lá, foi eu e uma senhora com o nome de Radi... com o nome de Raimunda, tá. Essa menina... Não, aliás, minto, foi uma senhora com o nome de Isaurina. Essa menina, era uma... uma moçinha da Bahia. Ela foi lá, ela achou ruim, não quis ficar, chorou, não sei o quê: "Porque aqui é muito ruim, é pequeno e é..." Sabe? Estranhou pra caramba, não quis ficar. Eu fiquei sozinho. Quando foi na semana seguinte, o encarregado mandou uma senhora baixinha, com o nome de Raimunda, uma senhora do... Belém do Pará, se não me engano. Conversava muito com ela, ela me contava muitas histórias do... lá do estado dela, e eu contava da minha terra, ela contava história da terra dela, né. Eu me dei muito com ela, eu trabalhei acho que uns 4, 5 meses junto com ela... E paralelamente aconteceu que nessa época tinha um... o primeiro funcionário lá da associação, é aquele senhor que eu tratei pra vocês, o Valdivino Rodrigues dos Santos, que foi contratado quando a... a sede abriu, tá. Só que por motivos, né, que não seria bem... bom falar por aí assim porque tem pessoas ainda que fazem parte da empresa, né. Ele foi mandado embora, na época, né. E aconteceu que justamente nessa época eu também... eu pedi pra fazer acordo na empresa que eu trabalhava, que era a Pires. Eu recebi a minha... reservista e...

tirei carteira de motorista. Eu falei: "Puxa vida, eu sei ler um pouco, sei dirigir, não vou ficar trabalhando de faxineiro, né. Vou ver se arrumo um serviço melhor. Se eu não conseguir arrumar eu vou embora, ficar uns tempos com meu pai. É só o meu pai e minha irmãzinha, meus irmãos estão todos aqui em São Paulo, eu vou pra lá ajudar o velho, que o velho está sozinho". Só que aconteceu que foi nessa época esse senhor que foi o primeiro funcionário na sede, ele foi mandado embora. E eu me dava bem com ele porque ele até era chefe meu, eu era da... da Pires e ele era do clube, era ele que me dava serviço. Só que acontecia que quando ele às vezes ele faltava... como ele faltava muito... ele era cunhado de um dos diretores, aliás um dos diretores que era vice-presidente administrativo, uma coisa assim, era vice-presidente social, tá.

Então ele como tinha costa larga com o homem, ele não era muito de trabalhar todo dia, todo dia, né. Um dia pra lá, um dia pra cá. E tinha esse negócio aí, quando ele faltava, eu é que ficava no lugar dele. Eu trabalhava certinho, direitinho, e eu era assim meio quieto, meio calado, né, meio... meio ainda barriga verde. Eu ainda sou, não mudei, mudei mas foi pouco. Aí... quando houve esse problema de que ele foi mandado embora, eu também estava de... eu estava já de aviso na... na Pires, que eu também estava pra sair, fiz acordo, ia receber as contas e ia embora. Só que... na época tinha o presidente, que era o Edmundo, Edmundo Benedetti Filho, ainda lembro o nome dele inteiro hoje, tá. E tinha o seu Vargas, que era vice-presidente administrativo, aquele senhor que teve aqui ontem com vocês. Acho que foi ontem que ele teve, né? Eu... trabalhava com eles, toda vida me deu bem com eles, eles eram bacanas pra caramba, né. Ele falando pra eles que ia embora, aí eles perguntaram pra mim se eu não queria entrar na ADC, passar a efetivo pela ADC, né. Aí eu falei pra ele: "Olha, seu Vargas, eu não sei se devo ficar, porque olha, eu vou receber as minhas contas aqui, esse outro senhor que trabalhava aqui é amigo meu, de repente ele pode achar que eu estou tomando o emprego dele, vai ficar bronqueado comigo e eu não... sabe, fica meio ruim, meio esquisito, né. O diretor é cunhado dele também pode ficar achando ruim. De repente eu entro aqui, o outro rapaz aí vai achar que eu é que... vai ficar com marcação em cima de mim. Pode ser que... O senhor sabe que o pau sempre quebra do lado mais fraco, aliás, a corda sempre estoura do lado mais fraco. Isso aí vai sobrar pra mim, aí talvez não dê certo". Aí o seu Vargas e o presidente da época: "Não, você pode ficar aqui, se não der certo... você fica 3 meses aí, 2 meses de experiência. Se você quiser depois a gente recontrata você e você passa a ser efetivo. Se você achar que não vai dar certo, você vai embora, só que fique pelo menos até nós arrumarmos outra pessoa pra ficar no lugar desse que vai sair pra não deixar a gente na mão. Que nós só temos um funcionário, está sendo... já foi mandado embora, no dia 30 não trabalha mais. Você também está saindo. Então de cara já vai entrar um faxineiro", seria no caso na palavra dita, um limpador chamava de faxineiro. "Vai entrar um faxineiro novo aqui, então que a gente não conhece porque você vai sair, a Pires vai mandar um outro pra cá. Então já não conhece".

Os diretores dessa época, eles não ficavam lá dentro do clube. Eles trabalhavam na Eletropaulo, tá. Eles não tinham... eles só iam lá em horário de almoço, ou então depois no fim do expediente. Então o clube era tocado mais por mim e pelas duas pessoas que trabalhavam comigo na limpeza. Eu, no caso quando estava eu... era eu e mais uma senhora, e esse senhor que foi mandado embora, tá. Então o quê que aconteceu? Começaram a conversar comigo e acabaram me convencendo. Eu falei: "Então tudo bem, então eu vou ficar", eu saí da Pires, tá, recebi as contas tudo certinho e fiquei... passei pra ADC. Só que eu falei: "Só com uma condição eu só vou dar a minha carteira pra vocês registarem quando eu achar que eu vou ficar mesmo, né". Muita saudade de mãe, né, quase dois anos que eu já estava lá dentro sem ver a minha mãe. Dois anos não, estava com um ano, um ano e dez meses mais ou menos sem ver a minha mãe, eu gostava muito dela, gostava e gosto claro. Aí eu falei: "Bom, eu vou pensar no que vou fazer". Aí eu ficando, fui ficando, o que aconteceu? Eu ganhava na época Cr$ 1.700,00 por mês na Pires, na época daquele cruzeirinho, aquele antigo. E lá eles começaram a me pagar Cr$ 2.500,00, falei "Puxa vida!" pra quem ganhava Cr$ 1.700,00, né, de repente Cr$ 2.500,00. Eu peguei aquele dinheiro que eu recebi da empresa que eu fui mandado embora, botei no banco na poupança na época, na poupança, caderneta de poupança Delfin aquela que faliu, eu perdi um monte de dinheiro naquela praga lá, tá [risos]. Então o que aconteceu? Eu fiquei três meses... antes de terminar os três meses eu já até falei: "Ô, seu Vargas dá pra o senhor registrar a minha carteira porque eu vou ficar, não vou mais embora e... está bom, dá pra continuar. Acho que é aqui mesmo que eu vou ficar", "Então você quer ficar". "Quero", "Então tudo bem". Aí ficaram até contente, né, comigo também, eu também fiquei com eles, registraram a minha carteira e eu comecei a trabalhar. Só que eu fiquei dezembro, janeiro e fevereiro, né, sem registro fui registrado, né, na carteira no dia 1º de março de 80, tá? E fiquei trabalhando lá dentro. Era eu sozinho nessa época, né, e tinha mais as duas pessoas que eram da Pires como eu fui anteriormente, né. E foi indo, e foi indo, depois foi contratado um técnico de futebol de campo que parava também pouco lá dentro que era o Godoy, que ele foi se não me engano do Corinthians parece, tá. Depois veio, se não me falha a memória, aquele senhor que eu lhe falei o João Rodrigues Barbosa que eu disse se eu não sei se o registro dele é o 3,4, aliás ou 5, tem esse técnico, tem ele que se não me falha a memória. Porque o técnico só aparecia lá de vez em quando, né. E o rapaz, ele era o caseiro lá no Socorro também. Então muito pouco ele ia lá. Então eu não tinha muito... muita ligação com eles. Eu passei a ter depois de um certo tempo pra frente mas no início eu não tinha ligação com nenhum deles então não sei muito quem foi contratado primeiro, tá. E... foi passando, mudou a diretoria teve a primeira gestão de dois anos, né, foi o Edmundo o presidente, depois que o Edmundo ficou os dois anos... o Takeo que é o atual presidente agora, ele montou uma chapa mas ele já fazia parte eu não sei se era do Conselho Fiscal, ele já fazia parte, da diretoria, né, só que ele ficava no sindicato lá no prédio aqui, do Largo da Pólvora no prédio do Sindicato dos Eletricitários, né. Ele montou a chapa apoiado com o Magri e ajeitaram e ele ganhou, ganhou a eleição, né. O Edmundo que naquela época também não era licenciado para ficar dentro da associação. Tinha o emprego dele, o cargo dele dentro da Eletropaulo, voltou pra Eletropaulo, aliás nem chegou a voltar, ficou onde estava e o Takeo que já era licenciado, que era membro efetivo, né, do Conselho Fiscal também do sindicato passou a ser presidente da ADC. Aí foi lá pra Brigadeiro, né, conhecer tudo direitinho porque no início ele conhecia só a... Ele ia em reunião lá, né, aqueles negócios de balancete do anual de despesas e dessas coisas que ele... ele era do Conselho Fiscal ou era Deliberativo, era uma coisa assim, tá. Eu nunca cheguei a perguntar a ele exato o que ele era. Sei que tinha aquelas reuniões que ele aparecia lá e o Takeo ia pra essas reuniões. Quando ele montou a chapa dele que ele ganhou, aí ele passou efetivamente, porque ele já era licenciado na Eletropaulo para o sindicato, não para ADC naquela época. Ele era membro efetivo, mas do sindicato da Eletropaulo. Só que como também ele era... ele era diretor do sindicato, só que eles não podiam ficar direto lá dentro do sindicato que a empresa não liberava, era a Light na época, né, uma empresa de fora, era canadense se não me engano, a Light, tá. Então eles não podiam ficar lá dentro tinham o posto de serviço deles na Xavier de Toledo. Então o Takeo trabalhava, não sei se é no setor de computador no primeiro andar da Xavier. Eu me lembro que eu ia lá de vez em quando levar cheques pra ele assinar, levar algumas coisas tipo assim pra ele pagar, aliás pra ele pagar não, eu levava o cheque ele assinava, e eu ia até o banco pagar as contas. E eu ia até a Eletropaulo e vinha aqui a Eletropaulo da Xavier de Toledo, tá. Como me lembro também do primeiro dia que ele comprou uma linha telefônica e foi instalado o nosso telefone lá no prédio. A primeira ligação quem fez fui eu, pra ele pra avisar que o telefone foi instalado, tá. Então esse tipo de coisa sempre acontecia. E, com os... com o decorrer dos tempos entrou o Montoro na época, que... aliás o Maluf comprou a Eletropaulo se não me engano naquela época e passou a ser em vez de Light passou a ser Eletropaulo, né. E nessa época também já existia, só um projeto aquele negócio da Praia do Sol, né, que a gente sempre imaginava, né, será que sai, não sai. Porque era muita política, a Light era uma empresa particular, no caso era uma empresa e como é chama? A agora

que é estatal, né. Era uma empresa privada, digamos assim, né, é canadense mas é empresa privada. Era empresa que é hoje em dia, parando um pouco assunto... A Eletropaulo ela é obrigada a manter um padrão de empresa comum porque ela era... era uma empresa particular então ela vinha, ela seguia as consolidação seria, né, as leis de trabalho. Então agora ela não pode mais mudar porque ela vem muitos anos seguindo isso. Então ela não pode mudar, porque se não a maioria dos funcionários da Eletropaulo seriam funcionários públicos né, quer dizer os eletricitários, não são funcionários públicos, que funcionário público não tem décimo terceiro, acho que não tem isso, não tem um monte de coisa, não é isso? Não tem carteira fichada, registro de carteira essas coisas e a Eletropaulo mantém tudo isso porque ela já vem de muitos anos, ela não era do estado ela era uma empresa instalada aqui no Brasil que tinha que seguir as normas de trabalho, né. E nessa época a... a Light não licenciava o diretor pra ficar na ADC, tudo era... era difícil mesmo. Não tinha político também no caso, né, e foi influenciado dentro da Light, a Light era só uma empresa, não tinha nada disso. O que houve é que o Maluf comprou a Light e passou a ser Eletropaulo. O povo começou a falar que a Eletropaulo é do Maluf, Maluf comprou a Eletropaulo, não sei o que e bá, bá, mas não tinha nada a ver. Ele comprou, aliás ele usou o dinheiro do estado e como hoje a Eletropaulo é do estado de São Paulo, não tem dono, tá, porque tem pessoas que não conhecem mas existem três companhias de luz no estado de São Paulo, aliás aqui na capital tem CPFL, CESP e Eletropaulo, tá. Todas essas três empresas pertencem ao estado de São Paulo, não tem nada a ver com o governo não podem nem pôr a mão lá que não é dele, tá. Espere... você já viu como é que é, né. Mas é do estado de São Paulo. Depois se não me engano do Maluf, foi que veio o Montoro, parece não foi? Eu não me lembro porque a companha, negócio de política, eu não tenho muita... eu não guardo, nunca guardei isso na memória, tá. Sei que entrou um político na Eletropaulo e... ele é mais político e pra ganhar, né, sabe como é, popularidade para as campanhas vindouras e tudo mais, começou liberando as coisas pra gente lá na associação. Que isso ajudou muito, a associação, a ADC. Com o passar dos tempos eles foram liberando veículos pra gente, que a gente não tinha, comodato de imóveis em algum lugar pra gente se instalar uma subsede como foi feito o caso de muita subsede que já tem pelo interior, tá. E fomos crescendo, fomos crescendo e fomos crescendo e chegou uma época que a gente tá, tinha tal, como está hoje em dia. Então começou a expandir no estado de São Paulo. E tem sede em: Mogi, Santos, Sorocaba, Aparecida, Cruzeiro, Pinda, nossa por ai por tudo quanto é lugar da cidade de São Paulo a gente tem sede. Nós temos em Mogi um clube bonitinho, com piscina bem arrumadinho, pena que é um pouco distante mas é muito bonitinho o clube de Mogi. Nós temos um clube em Pinda que também é bonitinho e por aí pelo interior de São Paulo, a maioria das cidades a gente tem sede, tá. Só que foi de uns tempos desses prá cá, antigamente a gente não tinha. Eu me lembro que nós tinha só o prédio na Brigadeiro, tá, eu retirava na Eletropaulo um cheque de Cr$ 200.000,00, naquela época que era todo o dinheiro que ADC recebia por mês. Eu depositava numa conta que era no Banco Econômico do lado da Eletropaulo, tá. E eu tinha a chavinha que abria a caixinha do banco lá pra ver o saldo, aliás saldo não, aliás a correspondência. No saldo eu ia lá no caixa, e a moça folheava aquela lista desse tamanho, não sei se vocês se lembram disso, o saldo é dado na hora, né. Folheava aquela lista lá e me dava. Aí eu levava para o tesoureiro da Eletropaulo, da ADC, que se chamava Paulo Kraml, Kraml, né, aliás teve vários outros. Ele trabalhava, se não me engano, no 4º andar do bloco B da Eletropaulo. Era lá que ele fazia a contabilidade e levava lá pra a ADC e diversos. Ele era... ele trabalhava no... no setor de contabilidade mas só como ele não era licenciado ele não podia ficar lá dentro da associação. Ele fazia o serviço tanto lá dentro da Eletropaulo e como no fim do expediente lá dentro da associação, tá. Então eu ia até lá e levava talão de cheque e pegava e me... fazia o meu pagamento, eu ia lá no banco, recebia. Então nessa época era mais ou menos assim que funcionava, né. E com o passar dos tempos foi crescendo, foi crescendo. Takeo ganhou a primeira eleição, ganhou a segunda. Acho que... e eu não me recordo também... porque eu já falei pra você, coisas políticas eu não gosto... nunca registrei na cabeça. Eu não sei se foi depois do segundo mandato ou do terceiro que montaram uma chapa maluca lá, e ganharam, né, ganharam. Eu não sei quem lá ganhou dele por um voto lá de diferença, eu não sei o que fizeram. O danado lá que o japonês perdeu a eleição. Aí entrou um... rapaz com o nome de Barreto. Barreto, é baixinho, cabeludo, barbudo, que ele faz parte do PC do B [Partido Comunista Brasileiro], n? Esse cara era meio loucão, meio doido, ele chegava lá muitas vezes montado em uma moto com um cachorro no bagageiro. Eu olhava pra cara dele: "Esse cara não tem juízo, não é possível". Então ele era meio... meio zueiro mesmo. E ele não soube na época organizar, ele não soube dirigir a associação, né. E... começou a atrasar o aluguel, atrasar não sei o que lá, sabe? Esses encargos públicos deixava de pagar, e... vinha multa daqui, multa de acolá. A prefeitura apertava de um lado com negócio de alvará do prédio. Pouca experiência, né. Então foi ajeitando... a coisa... a coisa foi apertando que ele não aguentou, acho que ele pediu demissão. Aí entrou o vice, que era o seu Vargas, aquele que esteve aqui ontem, tá. Que fazia parte da diretoria na época também, entrou o vice. Ficou uma certa quantidade de tempo, né, foi indo, foi indo, foi indo. Aí houve novamente nova eleição, Takeo foi reeleito de novo, e assumiu. Se não me engano acho que agora é o quarto mandato, ou é quinto, que ele não pode ter... no próximo mandato agora ele não pode se candidatar, ele vai ter que pular esse e só no outro. Porque não pode ter cinco mandatos consecutivos,

tem que sair. E durante este período de tempo muitas modificações foram acontecendo. Pergunte mais alguma coisa, porque senão eu vou falar tanto se você não vai perguntar nada.


P- Você estava falando da sua rotina lá na ADC. E como foi,o que você fazia, o que você faz agora. A sua rotina você anteriormente você ficava muito tempo na empresa, lá na ADC, tal. Como é que é?


R- Olha, eu ficava muito.Veja bem, quando eu comecei a trabalhar, era o início, como disse, era o início de carreira.Como estava abrindo a gente não tinha porteiro, a gente não tinha boy. Quando eu estava nos serviços gerais, eu só limpava, então aquele senhor que trabalhava lá, ele fazia esses serviços, só que ele como eu já retratei pra vocês, ele era muito preguiçoso.Então eu tinha que fazer a maior. parte dos serviços pra ele. Por exemplo, fazer pagamentos, fazer o malote

da associação, ligando a associação a Eletropaulo,

que seria. A gente usava ainda hoje uso o sistema interno dentro da empresa pra comunicação. Nós temos associados especiais, mas são poucos, esses associados especiais, a gente usa o correio. Mas a maioria dos nossos associados são funcionários da Eletropaulo. Então a gente usa o sistema de malote interno da empresa para manter contato e manter os associados informados. Então, desde quando

deu-se a origem a junção dos clubes que deu origem a ACEL, nós tivemos que daquela época por diante que fazer boletins informativos, soltar isso, soltar atas das reuniões,

essas coisas todas. E a gente tinha que distribuir isso na Eletropaulo. Então eu mexia toda a Eletropaulo. Praticamente eu conheço essa Eletropaulo, do estado de São Paulo, e da capital, do interior quase todas. Então eu andava muito. Eu cheguei até a

furar um sapato de tanto andar. Meu sapato furou de tanto que eu andava. Então eu até fazia portaria para atender os associados. Eu abria o clube 11 e meia e fechava a 1 e meia da tarde. A Eletropaulo abria 11 e meia para o almoço e fechava às 2 horas. Então o que que acontecia? Eu abria o clube pra rapaziada ir jogar ping-pong, bilhar, snooker, tênis de mesa. Porque nesse prédio que eu citei pra vocês, aqui na Brigadeiro, o primeiro andar era escritório. Era um prédio de três andares: tinha o térreo, primeiro e segundo. O segundo andar era só mesa de jogos. E o primeiro também. O térreo era mesa de jogos, e o primeiro andar que seria escritório. Então eu abria esse

dois compartimentos: térreo e o segundo andar para os associados jogarem, que a maioria dos associados era ali da Brigadeiro, do bloco A e bloco B, que ainda hoje existe,o prédio da Mofarrej. E eu abria o prédio, quando terminava o expediente, fechava novamente. E era assim o meu serviço. De mês em mês, de dois em dois meses, saía um jornalzinho interno, eu também fazia a distribuição dentro da Eletropaulo. Então foi indo, foi indo até chegar agora. Pergunte mais.

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P- E das realizações da ADC, quais os momentos mais marcantes que você se lembra?


R- Da ADC? Da ADC eu tive em todas. Não tem nenhuma da ADC que não tenha uma pitada de mim, viu. Desde de quando abriu. Olha, a gente teve muitas, por exemplo, o meu primeiro dia de serviço na ADC foi uma festa.E foi inclusive

a festa do chope que foi feito em um clube pros lados de Santo Amaro, nesses mundos aqui. Eu não me recordo direito porque também

era novo aqui em São Paulo, não andava muito, meu conhecimento era pouco. Eu me lembro que foi contratada a empresa de Turismo Santa Rita, que essa aí vocês conhecem. Turismo Santa Rita. Foi contratada e eu tomei conta de um ônibus, inclusive peguei a caixinha dos usuários pra dar pro motorista. Seu Dino, que eu chamava, era Valdivino Rodrigues dos Santos, seu Dino, esse senhor que foi mandado embora, foi o primeiro funcionário da ADC, também foi pra essa festa. E o cunhado dele que era diretor e

estava na festa. Eu tomei conta de um ônibus, seu Valdivino tomou conta de um outro e o cunhado dele tomou conta de outro ônibus. Então

essa festa eu nunca esqueci, foi um dos fatos marcantes mesmo que nesse dia houve até um fato meio desgastante mesmo como diz a história. Um rapaz bebeu muito e ele botou uma pedra de gelo na cabeça assim e ficou andando bêbado com a pedra de gelo na cabeça, e com pouco de tempo, o sol estava muito quente, deu uma febre nele de repente, deu uns desmaios no cara. Eu ouvi dizer que aquele cara faleceu, eu não sei, levaram ele para o hospital, ele faleceu. Era um rapaz novo, ainda hoje eu

lembro dele. E outro fato também que aconteceu me marcou muito, existem vários fatos que marcam, que deixa marca no pensamento da gente. Não só os fatos bons, mas os fatos ruins também retratam. Por exemplo, você convive com a pessoa e de repente a pessoa morre, isso deixa marca no seu pensamento.Teve um outro menininho também que na época,na Brigadeiro mesmo, eu

morava e trabalhava ali nesse prédio da Brigadeiro. Que foi vítima também de um acidente de automóvel. Ele morreu,tinha 17 anos e meio, era boy, tinha se alistado e estava lá trabalhando com a gente. Ele morreu numa festa de aniversário aqui pro lado da avenida do Estado e acho que o carro dele bateu. A Brasília que ele dirigia bateu num caminhão e o rapazinho faleceu. Ele convivia muito com a gente e eu me dava muito bem com ele.

Eu senti muita a falta dele. E teve festas, e mais festas, que a gente sempre fazia.Teve uma festa muito boa em Sorocaba,

na nossa sede lá em Sorocaba. Era um lago muito bonito. Eu tinha uma namorada, e eu levei minha namorada pra festa, né, andar de pedalinho com a minha namorada, maior barato. Tudo de graça, algodão doce. Então tem coisas que marcou mesmo, muita festas bonitas. As aberturas de olimpíadas que também são muito bonitas, são filmadas, eu não sei se vocês chegaram a ter conhecimento de ver algumas delas. Negócio muito bem feito, muito bonito, sabe, com empresas contratadas, que arrumam arranjos bonitos, muito chique. Então, são coisas que marcam e que deixa no pensamento da gente. A gente convive com essas coisas, e esses eventos estão acontecendo, todo ano. E a gente está sempre em todas. Então, graças a Deus, eu vou dizer pra vocês, tem os altos e os baixos, existem os momentos de glórias, os momentos de desacerto. Mas eu não tenho a reclamar não. Graças a Deus, vim pra cá pra São Paulo, eu não tinha nada hoje tenho.Comprei um terreno, fiz uma casa, que é minha, não pago aluguel. É longe pra caramba, mas é minha, graças a Deus. Agradeço a Deus e a esse emprego da ADC porque é de lá que eu tiro o sustento pra minha casa, pra minha família.Então gosto do meu serviço, né, é bom quando você gosta daquilo você faz. Eu gosto porque eu faço um monte de coisa, eu dirijo, eu mexo com eletricidade, com linha telefônica. Então falo, converso com os caras da Telesp, vou pedir ligação de cabo, disso e daquilo outro. Até acabo aprendendo um monte de coisa.Ultimamente estou fazendo um curso de mecânico de automóvel porque eu mexo com um monte de carro que a gente tem lá. Então são conhecimentos que a gente vai tomando pra servir. Que é aquele negócio, pra ser encarregado de eletricista, você tem que saber o que é eletricidade. Pra você ser encarregado do mecânico tem que saber o que é mecânica, não é? Porque hoje a hierarquia funciona o contrário, aliás principalmente na política. Hoje em dia vem um cara lá de fora, que você nunca viu, o cara vai ser presidente da empresa, vai se chefe de não sei o que lá, pessoas que não sabem, não tem a mínima noção. É como aquela história,não sei se vocês chegaram a assistir aquela novela "Que rei sou eu", assistiram a novela? É a história do ministro do trabalho, que o cara fala: "Mas, tio, como eu vou ser ministro do trabalho, se eu nunca trabalhei na minha vida?" E sempre existe isso, né, pessoas que não tem noção de nada, e é chefe de uma coisa, que às vezes até precisa de um certo conhecimento. Eu toda vida gostei, pelo menos de me aperfeiçoar, de olhar, de conhecer, mexer, se possível fazer, para que a gente possa tomar conta de uma área

ou de um setor dentro da empresa. E graças a Deus, pelo menos o que eu exerço eu não me atrapalho. Se tiver que consertar o carro, se não for um serviço de mecânica logicamente, porque eu não sou mecânico, teria que ter uma oficina e bancada com um monte de ferramenta. Se for uma coisa pequena eu vou lá e conserto. Se der um crepe, por exemplo, nós temos um sistema de interfone com 10 ramais e mais cinco linhas telefônicas. Tem fax, tem tudo. E quem mexe com tudo sou eu. Se dá um piripaque nas linhas, quem vai lá e conserta sou eu.Eu nunca estudei, nunca fiz curso técnico. Apenas comprei livros, revistinhas.Curso que falam de negócio de eletricidade, curiosidades. Pronto, falando em outros palavreados direto. E faço e mexo. Hoje em dia nós temos

o nosso clube tem piscina, bombas, casa de máquinas, caixa d'água e poço artesiano com bombas automáticas. Então queima relê, a gente troca, eu mesmo troco. Queima um fusível a gente coloca, queima um disjuntor a gente coloca. Eu nunca fui fazer um curso de eletricista, eu aprendi com gosto e vontade, comprei livros, aprendi e graças a Deus, estou onde estou. O único curso que eu estou fazendo agora, que eu me matriculei e estou fazendo mesmo é esse de mecânica. Porque eu já vim do interior, desde pequeno que eu mexia com carro e sempre fui curioso, quis aprender as coisas e já sabia fazer e graças a Deus. Sei fazer um pouco de manutenções pequenas assim com automóveis e agora eu quero mais me aperfeiçoar um pouco para que a gente possa se expandir. Ter mais recursos também e ter mais chances de subir na vida porque a gente não deve parar no tempo, porque quem para é engolido pelo progresso. Eu não quero ser engolido pelo progresso, pelo menos estou tentando, né?


P- E você é casado, Arnóbio?


R- Sou casado sim. Eu casei, já está com quatro anos. Eu casei, deixa me ver, nós estamos em 1994. Eu casei acho que em fevereiro de 1990, se não me engano, se não me falha a memória.Outra coisa que eu também nunca decorei foi a data do meu casamento. Porque

a história do meu casamento eu “principiei” a contar pra vocês lá fora, foi meio complicado Eu fiquei noivo três vezes para casar uma. O meu primeiro casamento não deu certo, eu arrumei uma namorada, filha do compadre do meu pai e da minha mãe, padrinho do meu irmão mais novo.Gostou muito do meu pai também, porque são um povo meio fazendeiro, um povo bem de vida. Mas eu não gostava muito da moça e aquele rolo danado. Nesse meio de tempo eu conheci uma outra moça que

acabei namorando escondido da minha noiva. E

fui

embora pra São Paulo, fui passear em São Paulo. Logicamente eu fui e vim, nunca fiquei lá. Depois que eu saí de lá, eu só fui lá passear, só 15, 20 dias, um mês e voltava. Nunca fiquei. Saí pra ficar aqui em São Paulo, até hoje. Fiquei noivo, não deu certo, acabou. Comecei a namorar com uma outra menina. Fui pra lá casar e aluguei a casa, comprei móveis, comprei tudo direitinho, aliás eu morava dentro da ADC, eu comprei os meus móveis quase todos ali no Jumbo ali da Brigadeiro, Jumbo Extra. Eu comprava e guardava

no prédio

da ADC mesmo, lá dentro mesmo eu guardava. Tinha um almoxarifado onde guardava material de limpeza. Então eu comprei: geladeira, fogão e armário. Era tudo encaixado, coisa pequena. Volume maior é só a geladeira, guarda-roupa

e umas três ou quatro caixinhas pequenas. Então botava tudo lá dentro. Quando eu aluguei a casa foi só pegar,colocar numa perua e levar

e armar na minha própria casa que eu aluguei pra casar. E esse casamento é o casamento que não deu certo. Eu fui pra lá, estava noivo, tudo direitinho. O pai da moça gostava muito de mim e a mãe dela também.Tem um assunto

particular

no meio, tinha uma tia dessa menina acho que era meio chegada do meu pai e a minha mãe começou a tomar bronca da família por causa disso. E começou a achar ruim: "Ô meu filho, não vai dar certo, essa família não presta, essa raça não presta, não sei o quê, bá, bá". Sabe mãe como é,né? Mãe quando começa a botar em mente um pé na frente. Ela foi indo, foi indo, a minha mãe conseguiu acabar esse namoro meu. Não devo guardar rancor porque é minha mãe e acho que mãe não quer nada ruim para os filhos. Acho que essa minha noiva realmente gostasse de mim acho ela não teria acabado o casamento. É como na história, "quem ama não mata", "quem ama vai até o fim", né, "quem ama perdoa". Se ela gostasse de mim mesmo ela não tinha acabado o casamento por fofoca, por fuxiquinho, essas coisas, a gente teria continuado. Ela acabou, vim embora pra São Paulo, fiquei com uma casa cheia de móveis. Eu falei: "Não vou dar fim as minhas coisas", que eu aluguei uma casa,gastei muito dinheiro, paguei um depósito, aluguei, e um monte de coisa, reformei, pintei, ajeitei tudo direito. Aí eu falei: "Bom, vou morar sozinho, vou estudar". Tinha um carro, um Opala quatro portas naquela época. Falei: "Tem um carro, sou solteiro, mulher por aí é que não falta, eu arrumo outra ligeirinho".Uns 3, 4 meses, depois tive problemas de doença também, tive que ser operado às pressas. Vim um dia trabalhar, quando cheguei em casa comecei a sentir uma dor, fui parar no hospital, mandei chamar a minha mãe, a minha mãe veio e ficou um mês, uns 40 dias junto comigo, na minha casa. E graças a Deus passei essa fase. E de repente, essa que é a minha esposa, eu já paquerei ela na época que eu era solteiro lá no Pernambuco, quando ela morava lá. Conhecia ela assim e tudo porque ela é sobrinha da minha cunhada. E eu conheci ela assim só de vista. Depois que eu conheci paquerei ela, depois vim pra cá, pra São Paulo, arrumei outra namorada e isso aí passou despercebido.Depois que houve

essas trapalhadas aí comigo, eu fiquei noivo de mão cheia, depois o segundo casamento não deu, eu vim embora pra cá pra São Paulo.Soube que essa menina veio, a mãe dela,aliás a minha sogra faleceu e ela veio morar com o irmão dela aqui em São Paulo, aqui em Guarulhos, no Parque Cecap, na beira da Dutra, do lado ali da garagem da Itapemirim. Eu soube que ela estava aqui em São Paulo, aí eu falei: "Bom, eu já paquerei ela, tenho amizade, é parente, vou procurar pra gente conversar. Escrevi uma carta pra ela, eu tinha o endereço dela, então eu escrevi pra ela e eu fiquei uns 15 dias sem ela me dar a resposta. Falei: "Puxa vida, mais um furto que eu levei. Ô vida, eu nem falei em namoro, só escrevi pra menina. Nem resposta me deu. Será que eu escrevi errado?" Deixei passar. Uma semana depois eu tinha colocado o meu telefone na carta. Com mais uma semana depois ela me ligou, era sábado, eu estava sozinho lá no prédio. O telefone tocou, quando eu fui atender era ela. "Oi, tudo bom?", eu conheci a fala, né. "Oi, você, tudo bem? Você recebeu a minha carta?" "Recebi sim, eu ia escrever pra você, mas estava pensando, não sei o quê, bá, bá". "Pensou?", "Pensei". Aí começamos a bater um papinho. Eu falei: "É bom a gente se encontrar para a gente conversar porque eu tenho muita vontade de lhe ver, não sei o quê". Sabe como são esses papos, né? Ela falou: "Tudo bem, se você quiser vir aqui em casa você pode vir".Me deu o endereço certinho. Eu falei: "Ó, deixa comigo". Aí eu fui lá, conversei com ela, meio assustado, aquele negócio, não podia avançar muito a área, senão já viu. Ela tinha um namorado. Ela dispensou o namorado que ela tinha, acho que ela não gostava muito dele. Pelo que parece ela também nunca me tirou do pensamento. Aquele caso da primeira namorada, eu também nunca tirei do pensamento. E eu peguei, comecei a namorar com ela e com o desenrolar do tempo, a gente vai, como se diz, vai se acostumando um com o outro. E acabei ficando noivo dela. O pai dela mora em Pernambuco, casou com uma outra mulher, e ela não se dava bem com a madrasta, né,

e isso foi o motivo que fez ela vir embora de lá pra cá. Fiquei noivo com ela aqui em São Paulo em Campos do Jordão, no fim do ano. Isso deve ser em 1989, eu falei que casei em 90. Se não me engano pelo natal de 1989. Eu fiquei noivo dela. Comprei as alianças na Casa das Alianças. Eu comprei um par de alianças que é esse

que eu tenho no dedo.Levei ela pra passear em Campos do Jordão ,na casa do meu irmão. Tem meu irmão mais novo que mora lá, é caseiro num acampamento. Lá foi o meu irmão, foi a minha irmã, que também já casou e veio aqui pra São Paulo, que também tem outras história que se eu for comentar aqui com vocês, eu vou ficar o dia todinho falando isso. Várias coisas acontecem, paralelamente com tio, com tia, com irmão vai acontecendo também outros fatos que às vezes influi na vida da gente também. Foi o fato desse meu irmão vir pra cá e morar em Campos do Jordão, de eu ficar noivo, ir lá em na casa dele ficar noivo com a minha namorada. Um irmão dela foi pra lá também. E o bocado de parentes da mulher do meu irmão também estava junto. Foi uma festa de família. Fiquei noivo dela. Eu comecei a escrever pro meu sogro ,meu futuro sogro em Pernambuco. Ele falou: "Não, vocês vêm pra cá que eu faço o casamento de vocês aqui".A gente foi pra lá no comecinho de 1990, em fevereiro, no começo do ano. Meu pai ajudou muito, a minha mãe também ajudou muito. Foi feito uma festa, meu sogro fez também uma festa grande, ficou muito contente.Saí da minha casa,eu tinha um opala na época, como eu falei pra vocês, peguei a minha noiva, as malas dela, botei no carro. Meu irmão também foi junto comigo e a

mulher dele. Na época ele tinha só uma criancinha pequena, então uma menininha, que é minha afilhada, está aqui hoje, está mocinha também. Então fui pra Pernambuco, levei ela na casa do pai dela, voltei pra casa do meu pai e fomos dar andamento.Fomos dar andamento no casamento e uns 20 dias depois, 20 dias depois a gente já estava casado. Voltamos

pra São Paulo, logo ficou grávida e

nasceu um menino.Casa de pobre a primeira coisa que vem é isso. Nasceu o menino. Depois engravidou novamente. E hoje eu tenho dois meninos: tem um com 3 anos, 3 anos e uns mesinhos e o outro com 2 anos e pouco quase 3 meses, aliás quase 3 anos. A diferença ficou de 11 meses de uma criança pra outra. Se você olhar na fotografia dá impressão que são gêmeos. E de lá pra cá eu continuo na ADC, eu trabalhei, se não me engano acho que foi 10 anos, por aí, 10, 12 anos na Brigadeiro, se não me falha a memória, meu Deus. Trabalhei

acho que uns 10 anos mesmo, 10 anos na Brigadeiro. Mas 2 anos aqui no prédio do sindicato da Eletropaulo, aqui no Largo da Pólvora, quase em frente ao Hospital Bandeirantes. Tinha uma parte do escritório lá também, eu trabalhei

na ADC. Depois voltei para Brigadeiro, fiquei quase um ano lá de novo. São mudanças de setor, sabe como é, remanejo de setor. E agora que a sede foi toda pra beira da Represa do Guarapiranga, nós abrimos a nossa sede, de uns dois anos pra cá. Aliás, foi liberada aquele velho papo, aquele negócio de político, foi dando comodato de terrenos.E foi liberado essa sede, esse terreno nosso na beira da Represa de Guarapiranga. Onde foi construída a nossa sede campestre, uma sede de campo que hoje funciona. Então foi mudado tudo pra lá, a tendência é levar todo mundo pra lá, porque ainda tem

dispersos nas regionais, nas sedes. Nós ainda estamos em fase de obra e o nosso clube ainda não está pronto. Falta muita coisa pra fazer, está bonitinho e tudo, mas ainda tem que construir mais uma piscina, campo de futebol. Acho que vai mais uns 5 anos pro nosso clube ficar pronto, ficar bonito, falar: "Bom, Agora está uma beleza", né? E, por enquanto, a minha vida foi essa mesmo. Mais alguma pergunta a fazer?


P- Não, agora gostaria de finalizar, né, perguntando qual o seu sonho daqui pra frente.


R- Olha, como todo bom brasileiro, todo mundo tem sonho. Eu acho que o sonho é que o meu clube e que a minha firma cresça. Porque é aquele negócio, se você matar o boi, o carrapato morre. Tem que acabar o carrapato e deixar o boi vivo. Se a minha firma for pra trás automaticamente eu vou pra trás também. Eu quero que a minha firma cresça para que eu cresça junto. Porque a gente passou por momentos difíceis. Porque o clube tem diretoria, a diretoria muda de dois em dois anos. Então agora houve uma mudança no estatuto, está mudando de três em três, mas era de dois em dois anos. Então, por exemplo, você pega de repente uma chefia que vai com a sua cara, pega uma outra chefia que não vai com a sua cara, sabe, entendeu como é que é, né? Por exemplo, eu me dou com essa diretoria de agora, tá, a outra anterior já não dava bem. Mas, existem coisas que faz você se segurar no emprego é aquele negócio, uns dizem que é jogo de cintura,não é política, porque eu não sou político. É por isso que entra aquela outra coisa que eu falei pra vocês, é bom a gente ser útil e fazer um monte de coisas.Porque na hora que alguém vai mandar você embora, esse alguém vai pensar muito. Se você é uma pessoa que só faz uma coisa só, só sabe sentar na mesa e datilografar uma máquina, então qualquer um pode substituir. Trabalhar com computador? É uma coisa muito bonita, mas quantos digitadores, programadores não tem por aí desempregado, quantos mil não têm procurando emprego. Eu vejo hoje em dia,onde eu trabalho que tem pessoas, tá, que são altamente profissional em relação a minha pessoa, tem um grau de escolaridade mais alto que o meu e ganham menos do que eu. Só que por outro lado. Eu nasci na roça já trabalhei no pesado, então eu não enjeito serviço. Eu não faço porque onde eu estou agora, eu tenho quem faça, eu tenho só que mandar fazer. Eu não preciso mais ir lá fazer mas se for preciso eu faço. Eu tenho uma Kombi de carroceria, eu sempre fico com, aliás tem duas Kombis, uma fechada e uma de carroceria. Nós temos vários carros mas tem mais carro que fica mais com a gente. Tem dia que os pedreiros falam: "Ó, está faltando areia lá embaixo". Eu pego a perua, encosto lá e encho uma “peruada” de areia, uma perua cabrita e leva lá pros caras trabalhar.Às vezes "Ih, precisa levar uma carrada de cesta básica". Retirar na nossa cooperativa e levar pra

Praia Grande. "Ah, precisa...". Não precisa, eu encho, carrego o carro, ponho caixa dentro

e entrego. Então

toda a vida eu gostei de trabalhar e talvez seja isso que me segurou até agora. Dá um “crepe” no sistema,por exemplo, foi instalado ar condicionado nos escritórios e quem instalou foi eu, não foi chamado técnico, serralheiro foi lá, fez a grade. Eu fui no quadro, acrescentei disjuntor, fiz a ligação à parte, puxei as instalações. Funcionam os ar condicionados. Vai ligar uma máquina de fritar batata: "Oi, onde é que vai ligar". Tal lugar assim, assim. Eu fui lá, coloquei mais dois disjuntores, fiz ligação à parte, está funcionando a máquina. Mas um carro no pátio não está pegando, por quê? Arriou a bateria, pego outro carro, encosto lá, faço chupeta e funciona o carro. "Ih carro tem trocar o óleo". Vou lá pego o óleo no almoxarifado, encosto lá e troco o óleo. "Ih... precisa regular o freio", pego, encosto lá e regulei o freio, tá. O carro vai pra revisão? Vai, mas primeiro passa por mim pra mim ver o quê que o carro tem, porque senão você manda o carro, o cara chega lá, tira tudo quanto é coisa e fala pra por

de volta no lugar e fala que o carro estava quebrado. Quando na realidade o carro não está quebrado. Às vezes, por exemplo, aparelho telefônico, eu sempre trago pra consertar aqui na Santa Ifigênia, mas primeiro eu tiro o bicho ponho em cima de uma mesa, desmonto, mexo nele todinho, depois quando eu vejo que não tem conserto, eu trago pro conserto. Máquina de escrever, eu desmonto todinha, quando eu vejo que eu não consigo arrumar, eu levo pra consertar. Mas primeiro tem que ver o quê que tem o “bicho” pra depois você mandar arrumar, porque fica ruim. Talvez seja isso, a curiosidade, as coisas que faz a gente ficar no serviço, né.

Agora,nesse momento a gente estava com muitas linhas telefônicas na nossa sede, como a gente está começando.Precisa comprar mais linhas de telefone e a Telesp [antiga empresa de telefones em São Paulo] não queria mais ligar linha, porque a gente tinha cinco linhas normal, um fax e um telex, mais dois ramais que vinham direto da Eletropaulo, mais o interfone de dez ramais. Já estava pipocando. Tinha linha demais, não podia ter tudo aquilo sem uma caixa de entrada, de distribuição com projeto, tudo prontinho. Eu fui na Telesp, conversei com o técnico, o técnico meu deu as orientações, me deu um desenho. Eu conversei com os pedreiros, mandei fazer a caixa, eu fui na Al Santo Amaro comprei a caixa, montei. Comprei os baratinhos, aqueles que vão lá dentro pra fazer a distribuição.

Chamei o engenheiro, o engenheiro aprovou, estamos aguardando agora só a ligação, um cabo de 30 linhas que vai entrar lá dentro. Futuramente quem vai manusear isso. Depois o Marinheiro, esse que esteve aqui, foi na Eletropaulo, lá eles têm técnico, tem tudo na Eletropaulo.Aí veio os caras da Eletropaulo, colocaram os cabos, tudo, fizeram a distribuição tudinho. E eu olhando pra aprender porque quem vai mexer sou eu. Então ficou tudo certinho, está tudo bonitinho. Ontem eu fui na Telesp, sou eu. "Liga pra Telesp", liga. "Compra linha, compra. A Telesp liberou tal linha assim, assado". Liberou e eu vou lá no quadro, acho a linha. Agora quem faz a distribuição interna sou eu. Não tem mais bicho de sete cabeças. Então, tem algumas coisas que é bom a gente aprender. E quem quer aprender, aprende. Desde...não vou desejar ser aviador porque eu nem posso, pagar uma escola de aviação, eu não tenho nem esse recurso. Mas aquilo que está na sua mão, você não aprende se não quiser. Eu aprendi, por exemplo, tocar um pouco de violão, nunca fui numa escola de violão. Eu aprendi a nadar, eu nunca fiz natação na minha vida. Eu ia tomar banho no rio, pulava na correnteza no rio, correndo de água baixo ou aprendia ou morria. Então aprendi a nadar, aprendi um monte de coisa.Hoje por exemplo, a minha casa, quem levantou foi eu, lógico, teve ajuda de parente, da família. Eu assentei bloco, eu reboquei, eu fiz as instalações elétricas todinhas, montei o poste, comprei a caixa, montei o quadro de entrada. Montei tudo. E hoje está tudo bonitinho, funcionando normal, até agora não deu problema nenhum. Chamei os caras da Eletropaulo, eles foram lá, aprovaram

a caixa de eletricidade. Então a gente precisa pelo menos aprender algumas coisas, pelo menos pra gente, pra que você tenha.É bom você ter o conhecimento.Inclusive sobre tudo, sobre religião, sobre história, sobre tudo, porque

a minha esposa é crente e eles chegam na minha orelha: "E bá, bá, bá" e falam um monte. Falo: "O que vocês estão falando eu já sei, eu tenho uma bíblia sagrada em casa e eu leio ela sempre.. Não existe, sabe, não tem um Deus marrom, azul, outro amarelo, é tudo a mesma coisa. Agora vocês: “Só existe Deus e um monte de burro na terra”. Uns ficam: a minha religião é melhor, a minha religião é melhor, a minha é melhor, mas não existe, sabe, essa todo o caminho desde que seja bom leva a Deus.Então acho que se você pensar e raciocinar a vida é isso.


P- Então, tá, Arnóbio, muito obrigada.


R- Muito bem.