De uns tempos para cá, alguns detalhes da minha infância têm voltado com força nas minhas lembranças. Confesso que, às vezes, estranho esses pensamentos. Talvez tenha algo a ver com a idade que, à medida que vai avançando, vai nos deixando mais nostálgicos. .
Este não deveria ser um text...Continuar leitura
De uns tempos para cá, alguns detalhes da minha infância têm voltado com força nas minhas lembranças. Confesso que, às vezes, estranho esses pensamentos. Talvez tenha algo a ver com a idade que, à medida que vai avançando, vai nos deixando mais nostálgicos. .
Este não deveria ser um texto longo. Mas vai acabar sendo. Eu sei. Acho que estou perdendo o poder de síntese e dando lugar a uma narrativa mais detalhista. O que, sinceramente, não sei se é um bom caminho. .
A verdade é que eu só queria me valer desse espaço para imortalizar duas coisas importantes da minha infância: Uma velha fita K7 azul e um rádio gravador dos anos 80, que acabaram marcando minha infância e fizeram despertar a paixão que tenho pela música de uma forma geral. Talvez eu devesse abrir mão de toda essa introdução e começar novamente da seguinte forma: Se há, em minhas lembranças, um objeto que atravessou toda a minha infância e sobreviveu durante boa parte da minha juventude, foi uma fita K7 de etiqueta azul. Era uma fita gravada na década de 70 pelo meu pai com alguns dos maiores sucessos da época. Infelizmente não consigo lembrar da marca mas me lembro de quase todas as músicas que ela guardava. Meu pai costumava ouvi-la com muita frequência e acredito que meu gosto musical começou a ser moldado a partir daquela seleção de músicas da década de 70. .
Aos dez anos de idade, meu pai me deu um rádio gravador Philips de presente de aniversário. A partir daí, comecei a descobrir por conta própria, rádios mais interessantes, outros estilos musicais e a gravar minhas próprias coletâneas. Os nascidos a partir da segunda metade dos anos 90, provavelmente tiveram pouco ou nenhum contato com as fitas K7 (talvez apenas as de vídeo). Mas eram elas que nos possibilitavam criar nossas próprias seleções de musicais e levá-las conosco para qualquer lugar, primeiro com os toca-fitas do carro e, depois, com os gravadores portáteis e os walk-mans. .
Havia algumas maneiras de montar essas coletâneas. Uma delas era conseguindo os discos de vinil (mais tarde os CDs), geralmente emprestando de alguém e gravando as músicas desejadas nas fitas com a ajuda de um "aparelho de som" ou "3 em 1", como eram chamados na época. Havia também a possibilidade de copiar de fita k7 para fita k7 mas, para isso, era preciso um outro tipo de aparelho; os double decks, que possuíam dois compartimentos para fitas K7. Nada disso, porém, era possível sem uma fita virgem ou alguma outra fita cujo conteúdo não agradasse mais e que pudesse ser regravada. .
Havia ainda alguns fatores a considerar como, por exemplo, a duração das fitas pois, para um bom aproveitamento, era preciso distribuir corretamente as músicas em cada um dos lados da fita (sim, eram gravadas dos dois lados), para evitar que as músicas fossem cortadas repentinamente ao final da fita ou então, que sobrasse muito espaço em branco no final. Um espaço que, embora fosse grande, geralmente não era o suficiente para encaixar mais uma música. .
Essa matemática nem sempre dava certo. Especialmente quando gravávamos diretamente do rádio. Hoje isso soa absurdo e até engraçado mas, naquele tempo, era normal ficar aguardando aquela música especial tocar no rádio para poder gravá-la, torcendo para o locutor não falar durante a música, o que quase sempre acontecia, especialmente no final. .
E foi assim gravei e regravei inúmeras fitas mas, nenhuma foi tão especial quanto a velha fitinha azul do meu pai. Tanto é assim que me lembro dela sempre que há uma evolução tecnológica nessa área. Foi assim quando a recriei em CD, depois com MP3 e, mais recentemente como uma playlist no Spotify, que é o meu atual serviço de streaming. Qual a próxima evolução ? Quem sabe um chip implantado no cérebro onde seja possível armazenar não só músicas mas qualquer outra informação e que nos dará o poder de nunca mais esquecer de nada. .
Aqui estou eu falando sobre “coisas” novamente. Um dia desses escrevi sobre os faróis marítimos e seus significados e simbolismos. Não sei como explicar mas a lembrança das coisas me levam de volta a lugares e épocas diferentes. Neste caso, é a representação de um laço entre mim e meu pai. É o que materializava alguns dos nossos momentos, de coisas que ele me ensinou e de como ele me influenciou a fazer e gostar de algo que ele também fazia. Afinal de contas, aquela fita foi o exemplo que ele utilizou para me ensinar a usar o gravador que ele havia acabado de me dar e também como gravar minhas próprias fitas. Em algum momento, aquelas músicas significaram algo para ele, assim como significam para mim pois, sempre que ouvir qualquer uma delas, me lembrarei dele e da velha fitinha azul que, fisicamente, deixou de existir há muito tempo. Mas que será eterna dentro de nós enquanto vivermos.
Até a próxima!Recolher