Museu da Pessoa

A arte do encontro na educação

autoria: Museu da Pessoa personagem: Nandyara de Almeida Rezende

Projeto Minha História, Nossa História, Sua História
Depoimento de Nandiara de Almeida Rezende
Entrevistada por Marcia Trezza e Tereza Farias
Rio de Janeiro, 16/03/2018
Realização Museu da Pessoa
HTC_HV011_Nandiara de Almeida Rezende
Transcrito por Karina Medici Barrella
Revisão/Edição - Paulo Rodrigues Ferreira



P/1 – Nandiara, a gente vai conversar, como a gente já falou para você. Mas só para começar, fale o seu nome completo, onde você nasceu e quando.

R – Eu sou Nandiara de Almeida Rezende, nasci em Bom Jesus do Itabapoana, em 17 de novembro de 1964.

P/1 – Essa cidade fica no Rio de Janeiro?

R – Fica no Rio de Janeiro, divisa com o Espírito Santo.

P/1 – Nandiara, quais são suas primeiras lembranças da infância?

R – Olha, eu sou filha de dois enfermeiros e fiz Ciências. Eu falo que tentei ser médica, mas não deu certo porque eu não tinha dinheiro. Então, o que eu encontrei mais perto foi Ciências. Minha mãe é professora também. Na minha infância, eu tive uma professora que me marcou muito por causa da leitura. Eu tive reprovação na minha infância - uma reprovação - não me encontrava na escola, eu não queria mais, só gostava das aulas de leitura porque ela lia Pollyanna Menina e Pollyanna Moça que eram os livros de que eu gostava. O momento da leitura, o momento em que ela parava e lia. Então, eu fui reprovada nesse ano.

P/1 – Pela mesma professora que lia?

R – Não, por outras. Eu tinha horror à Matemática. Foi onde eu te falei que vim a fazer faculdade de Matemática porque era o que eu mais tinha horror na escola.

P/1 – Ah, sim! Nandiara, voltando para a infância, você disse que seus pais eram enfermeiros, os dois. Desde muito pequena você lembra de situações por eles serem enfermeiros? Isso influenciava na sua infância?

R – Influenciava porque a gente tinha uma linguagem mais técnica em casa, em termos de Ciências. Então se falava mais em doenças, em remédios, encarando isso de maneira natural; isso era comum. Minha mãe, por trabalhar muito, foi ausente. Meu pai, por trabalhar muito, foi ausente. Mas nós somos seis filhos e aí soubemos entender isso, essa ausência para que a gente fosse estudando. E nós conseguimos entender isso. Que era necessário.

P/1 – Isso não interferiu na dinâmica de vocês?

R – Não.

P/1 – Como era a convivência entre seis irmãos?

R – Ah, tinha briga. Eu apanhava, porque eu era a menor, não é? (risos). Tinha briga, mas também uma protegia a outra. Comum de irmãos mesmo, a gente sempre tinha que ter uma casa com mais quartos, porque eram duas por quarto. A gente não tinha um poder aquisitivo alto, então, quando uma dormia a outra pegava o ventilador, colocava (risos). Quem dormisse ia perder o ventilador, não é? Mas nesse nível econômico que a gente tinha, isso não afetou em nada o nosso desenvolvimento como pessoa, como profissional.

P/1 – Vocês eram só mulheres ou parte?

R – Um rapaz. Um rapaz e cinco meninas.

P/1 – Como era para ele no meio de cinco meninas? Tem alguma situação...

R – Tem. A gente vestia ele de mulher também a hora que a gente entendia; ele passou muito aperto com a gente. Mas foi a tentativa do meu pai porque ele queria um homem, não é? Então, só saía menina. Minha irmã chama Nandijara, eu chamo Nandiara e minha mãe colocou Nara. E ela parou de querer rimar, aí ela pegou uma outra menina para criar, Maria, e ela foi mudando a letra do alfabeto para não parar de rimar. Mas é muito bom ter muitos irmãos, eu sou muito feliz com a minha família grande.

P/1 – E o seu irmão foi o último então?

R – Foi o último. E que saiu enfermeiro igual ao meu pai. É.

P/1 – Qual o nome dele?

R – José Nazaré. Porque foi promessa. Porque não vinha menino, aí meu pai fez uma promessa, por isso que ele saiu com o nome de Jesus, entendeu? (risos)

P/1 – O lugar em que você morava, a infância, foi onde você nasceu?

R – Eu morei em Itaperuna uma época. Nasci em Bom Jesus, morei em Itaperuna porque meu pai é do antigo INSS e depois ele recebeu uma proposta para cuidar de um hospital nessa cidade em que eu moro até hoje, que é Laje do Muriaé. Ali eu estou há quarenta e tantos anos.

P/1 – E vocês todos nessa mudança, você era pequena.

R – Era pequena, tinha sete anos

P/1 – Então você lembra mais dessa cidade em que você agora vive.

R – Que eu vivo atualmente.

P/1 – Dessa cidade você lembra mais.

R – Dessa cidade.

P/1 – Como era a infância nessa cidade? Brincadeiras, que brincadeiras vocês faziam?

R – Com muito contato com a natureza, porque é um lugar de matas e que a gente tinha muito acesso aos morros. Eu fui criada num morro chamado Morro Santo Antônio. Eu não sou uma moça que viveu o tempo todo na baixada, não é? Porque o hospital também era no morro. E ali era a nossa brincadeira de barranco, de pegar lagartixa, matar ou pegar ovo de lagartixa e ver o que tinha dentro, era esse tipo de brincadeira que nós tínhamos.

P/1 – A casa ficava no morro.

R – A casa ficava num morro, Morro Santo Antônio.

P/1 – Que delícia! Mas, fale de mais brincadeiras nesse morro, é diferente.

R – É, mas a gente fazia arte também, não é? Entrar no Fusca do meu pai, descer o morro, só menina (risos), sair dirigindo escondido dele. As outras se cortavam... Meu pai tinha uma mania, como enfermeiro... Ele tem uma mania, como enfermeiro... Se a gente se cortava, na gente ele não dava anestesia. Então, ele costurava a gente sem anestesia porque ele falava que eram duas dores. Mas a minha infância...

P/1 – Espere aí. Como assim, duas dores?

R – Uma da picada da anestesia e a outra do costurar. Então, ele sempre fazia com a gente sem anestesia. Ele faz com a gente sem anestesia (risos). E não é tão trágico isso, não. A gente aprendeu a conviver com isso, não é? Para dar injeção, ele levantava a saia da gente e mandava injeção. A gente pulava igual um cabrito lá na frente, vup, correndo (risos). Era assim o jeito dele, mas eles trabalhavam muito e a gente entendia que essa ausência era para ajudar as pessoas, então isso para a gente foi bem administrado. Eu fui ficando mocinha, e onde eu me refugiava era nos livros, eu leio muito.

P/1 – Desde pequena.

R – Desde pequena. Eu fazia uma pilha de livros que já tinha lido e outra que ainda tinha que ler. Então, ia mudando a pilha. Eu sempre gostei muito de viajar nos livros.

P/1 – Como é que começou essa paixão?

R – Foi por causa dessa professora. Porque eu achei, na época, na quarta série primária, eu achei fantástico a técnica da Pollyana de sair do mundo, de fazer que estava bom, a estratégia dela, não é? Então eu falei: “Poxa, eu vou encontrar nos livros muita coisa boa”. E foi aí que eu comecei a ler.

P/1 – E você teve leituras durante a vida que foram marcantes para você? Se você pudesse falar: “Meu livro, dessa época, o que eu mais gostei foi esse, aquele...”.

R – Olha, eu li tanto! Houve ano em que eu li cem livros. Assim... Já tem alguns anos que eu estou estudando, então tenho lido livros ano retrasado, ano passado, esse ano. São anos que eu não tenho como ler muito, mas eu já li A Cabana, o Projeto Rose, que acho muito interessante. Li livros de Dan Brown...

P/1 – Eu digo assim, de quando você era criança, adolescente.

R – Olha, quando eu li aqueles clássicos de Machado de Assis, eu li... Deixa eu procurar o nome, gente... Aquele baiano, como chama? Jorge Amado! Eu li tudo de Jorge Amado. E minha irmã achava que aquilo era pornografia, então ela contava para a minha mãe que eu estava lendo pornografia (risos). Porque ela não gostava de ler, então ela entendia dessa maneira. Mas eu li esses livros. Depois... E li muitos livros, muitos. A leitura me salvou.

P/1 – Você diz que a escola para você não era agradável.

R – Não era agradável. Aí era meio do ano, eu falei com a minha mãe: “Eu não quero mais. Você acredita que eu não quero? Você vai deixar eu voltar na escola mais?”

P/1 – Em que ano você estava?

R – Na quarta série primária. Aí, minha mãe, não sei se por visão ou porque ela entendeu, ela falou: “Sua nota está baixa, você vai tomar pau”. Eu tinha nota muito baixa em Matemática, eu tinha muita dificuldade em Matemática e eu não gostava de decorar, eu tinha horror a decorar. Eu tive uma professora de Ciências que me fazia decorar o sistema digestório inteiro, mas ela não explicava o que acontecia no esôfago, no intestino grosso, no intestino delgado, e eu queria saber. Porque eu sempre quis saber o que acontece em cada coisa, uma leitora tem essa curiosidade. E eu olhava para ela e falava assim: “Quando eu crescer, eu vou ser professora de Ciências porque eu vou explicar onde acontece tudo” (risos). Então, isso, na minha época de estudar... E a gente pegou uma educação em que não tinha livros com facilidade, a gente usava livros, comprava usado, apagava e fazia em cima daquilo, aquela maneira. Mas eu não fui uma aluna que tive uma facilidade imensa, não fui. Eu tive que recuperar essa deficiência depois de mais velha, talvez depois que eu tenha terminado a minha faculdade. Foi onde eu corri mais atrás do meu conhecimento.

P/1 – E Nandiara, a sua mãe deixou você parar com a escola. Quando você retornou?

R – Não, retornei logo no ano seguinte.

P/1 – Ah, no ano seguinte.

R – Logo no ano seguinte.

P/1 – E como foi depois, ao passar do tempo, suas experiências com a escola?

R – Eu trocava de cidade. Aí eu passei, estudei na cidade onde estou diretora; no distrito.

P/1 – Qual é?

R – Comendador Venâncio. Quando saí de Lajes, eu estudei em Comendador Venâncio, depois estudei em Itaperuna. Depois estudei em Bom Jesus. Isso tudo até concluir o meu ensino médio. Aí voltei e fiz a faculdade em Itaperuna. Eu queria encontrar uma escola bacana, entendeu? Uma escola de que eu gostasse, por isso talvez eu tenha andado tanto em escola. Estranho isso, mas eu rodei muita escola procurando uma educação que eu gostasse, entendeu?

P/1 – Sim, você já era crítica, não é?

R – Sim.

P/1 – Nandiara, e não era a família que mudava. Era você que ia, era perto.

R – É. São cidades perto. Bom Jesus é onde eu nasci, que aí eu ia, ficava com os meus avós. Itaperuna era fácil para ir e voltar, e Venâncio é onde eu trabalho agora, que é pertinho, é uma escola lindinha, da época de plantio de café, que eu tenho muito respeito

por aquela construção. Ela é uma escola adaptada, mas cheia de história bonita. Eu sei onde, exatamente, eu estava na sala. Quando eu entro na sala para falar com os alunos, eu sei onde exatamente eu sentava. Tem colegas que trabalham comigo, eu tenho a caderneta daquela época, da época daquele colégio, do colégio em que eu estou.

P/1 – Nossa, bem legal, não é?

R – É.

P/1 – E Nandiara, você falou que depois você foi fazer faculdade. Foi logo depois que você terminou o ensino médio?

R – Sim. Depois que eu terminei, eu queria arrumar um emprego, eu precisava arrumar um emprego. E aí eu passava em outras matérias, mas era reprovada em Matemática. Eu falei: “Não pode existir uma coisa maior do que eu, uma matéria que seja maior do que eu. Então, se ela é difícil, eu vou encará-la”. E aí fui fazer inscrição no vestibular. E a moça perguntou: “Você vai fazer para quê?” Eu falei: “Vou fazer para Matemática”. Ela falou: “Você está doida? Isso é muito difícil”. Foi onde eu fiz e tirei primeiro lugar no vestibular de Matemática. E a minha responsabilidade aumentou muito quando eu entrei na sala, porque eles acharam que eu era inteligente (risos). Aí eles: “Chegou o primeiro lugar da Matemática”. Eu falei: “Gente, esquece isso!”. Mas o que eu tinha mais medo, que era o pavor da Matemática, foi onde eu me estruturei profissionalmente para ter meus empregos também.

P/1 – E como é que foi encarar a Matemática assim? Essa relação lá na hora em que você começou a fazer a Matemática?

R – Olha, quando você entra na faculdade, você tem cinco Matemáticas, não é? Então tinha dia que eu olhava pela janela e falava: “O que eu estou fazendo aqui?” (risos). Mas se eu decidi enfrentá-la, eu ia enfrentar. Então, nunca fui reprovada em nada, nunca fiquei de dependência. Eu tive que parar dois anos para só estudar e não ter dificuldade na faculdade, mas eu passei a gostar de Matemática, eu passei a usar Matemática na minha vida, fazer cálculos de um monte de coisa, natureza de tudo, a Matemática acabou sendo vantajosa para a minha vida.

P/1 – E foi mudando, você já não sofria tanto.

R – Não! Não. Só que assim... eu pendi muito para o lado das Ciências por causa dessa curiosidade que era aguçada em casa - dos termos técnicos, das doenças. Eu gostava muito, achava muito interessante eles saberem aquilo tudo. Então, quando eu fui fazer a faculdade de Matemática, eu fiz três anos de Ciências também. E eu sou, atualmente, uma matrícula, eu sou professora de Ciências, com vinte e oito anos

P/1 – Você fazia, ao mesmo tempo, Matemática e Ciências.

R – Matemática e Ciências.

P/1 – Depois você concluiu o curso, tanto um quanto o outro. Enquanto você fazia, você disse que trabalhava, chegou a trabalhar.

R – Cheguei a trabalhar depois.

P/1 – Durante a faculdade? Ainda durante a faculdade?

R – É, trabalhei pouco durante a faculdade porque depois eu tive que largar para me dedicar mesmo à faculdade.

P/1 – Você trabalhou em quê?

R – Trabalhei numa firma de Engenharia, foi o meu primeiro emprego.

P/1 – Já com cálculos?

R – Já com cálculos. Fazendo pagamentos. Depois eu decidi fazer pós-graduação. Eu já queria sair um pouco da Matemática e entrar no planejamento educacional, como que funcionava essa parte. Então eu fiz a minha pós em planejamento educacional. Eu queria entender, eu sempre tive muita curiosidade em entender sobre os educadores porque nós somos reflexo, eu sei que nós somos reflexo do momento político, do pensador, do momento, e também de outros educadores. E eu queria... Sempre quis entender Educação. Em qual contexto ela estava. Por isso, eu procurei isso.

P/1 – Por que essa vontade de entender os educadores? O que acontecia com eles?

R – É, eu tenho essa sede sim. Eu acho que todos nós somos responsáveis pela Educação. Às vezes eu vou me emocionar aqui, mas ela é problema de todos: meu, seu, do governador, do pai do aluno (emocionada). E ela não está dando certo ainda. E ela precisa dar certo. A Educação precisa dar certo para uma sociedade dar certo. Visivelmente,

a nossa sociedade não está dando certo. Por quê isso? Porque a Educação não deu. Então, essa é a minha busca. Eu estou com cinquenta e três anos, eu quero parar, falo: “Agora é hora de parar, vai envelhecer”. “Não! Mas eu não posso deixar meus alunos”. Eu acho que eu ainda contribuo com eles. Outro dia alguém falou: “Nandiara, por que você não concorre



a um prêmio de gestão?” “Ainda não fiz nada que mereça. Ainda tenho que fazer uma coisa que beneficie uma comunidade, que seja bom para quem vive ali”. Então, essa busca de maneiras de educar, maneiras que revolucionem a Educação, eu busco sim, porque eu acho necessário que a Educação seja fortalecida. Um pouquinho de cada um, como é o caso do Telecurso, não é? Um pouquinho de Darcy Ribeiro, um pouquinho de Paulo Freire, um pouquinho de Piaget, de Montessori, um pouquinho de cada um.

P/1 – E um pouquinho da Nandiara.

R – Da Nandiara (risos) para juntar esses pouquinhos todos aí, não é?

P/1 – Realmente, não é?

R – Essa parte de chorona você corta.

P/1 – Não, de jeito nenhum. Porque... Não se preocupe, porque se você está emocionada é porque você está falando do seu coração.

R – Mas você abordar assim, por que você busca tanto? Porque eu quero que dê certo. Talvez... Qual a minha missão no mundo? Os eixos temáticos: quem eu sou, onde estou, para onde vou, qual a missão no mundo? Talvez eu tenha entendido a minha missão. Por isso essa busca toda.
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P/1 – E desde quando você procurava as respostas? Porque os educadores não ajudavam nelas, não é?

R – Assim... Eu encontrava um pouco de cada um. Porque eu estudei muito para concurso, eu já passei em oito concursos, já troquei de emprego várias vezes (risos), mas sempre na área da Educação. E eu estudava muito sobre eles, então, eu queria uma coisa que tivesse uma característica boa de um, uma característica boa de outro, foi onde, nessa busca, eu encontrei o Telecurso. Porque ele tem.

P/1 – Fale então sobre isso. Primeiro você disse que trocou de emprego várias vezes. Assim... Sempre na área da Educação.

R – É, porque eu passava em concurso e aí eu queria trabalhar naquela cidade, ou na outra, e ia trocando. Porque o seu tempo de serviço corre. Então, você pode trocar.

P/1 – E você trabalhou principalmente em que período? Fundamental? Médio?

R – Olha, eu já dei aula de Ciências, de Biologia, de Química, de Matemática, então eu trabalhei no ensino fundamental, trabalhei no ensino médio e comecei com educação infantil também.

P/1 – Como foi o encontro com o Telecurso?

R – O encontro com o Telecurso foi o seguinte: eu estava numa escola numa época... Do município, essa escola. E eu saí muito aborrecida com a quantidade de reprovação que tinha nessa escola. Então eu cheguei na minha casa, abri a internet e fui buscar. Eu pensei: “Tem que ter uma solução, ninguém pode ser medido por uma prova, um trabalho e uma avaliação. Ninguém pode ser medido porque não fala, porque é um aluno quieto. Todo mundo tem o saber, todo mundo traz um saber”. Eu tinha lido inteligências múltiplas também e eu já tinha percebido isso. Então eu queria uma coisa que juntasse um pouco de tudo. Aí eu colocava: qual a melhor educação? qual o melhor caminho educacional? o que recupera? o que corrige distorção? E caía no Telecurso. Então, quando eu saí na pesquisa e saiu Telecurso, aí eu pensei: “Mas isso só não passa em televisão?” E vi que não, que ele tinha sido estruturado para entrar nas escolas. E a inscrição estava aberta. Aí eu falei: “Agora é o meu momento”. E comecei a ler. E, naquele dia mesmo, eu li e fui identificando qual era o objetivo. Eu falei: “Poxa, é por aqui que eu vou, vou tentar”. E eu fui chamada, consegui ser chamada para participar da formação, onde chegou o pessoal da Fundação, o pessoal da Secretaria, eles apresentaram o que era para a gente. E, na época, eu achei que era muito para mim. Eu não achei que fosse capaz de levar uma unidocência. E nesse momento, foi o momento em que eu fugi e alguém da Secretaria me viu fugindo e falou:

“Volta”. Eu falei: “Estou fugindo, não conta para ninguém mas eu não vou dar conta daquilo”. “Não, volta, você tem que escutar a proposta”. E eu voltei. Porque ela, a princípio, é grandiosa, você tem que entendê-la primeiro. Porque depois que você começa a trabalhar com ela, você vê que ela é toda encaixada, ela tem um encaixe que permite que você faça tudo, que você exerça a unidocência. E se você falar assim:

“Poxa, Nandiara, você deu aula de História”... Mas eu já aprendi História no ensino médio, então dar aula de História... “Você já deu aula de Geografia na unidocência?” “Já, porque eu também já estudei Geografia”. Então, a unidocência para mim não foi um obstáculo. Claro que eu tive que me preparar mais, eu tinha que ter um preparo maior para dar aula, como eu já falei. Eu assistia às aulas mesmo, eu fazia todo aquele passo a passo que a gente tinha que fazer. E quando precisava de socorro, eu ligava para a Fundação: “Gente, como vai fazer isso? A turma está dessa maneira”. A gente tinha um retorno rápido. Não só daqui, mas também, na época, da Secretaria de Educação. Porque eles iam lá dar formação para a gente também, a Fundação ia.

P/1 – Nandiara. Depois, mais para frente... Você estava falando dos projetos complementares, então acho que vai ser bem interessante você contar sobre eles. Mas eu vou lhe fazer uma pergunta, vamos ver se você me ajuda. Você encontrou o Telecurso, a metodologia telessala, então eu vou pedir se você pode ir contando essas coisas que mostram muito o que é isso, essa metodologia. E aí, se puder dizer alguma história de um aluno, assim, dando exemplo para quem for assistir entender, sabe? E assim... Não se prenda ao que você já falou alguma vez, que a gente espera ouvir, não. Bem como assim, estou conversando com a minha família e vou contar.

R – Primeiro, como eu me encontrei... O que me encantou... Porque, no Telecurso, você não ensina só o conteúdo, não é? Você desenvolve competências, isso é muito maior do que conteúdo. Você dá sentido ao que você vai passar. Isso eu acho importante na vida do aluno porque ele vai construir o conhecimento, não sou eu que vou deter todo o conhecimento, eu aprendo com ele, eu aprendo com o aluno. Até a própria posição da sala, a posição da sala em círculo é para dizer o quê? Eu estou com vocês aqui, eu ensino, mas eu também aprendo. E muita coisa eu aprendi com esses alunos. Nisso eu encontrei, nos memoriais... Porque eu acho que as pessoas, ao escreverem, elas transportam para ali um sentimento, depois elas podem analisar aquilo e com aquilo elas podem alinhar a vida delas para melhorar. Na leitura de imagem, onde eu falei que a leitura de imagem me salvou muitas vezes, e fazia isso no passo a passo com os alunos. E a leitura de imagem me deu uma leitura crítica do mundo, é fantástica a leitura de imagem. Com o memorial, às vezes eu estava lendo memorial dos alunos, porque eu lia todos os memoriais, e aí eu estou chorando e alguém: “Por que é que você está chorando?” “Porque eu estou lendo o memorial, tanta história de vida bonita, tanta gente que tinha que ser respeitada. Tanta gente que merecia uma nova oportunidade que a vida não tinha dado ainda”. São as exceções. A escola falou não, a família falou não, e ele falou não para ele. Então isso, ele ficou perdido. E quando a gente voltou, eu me lembro de que fiz uma atividade com eles que a gente dançava e o aluno falou: “Olha, eu não vim aqui para dançar”. Eu falei: “Nem eu” (risos). Nem eu vim para dançar. Então quando eu falo que no Telecurso é tudo encaixado, é porque tudo dá sentido para construir o saber. E o que você constrói, você não destrói. E nem deixa ninguém destruir. Então isso é o que o Telecurso faz, ele tem uma metodologia voltava para você se empoderar do que você já traz e não tem consciência. Só você tendo uma autoestima melhor, tendo uma confiança, tendo liberdade de falar, ninguém rir. Porque, numa sala tradicional, se um aluno com dificuldade lê errado, eles vão rir. Mas ali um ajuda o outro porque o trabalho em grupo é muito presente. O trabalho em grupo é o momento em que todos vão, porque ninguém pode ficar para trás, todos têm que chegar junto, entendeu? E os eixos temáticos de que eu falei: quem eu sou, onde estou, para onde vou, qual a minha missão no mundo? O aluno também se questiona isso, ele se questionava, muitos alunos se encontraram. Tirem da cabeça de vocês que todo mundo quer ser médico, que o sonho de todo mundo é ser médico, que o sonho de todo mundo é ser um advogado. Não, tem gente que são sonhos mais simples e que precisavam de ajuda para que eles fossem realizados. Um funcionário público, um pastor, até tem casos de alunos com a faculdade, mas tem casos também de uma turma em que trinta e oito alunos foram aprovados em concurso público. Então é nessa metodologia que eu me encontrei. E se você falar assim: “Você se encontrou, mas por que é que você não continuou nela?” Porque eu não pude acompanhar. Eu sou do interior, eu tinha que... A minha vida estava estruturada ali com dois empregos, eu falo que o Autonomia saiu de mim, mas eu não saí dele. Eu tenho exatamente as características de uma professora do Telecurso, as minhas características, a minha essência que ficou. Porque foi a maior experiência educacional que eu vivi; sem sombra de dúvidas foi a maior.

P/1 – Você falou que a essência ficou dentro de você.

R – A essência ficou.

P/1 – Você consegue traduzir? Eu sei que é difícil, mas consegue traduzir qual é a essência que não vai nunca mais embora?

R – Sabe o sentimento de ter ajudado? É esse sentimento. Eu fiz a minha parte, eu ajudei, eu acompanho, eu consegui fazer com que muita gente realizasse o sonho, voltasse a estudar. Quer uma coisa mais devastadora do que não estudar? Estar estudando? Não ter o mínimo, que é o ensino básico. Então, isso é devastador. Eu considero... Como eu te falei, não precisa ser doutor, mas ele precisa sobreviver no mundo atual. Que ele seja um comerciante, um pequeno empreendedor, que ele tenha o serviço público, que ele não seja num grau alto, mas de alguma maneira todos os alunos que passaram na minha turma estão posicionados na sociedade como senhores de direito, politizados, que sabem reivindicar. O aluno, quando ele entra, você não vai... Não sei se você vai entender muito isso, mas quando ele entra, ele não é um ser crítico, ele aprende a ser. Porque todo o aparato em volta disso faz com que ele seja. E aí, uma pessoa crítica não aceita qualquer coisa. Ela passa a não aceitar.

P/1 – O que faz ele... Você acha que na proposta... Eu sei que não é uma coisa só, mas que coisas... O que faz eles se tornarem críticos assim?

R – Os eixos temáticos. A leitura de imagem, ela é questionadora. O memorial, porque ele consegue visualizar como ele respondeu, como ele está sentindo, como aquele conteúdo caiu para ele. E o trabalho em grupo, se ele não alcançou. Porque existe o momento dele falar – até aquele aluno quietinho você consegue fazer com que ele possa opinar. É um trabalho integrado. Claro que você pega o que é bruto de uma escola, é aquele que ninguém quer dentro da sua sala. Então, aos poucos, você vai lapidando, aos poucos você vai melhorando a autoestima do aluno, você vai mostrando para ele que o saber dele é importante para você também, que todo mundo traz um saber.

P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho, Nandiara... A gente tem lá na escola o trabalho em grupo, sempre. O que faz diferente que o trabalho em grupo tem resultado não comum, como outros trabalhos em grupo? Numa escola comum.

R – A maneira como ele é medido.

P/1 – Como assim?

R – A maneira como ele é medido. Numa escola tradicional, você, às vezes... O trabalho que faz em grupo, ele é medido no papel, entregou um papel. No trabalho em grupo, que a gente faz também, todos têm que participar, todos têm que opinar.

P/1 – E como você consegue isso, que é tão importante?

R – Você fazendo a observação, você mediadora. Então, você observa, você instiga, a gente instiga o tempo todo. Professor de Telecurso instiga. Instiga o conhecimento e dá condição. Agora, esse grupo é síntese, esse grupo... A gente faz as divisões de grupo e o aluno, sem perceber, ele move para que ele participe em todos os momentos, entendeu? Ele acaba trazendo uma notícia para a turma: “Ah, essa notícia aqui passou ontem”. Se você olhar assim, não sei se você já teve oportunidade de ver uma sala de Telecurso, os trabalhos são todos pregados. O que é aquilo dali? Aquilo é construção pessoal, aquilo não é um amontoado de papel. Que depois, para mim, ficava até difícil. Porque, como jogar aquela construção pessoal fora? E eu ia juntando papel (risos), e ia juntando. Porque, realmente, eu não tinha coragem de jogar aquilo, o que eles tinham construído. O que eu sabia é que ali eles construíram o saber deles.

P/1 – Nesse processo, Nandiara... Depois nós vamos falar do projeto complementar. Nesse processo todo, você pode contar para a gente a história de algum aluno, ou mais de um aluno, que teve…? Eu entendi que todos têm um crescimento.

R – Todos.

P/1 – Mas só para a gente ter como registro a história de algum aluno na sala. Como ele era, o que foi acontecendo, o que, de repente, ele falou. Falou para os amigos, enfim.

R – Sim. Eu tenho um aluno que hoje em dia... Outro dia ele entrou em contato comigo, me ligou: “Nandiara, eu passei num concurso”. E passou numa cidade em Minas. “Eu quero sua opinião”. Mas aquele aluno que falava ‘pobrema’. E quando a Fundação esteve lá, eu falei: “Meu Deus, eu vou passar vergonha, ele vai falar ‘pobrema’”. Não deu outra, ele falou: “Pobrema” (risos). Aí eu fui pedir desculpas, eu não sabia, eu falei: “Gente, desculpa, eu estou trabalhando com o aluno, mas o meio fala ‘pobrema’ mesmo”. Aí eles falaram: “Nandiara, linguagem formal e informal”. Aí eu falei: “Então, o ‘pobrema’ agora vai ser resolvido” (risos). E aí a gente parou tudo e fez um trabalho e mostrou que você consegue se comunicar falando problema ou falando ‘pobrema’. E que a linguagem tem que ser colocada, ela pode ser colocada no lugar em que você está. E hoje em dia ele fala perfeitamente, ele se posiciona muito bem. Ele é politizado nas redes sociais, não escreve errado, escreve muito bem. Tem um outro, que ele queria ser pastor e para isso ele precisava ler. Ele era um carregador de gás. Então eu falei com ele: “Um pastor tem que saber ler”. E ele começou a ler os livros que a Fundação... Que não eram livros didáticos, que mandavam para a gente. E ele começou a ler Auto da Compadecida, Dom Casmurro. O tempo que ele não estava carregando gás, ele estava lendo. E as pessoas se incomodaram de passar na rua, de ler. E quando ele aprendeu a fórmula de bhaskara ele explicara para o pessoal da rua – por quê, para quê, qual a utilidade dela. Porque não tem um conteúdo... E você pode abrir um livro do Telecurso, não tem um conteúdo do Telecurso que não tenha sentido na vida do aluno. Todos os conteúdos estão interligados. Então o aluno pode aprender o que no outro livro não dá sentido. Mas todo conteúdo colocado ali tem um sentido na vida do aluno.

P/1 – São conteúdos que muitas vezes também são da sistematização da escola.

R – Não, são conteúdos do ensino regular. Sim, são conteúdos do ensino regular, só que eles são com sentido. Eu tinha um aluno, eu estava ensinando ângulos para ele. Isso mostrou para casa, o cálculo dos ângulos em uma casa. E ele, com o saber dele, me falou que era um construtor. Ele sabia a fórmula que eu estava ensinando, na prática. E quando eu mostrei para ele que poderia ser feito daquela maneira, mas a introdução para esse conteúdo mostra uma casa na prática. Por isso que é tão interessante, não é só interessante estudar, é interessante dar aula também porque você... Na época em que eu estudei, não tinha sentido. Eu estudava, mas eu estudava sem sentido, eu tinha que decorar. Eu não sabia para que servia aquilo que eu estava estudando. E quando eu peguei os livros do Telecurso eu tive que estudar outra vez, porque eles são com sentido (risos). Aí foi mais prazeroso para mim. Eu fui, estudei tanto, dei tanta aula que eu aprendi também. Então, passar em concurso para mim não foi problema porque eu também aprendi.

P/2 – Conte mais alguns resultados dos alunos que você conseguiu, que terminaram...

R – Está ficando bom, Tereza? Porque eu sou chorona. Vai que esse rapaz corta o choro todo (risos).

P/2 – Não, não. Está ótimo!

P/1 – Eu vou dizer que a maioria vai ficar do choro (risos). Nandiara, e o rapaz que era carregador de gás e queria ser pastor? Como foi que continuou a história?

R – Ele se tornou um pastor. Como eu tenho da aluna que assim... A vitória dela foi tão grande que eu gritava dentro da minha casa. Porque ela foi mãe solteira de três filhos e ela quis fazer o vestibular. Assim... Eu meio que entendia, se o sonho fosse mais alto a gente... Você atende de toda maneira. Se você quer fazer o vestibular, você tem conteúdo ali que permite. Se ele quer ser um funcionário público, você tem conteúdo ali que vai desenvolver as competências, os conteúdos, e ele vai conseguir. Então, ela queria ser uma nutricionista. E ela foi fazer o vestibular. Então eu estava na minha casa, ela bateu e falou: “Liga, Nandiara, liga para saber como foi”. E aí eles me deram a notícia: ela foi o primeiro lugar no vestibular de Nutrição. Essa menina tem extrema dificuldade, depois até eu posso te mostrar os áudios que tem, ela teve uma neta agora, retornou para a faculdade. E ela falou: “Eu não vou desistir, a vida pode tentar me fazer desistir, mas eu não vou dar moleza para a vida”. Então assim... Outros que já estavam... Tinham vergonha das pessoas da cidade pequena saber que eles não tinham o ensino médio. Com o Telecurso era de uma maneira tão mais leve que isso não envergonhou ninguém, entendeu? Então eu tive funcionários, tive esposa de professores que estudaram comigo. Eu tive funcionários públicos que estudaram comigo, que não tinham concluído o ensino médio ainda porque tinham vergonha de entrar numa turma do regular. Eu sempre fui respeitada como professora do Telecurso porque os trabalhos que a gente apresentava, os resultados da turma... Então eu sempre tive respeito dos meus colegas do ensino regular. Tenho muito orgulho de ter participado, de ter feito parte dessa história.

P/2 – O certificado que você recebeu...

R – Enquanto professora, quando eu estava professora, eu recebi uma menção honrosa na Câmara Municipal. A menção honrosa é dada a um destaque funcional, a quem se destacou. Então eu recebi um destaque funcional como uma professora do Telecurso. Isso para mim foi muito gratificante porque não é qualquer profissional que recebe, é quem se destaca mesmo, eles têm esse critério. E eu fui, em nome do Telecurso, em nome de uma professora, receber esse diploma pelo trabalho que eu estava desenvolvendo. E ele tira de distorção idade-série, porque você não pega aluno da idade certa, você pega o aluno em distorção idade-série, é o aluno do não, é exceção, é esse aluno que você pega. Então você consegue alinhar aquele aluno num tempo menor. Isso, você faz um adianta na vida dele... Ele vai partir para frente, ele vai tentar outras coisas. Vai tentar um concurso, vai tentar abrir um negócio. Tinha uma menina, que nós estávamos estudando Matemática, porcentagem, ela falou assim: “Nandiara, meu marido faz churrasquinho. E hoje eu vou sentar com ele, quando eu chegar da aula, eu quero ver quantos por cento ele está tendo de lucro nisso aqui”. Ele faz churrasquinho até hoje, mas ela controla quantos por cento ele tem de lucro no negócio dele. Então, são coisas simples, coisas grandes e coisas simples que a gente consegue fazer sendo uma professora do Telecurso.



P/1 – Nandiara, você disse que aprendeu muito com a leitura de imagem para sua vida. Diga como.

R – É, não só a leitura de imagem. O respeito, que é um trabalho em grupo. Você trabalhar em grupo você tem vários pensamentos, você consegue render melhor e isso... Você sintetizar o seu trabalho, o seu conhecimento, a sua construção do saber, você pregar na sala a sua construção, que aí são os memoriais de sala, os memoriais dos alunos, onde eles externam ali o saber, a posição deles em relação àquele conteúdo. E eu lhe falei que todos os conteúdos são interligados com realidades que eles têm. E ali, naquele momento, ele vê onde pode melhorar, onde não pode. Porque eu fazia o meu memorial também, não é só o aluno que tem o memorial. Eu também via onde eu estava acertando, onde eu estava errando, o que estava surgindo; é feito ali para o aluno ter a competência que a gente queria. E a leitura de imagem, porque a leitura de imagem me deu uma leitura criteriosa, mais criteriosa do mundo. É fantástico a leitura de imagem. Ela me empoderou mais, (risos) porque só você tendo esse contato de você perguntar: “Que lugar é esse? Onde aconteceu isso? E essa roupa?”. Os alunos estavam tão acostumados que, quando trocava de teleaula, eles falavam assim:

“Ó, mas hoje ela não está com a mesma roupa, não”. “Poxa, que colar bonito ela está!” “Olha lá a Zezé Mota, como está novinha!” (risos). Porque as aulas também são um encanto. Aulas com artistas que são famosos. É tipo uma telenovela, não é? Existem aulas também que pesaram mais, porque a gente tem a escravidão aí, de uma vergonha, uma vergonha que a gente tem, de ter acontecido a escravidão. As aulas são muito realistas, elas pesam mais.

P/1 – Você falou... Porque eu fiquei curiosa... Claro, são várias possibilidades, tudo faz essa... Eu gostei do encaixe, tudo tem seu encaixe, mas quando você fala que a leitura de imagens, especificamente a leitura de imagens fez você ficar mais crítica, influencia até hoje, eu fiquei curiosa. Como assim?

R – É, até hoje. Mais atenta, mais criteriosa, mais cuidadosa, mais atenciosa.

P/1 – Por quê?

R – Porque a maneira como ela é aplicada na fala faz com que você aprenda a observar leitura de figura a fundo, que você aprende a observar o que está naquele contexto, o que faz parte daquilo. Ali não está só uma pessoa, ali está uma pessoa que está numa fábrica que tem uma máquina que produz linha. Então, a leitura de imagem faz você despertar, você entender o contexto da coisa. É isso que é tão interessante. E você entendendo o contexto, às vezes a pessoa não precisa nem falar, se você consegue entender o contexto. Isso a leitura de imagem desenvolve numa pessoa.

P/1 – Muito bom. Vamos falar do Projeto Complementar?

R – Uhum. Estou começando a gostar de bater papo aqui com vocês, hein? (risos).

P/2 – E nós com você!

P/1 – É! Eu só queria que durasse mais tempo.

P/2 – É, cinco para as quatro. Tem um tempinho ainda.

P/1 – Pois é. A gente entendeu bem todas essas dimensões do projeto, todos esses encaixes, mas você também comentou antes que existe um projeto que é complementar. O que é esse projeto complementar?

R – São projetos complementares. Eles são oferecidos pela Fundação. E aí a gente tem sobre alimentos, sobre energia, sobre água, sobre sexualidade. Esse projeto é bom porque ele não vem engessado, você pode colocar esse projeto dentro da sua realidade. Como eu falei que a minha realidade é a realidade das águas limpas, que as águas nascentes, muitas nascentes, mas as águas sujas, que são as águas das enchentes, o Projeto Caminho das Águas permitiu com que nós trabalhássemos todo o contexto da água, a água de todas as formas, a água como alimento, a água como sobrevivência, a água como recurso natural, a água enquanto local de estância hidromineral. Nós fizemos uma aula passeio na estância hidromineral e eles aprenderam todo aquele processo de engarrafamento de água mineral, de higiene de engarrafamento, porque a gente está perto de uma estância hidromineral lá. E o Caminho das Águas também entendeu a angústia: por que a cidade enche? Ou, qual é a geografia? Qual o relevo daquela cidade que faz com que ela transborde tanto? E o problema do livro? Por quê? O que o lixo ajuda nisso? Quando eu falo que projeto complementar permite que você vá além é porque ele é aberto, ele não é um livro fechado que você tem que trabalhar só aquilo.

P/1 – Então conta como foi esse projeto lá no seu contexto das águas.

R – Esse projeto trabalhou a angústia das cheias. Por que enchia? Nisso, a gente saiu em Geografia, a gente entrou em Ciências, porque foram biólogos explicar as doenças transmitidas pela água, a gente fez um mapa da cidade para mostrar o relevo, por que ela enchia. A gente procurou as águas que eram boas perto, a gente localizou as águas que eram ruins, que transmitiam doenças, transmitiam dengue. Então, esse projeto... Eu amei trabalhar esse projeto. No Energia Que Transforma nós fomos a uma usina eólica, que é um parque eólico que tem em São Francisco de Itabapoana, que é fantástico, que os alunos amaram ver aquelas turbinas, que entenderam aquele funcionamento e puderam ver o mar, não é? Meus alunos não conheciam o mar, muitos deles.

P/1 – Conte essa história, como é que começou.

R – Eu queria um motivo para levá-los para ver o mar. Então eu tinha um projeto.

P/1 – Por que? Começa desde o começo. Como surgiu esse motivo?

R – São alunos da zona rural, são alunos do morro, então eu queria um motivo para que eles conhecessem o mar. Eu acho justo que toda pessoa conheça o mar. Eu tinha um motivo e tinha um projeto: Energia Que Transforma. Então eu falei: “Eu vou juntar esse motivo, com esse projeto Energia Que Transforma e vou levar essa meninada para conhecer o mar”. E pedi ao meu diretor. Ele falou: “Nandiara, você vai levar essa meninada no inverno?” Eu falei: “Mas do jeito que esses meninos nadam no rio, você acha que eu ia levar no verão? Deixa no inverno para sentir frio, mas vai ver o mar”. Então nós fomos. A gente conheceu o parque eólico, eles entenderam. Mas nada de uma aula passeio é feito sem um propósito. Nós estudamos antes sobre energia limpa, nós estudamos sobre alternativas para as formas de energia, nós estudamos sobre as usinas hidrelétricas. Nós temos uma pequena usina hidrelétrica lá perto, então nós estudamos isso tudo com o impacto. Claro que eu queria que eles conhecessem o mar, eu tinha um motivo e tinha um objetivo também, não é? A gente fez esse passeio. No outro passeio que nós fizemos, nós fomos a Ouro Preto.

P/1 – Volta para o mar.

R – Volto (risos). No mar, a gente... Na foto que eu te mostrei eles estão lá com a engenheira responsável e as turbinas. E depois que a gente fechou todo esse trabalho nós fizemos um churrasco na beirada do mar. Eu levei refrigerante, levei carne, a gente fez churrasco em cima de um bote. Eu não entrava na água, mas eu ficava o tempo todo vigiando. E assim... Você vê o encantamento, porque quem não conhece o mar, você pode mostrar uma fotografia do mar, a pessoa nunca vai ter noção da grandiosidade, da beleza que é o mar. E eles ficaram encantados com o mar e eu tive que trazer um monte de garrafa da água do mar porque o pessoal lá do morro, eles queriam a garrafa de água do mar, não é? Porque tem uma lenda, uma mania, que se passar água do mar é bom. Aí a gente trouxe um monte de garrafa de água do mar (risos) para o povo da cidade lá, do morro.

P/1 – E você lembra da expressão de algum aluno quando viu aquela...

R – Eles ficaram assim, a princípio... Eu parei para observar muito isso. Eles não entraram direto, não é? Eles primeiro admiraram e ficaram encantados com aquele mundo de água. Que eles já tinham visto em televisão, já tinham visto em revista, mas pessoalmente não. Aí depois, eu deixei que entrassem e eles tomaram banho, experimentaram que ela é salgada mesmo. E isso depois rendeu aula. Por que ela é salgada, não é? E a gente entrou nesse assunto quando nós exploramos os conteúdos de Ciências, de Biologia. Tudo, tudo no Autonomia tem um porquê, até uma aula passeio.

P/1 – Você ia contar de Ouro Preto e eu cortei.

P/3 – Desculpe, posso fazer uma pergunta?

P/1 – Claro!

P/3 – E quando deu certo o projeto, você falou que queria levá-los, que tinha esse objetivo. Na hora em que estavam lá, o mar... Que você conseguiu, que vocês chegaram, como você se sentiu?

R – Eu me senti assim... Eu achei que minha estratégia tinha dado certo, que eu tinha... Eu queria que eles conhecessem a usina - uma usina eólica - porque ela é grandiosa também. Eu queria que eles conhecessem o mar porque eles iam vivenciar um saber, e ali eu tinha muito a explorar. E eu me senti muito realizada porque ali tinha gente que eu tenho certeza de que nunca mais vai voltar ao mar. Porque nós estamos longe do mar. E aí, uma professora conseguir... Claro, pedi ajuda, a gente foi no ônibus. Nem foi na época a Fundação, porque a Fundação ajudou a gente ir a Ouro Preto, mas no mar foi o nosso diretor, que eu falei que precisava mostrar a usina eólica. Foi todo um trabalho feito em cima disso. E eu me senti realizada de poder realizar o sonho desses meninos, de poderem ver o mar. Porque é grandioso, é lindo, e eu achava que podia dar esse presente para eles. E foi assim, juntando uma coisa com a outra, que eu consegui que eles vissem o mar.

P/1 – E na volta eles fizeram o memorial.

R – Claro!

P/1 – Você

lembra de alguma frase, alguma…?

R – Não, eu lembro de um aluno. Tinha um corredor que ele fazia esse Bolt, ele fazia este sinal assim. Então, estava na época de uma olimpíada, uma coisa assim e eu tinha comprado muita coisa para a gente sortear dentro do ônibus, tudo de coisa do Brasil, o motivo. Ele estava com um chapeuzinho e apontou assim muito firme para aquela turbina. E eu tirei essa foto. Eu não consegui trazer para vocês, mas eu tirei essa foto. Tipo assim: “Eu chego ali um dia, eu vou até ali”. E acredito que ele consiga chegar sim, que ele consiga subir porque ele era super aplicado esse aluno. Essa foto me marcou muito. Na época, eu até coloquei no portal do Telecurso, coloquei e marcaram. Mas assim... Para vir para cá eu tive que recorrer à HD e não achei essa foto, mas essa foto ficou linda. E ele com o chapeuzinho do Brasil, listradinho da bandeira do Brasil e ele apontando para cima, para a turbina. E ali eu pensei assim: “Ele está pensando: ‘Eu vou subir. Eu sou capaz de chegar lá em cima’”. Entendeu? Achei muito bacana essa foto.

P/1 – Muito bom. Vamos falar de Ouro Preto?

R – Vamos. Mas tem, também, dos alimentos. A gente fez um trabalho muito bonito que envolveu teatro, envolveu reaproveitamento de alimentos. Porque a turma chegou à conclusão de que nada podia ser desperdiçado. Então, a partir daí, a gente começou a problematizar para arrumar um meio de reaproveitar os alimentos. E dali saiu um monte de coisa gostosa, de casca de abacaxi, de casca de laranja, coisas que jogam fora, de talos de verdura. Saiu um livro de receitas que eles trocaram a receita, saíram vários tipos de suco que a gente identificou com plaquinha. Saiu um teatro. Nesse teatro, além da gente explorar alimento, a gente explorou higiene, as bactérias nos alimentos. Então, esse teatro conseguiu pegar também a parte de Ciências, Artes e a gente conseguiu fazer bem bacana o teatro sobre alimentos, nesse projeto.

P/1 – Nessa parte das receitas, quem fornecia toda essa proposta de aproveitamento?

R – Pois é, a receita... Alguma coisa eu sugeri, porque tinha na internet. Mas outras eles já sabiam fazer. Então não precisou de internet, eles já sabiam. É o conhecimento que é próprio de cada pessoa, que a gente tem que valorizar. Eu poderia dar ‘n’ receitas ali de internet, tem como, mas eles também sabiam. Eu tomei suco de inhame maravilhoso, que eu nem sabia que isso existia, que fazia suco de inhame, a aluna fez para a gente. Pastel de talos, isso aí é conhecimento já deles. Ouro Preto, por exemplo, na aula passeio em Ouro Preto, a gente não pegou um ônibus e chegou em Ouro Preto. Nós fizemos todo um levantamento daquela história, estudamos aquilo tudo. Quer maneira mais prazerosa de estudar do que você olhar os pontos onde aconteceu cada coisa, onde foi feito cada coisa, do que você ter que decorar? Então, quando eles chegaram em Ouro Preto eles sabiam onde ir porque a gente tinha mapeado tudo, mostrado a importância, mostrado a igreja principal, mostrado por que Tiradentes estava naquela posição, falar por que Tiradentes está naquela posição, por que a cadeia estava do outro lado. Que ali tinha uma mina, que perto dali tinha uma mina. Então, eles sabiam disso porque nós exploramos esse assunto todo antes. Quando eles chegaram em Ouro Preto, eles se encantaram por aquela cidade histórica linda. E eu falei: “Vocês estão pisando numa cidade histórica. Nenhum papel se joga aqui no chão” (risos). E isso eles fizeram, não só a cidade lá, o momento, mas o ônibus voltou limpíssimo. Então, são coisas que você vai passando e os alunos conseguem alcançar.

P/1 – O olhar deles. Você consegue descrever para a gente o olhar dessa cidade histórica, sabendo que ela era isso, depois de vocês terem estudado?

R – Porque eles foram muito certos. A gente já tinha estudado: “Nandiara, onde mesmo é a Fonte Marília de Dirceu?” Eu

falei: “A fonte Marília de Dirceu, a gente vai ter que descer por aqui”. Mas eles já sabiam a história de Marília e de Dirceu. “Nandiara, onde está São Francisco de Assis, que você falou com a gente?” Porque os olhos de São Francisco de Assis, feitos por Aleijadinho, são perfeitos. Eu falei isso com eles e nós fomos lá ver. Aí, nós estudamos o problema que teve Aleijadinho, nós visitamos o túmulo de Aleijadinho, que é dentro de uma igreja. Eles conheceram a riqueza das igrejas, conheceram os camarotes, que eram para os ricos. A gente explorou isso, a dificuldade que o negro tinha de participar da missa. Conheceram os cemitérios que ficam atrás, conheceram a igreja em que ficam as Carmelitas. Então, aquele passeio foi fantástico, a gente passou o dia inteiro em Ouro Preto, nós voltamos à noite e conhecemos boa parte. Mas, antes, a gente tinha explorado os pontos importantes, o que iria enriquecer eles mais na história, não é?

P/2 – Eu queria somente que ela dissesse que legado essa metodologia Telecurso deixou para a Nandiara profissional de educação?

R – (emocionada). Vontade de um dia fazer parte dele.

P/2 – Mas você faz parte dessa história.

R – Eu faço (emocionada). Porque eu acredito que ele não ajuda só o aluno a ler um livro, aprender conta. Ele vai muito além, ele ajuda o aluno a saber, com aquela conta, quanto ele vai ganhar de dinheiro em cima daquilo, quanto ele pode lucrar. O quanto é importante para ele fazer parte da sociedade. Que ele é um ser que pode ser respeitado, que pode ser politizado. E como eu falei com você, Márcia, hoje em dia eu não tenho ligação nenhuma com o Telecurso, eu sou muito ocupada. Mas eu fiz questão de vir, e quantas vezes eles precisarem, porque eu devo a melhor parte da minha vida profissional a eles. Oportunidade de ter trabalhado com isso. Porque eu sinto que ajudei, não foi impessoal. Se você pegar o ensino regular, você vai ver que é impessoal, ninguém se envolve, ninguém constrói uma ligação. O Telecurso não, você constrói ligações. Então, por isso eu sou muito grata, eu sou realizada por ter participado disso, onde eu encontrei um pouquinho de cada educador, onde tem uma metodologia que tem o melhor de cada educador. E que eu pude ajudar tanta gente a realizar sonhos. Então, esse legado... Eu sou tranquila em relação ao meu dever cumprido. E ter tido todo esse apoio que foi dado, da Fundação, do Estado, na época, para que a gente pudesse formar tantos brasileirinhos e brasileirinhas (risos) aí que deram certo.

P/1 – Você falou bastante em sonho, não é? A gente pergunta muitas vezes, para quem a gente ouve a história, qual é o seu sonho hoje. A gente tem muitos, mas um.

R – Eu estou na minha segunda faculdade, não é? Terminei o MBA, eu fiz o MBA também. Estou na minha segunda faculdade, continuo lendo sobre os educadores, porque ela é de Pedagogia (risos). O meu sonho ainda é transitar na Educação, é ver a Educação dar certo. Eu não pude, quem sou eu para solucionar todos os problemas? Mas eu ajudei a alinhar muita distorção idade-série que deu certo, porque eu acompanho a história de vida dessa gente. Meu sonho é continuar lendo, a coisa que eu mais gosto de fazer é ler. De contribuir mais. Se não for de uma maneira, vai ser de outra. Mas vai ser na área educacional porque é assim que eu acho que o ser humano dá certo: com conhecimento, saindo da ignorância. Ignorância é a falta de informação. E adquirindo conhecimento, adquirindo habilidades. Que ele não saiba tudo dos livros, mas que ele adquira competência. Quando eu falo competências... Porque elas são adquiridas com as estratégias, a gente tem o conteúdo regular dos livros, mas a gente tem as competências, que são adquiridas com a estratégia. E você teria que ler o livro vermelho (risos), porque eu já li três vezes o livro vermelho (risos). E você percebe, claramente, que existe uma estratégia ali, que existem várias estratégias que buscam conseguir competências. E conseguir competência é diferente de decorar conteúdo. Depois que você adquire competência você empodera, não é? Você é capaz de sobreviver, você é capaz de se virar, você é capaz de arrumar um jeito de ganhar a vida, de ganhar dinheiro. E é isso que eu acho que foi a minha realização. Eu pretendo ainda por um tempo continuar na Educação, eu pretendo por um tempo. Mas não é um tempo muito longo (risos).

P/2 – Nandiara, a gente sempre tem uma utopia maior, é uma educação construída, uma educação para o desenvolvimento do ser. E a metodologia telessala, toda nossa utopia é que tudo o que foi feito leve a isso. Você acha? Você que teve essa vivência, o que você acha?

R – Que ela consegue, que ela é capaz. Eu sei porque eu acompanho a história de vida dos alunos. Tem professor - que infelicidade grande - que não acompanha. Mas eu acompanho.

P/1 – E você acha que acompanhando você diz que é capaz do quê? A metodologia?

R – Que é capaz de libertar o aluno, conseguir ter o próprio negócio, conseguir continuar com os estudos dele numa faculdade ou num concurso. Ele não desiste. O aluno aprende a não desistir. É a competência que ele adquire. Ele aprende a não desistir. Ele não desiste mais, nem que seja para ler um livro, que ele não era um leitor. Nem que seja para ler o livro. É não desistir. Porque ler também é se empoderar, não é? Então, quando eu falo que o aluno do Telecurso cria uma autoestima melhor, ele tem uma autoestima, ele passa a ter. É a exceção, é o aluno do não, que teve tanto não, ele aprende a ter autoestima, a saber que ele pode ser fazedor do seu conhecimento tendo como mediador um professor. E ele adquire autoconfiança. E uma pessoa com autoconfiança é uma pessoa que consegue estar em qualquer lugar na sociedade, não é? E por isso eu acho muito importante o que a gente conquista. A gente. Não é só o aluno não, professor também. Quem aprende, ensina a aprender. Então, professor também. Ele, o aluno conseguiu. Foi vantajoso para o aluno? Foi. Mas foi para mim também. Tanto os conteúdos, porque eu sou uma professora que tenho vinte e oito anos de escola, então passei por todo tipo de educação que você pode imaginar. Eu já tive aquele.... Sabe microscópio? Eu tive (risos). Eu estudei, eu sou da época daquele microscópio (risos) pequenininho que a gente tinha. Pois é, sou da época daquele microscópio. E saí daquele microscópio, e aula para a televisão. E depois da televisão, ó ela aí toda sintetizada como um quadro, olha como evoluiu! Então eu acredito que dá certo, que realmente eu vim aqui dar meu depoimento de coração aberto, venho quantas vezes eles me chamarem.

P/1 – E o que você achou de contar a sua história? Agora é a última pergunta.

R – Eu achei assim, vocês me pegaram de surpresa, não é? Porque a gente falar da gente é muito difícil (risos). Falar da gente é muito difícil porque assim... (emocionada) Eu acho que eu sou uma lutadora, sou uma professora extremamente amorosa. Brava, gente! Mas amorosa. Que se preocupa com os alunos, que ajuda. Então, quando vocês estão me instigando a minha história, passa na minha cabeça quantos alunos eu consegui ajudar. Quantos alunos se libertaram daquela incapacidade de se adaptar a uma escola, e com o Telecurso ele conseguiu. Então venho, venho não ganhando nada, venho de todo coração. Comprei esse vestido novo para vir (risos), para vir apresentadinha. Eu falei assim: “Gente, gente do interior não pode ir muito chique porque ir muito chique é cafona, então (risos) deixa eu ir com esse vestido para ficar apresentável”.

P/1 – Aliás, foi um momento importantíssimo porque é a sua história.

P/2 – É a sua história.

R – Mas eu não sei o que vocês vão pegar disso, juntar isso aí, não é? Porque aí eu fiquei muito chorona (risos). Não tem como não se emocionar quando você se lembra de tudo o que fez.

P/1 – Para nós, assim... Quando a emoção vem, aí você não está só com aquele discurso articulado e pronto.

P/2 – É o coração que falou.

P/1 – Então quanto mais emoção, mais autêntica é a narrativa, entendeu? E você vai ver depois, com a gravação, essa gravação a gente vai ter na íntegra, no portal. Ou melhor, no Museu. Tem pesquisadores que vão pesquisar. Então, quer coisa mais bonita do que um professor desse jeito que você se mostrou???

P/2 – Sim! Sensível, amoroso, consistente.

P/1 – Eu estou falando isso bem sinceramente, viu, Nandiara? Para nós é um privilégio ouvir a sua história, a gente agradece muito. Parabéns! Eu digo que ainda bem que ainda tem pessoas profissionais como você para salvar a Educação.

R – É assim... Eu acho que é como eu falei nos eixos temáticos: Quem sou? Onde vou? Qual a minha missão no mundo? Acho que a minha missão é essa: trabalhar com Educação. Mas trabalhar de forma amorosa. Não é ser uma mãe, é ser uma companheira dos meus alunos. E permitir que eles se desenvolvam, que eles melhorem de vida, que eles possam ter um emprego para ter uma casa melhor, para ter uma comida melhor, para se posicionarem politicamente. Então se eu contribuí com isso – e eu acho que contribuí – então valeu a pena (risos), valeu a pena.

P/1 – Muito bom, obrigada, a gente vai fechar aqui (aplausos).

R – Vão achar que vocês me bateram aqui dentro (risos).

FINAL DA ENTREVISTA