Quando nasci, apareceu-me, resplandecente, um anjo e com sua doce voz angelical saudou-me: – Bom dia, flor do dia! E num tom suave, profetizou: Seu nome será um eterno amanhecer, porém, muitas adversidades enfrentará. Ainda na infância terá que lutar para sobreviver às grandes dific...Continuar leitura
Quando nasci, apareceu-me, resplandecente, um anjo e com sua doce voz angelical saudou-me:
– Bom dia, flor do dia!
E num tom suave, profetizou:
Seu nome será um eterno amanhecer, porém, muitas adversidades enfrentará. Ainda na infância terá que lutar para sobreviver às grandes dificuldades e adversidades que surgirão impetuosas assim como uma grave pneumonia. O que não será muito diferente na sua adolescência que se somará às angustias e confusões próprias da idade.
Por fim, sua estrela, majestosa e fulgurante despontará revelando o seu verdadeiro “EU”. E como uma flor, que se desabrocha aos primeiros raios de sol, serão aflorados os seus talentos. Ao partir deixou-me de presente uma caneta e um livro em branco, mas não era um presente qualquer, tratava-se de um presente dos anjos... Encontrando o presente exótico à cabeceira do berço, os meus pais, incrédulos, entreolharam-se cheios de espanto e sem comentário. Minha mãe apanhou cuidadosamente os objetos entregando-os ao meu pai que tratou de guardá-los na maleta de couro onde costumava guardar documentos importantes, em seguida guardou-a no velho baú. Não revelaram o episódio a ninguém, temiam algum tipo de especulação, então guardaram para si esse segredo encerrando definitivamente, em silêncio, o assunto. Cresci como toda criança normal, no entanto, vivenciando tudo o que fora profetizado pelo anjo. Realmente passei por muitas adversidades. Chegando até, correr o risco de morte devido a uma grave pneumonia que a muito custo foi superada. Enfim, superei também angustias, tormentos e confusões da adolescência. Todavia continuava estranha a mim mesma. Com o passar dos tempos cheguei a pensar que também fosse estranha à minha família, pois não me compreendiam, consideravam-me “diferente” por ser muito sonhadora e almejar novos horizontes além da nossa realidade de sofrimentos e privações.
Acreditavam que sonhar seria causar-me um sofrimento ainda maior.
Contudo, havia uma força impulsionando-me a alimentar minhas aspirações.
A transcender aquela realidade tão sofrida e a acreditar que a nossa vida não estava restrita apenas à pobreza e aos sofrimentos. Mesmo que as circunstâncias insistentemente mostrassem o contrário. Com o passar do tempo se tornava cada vez mais evidente um vazio, uma ausência de mim. Precisava encontrar-me, mas onde? Como? E por que essa necessidade constante? Era como se algo me faltasse... E por muitas vezes essa sensação de vazio tirava-me o sono. Certo dia, durante uma faxina, deparei-me com certa maleta de couro no fundo do velho baú. Nunca havia me interessado tanto em organizá-lo, era exclusiva responsabilidade de minha mãe essa tarefa. De repente, uma súbita curiosidade levou-me a revirar o baú em busca da chave para abrir a maleta e descolorir o que ali havia de tão importante para que me despertasse um interesse tão repentino. Estava quase desistindo quando os meus olhos se detiveram num velho estojo de injeção. Finalmente, de posse da chave, abri a maleta com muito cuidado, retirei alguns papeis amarelados, binóculos de fotos antigas e alguns documentos. Nada de interessante, para mim. Cheguei até sentir certa frustração, pois pensei que encontraria ali algo fantástico, inesperado talvez. Fechei a maleta lentamente, mas antes de trancá-la, resolvi abri-la novamente e dar uma rápida olhadinha na esperança de que não tivesse observado direito. Para minha grande surpresa vi uma caneta dourada, que trazia uma inscrição ilegível, mas que se fez compreensível imediatamente ao meu primeiro toque: tratava-se das minhas iniciais. Enquanto admirava o achado notei que os papeis se mexiam dentro da maleta. Assustei-me. Quis sair correndo, no entanto, o susto cedeu lugar a uma sensação de bem está, uma paz interior fez-me permanecer ali, imóvel, esperando o que poderia acontecer. No instante seguinte pude notar que um livro, ao qual não havia dado a mínima importância antes, começava a flutuar e num deslumbramento sem igual acompanhei extasiada sua esplendorosa elevação, como se raios de luz o sustentassem. Pairando no ar, parecia contemplar aquele momento único e tão esperado de finalmente ser encontrado. Em seguida, veio em minha direção. Abri a mão esquerda, sobre a qual delicadamente se estendeu. Pude observar em sua capa uma pintura rústica, cuja ilustração trazia figuras de anjos em meio a algumas crianças brincando no pátio de uma antiga casa. No entanto, diante do ocorrido, o fato mais interessante foi que, depois de admirá-lo, o livro abriu-se sozinho e a caneta imediatamente desvencilhou-se da outra mão e flutuou ao seu encontro, no que tocou a folha de rosto deslizou-se em uma linda e reveladora dedicatória: “Parabéns! Você encontrou o seu tesouro. Estas páginas em branco são fronteiras a serem transpostas, caminhos a serem trançados e um passaporte para as mais inusitadas descobertas, onde poderá encontrar as dádivas que lhe foram reservadas em um mundo que é particularmente seu e desvendar a sua verdadeira razão de ser.
Boa sorte!
Seu Anjo!Recolher