Difícil é ser o irmão mais velho e viver na roça
Foi sempre o irmão mais velho teve a infância difícil. Filho de Jovito Ferreira da Rosa que era carpinteiro, pedreiro e guasqueiro, sempre teve que ajudar nas tarefas da família. Com oito anos já ajudava na roça, tirava leite de vaca, traba...Continuar leitura
Difícil é ser o irmão mais velho e viver na roça
Foi sempre o irmão mais velho teve a infância difícil. Filho de Jovito Ferreira da Rosa que era carpinteiro, pedreiro e guasqueiro, sempre teve que ajudar nas tarefas da família. Com oito anos já ajudava na roça, tirava leite de vaca, trabalhava no campo. Além de ter que trabalhar como servente para o pai, às vezes ficava até um mês sem comparecer à escola. Por não ter tempo para o estudo, tem somente a segunda série do ensino fundamental completa.
A sorte do acidente
No ano de 2000 foi quando a vida daquele homem mudou, aparentemente. Conheceu a Gineteada Gaúcha e foi ganhar o mundo, como ele mesmo fala. Domar cavalos não domesticado, parecido com domar touros. Afirma ainda que não conhecia muito as pessoas, mas com os rodeios começou a conhecer gente. Viajou pela Argentina, Paraguai, Rio Grande do Sul, tudo pela necessidade de competir em rodeios. Após 10 anos, veio o acidente em um torneio na cidade de Gravataí. Na época seu primeiro filho, Juan (16), tinha apenas quatro dias de vida. Relatou que participava de um campeonato de Gineteada completo, que possui três modalidades. Após passar as duas primeiras fases, passou para a final. Na fase final, seu cavalo foi sorteado e enquanto se preparava para a competição puxou o cavalo que se jogou para trás e caiu junto com o Madrinhador. Enquanto o cavalo do Madrinhador levantava, apoiou o joelho sobre o lado direito da cabeça de Alexandre. O osso quebrou e o gineteador ficou com derrame. Ainda tem problemas de visão e necessitada de óculos. Sua recuperação levou oito meses e 21 dias.
E agora? Caçar ou morrer.
Buscando maneiras de se sustentar durante sua recuperação, o homem que agora tinha um filho e esposa, iniciou a arte em couro. Ele afirma que já tinha conhecimento, porém não tinha a técnica de finalização, de acabamento. Esse conhecimento veio do pai, que era guasqueiro. Ele afirma ainda que a arte em couro não serve para todas as pessoas, já que não é arte que qualquer um faz. O artesão, com ensino fundamental básico, fala que aprendeu muito lendo o livro Mão Gaúcha – Traçados em couro. Em áudio fala sobre a admiração que tem por seu trabalho que talvez num futuro próximo já não exista mais, https://soundcloud.com/josiane-skieresinski/alexandre-fala-um-pouco-sobre-a-arte-em-couro. Hoje tem uma empresa, a Correaria Couro Cru, nome da página no Facebook. Alexandre conta que hoje trabalha só em casa e se desloca somente para a Semana Farroupilha em Porto Alegre para fazer vendas. Normalmente encaminha via Sedex as encomendas. Com produtos disponíveis para venda em Santa Catarina, Brasília e até nos EUA. A arte em couro é o sustento da família, deixou de lado a Gineteada e cresceu, como ele mesmo diz, já não é mais guri e tem família para sustentar.
Da capital para o interior
Natural de Tavares saiu cedo de casa. Morou na cidade grande, Porto Alegre, por 20 anos. Na capital, ele e a ex-esposa tinham que sair às 5 horas de casa para trabalhar e voltavam às 20 horas da noite. Mantinham uma vida muito corrida e muito complicada. Em Tavares ele trabalha em casa e tem mais contato com a filha pequena, Alana, e a atual esposa, Josiane. Juntos há sete anos, estão criando a filha que tem hoje dois anos, enquanto o outro casal de filhos mora com a ex-esposa em Porto Alegre. Alexandre afirma que no interior mantém melhor condição de vida. Depois de ter a casa furtada três vezes em Porto Alegre, a ultima foi decisivo para a mudança, há dois anos e meio. E foi a segunda decisão mais importante que envolvia outras pessoas além dele. Vendeu a casa e voltou para a cidade natal.
A vida na roça é melhor do que em Porto Alegre?!
Sua vida em Tavares é ótima para manter a família. Alexandre consegue manter boa relação com os filhos, com a esposa, com o comércio de artesanato em couro e com os amigos. Uma região de 7 mil habitantes onde é possível sair de casa, deixar a porta aberta, voltar e estar tudo do mesmo jeito, sem nenhuma televisão faltando. Todos se conhecem, todo mundo sabe da vida de todo mundo. Contou ainda que leva no mínimo duas horas para chegar ao mercado, pois a cada passo tem um amigo para conversar. Ele planta para o consumo da casa. Planta batata doce, arroz, feijão, aipim, cebola. Ainda tem o prazer de compartilhar a colheita com os amigos quando colhe o suficiente. Os filhos tem a liberdade de correr, de brincar, de ir ao campo, andar a cavalo. Alexandre comenta que o filho mais velho é muito “cachorreiro”, gosta muito de cachorros. A pequena Alana pode brincar na areia e correr campo a fora. Coisas que em Porto Alegre não se faz. Diz que os filhos ainda moradores da cidade grande estão presos, como se a cidade fosse um presídio. A liberdade da cidade grande não será trocada facilmente.
Sonho dos rodeios vira passado
Alexandre quando questionado sobre voltar para os rodeios fala que apesar da adrenalina, não voltaria. Fala sobre o dom que tem para a arte do couro, a ótima vida que leva hoje com a sua família, no campo, tranquilo. Hoje pensa mais em sua esposa e filhos, na boa vida que pode lhes proporcionar, não trocaria isso pelo rodeio, não trocaria a família pelo rodeio. Pretende expandir seu trabalho e seguir como guasqueiro. Sim, é possível ser feliz da arte, viver dela e se sustentar.Recolher