Com uma fala positiva, Elizeu Cafarate Hoher, de 54 anos, nascido em Alegrete no interior do Rio Grande do Sul, conta como perdeu vários membros de sua família e de que forma lidou com essas perdas. Salva-vidas de profissão, formado e instruído pela Polícia Militar, ele fala com orgulho sobre o...Continuar leitura
Com uma fala positiva, Elizeu Cafarate Hoher, de 54 anos, nascido em Alegrete no interior do Rio Grande do Sul, conta como perdeu vários membros de sua família e de que forma lidou com essas perdas. Salva-vidas de profissão, formado e instruído pela Polícia Militar, ele fala com orgulho sobre os seus 457 salvamentos durante os 29 anos de carreira, mas se arrepende daquele que não conseguiu realizar, o da sua própria filha.
Trabalho
Com uma grande carreira como salva-vidas, Elizeu trabalha desde 1987 nesta função e já realizou salvamentos em praias desde Pinhal até Capão Novo – último lugar em que trabalhou –, no litoral do Rio Grande do Sul. Formado como policial militar trabalhou nas ruas por três anos até optar por transformar sua paixão pela água em um jeito de ajudar as pessoas, escolhendo a função de salva-vidas no quadro dos bombeiros e da brigada militar.
Elizeu conta um pouco sobre seus anos como policial:
Além de ser reconhecido pela sua grande atuação como salva-vidas ao longo dos anos, também ganhou vários prêmios como, por exemplo, o primeiro posto na competência anual de salva-vidas em 1993, na categoria de 1.200 metros, além de outras competições. Narra com orgulho sobre as épocas de carnaval, quando fazia 16 salvamentos como média diária.
Perdas
Elizeu relembra da filha com tristeza, Gisele Fernandes Hoher, que com 14 anos morreu afogada num trágico acidente em 1995. Durante um passeio na ilha do Lobisomem no rio Jacuí, Gisele estava brincando com os seus familiares e começou caminhar para dentro do rio, até que caiu num buraco do qual não conseguiu sair. “Pai salva-vidas, perde a filha afogada”, Elizeu comenta o acidente com os olhos chorosos e a voz quebrada.
O acidente foi muito sentido por Elizeu e sua família, mas isso não abalou a sua carreira de salva-vidas. “Fazer o bem, sem escolher a quem”, conta Elizeu sobre a sua opção de continuar exercendo a profissão.
Mas foi no final da década de 80 que Elizeu sofreu sua primeira perda, sua esposa Vitória Fernandes Hoher, mãe de Gisele. Após uma cirurgia de retirada de vesícula que se complicou, Vitória teve de receber uma transfusão de sangue e acabou se contaminando com o mal de Chagas, que se manifestou um ano depois, atacou seu cérebro e a colocou em coma durante dois meses antes de falecer.
Seria pai de seis filhos, caso não houvesse perdido Gisele, e é avô de seis netos, o mais velho com 18 anos. Teve uma infância dura, com dificuldades financeiras e pouco acesso a brinquedos, mas ressalta que felizmente sua família nunca passou fome. Estudou normalmente, acabou repetindo alguns anos e trabalhou desde cedo com seu pai vendendo pedras em Alegrete, permanecendo nessa função até o final de sua adolescência.
Ao chegar a Porto Alegre em 1982, onde reside desde então, começou a trabalhar como motorista de caminhão, entregando bebidas na cidade de Canoas, que fica na região metropolitana. Depois disso foi quando entrou para a Brigada Militar através de um concurso.
No ano de 2000 teve que enfrentar mais duas perdas em sua vida, seu pai, com 75 anos, faleceu em junho devido a um câncer no pulmão e a mãe, de 65 anos, que possuía problemas de coração, faleceu em novembro. Encarou as mortes com naturalidade considerando a idade avançada dos pais, porém não conseguiu escapar da tristeza, “Faz parte do ciclo da vida, infelizmente”.
Sua vida atualmente
Sua família reside toda em Porto Alegre, Elizeu vive com sua esposa e sua filha mais nova e está em busca de sua aposentadoria. Em seu dia-a-dia exerce várias funções como, por exemplo, produção de pães, poda de árvores e trabalhos em obras.
“As coisas ruins são duras né, ninguém quer perder, mas a vida tem que continuar”, afirma Elizeu, que encontrou em sua família, amigos e no trabalho o apoio e a força necessária para seguir em frente a cada nova dificuldade que encontrou.Recolher