Sou filha do meio, com toda a complexidade que isso representa. Só quem é filho do meio sabe o que isso significa. Escrevo isso com um sorriso no rosto, pois se existe drama nessa frase, existe comédia também. Lembro muito de meu pai brincar com essa questão, dizendo que eu era adotada e tinha ...Continuar leitura
Sou filha do meio, com toda a complexidade que isso representa. Só quem é filho do meio sabe o que isso significa. Escrevo isso com um sorriso no rosto, pois se existe drama nessa frase, existe comédia também. Lembro muito de meu pai brincar com essa questão, dizendo que eu era adotada e tinha sido encontrada na lata do lixo. Era o suficiente para que eu fizesse uma cena daquelas, com direito a choradeira e tudo. Eu era dramática mesmo, minha mãe diria que ainda sou, imagina! A típica filha do meio, de uma família de três crianças. Minha irmã é quase três anos mais velha do que eu e meu irmão, quatro anos mais novo.
Durante grande parte da minha infância, a minha irmã era minha referência do certo. Como morávamos em um lugar afastado, não tínhamos outras crianças para brincar. E tenho lembranças lindas das nossas brincadeiras e de como éramos.
Ela era a mais velha, então, exercia muita influência sobre mim, pelo menos eu sentia assim. O que ela falava tinha que ser cumprido, muito simples. Algumas vezes, era difícil ter que cumprir suas "propostas", quase um treinamento para superar-me.
Lembro-me de uma vez que ela achou, num supermercado, um sabonete de bebê com a embalagem aberta. Éramos apaixonadas por aquele cheirinho. Devido à situação financeira da minha família, nossa vida era bastante instável. Minha mãe era dona de casa e meu pai, funileiro autônomo. Assim, mesmo que fosse só um sabonete, não dava pra comprá-lo. O orçamento justo da família não permitia gastos excedentes, desnecessários. Minha irmã, então, cismou que se pedíssemos para um funcionário, ele nos daria o produto, afinal, por estar aberto, não poderiam mais vendê-lo.
O problema era que a responsável em fazer o pedido, por determinação dela, era eu. Ai, como eu sofri nesse dia! Minha irmã falou, estava falado: era eu que deveria fazer isso, não me questionava do contrário. Eu sei que passei todo o tempo que ficamos nesse supermercado me preparando, ensaiando para fazer o pedido. No final, não tive coragem de tomar nenhuma atitude, e lembro de uma estranha sensação de decepcionar alguém importante pra mim.
Sei que ela era minha melhor amiga.
Nossas brincadeiras eram infindáveis, e a presença dela era tão grande que mal me lembro de meu irmão mais novo até que ele completasse seis anos e eu passasse a ter, junto com outros familiares,a incumbência de levá-lo na escola e buscá-lo. Ela era, com certeza, a pessoa mais interessante da minha infância e com sua passagem para a adolescência, nasceu em mim, naquele momento, um sentimento de solidão que, até então, eu não me lembro de haver experimentado antes. Acho que na companhia dela meu mundo era completo.Recolher