"O Bagre", assim é conhecido Julio Oliveira na comunidade da Vila Chapéu do Sol, onde mora. Criado a bordo de uma canoa, ajudando seu pai, o velho Pituca, a tirar do rio o sustento da família, o pescador viu várias espécies desaparecerem do Guaíba e, com o tempo, entendeu que, para ter o que p...Continuar leitura
"O Bagre", assim é conhecido Julio Oliveira na comunidade da Vila Chapéu do Sol, onde mora. Criado a bordo de uma canoa, ajudando seu pai, o velho Pituca, a tirar do rio o sustento da família, o pescador viu várias espécies desaparecerem do Guaíba e, com o tempo, entendeu que, para ter o que pescar amanhã é necessario se concientizar e preservar hoje. Tentando compartilhar essa conscientização com a comunidade, criou um projeto de sustentabilidade e o chamou de “Pitucanoa” - uma homenagem a seu pai e à tradicional embarcação de pesca que ele usava nas suas jornadas. Há dez anos à frente do projeto, o morador do extremo sul de Porto Alegre conta porque não se arrepende de ter largado a pesca para aceitar um emprego no clube onde está hoje, sediado na beira do Guaíba: “eu via que algumas espécies de peixes estavam sumindo e queria fazer alguma coisa.
Trabalhei dez anos no clube como voluntário, e só aceitei para poder usar o pátio do clube para tocar o projeto. Assim, posso fazer minha parte”.
Idosos se dedicando ao cuidado com as mudas nativas. Meninos e meninas que fora do horário de escola, cuidam da limpeza do rio e a cumprir todas as etapas que vão desde a captura até a transformação do pescado em alimento. Esta é parte da rotina do projeto, que, por enquanto, concentra as atividades no espaço do Clube Náutico Belém Novo, no extremo sul da capital.
Nessa manutenção do Guaiba, muitas embalagens são reutilizadas em outra etapa do projeto, quando servem para receber as mudas de árvores nativas. Algumas dessas plantas estão em extinção. Julio ensina as crianças a reconhecer essas espécies e a replantá-las em garrafas pet cortadas ou até em tênis, que foram recolhidos do próprio rio. Até agora, entre angico, ingazeiro, sarandis, etc, o Pitucanoa já resgatou mais de 14 mil mudas, que foram replantadas em outros locais.
Julio de Oliveira deseja compartilhar todo o conhecimento que adquiriu vivendo em harmonia com a natureza. E conclui “Isso é apenas um projeto que eu defendo há anos. Hoje, os órgãos começaram a levar a sério, mas um dia, queira ou não, eles vão ter que transformar em lei, é só abrir os olhos e olhar para frente”.Recolher