Tudo começa em um banho junto a irmã mais nova. Com 4 anos de idade, percebeu algo diferente entre os dois. Naquele instante descobriu que havia
masculino e feminino. Incerteza em sua cabeça. Porém, ali, decidiu-se. Descobriu-se transexual em 1969. Antes disso, porém, se dizia pederasta.
&ldq...Continuar leitura
Tudo começa em um banho junto a irmã mais nova. Com 4 anos de idade, percebeu algo diferente entre os dois. Naquele instante descobriu que havia
masculino e feminino. Incerteza em sua cabeça. Porém, ali, decidiu-se. Descobriu-se transexual em 1969.
Antes disso, porém, se dizia pederasta.
“Meu pai odiava pederasta. Tanto é, que ele dizia que preferia ter filho ladrão do que puto, e para o castigo dele, vim eu”, comenta Fernanda sobre
o que seu pai pensava sobre opção sexual. Se intitulava uma criança diferente. Diferente dos demais irmãos, pois todos eram maiores e mais fortes.
E, sem medo, obteve relacionamentos. Se dizendo não ser promiscua, se relacionava apenas quando havia paixão, mesmo que não correspondida.
Até aos 18 anos, testemunha de Jeová, contra seu gosto, era obrigada pela família. Após ingressar na Brigada Militar, com a ajuda de seu
futuro padrinho, mudou-se para a religião Afro.
INFÂNCIA
Desde sempre, sem precisar de ajuda para tomar decisões. Sem ter alguém que pudesse agregar de forma significativa em sua vida.
Nunca foi de depender de terceiros. Vinha de casa saber lidar com situações adversas. Perdeu a mãe com 6 anos de idade.
Pai extremamente machista, ao ponto de preferir criminosos como parentes, mas não admitia homossexual de forma alguma.
Ela, juntamente de seus irmãos e irmãs, chegou a pensar que iriam para um orfanato. Porém, tal hipótese foi descartada. Acabaram
sendo criados pela avó que, mesmo com dificuldades, conseguiu cuidar de 8 crianças.
“TRABALHAVA PARA AJUDAR EM CASA”
Desde os 12 anos trabalhando, conciliou escola e trabalho. Sempre ajudando em casa com dinheiro ganhado fora.
Começou em uma casa de pedras semipreciosas, fazendo o polimento das mesmas.
Logo após se desligar, foi trabalhar com o deputado Mario Mondino. Depois, entregando vianda, jornal e etc.
“Sucateiros da época”, completa ela. E, já com a carteira assinada, trabalhou na Nova Onda, como office-boy. Ficando lá por 2 anos.
Com a carga horaria de dois turnos, teve de mudar para a noite na escola. Houve confusão ao tentar mudar para o noturno,
pois não sabia que haviam duas secretarias, uma para o turno da noite e outra para os turnos da manhã e tarde.
Abordada pela secretária da Nova Onda, onde devia escolher entre trabalhar ou estudar, ficou com a segunda opção.
Dizia que estudando poderia chegar onde quisesse. Somente trabalhando, não. Mais uma decisão difícil em sua vida.
BRIGADA MILITAR/QUARTEL
Tamanha inocência e sem ter se descoberto ainda fizeram com que no dia 16 de agosto de 1876, pela primeira vez,
pisasse, sem saber, em um lugar de perfil machista, na Brigada Militar.
Lá, impressionou pela letra bonita, elogiada por muitos de dentro. Trabalhou com as compras da Brigada,
lidava com notas, faturas e borderôs. Como eram valores altos, erros não eram aceitos.
Conta que só não foi chefe porque na época não podia haver chefes menores de 21 anos. No ano seguinte, teve de se alistar no quartel.
Tempo depois, se apresentou. Passou pelos testes com notas boas.
Mesmo com a estatura de 1,65 cm tinha um bom perfil para servir, mesmo não querendo. Para poder seguir trabalhando
onde realmente queria, disse que já estaria prestando serviço em outro lugar, que tinha de ajudar a família e que também
estaria estudando. Se servisse, iria abrir mão de tudo que foi listado. Quinze dias depois, felizmente, liberaram.
HOJE/MUDANÇA
Antes de tudo, em 1976 começou o sonho de realizar a cirurgia de troca de sexo, sendo realizado em 2002.
Conta que, recém-saída da cirurgia, pediu para alguém a beijar. Pelo motivo de saber se cirurgia tinha dado certo.
"Beijo esquenta em cima e embaixo” brinca ela, sobre o ocorrido. Essa foi uma fase marcante em sua vida.
Nascida e criada em Porto Alegre, bairro Partenon, rua Homem de Mello, 270. Nunca mudou de endereço.
Mas aprendeu e viveu sua vida com inúmeras mudanças. Sendo elas por gosto ou não. Em casa, bilhetes e
cartas de amor fazem parte da decoração. Documentos da época conservados. Porém, foge quando entra em
pauta o assunto de fotos de antes ou durante a cirurgia de troca de sexo. O ritual é quebrado depois
de inúmeras tentativas. Simpática e receptiva, gosta de piadas e nao descarta, em hipótese alguma, um café preto.
Reside na companhia de 2 cachorros/filhos, nos fundos da casa onde nasceu (na cama de sua mãe).
Não é de pedir ajuda, faz o que pode sozinha. E, em vista disso, tem muito apreço pelo que conquista.
Agora, passados 57 anos, joga búzios e tarô em casa como finalidade de renda e usa o nome de
Mãe Fernanda de Oxum Ilê Axé Oxum Ogum, já possui dois livros escritos, não publicados e é aposentada da Brigada Militar.Recolher