Projeto: Memórias do Vale do Ribeira - Diálogos
Depoimento de Igor Rodrigues Giani Alves
Entrevistado por Danilo Eiji e Iamara Nepomuceno
Iguape, 27/07/ 2011
Realização Museu da Pessoa e Associação Núcleo Oikos
Entrevista: MVRHV003
Transcrição revisada por Iamara Nepomuceno
Igor Rodrigue...Continuar leitura
Projeto: Memórias do Vale do Ribeira - Diálogos
Depoimento de Igor Rodrigues Giani Alves
Entrevistado por Danilo Eiji e Iamara Nepomuceno
Iguape, 27/07/ 2011
Realização Museu da Pessoa e Associação Núcleo Oikos
Entrevista: MVRHV003
Transcrição revisada por Iamara Nepomuceno
Igor Rodrigues Giani Alves
P/1 – Para gente começar, para efeito de identificação da fita, queria que você falasse o seu nome completo, o lugar e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Igor Rodrigues Giani Alves, nasci aqui em Iguape, dia 9 de setembro de 1993. Como você disse, São Paulo estava sendo bicampeão mundial, nasci num hospital, num ótimo hospital que tinha aqui, ele fez lembrança porque infelizmente faliu, era um hospital particular daqui e fui um dos poucos que nasci aqui, do pessoal mais novo, porque esse hospital acabou em 1995. Sou músico, há 4 ou 5 anos comecei, não tenho estudo teórico de música, há 3 anos comecei com a parte de produção de eventos, festas, mas meu começo mesmo, na questão de eventos, foi no “Revelando São Paulo 2009”, não, 2010, foi meu primeiro evento, maior evento que eu produzi. Foi aqui em Iguape, na edição Vale do Ribeira, e desde lá produzo até hoje o Revelando São Paulo. Agora, há pouco tempo atrás, eu comecei a trabalhar junto ao Departamento de Eventos da Prefeitura, há 2 meses, devido ao Revelando São Paulo também, na parte de pré-produção e já começando com a festa de agosto. E, também, agora faço a parte de filmagem junto a uma produtora daqui da cidade de Iguape.
P/1 – Ta certo, a gente vai retomar tudo isso (risos). Então, antes da gente pegar e focar mesmo em você, queria saber um pouco da trajetória da sua família. Você conheceu seus avós, sabe da história dos seus avós, bisavós, você sabe a origem da família? Conta um pouco para a gente assim. Até onde você conhece a história da sua família?
R – É assim: a família do meu pai é totalmente iguapense, caiçara mesmo, meus bisavós são daqui, família tradicional assim, entre aspas, daqui. Eles moravam nas proximidades daqui, de onde estamos fazendo a entrevista mesmo, aqui do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), eles tinham casas próximas, então houve esse envolvimento, depois meus avós se conheceram, meu avô era funcionário da antiga SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias), que era a parte que fazia dedetização, o que a Vigilância Sanitária faz hoje na questão de insetos, na questão de zoonoses, era a SUCEN que fazia. A questão do combate da dengue seria a SUCEN que faria isso hoje. Não sei se ainda existe com esse nome SUCEN, mas é isso. Minha avó é costureira, dona de casa, ela costura assim, se virava bala de noiva, são coisas que, tradicionais daqui, por exemplo, festa de aniversário, sempre o pessoal ia lá, pedia, ela fazia, a questão de bolos de roda. Então é assim, minha família por parte de pai é bem caiçara, já por parte de mãe, minha avó é de São Paulo, meu avô é daqui de Iguape, morou em Registro, mas, devido à questão política daqui de Iguape, meu bisavô se mudou com toda família dele para São Paulo porque, devido ao tempo de Vargas, aqui a perseguição, ainda não assim... já foi pior, a questão de perseguição política. Aqui era dividido em dois grupos políticos, era chamado os “cocho” e os “berne”; era assim: tinham três famílias que eram de tal grupo e outras tais famílias que eram de outros. Hoje ainda existe essa influência tem candidatos que saem hoje e o pessoal fala “ah, esse aí é cocheiro”. Cocheiro é o pessoal do “cocho”, “berne” é o pessoal que não é governo, hoje em dia, aqui em Iguape, classificando, mas isso não existe, não existe entre aspas, ainda mais o pessoal antigo ainda acredita que exista; é isso que às vezes acaba atrapalhando a questão política daqui. Então, meus avós, meu bisavô foi pra São Paulo e depois, e lá, meu avô conheceu minha avó, tiveram dois filhos lá e retornaram a Iguape. Minha mãe conheceu meu pai aqui em Iguape, mas ela morou, fez faculdade e trabalhou em São Paulo, depois ela passou no concurso da Justiça daqui de Iguape, veio para cá e ficou. Então a gente vai sempre a São Paulo, minha avó já é aposentada, trabalhava no Instituto Butantã, meu avô era bancário, então é assim, as realidades sobre a questão familiar são muito diferentes, você vai ver uma realidade paulista diferente numa realidade daqui de Iguape, que Iguape é um conhecendo o outro, você vê um na rua, você já sabe o nome, chama de um jeito de outro; em São Paulo é diferente, tanto que, quando eu vou para lá, acho muito diferente, por mais que eu goste, porque tem muitos familiares lá que eu ainda não conheço, tanto que logo eu vou para lá, depois que eu acabar uma produção aqui, vou conhecer uma prima minha que tem 40 anos, eu vou fazer 18, e eu ainda não a conheço. A questão dessa realidade marca bem essa questão da família, a minha família daqui e a família de lá. Meus avós vêm para cá, eles alugam casa quando tem evento aqui e tudo, mas é uma realidade totalmente diferente.
P/1 – Eles te contaram como eles se conheceram? Seus pais?
R – Meus pais, eles se conheceram aqui, no carnaval, pelo que eu me lembre é isso. Aqui o carnaval é o melhor, é um dos melhores carnavais, o pessoal fala que é o melhor carnaval do Estado de São Paulo, porque é de rua, e é difícil ter carnaval de rua ainda no Estado. Aqui tem o Zé Pereira, que tem cerca de 170 anos, e ele é um dos únicos no mundo que obedece a tradição. O Zé Pereira é de Portugal, é um boneco de cartola, de barba, com um bumbo na frente, e sai numa charanga, aqui em Iguape a gente chama de charanga, que são instrumentos de percussão, de sopro que saem tocando marchinhas de carnaval, e essa é uma tradição daqui , tem acho uns 170 anos já, e Iguape é o único que obedece ainda essas tradições. E aqui também, foi assim que eles se conheceram, no carnaval daqui, devido ao meu avô mesmo indo pra lá, tinha parentes aqui em Iguape, então eles iam e voltavam para cá, se conheceram nessas noites de carnaval, porque a programação da praça acaba teoricamente cedo, meia-noite e pouco. Hoje em dia prolonga, mas antes era meia-noite que acabava, então o que você ia fazer de madrugada? No carnaval, que não tem nem dia, nem noite, então tinham os carnavais, os bailes de carnaval, então eles se conheceram, pelo que eu me lembro é isso, eles se conheceram nesses bailes que tinham aqui, aqui na cidade.
P/1 – Você desde criança foi indo para São Paulo?
R – É, não houve assim essa tanta... vou lá, moro um pouco, volto, não. É assim, é questão de você ir, fica um tempo lá, volta. Nunca morei em São Paulo, o máximo que eu fiquei é 2, 3 meses em São Paulo, estourando mesmo, porque aqui, minha família é daqui, funcionários daqui, então é difícil você conseguir ir para lá. Teve um ano que a gente quase se mudou para lá, mas não aconteceu, houve algumas mudanças, mas a gente permanece aqui.
P/1 – Por que que vocês quase mudaram? Que que estava acontecendo?
R – Não, é por questão de melhorias, às vezes condições de emprego, porque aqui o campo é: ou você vai trabalhar com a Prefeitura ou você é funcionário público do Estado ou você é comerciante ou pescador. Aqui não tem um leque de opções. Então, devido à questão política também, porque meu pai sempre foi funcionário da Prefeitura, mas quem não é concursado tem toda essa transitoriedade, porque entra um, sai um, entra um, sai outro, entra um, sai outro, então acontece isso mesmo. Aí, hoje em dia, ele é vigilante de uma empresa que presta serviço ao Centro Paula Souza, que é uma... do Estado de São Paulo. O Centro Paula Souza são as ETECs (Escola Técnica Estadual) do Estado de São Paulo.
P/1 – Me fala um pouco do... vamos retornando . Eles contavam para você como que era aqui a cidade antes? Seus avós, seus pais? O que eles contam para você, como que era Iguape antes pra você?
R – Então, meu avô por parte de mãe, ele teve uma infância mais na cidade de Registro, que é aqui próximo a Iguape. Aqui Iguape no tempo colonial,
recebia o ouro que vinha das minas, eram feitas as moedas, feitas as barras de ouro, aqui na casa de fundição de ouro, e ia para Registro. Que era onde se registrava o ouro, por isso que tem esse nome, Registro. Ele morou nessa cidade durante muito tempo, quando ele era mais novo. Por parte de pai, meus avós paternos,
já tiveram uma infância aqui, minha avó comenta muito,
dessa questão dessas crianças nas ruas, estilo homem na rua, mulher em casa, criança tinha esse horário, a molecada chegava, brincava o dia inteiro, empinando pipa, jogando bola, e aqui não tinha tanto acesso a modernidades,
bola de couro, então eram bolas de meia, e minha avó viveu muito, ficou mais com a mãe, mais em casa, ajudando em casa, estudando, minha avó ela tem até a, pelo que eu me lembro, ela tem a quarta série só. Aqui não tinha tanto acesso à escolaridade também, mas havia escolas, mas era, você conciliar a questão da casa e você ajudar seu pai e você querer trabalhar, dar esse sustento e estudar, eu pelo menos, eu percebo que era bem difícil. Nos tempos mais antigos, então ela é mais caseira. Meu avô, ele já, pelo que eu me lembre,
estudou e concluiu, já começou a trabalhar, mas desde novo trabalhando, porque, assim, a parte... a raiz da minha família por parte de mãe aqui, é uma raiz, entre aspas, política, porque meu bisavô era irmão de um (péra aí, deixa eu me localizar) minha bisavó é cunhada de um ex-prefeito, então você vai pensar a raiz com essa influencia. Então eles tinham, por parte de mãe, uma vida totalmente diferente, por mais que fossem casas próximas até, a casa onde hoje tem a família por parte de mãe com meus parentes, tios mais distantes da parte de sua família moravam ou tinham a casa próximo à casa onde era do pai da minha avó. E às vezes eu fico até pensando como que tão perto se, na verdade, tão distante e são coisas que a gente vai encontrar aqui em Iguape. Essa questão da vida deles, são realidades muito distantes, aí não dá para explicar muito.
P/1 – As famílias eram contrarias ao casamento?
R – Não, nunca.
P/1 – Tiveram esse problema?
R – Não, não tiveram esse problema.
P/1 – Você falou que isso é uma coisa muito frequente em Iguape, o que que você quis dizer?
R – Como?
P/1 – Então, porque você falou que essa questão das famílias está vinculada ou não com a política.
R – Não, porque é assim, aqui existem, é foi o que eu te falei, a questão dos cochos e...
P/1 – Eu não entendi direito, o que é essa...
R – Então, cocho é assim: era um grupo de 3 famílias, então, é que cada um conta uma história sobre isso. A base que eu sei é que, durante essas manifestações políticas, era aquele grupo, era o cocho e o berne. O cocho eles saíam pela rua, a manifestação daqui assim se você for ver, eu não consigo entender às vezes, porque é assim, eles saíam jogando milho na rua, essa era a manifestação de querer agredir o outro, tinha uma provocação ao outro, e já tem outras versões que eram de famílias que, era uma família que era dona de um sítio e outros eram donos de bois e que, desses, da questão do coronelismo, cada um foi para um lado da questão política e eles se enfrentaram, daí criou um grupo e criou outro. Existem essas duas histórias.
P/1 – De famílias aristocratas assim, é isso?
R – É.
P/1 – Famílias ricas contrárias.
R – É, famílias ricas contrárias, mas depois, conforme o tempo, isso foi passando mais, porque mudou o sistema político, aí foi passando, passando.
P/1 – Onde você aprendeu essa história, Igor?
R – De boca a boca, da família, desde meus sete anos de idade participo do jeito que eu posso de campanha eleitoral. Uma coisa, e não sou do lado da questão familiar, nunca fui ligado a essa questão familiar, sempre era do grupo contrário, então minha família sempre foi meio assim, devido às coisas que acontecem, às vezes, fui mudando o lado na verdade, porque você apóia aquela pessoa, aquela pessoa apronta uma com você, aí você muda de lado, não sem deixar sua ideologia,
mas você vê que aquele lado que você estava não era tão bom assim.
P/1 – Você esta lembrando do que, Igor? Do que você ta lembrando aí? Que manifestações foram essas? Que eleições foram estas ?
R – Então porque assim, aqui...
P/1 – Do que você já participou?
R – Ah, desde os meus sete anos eu participo.
P/1 – Dá um exemplo
R – Então, do jeito que eu posso. Ah, vai para carreata, vai para não sei o quê, vai carregar bandeira, vai segurar não sei quê... e é uma coisa que eu gosto,
não é uma coisa assim: “ah você vai fazer isso!” Não. Eu sou assim, se eu quero, eu faço, e se eu posso, eu faço. Se eu não, se não é do jeito que é pra ser, eu não faço mesmo. Assim.
P/1 – De qual que você participou pra contar pra gente, que você lembra?
R – Bom, participei... 2, 3, há umas 3 campanhas que participei.
P/1 – Campanha?
R – Campanha para prefeito, participei, mas naquele grupo. Até o ano passado, eu tinha participado daquele grupo, devido às coisas que apareceram, a questão do meu trabalho, tal, você começa a ter a visão, começa a ter um olhar diferenciado para a questão, através, amadurecendo também, convivendo, vendo as coisas. Porque eu percebi que não é só através da política que você consegue as coisas. Infelizmente, aqui, muitas pessoas acham que só através da política é que elas vão conseguir. Através do “eu te ajudo, você me ajuda” e não é assim. Uma das coisas que eu aprendi nesse tempo que eu comecei a caminhar com a questão de produção, com o trabalho cultural, com a escolar mesmo, quando eu comecei a tocar muitas pessoas falavam “ah, largue disso”, “não faça isso, está ruim”, “tá ruim”, “tá ruim”, até que um amigo meu falou assim: “ouça e veja o que é bom pra você”; quando ele falou isso, comecei a procurar meu rumo, por exemplo, sobre a questão musical, comecei a estudar; já na produção, comecei a ver qual que era o meu caminho, se era para a parte administrativa, ou na parte da correria e assim, você tem que provar com seu trabalho, não através de acordos,
“ah eu vou fazer isso aqui, mas lá na frente você vai me ajudar.” Não, muitas pessoas veem isso aqui devido essa questão política. Quando eu era novo, meu sonho era ser vereador, ser prefeito. Hoje eu já não tenho essa visão. Já vieram me procurar devido à eleição do ano que vem, mas eu acho que ainda não é esse caminho, tenho muita...
P/1 – Quando você era novo, você sonhava em ser vereador, hoje?
R – Hoje eu sonho em continuar meu trabalho. Assim não continuar, estruturar meu trabalho, para daqui para frente ser melhor. Não é querendo falar: “ah, é desonesto, tem muita corrupção, tem muito roubo”, não é isso, é a questão de ver que eu posso ser tal pessoa, ser desse meu jeito e ser (acabei me perdendo também) é assim, eu posso, a pessoa pegou e falou: “ó, você vai ser isso”, não eu posso ser isso, eu posso ser o que eu quero, pelo menos pra mim...
P/1 – Você tem alguma cobrança assim de família ou teus pais te cobram do que você vai ser ou não?
R – Não. Uma das coisas que eu falo até, comento com meus amigos, eles falam assim, muitos já foram embora, a gente concluiu ensino médio ano passado, muitos foram embora. Fala assim “meu, vai para São Paulo, vem estudar aqui, vem tocar aqui, vem não sei quê”, aí eu digo: “eu sei que eu tenho alguma coisa para fazer aqui em Iguape, ainda não sei o quê”, mas eu acho que eu posso contribuir, não sendo da forma política, como muitas pessoas vieram me cobrar, mas assim, com meu trabalho, na questão de eventos, na parte religiosa, que é como que eu participo também. Acho que eu posso contribuir muito. Nisso, sem precisar ir atrás dos outros.
P/1 – A gente vai retomar isso em breve, essa questão dos seus amigos, essa questão da profissão. Eu quero voltar um pouquinho antes. A gente comentou um pouco da infância, os seus avós, de como eram seus pais. Como foi a sua infância aqui?
R – A minha infância foi meio assim, da realidade caiçara, que o pessoal fala, da realidade daqui de Iguape, foi diferente. O pessoal, as crianças daqui, elas têm o costume, já como eu te falei sobre brincar, de ir para a rua, de ir lá empinar pipa. Eu tenho 17 anos e não sei empinar pipa! Eu tinha pavor quando a gente ia empinar pipa. Meu pai empinava pipa, eu olhava para cima, quando eu tentava, ela caía. Tentei várias vezes, mas não deu muito certo, mas era bem diferente. Com dois anos e meio, eu entrei na escola, estudei em escola particular aqui, durante minha vida inteira, gostava de muitas coisa que eu fazia, quando eu era novo. Fazia aula de caratê, fazia basquete, mas...
P/1 – Na própria escola?
R – Não. Basquete na escola, era uma coisa que eu gostava, mas tinha a questão de rua. Quando eu fui ficando mais velho comecei a mudar, a ficar mais à vontade. Antes eu era mais caseiro,
acordava, fazia o que eu tinha que fazer, estudava, ia para a escola, e depois voltava para casa. Era assim, sempre junto dos meus pais, devido essa questão de serviço deles, então a família estava sempre junta, minha realidade foi assim.
P/1 – Você brincava do quê? Qual que era a...
R – Iche.
P/1 – Que era mais em casa, né?
R – Era mais em casa.
P/1 – Que que era?
R – Sozinho, boneco com a minha irmã, assim, bonecos, bonecos, carros, eu gostava muito de carrinhos, de robôs, essas coisas. Mas a questão cultural mesmo não tinha, tanto que, quando eu comecei a ter esse envolvimento com com a cultura, aí que eu comecei a ver e agora que eu sou mais velho, eu falo assim, vejo criança brincando de vídeo game, e digo, “nossa tem tanta coisa para eles brincarem e se rendem à tecnologia”. Lógico, a gente não pode ser também quadrado, esquecer da tecnologia, mas eu vejo assim: putz, eles tão brincando lá, mas eu não penso no que eu fiz, que eu não fazia essas coisas. A questão de pular corda, que aqui em Iguape até hoje tem isso. Se você vier, no verão, as crianças estarão na praça, brincando, andando de bicicleta, jogando bola, essa é a realidade do iguapense, da criança que nasce aqui em Iguape, e essa não foi minha realidade. A minha realidade foi a de um paulista morando em Iguape, que é a rotina: casa, escola, casa de novo, e com meus pais sempre.
P/1 – E quando que você começou a olhar para essa cultura tradicional, o que que aconteceu?
R – Então, essa questão surgiu quando eu mudei de escola. Fui para outra, onde o professor, o professor Manoel, de Artes, que ele é artesão e mexe com
argila, então ele fazia as oficinas, como eu te falei antes, as oficinas de bonecões. Quando eu entrei nessa escola, entrei todo estranho, estava num lugar totalmente deslocado,
esse professor falou sobre as de oficinas de bonecos. Antes do carnaval, ia começar as aulas, quase um mês antes. Ele falou assim: “eu quero que vocês preparem bonecos, cabeções de bonecos”. Então, a gente começou, quem estudava comigo era a filho do Secretário de Cultura daqui de Iguape, e assim ela foi uma das pessoas que mais se tornaram bem amiga minha, até hoje, a gente ia pra escola e ficava mexendo com a cola de goma, com os bonecos, com o saco de lixo, pensando formas de fazer um boneco com materiais que eram descartados, na verdade, materiais recicláveis. A gente fez a base disso, com os latões de lixo, papéis, só a cola, que era feito com maisena fervida, então a gente passou mais de 15 dias assim, saíamos da escola, íamos em casa para almoçar e voltávamos. Então, assim, fui mudando os meus hábitos e mexendo também com a questão cultural. E nesse mesmo ano a gente começou a fazer, uma Feira de Folclore. Só falando de Iguape. E minha sala pegou as partes dos casarões, onde cada um tinha que pintar um quadro, o professor selecionou umas imagens e deixou comigo a Basílica, ele foi ensinando técnicas de pintura e, logo, nesse mesmo tempo, Revelando São Paulo, saí de Santos em 2011 foi a oitava, foram dois anos em Registro e o terceiro ano foi aqui em Iguape. Nesse mesmo tempo, começou o Revelando São Paulo Vale do Ribeira, aqui em Iguape. E era atrás de casa. Então, a parte de montagem, da estrutura, acho que ali foi começando meu encantamento por esta questão de produção, eu comecei a ver como que ia funcionando as coisas e ficava, passava a tarde inteira no Revelando, vendo os brinquedos. Daí que foi surgindo esse interesse pela questão cultural, por esse envolvimento da cultura.
P/1 – Você estava com quantos anos nessa mudança de escola? Você foi pra fazer o médio, o ensino médio?
R – Foi, foi com uns 10 ou 11 anos.
P/1 – Então foi antes; o Revelando São Paulo, você já tinha quantos?
R – Ah, quando eu produzi o Revelando?
P/1 – Não, quando você entrou? Quando você conheceu o Revelando São Paulo, você já tava com quantos anos?
R – Eu já estava com uns 12 anos.
P/1 – 12, então.
R – A partir dessa questão de ir lá, ver, existiu esse encantamento com a questão das feiras culturais, a pessoa vê aquilo e vê, como eu te falei, vê que eu posso viver sem a tecnologia, eu posso me divertir ao mesmo tempo estudando a questão cultural. Quando eu comecei a ver sobre o Revelando São Paulo, a questão cultural, pensei assim “nossa, como as pessoas conseguem?” Como que eles conseguem viver sem, a questão, pelo menos, dos indígenas assim. Hoje você vê indígena com televisão, com internet, mas a tribo que vem para cá, que vem representada aqui, eles têm uma vida diferente, eles têm a questão do artesanato, se pintam, se vestem, usam roupa, mas como a coordenadora deles falou, eles não são uma tribo “civilizada”, estilo totalmente “civilizada”. Eles pegam, como é um projeto, eles vêm, as pessoas que podem vir, para que possam trazer, para que possam participar do evento, mas você vê como que eles conseguem viver dessa forma. Por exemplo, eu tento me colocar no lugar deles e acho que eu não conseguiria viver em uma tribo, no meio do mato, por mais que eu goste da questão cultural, mas essa questão não me apetece muito.
P/1 – O que que você estranha nesse jeito de viver deles? Você está falando dos indígenas, deles, mas e o seu o que te você chama a atenção aí? O que que é estranho?
R – Não, não é estranho, é uma questão de costume. Eu falo assim, nada é estranho, é você se acostumar, para tudo tem a primeira vez, então você viver numa tribo, toda a questão, eles têm danças tradicionais, têm músicas tradicionais, e são coisas que causam muitas vezes, para as pessoas, uma questão muito estranha, entre aspas, as pessoas ficam meio, olham com outros olhos. Eu não vejo com esses olhos, assim, às vezes maldoso, mas é uma questão de curiosidade. Nessa questão de viver, eu acho que o maior problema é viver meio isolado, porque eles não vão viver próximo a uma cidade; para você chegar até uma cidade, você vai ter que pegar sua carroça, seu cavalo ou ir a pé, como os índios muitas vezes fazem, então isso que causa muita diferença, um impacto para mim.
P/1 – Então deixa eu pensar, queria entender como é o seu dia a dia, como que você vive, conta um dia seu por exemplo.
R – Hoje em dia, meu dia normal está sendo acordar, eu não tenho, eu falo até assim, meu dia podia ter 30 horas porque é difícil, porque você pega, acorda, toma um café, toma seu banho para acordar e vem trabalhar. Trabalha, almoça, acabou o almoço, volta para trabalhar e daí vai. Por isto, às vezes, eu falo que tenho que ter 30 horas, porque eu, tem dias, que tenho muita coisa para fazer. Quando chega os períodos de eventos, ainda, exige muito, você esta ali, vendo detalhes, agendando as coisas, colocando tudo em ordem. Eu hoje tenho uma realidade, pelo menos para festa de agosto, que é o que esta se aproximando, que é de chegar, acordar, ir trabalhar; vou para casa, almoço quando dá tempo, se não eu fico e almoço num lugar mais próximo, volto para trabalhar; acabou o trabalho, eu vou ensaiar ou, muitas vezes, vou para igreja,
tem muitas coisas. Igual, eu faço parte do movimento da igreja católica, que é “Renovação Carismática Católica”, que é um movimento diferenciado, não é diferenciado, pelo menos aqui em Iguape, as pessoas mais antigas, eles nos veem, às vezes, com maus olhos porque não conseguem entender ou pode ser preconceito mesmo, ou esquecem que a igreja é uma só. Então, é assim, eu
saio, trabalho, quando acabou o trabalho, eu saio novamente e vou para as outras atividades que eu tenho a fazer, então eu saio 9 horas da manhã de casa, chego 9 horas da noite em casa. Tem dias que eu tenho que sair no meio do trabalho para ensaiar, depois eu volto. Então, tem gente que fala que o caiçara às vezes é acomodado, então eu falo assim, “então, não sou caiçara, porque não dá”. Quem gosta de trabalhar não é acomodado, então minha realidade é correria total, sempre. Quando eu não tenho coisa para fazer, eu dou um jeito.
P/1 – Você tocou numa coisa interessante. Você se vê como o caiçara? Esta é uma pergunta importante (risos, deixa eu só ver uma coisa).
(interrupção, pausa, falando ao telefone)
P/1 – Bom, então vamos retomar?
P/1 – Igor, você estava falando dessa questão de... do pessoal falar que o caiçara é acomodado, você falou, se é isso, então não sou caiçara. Você se vê como caiçara?
R – Me vejo, tem uma amiga minha de São Paulo que falava, na primeira vez que ela veio para cá, quando eu começava a falar ela me olhava, e dava risada devido ao sotaque, mas, sim, caiçara “peixe com farinha”, a questão do peixe, da farinha do mumuna. Assim eu me vejo como caiçara mesmo, os pratos, a questão cultural, sou fascinado por isso, acho que eu não conseguiria viver sem. Se eu passar um mês sem comer um peixe, sem ver alguma coisa, sem correr atrás, sem ir atrás, sem ir à igreja, da questão religiosa, sem ir lá ver o Bom Jesus, que é do aqui do Vale do Ribeira, a questão dos caiçaras, acho que eu não conseguiria, acho que eu não consigo na verdade.
P/1 – O que é o ser caiçara?
R – Ah, iche, aí você vai abranger demais.
P/1 – Para você.
R – Para mim? Difícil falar o que é ser caiçara. Acho que ser caiçara é você ver as coisas não com, pelo menos eu penso assim, eu não consigo ver uma rabeca, que é um instrumento caiçara, como um objeto de decoração como muita gente vê. Rabeca, que é um instrumento de fandango. Eu sei que aquilo vai ter uma utilidade, para tudo se tem uma utilidade, o caiçara é assim, para tudo ele dá um jeito. Pelo menos eu vejo o caiçara assim: “ah, vamos fazer não sei o quê, vamos”. O caiçara não tem tempo ruim, tem gente que acha que é assim, mas, pelo menos a meu ver, o caiçara não é assim, ele tem muitos valores que muitas vezes as pessoas não conseguem enxergar. A questão da pessoa olhar para uma estante de palha de bambu ela saber: “ah, quebrou aquilo, eu vou ali dar um jeito”; o caiçara, ele é assim, ele vai conseguir, ele sempre tem um jeitinho para arrumar, para fazer as coisas, pelo menos é assim que eu vejo o caiçara.
P/1 – Me deixe pensar um pouco, focando na sua vida, nos seus amigos, como que é esse jovem iguapense, que eles costumam fazer, qual que é a diversão, por exemplo, do pessoal da tua idade em Iguape?
R – Bom, penso que a minha maior diversão, com alguns amigos, assim amigos da minha idade eu tenho poucos, são 2, 3, eu tenho amigos mais velhos, 20, 25, 30 anos. Não sei se é a forma de pensar, eu não consigo, muitas vezes, lidar com pessoa que tem, às vezes, cabeça pequena, às vezes só tem idade ou só tem tamanho, e não tem a mente aberta. Eu gosto de lidar com pessoas, assim, de mente aberta. Então, na minha realidade de jovem aqui de Iguape, com meus amigos, todos os dias, quando acaba o serviço, já que a gente não trabalha no mesmo lugar, a gente se encontra, senta, conversa, coloca quase todo dia a conversa em dia, assim, estilo “ah, pô, o que você fez?”, “ah, deu tudo certo?”, “pô, ta precisando de ajuda?” O jovem, pelo menos assim a minha visão, essa questão é, assim, de um ajudar o outro, é “ah, você esta precisando do quê, então vamos ajudar”. Acho que isso, um dos valores também, que se tem aqui em Iguape , existem pessoas que não são assim, mas a maioria é assim: “Oh, você está disposto? Vamos ajudar, então vamos sair vamos ajudar, vamos nos reunir para conversar, ver o que está acontecendo”, assim pelo menos.
P/1 – Se reunir aonde? Onde vocês vão, para a praça, ...?
R – A gente vai para a praça, tem um casarão aqui que é da família de 2 pessoas, de 2 primos que fazem parte, que são meus amigos. Um trabalha com som, outro trabalha com a parte de informática, e é assim, começou essa reunião de amigos quando tinha um; no começo do ano, foi um festival aqui em Iguape e era assim, a gente ia ensaiar, cada um ensaiava num lugar, porque cada um fazia parte de uma banda, e a gente tinha uma banda junta só. Então, cada um ia fazer o que tinha que fazer e, a partir das 3 horas, como a maioria está de ferias, às 3 horas a gente ia se reunindo, então a gente ia sentando no lugar onde tinha sombra que é a calcada do lado da igreja, ia sentando, se reunindo, reunindo, reunindo, e a gente ficava ali, “ah ceis vão tocar o quê?”, “ah, então, vamos montar repertório”. A gente ia lá, montava repertório, fazia o que tinha que fazer, então dizíamos era o nosso escritório. A gente fala 'nosso escritório é ali”, estilo é na frente da casa onde fica o casarão, você atravessa a rua é a igreja, então é nosso escritório; então, todos os dias a gente sentava ali e colocava a conversa em dia, depois a gente pegava, cada um voltava para sua casa; à noite alguns saem, outros não saem, a gente pegava e saía com quem, com quem sai. Sai, bebe, conversa. Eu mesmo, sendo menor de idade, mas é assim. Eu sou, o pessoal fala assim: “você tem 17 anos?”, “não pode ser, você não tem 17 anos”, e eu saía com meus amigos, assim, não vou falar, eu me divertia porque bebia, mas era estávamos conversando, nos divertindo, então é assim, pelo menos a minha, a visão do jovem daqui, a minha é assim: se reunir, ver como está a vida de cada um, se precisa de ajuda ou não. É assim um se preocupando como outro, vê como que são as coisas.
P/1 – Daí vocês se reuniam para tomar uma cerveja na praça, e quê, iam para algum lugar, festa, como que é?
R – Não. Na parte da tarde, a gente ficava assim: comprava 2 litros de Coca e tomava; então até hoje a gente faz isso. A partir dali se criou o escritório, que a gente fala, então quase todos os dias vamos lá e fazemos isso. Vai lá, compra 2 litros de Coca, bebe, aí conversa, às vezes a gente chega lá 5 horas, sai dali 10 horas, e fica ali se divertindo. Já aparece um, outro, mas não é um grupo, que a gente fala, um grupo fechado. Não, ali é o nosso lugar, a gente fica ali, conversa, e é assim, pelo menos a minha visão é essa. É, tem gente que fala assim: “pô, você é irmão daquele cara?” Porque eu sou parecido com um deles, “você é irmão daquele cara?” Eu falo assim: “de sangue, não”, mas, assim, o que ele me ajuda ou o que às vezes eu posso ajudar ele, acabou criando uma questão de família mesmo, e o jovem daqui é bem isso mesmo, família. “Ah, vamos sair? Vamos. Ah, o que você vai fazer hoje à tarde? Ah, não vou fazer nada. Ah, então vem aqui, vamos fazer alguma coisa.” Acho que essa é a realidade do jovem.
P/1 – E a questão, por exemplo, as drogas? Como é que está essa, com o pessoal da sua idade, o pessoal mais novo, a questão da violência, como que isso vem aqui pra Iguape?
R – Então, aqui a questão da violência não é tanta, a questão das drogas é maior; tem bastante aqui em Iguape, a questão do tráfico de drogas. O menor, às vezes, se envolve muito com essa questão, mas não, pelo menos o meu posicionamento não... Acho, assim, o jovem pode muito mais, pode fazer muitas coisas, se divertir muito sem as drogas. Eu pelo menos vejo assim. Você não precisa, “aquele sofreu muito, por isso que ele é drogado”. Acho que isso não é motivo para esse posicionamento: “ah, ele é drogado porque o pai se separou, porque a mãe se separou”, ou porque... Eu não vejo assim, mas aqui a questão das drogas é alta. A questão da maconha, drogas de baixo custo, mas existe bastante.
P/1 – Você nasceu aqui e está com 17 anos. Você viu bastante neste tempo. A cidade, pensando na cidade, ela mudou muito?
R – Hoje em dia pelo menos, assim eu vejo, se você procurar,
verá que ela mudou. São feitas oficinas, aqui, muitos casarões estavam muito danificados, então eu vejo a questão da beleza da cidade. A questão do próprio IPHAN aqui o CONDEPHAT(Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), que agia aqui em Iguape, agora o IPHAN, desde 2009, parece, pelo que eu me lembre, é final de 2009 - 2010 quando teve a homologação do IPHAN, e mesmo a casa do patrimônio, então são feitos projetos para a cidade, você vê a cidade com outros olhos, os casarões sendo restaurados, a questão da fachada, a questão da praça, as praças sempre estarem limpas, a questão de eventos também, eventos culturais, festas religiosas. Isso eu acho que é assim. Iguape vem, cada vez mais, melhorando nessa questão da valorização do município, que era meio perdido. Era “Iguape está aí, esta tendo obra em tal lugar, vai ter uma festinha lá”, porque às vezes o povo só quer saber de festa, ele não quer saber como que está a cidade, “ah, vai ter show em tal lugar”, “ah, então, a cidade ta boa” e não é bem assim. Hoje eu vejo Iguape como uma cidade, não é mais uma cidade, ela é “a cidade” Iguape tem uma grande importância para a questão cultural, para a história do país, tem a questão religiosa, é a terceira maior festa do Brasil, a festa de agosto, que acontece aqui entre os meses de julho, final do mês de julho, e o começo do mês de agosto. São 10 dias, são 200 mil pessoas que Iguape recebe e a cidade tem, segundo a última pesquisa, 33 mil habitantes. Você saltar de 33 mil a 200 mil pessoas sendo recebidas numa cidade, ela tem que estar preparada. E hoje eu vejo que Iguape está preparada. A questão cultural, de obras, tudo, você vê uma cidade bonita, porque Iguape já é bonita, mas, se deixassem do jeito que estava, ela ia se danificar.
P/1 – Você viu uma melhora então?
R – Vi muitas melhoras.
P/1 – Igor, mas me fala, você ao mesmo tempo falou que, quando você se formou no ensino médio, vários amigos foram embora. E como foi isso com seus amigos, que que tava acontecendo? Você chegou a pensar em ir embora também?
R – Não, foi o que eu te falei, eu não pensei em ir embora, porque é assim, a minha realidade, não sei se é a minha realidade ou a das outras pessoas, mas
eu penso ter alguma coisa para fazer aqui. Eu não ia embora, largar tudo à toa, eu tenho meus compromissos, além da minha vida musical e religiosa aqui, então é assim. Lógico, pode ocorrer de eu ir embora? Pode! Mas eu não consigo me ver ainda fora daqui, devido às minhas raízes e a todos os meus compromissos com a cidade. Sobre a questão dos meus amigos irem embora, muitos foram, alguns ficaram, mas eu me afastei. Não sei se eu me afastei ou eles se afastaram, mas a gente se afasta, muito até. Hoje, se eu for ver as amizades que eu tenho, que eu tinha, um dia desses eu estava conversando com uma amiga minha, eu falei assim: “hoje eu não busco quantidade, eu busco qualidade, porque eu sei que os amigos que tenho aqui, que são poucos”. Eu sei que esses amigos vão ser meus amigos mesmo, para o que eu precisar, ou para o que eles precisarem de mim, e se afastaram mas eu acho que outros virão. Amigos a gente encontra em vários lugares, e muitos se vão; mas eu acho que os que ficam, ficam para contar a história, então acho que essa questão de se afastar acontece mesmo.
P/1 – Você comentou sobre os seus compromissos com a cidade, que você tem na cidade. Um é a questão da música. Conta pra gente, isso é uma coisa relativamente recente. Como você foi descobrindo a música, conta pra gente seu envolvimento com ela, sei lá, apresentação, enfim como que...
R – Então á assim: aqui em Iguape tem a Banda Municipal Maestro Aquilino Jarbas de Carvalho ela já foi...
P/1 – Como é que é?
R – Banda Municipal Maestro Aquilino Jarbas de Carvalho. Esse é o nome da banda; e dentro, inserido nesse projeto, funciona o Centro Paulo Massa, que é assim: são dois maestros daqui de Iguape, dois ícones da música iguapense. Hoje, se você for estudar história da música em uma faculdade, você vai encontrar o nome do maestro Aquilino. Tem pessoas que conhecem Iguape devido a ele. Uma pessoa, um arranjador de músicas, ele é o fundador da Banda Santa Cecília, que existe há mais de 100 anos, e é essa questão tradicional. A Banda Municipal, ela foi 12 vezes campeã estadual, já foi campeã nacional, ganhou vários prêmios, inclusive no Chile, e ela começou em 1991, de um projeto que foi crescendo, eles iam para títulos, e a essa banda foi crescendo. Em 2000, a banda mudou de lugar. Eles foram para o prédio do antigo hospital, feliz lembrança, que era maternidade, que fechou em 95. Em 99 eles abriram lá, a banda, para aproveitarem o prédio. E esse prédio ficava a três casas da minha, então é assim, eu escutava, escutava eles tocando, via o pessoal por lá. E, assim, você vai crescendo e você fica “pô, vou tocar, pô, quero aprender, eu quero aprender”, e todas as vezes que eu ia lá, nunca tinha vaga. Por incrível que pareça, todas as vezes que eu chegava lá, “quero aprender a tocar saxofone”, ah, não tinha vaga, “não tem vaga, não tem vaga, não tem vaga”. Aí depois eles mudaram de novo e eu comecei a acompanhar a partir de 2001. Não tinha amizade com o pessoal da banda, mas eu ia
acompanhando e tentando entrar na banda, porém eu não conseguia. Há pouco tempo, quando eles foram campeão em Santa Rita do Passa Quatro, acho que foi em 2006, eu comecei a criar amizade com outras pessoas. Por estar sempre vendo ensaios, por algumas pessoas eu conhecer, da nova geração, que a gente fala, por isto, tive a questão do envolvimento com a Banda Santa Cecília, então eu fui conhecendo essas pessoas, conhecendo, conhecendo, aí logo, uma vez, eu fui a uma formatura, criei amizade com um cara que ele tocou na escola onde eu tava aprendendo a tocar percussão. Na verdade é assim: eu comecei a tocar em escola de samba, então você vai querendo aprender, desvendar, como o cara esta tocando aquilo. Então, eu comecei ali, tocando tamborim, e depois eu comecei lá na escola, eu comecei a lidar com fanfarra, eu fui cada vez mais conhecendo essas pessoas da banda e criando amizades, amizades, e cada vez mais amizades, até que um dia um cara chegou e falou assim: “você não toca nada?” Aí eu falei assim: “eu toco percussão”. Ele disse: “ah, eu to montando uma banda”. Aí eu falei: “Vamos”. Nem pensei. Não tinha nada, não tinha instrumentos, não tinha nada, falei vamos, eu tinha assim, estudo, mas na questão visual, a pessoa ensinando, eu dando uma olhada e tal, mas estudo mesmo, que conta dentro de uma banda, de aula, a questão de técnica, de leitura, eu não tinha. Falei “vamos”. Deu dois meses, eu estudava com o pessoal, ele falou assim: “ah, a gente vai tocar tal dia”; eu falei: “mas como, né?” Era a minha formatura, ainda de 8ª série. “Ah, mas como né?” “Ah, a gente vai tocar”. Eu falei assim: “ah, então vamos chamar fulano de tal pra tocar”. Aí eu fui e chamei um cara para tocar no meu lugar, aí eu peguei e cantei só, eu fiz com outro cara e cantei. Ficou ruim pra caramba, por causa do som, a gente estava começando, todo mundo começando a estudar. Aí, dali em diante, eu comecei, o cara arranjou uma bateria, eu comecei a estudar. Estudando assim: ouvindo música e tocando, ouvindo música e tocando, aí dali eu fui aprimorando, aprimorando, aprimorando, essa amizade com o pessoal da Banda Municipal foi aumentando, o pessoal foi embora, o pessoal da geração antiga foi embora, ficaram algumas pessoas, e depois eu recebi um convite para entrar na Banda Santa Cecília, que até hoje eu estou, e estou hoje também na Banda Municipal. Consegui uma vaga depois de muito tempo, agora que eu estou vendo a questão de leitura, de estudo mesmo, a questão de estudo teórico. E assim foi meu envolvimento com a música.
P/1 – Tem algum show que você lembra pra contar pra gente, alguma passagem?
R – Ah, então foi o que eu falei, o primeiro, que foi horrível, mas assim, tem vários. Teve uma vez que a gente pegou, tinha uma amiga nossa, ia fazer 15 anos, e o baixista era primo dela e eu muito amigo do primo dela. Eu falei assim “meu, vamos tocar”, “vamos tocar no aniversário dela, fazer uma homenagem”. Aí, “ah vamos, mas não vamos ensaiar né?” “Não, não vamos”, “então, ta bom”. Ele morava em São Paulo, aí ele veio dois dias antes, aí ele passou em casa e falou assim: “ô, vamos ensaiar, vamos passar as músicas”; aí ta, a gente tocava rock, mas não era rock pauleira, era pop rock e uns hardcors. Nós inventamos. Começava a música e começava o parabéns, fizemos um repertório rapidinho tal, chegamos no aniversário e já tinha uma banda, de uns amigos nossos tocando, amigos mais velhos, pessoas que já têm muito tempo de estrada, o baterista já tocou com vários grupos famosos, foi uma pessoa que ajudou o grupo Fat Family a ser assim um dos. Ele tocou, pelo que eu me lembre, é um grande amigo meu hoje em dia, eles estavam tocando. Quando o pai foi subir para falar, fazer o, quando a banda deu um intervalo, ele falou assim: “agora eu vou chamar...”, o cantor falou assim: “agora eu vou chamar”, porque a gente já tinha combinado com o cantor da banda, a gente tinha o nosso cantor, mas a gente tinha combinado com ele pra ele chamar a gente, aí ele falou assim: “agora eu vou chamar...” Aí o pai dela pegou e foi indo, porque o pai dela ia cantar antes do parabéns, o pai parou assim, aí ele “agora vou chamar o Felipe, que é o primo dela que trouxe a banda dos amigos e eles vão fazer uma homenagem pra ela”. Aí o pai dele, o tio dele que era o pai da aniversariante, fechou o braço e falou assim: “ó lá hein? Não vão aprontar, não vão aprontar”. Daí a gente foi lá e tocou assim quatro músicas, assim rapidinho, o pessoal queria mais, falou “não, não, não”, e o som foi muito bom. Todo dia, toda vez que a gente se encontra, a gente fala assim: “meu que som foi aquele!”. Foi uma... em cima da hora, mas ficou legal, e pra mim marcou bastante, foi quando a gente escolheu o caminho da banda, “ó, a gente vai tocar isso, ficou legal a pegada, ficou legal você tocando, você fazendo isso, você fazendo aquilo”. Então, isso me marcou, e também na questão da amizade, que daquele dia eu falei assim, “pô, eu gosto de tocar com eles, quando eu toco com eles o som sai bom, quando eu toco com fulano de tal o som sai bom”. Foi dali que eu comecei a tomar o caminho para escolher assim “ah, eu vou tocar isso, eu vou tocar um soul, vou tocar um funk”.
P/1 – Essa é a linha da banda, soul, funk?
R – Não, a banda tem outra linha. Aí, depois a gente foi pegando. Montamos, depois, eu e mais o baixista, devido à nossa amizade aqui, a gente saiu, e um dia pegamos e, com uns amigos de São Paulo que moram em São Paulo mas são daqui, eles falaram assim “vamos montar uma banda de samba rock”. Aí está, vamos montar, montamos a banda. Chegou no dia, a gente estava na praia, recebi o telefonema, eu não tocava com eles, recebi o telefonema, falou assim: “ah, como que é o mapeamento de palco, tal?” Aí eu comecei a passar,
porque eu estava com eles, eu comecei a passar, aí “que nome vai dar para banda, que nome vai dar para banda tal?” e nada. Aí um falou assim, como que era? Era Samba Rock S/A. Aí a gente falou “vai assim mesmo, vai esse nome”. Aí, uns dias depois, a gente saiu, estávamos brincando porque tinha um amigo nosso que estava muito, mas muito bêbado, aí ele não conseguia falar “samba”, ele falava “zamba”, “ah, vamos tocar um zamba”. Aí a gente, conversando ainda sobre essa banda depois da apresentação, uns dias depois da apresentação. Quando a gente estava lá no barzinho daqui e começou a chover, nessa que começou a chover, caiu um pingo na comanda do garçom, aí ele não conseguia ver o valor da comanda, quanto dava. Então dava, assim, quase 100 reais, o valor era mais ou menos 100 reais. Ele escreveu embaixo “mais ou menos cem reais”. Aí a gente juntou tudo e ficou: “Mais ou menos zamba”. Então, hoje a banda, a gente tem a formação aqui, quando tem o festival, e tem uma formação lá em São Paulo, que são com as pessoas lá de São Paulo. O baixista ta lá e o percussionista também; então eles fazem os barzinhos lá de São Paulo, e ficou, então, acho que esses dois fatos foram uma das coisas que mais me marcou na questão musical.
P/1 – E hoje vocês tocam em festivais, é isso?
R – É festival aqui ou, às vezes, tem, bandas e barzinhos, e grupos de barzinhos que ligam e “ah, dá para você tocar?”, “ah, vamos”. Aí a gente vai lá e toca ou, às vezes, a gente se reúne para tocar. A última banda assim que eu meio produzi foi a banda Radiola, que é a banda daqui, do amigo meu, que eu fechei; minha formatura foi em dezembro, em março eu tinha toda a formatura fechada já. Eu fechei com eles em março e dali em diante eu comecei, a fazer a correria, “ah, vai ter festa de15 anos?”. Aí ia lá correndo atrás de quem ia, pra fechar com eles, então é assim. O músico, aqui em Iguape, ele não é assim, não dá para ele ter uma linha. Aqui a influência da música é muito grande. O pessoal fala que o iguapense é embaçado para música, porque o talento, o dom que o iguapense tem para música, você vê. Eu tenho uma amiga de 14 anos que ela está na, é, agora acho que ela já fez 15, mas quando ela tinha 14 anos, ninguém acreditava, o som dela, assim, sabe, faz parte de um grupo de choro daqui de Iguape; ela, hoje, está estudando na Municipal, lá em São Paulo. Então é assim, o dom do iguapense para música é muito grande, coisa assim de você ficar vendo e, se você for avaliar, é muito. Você não vai conseguir avaliar direito, teve uma vez que um cara falou assim “o iguapense é foda para música”, e se você for ver é, porque você vê crianças, você entrega o método para elas de música, que aí ela vai ali e olha e começa a tocar. A influência musical para cada um do iguapense acho que é muito grande aqui. Essa questão da música é então...
P/1 – Essa influência musical, você tem vários gostos aí, é isso?
R – É, a gente tem ícones aqui. Igual, aqui em Iguape, tem uma valsa que a gente, o nome dela é Saudade de Iguape, é como se fosse um hino de Iguape. Um homem veio pra cá, se apaixonou por uma moça e foi embora; no caminho de ir embora para a cidade dele que eu não me recordo agora, ele estava indo de barco, fez a letra da música e mandou para os amigos que eram músicos daqui de Iguape. Então, quando você vai falar sobre esses amigos músicos, você vai mexer com ícones da música daqui de Iguape. Que é seu Peniche, que era o clarinetista, fundador da Santa Cecília, Banda Santa Cecília, você vai falar sobre Aquilino Jarbas de Carvalho, que hoje você encontra ele em vários meios de estudo musical, você vai encontrar o nome dele, é, Paulo Massa. O pessoal fala assim: “eram boêmios”. Normalmente o pessoal fala que boêmio era vagabundo, mas esses boêmios contribuíram muito para questão musical de Iguape, e para essa questão de tradição musical, porque foi uma coisa que foi passando de família em família, e foi criado o Centro Musical, então isso vai passando, isso é um incentivo. A banda, há um tempo, deu uma recaída, mas a Prefeitura conseguiu colocar ela, e a gente está voltando, estamos caminhando aos poucos, mas a gente vai caminhando, as dificuldades aparecem, mas...
P/1 – Todos esses nomes que você citou são iguapenses, é isso?
R – São iguapenses.
P/1 – E eles eram o quê? Maestros? Eu não entendi.
R – Não, eles eram músicos; não, se você for ver, eles eram músicos autodidatas, não tinham esse conhecimento teórico. É aquela coisa na prática: “ah, vou tocar, mas vou tocar aprendendo, na estrada”. Tanto que a gente fala que uma das coisas que a gente mais aprende é na estrada. Eu aprendi muito tocando, quando eu recebi convite, “ah pô, vamos tocar no réveillon”, ah ia, ia tocar no réveillon. Foi uma honra pra mim, porque é assim, aqui em Iguape tinha a Banda “Pirâmide”. Banda Pirâmide era uma das melhores bandas que tinha aqui, assim, no Estado de São Paulo. Ela... existem ainda algumas bandas, infelizmente a Pirâmide acabou, o pessoal foi saindo, entrou gente, saiu gente, mas vinham pessoas; começou com algumas pessoas de São Paulo, onde o Zé Juca, era o nome dele, ele estava, pelo que eu sei, eu sempre estou lá com a família dele, direto, é onde é nosso escritório, então acho que essa influência musical também se deve a isso. Ele foi a São Paulo e viu um cara cantando e um outro tocando e tal, e ele queria montar essa banda. Aí ele foi buscando, foi pegando um, foi pegando outro, foi pegando outro, e montou uma banda e essa banda tomou proporção que eles tinham seu ônibus, iam viajar; dali eles tinham equipamento de som, foi uma banda, assim, se você for comparar com as bandas daquela época, 1980, 90, era uma banda de alto nível, completa, se você for ver era uma banda show mesmo.
P/1 – Tocava o quê? Pirâmide?
R – É Banda Pirâmide. Tocavam tudo, tudo, banda de baile.
P/1 – Banda de baile.
R – É, se fantasiavam, tinham os temas, então essa banda também é um marco para Iguape, porque muitas pessoas se inspiram. Tem músicos dessa banda que você chega em São Paulo e fala assim “ah, eu sou de Iguape”, você chega numa loja de música e fala assim “eu sou de Iguape” e perguntam assim “você conhece fulano de tal?” Daí se responde “conheço”; daí fala “pô, ele tocava muito, era do Pirâmide”. Muitas pessoas conseguiram um caminho, pessoas daqui de Iguape, conseguiram um caminho por causa dessa banda. Então, é um divisor, você vai ver a música, é um marco para Iguape, a questão das bandas que passaram por aqui, ou as bandas que ainda continuam aqui.
P/1 – Igor, então, você tava falando a questão da música e tal. E a questão de trabalho para o jovem, como que é? Como foi seu primeiro emprego?
R – Emprego registrado ainda nenhum, mas em questão de trabalho mesmo foi o Revelando São Paulo.
P/1 – Bom, o que que é esse Revelando São Paulo e como foi que você entrou nele?
R – Então, Revelando São Paulo foi, eu fui convidado para entrar devido ao meu envolvimento com a questão cultural, com a questão de oficinas que eu fazia na escola e pelos trabalhos que eu fazia dentro da escola. O Carlinhos, que é o diretor de turismo daqui, diretor de Cultura daqui de Iguape, ele me convidou, perguntou se eu estava interessado. Eu já participava dos festivais daqui, festivais de música. Ele chegou, eu estava na casa dele conversando com a filha dele, ele falou assim “você esta interessado em produzir o Revelando São Paulo?” Aí eu pensei e falei assim “ah, vamos.” Eu gostava, gosto muito do evento, falei “vamos”. Aí foram feitas as reuniões, e eu comecei, logo assim, com umas ou duas semanas, e começou o serviço. Eu fazia a parte de recepção de grupos, onde os grupos chegavam, tinha uma planilha, e a gente os recepcionava, marcava o horário de chegada, e ia colocando-os em ordem, é para a apresentação de palco, sempre se comunicando por rádio com as pessoas que trabalham no palco e na administração. E, assim, no primeiro dia eu fiquei meio perdido, você não esta acostumado; no segundo dia, eu comecei a tomar gosto, daí fui, fui, fui e o pessoal ajudando, ajudando, “ó, hoje você vai ter que fazer isso tal”. Aí, no terceiro dia, eu já percebi que eu não estava mais fazendo só portão e palco, eu já estava prestando atenção “precisa não sei quê”, “ó ta acontecendo tal coisa”, e eu ouvindo e percebendo que eu podia ajudar, porque eu sabia o que estava acontecendo. Então, assim,
nessa questão da produção, o que me marcou foi o Revelando São Paulo, porque eu percebi que eu podia fazer mais do que uma coisa, a pessoa falar “ó você vai fazer recepção, recepção de grupos”, então ta bom, então eu vou ficar aqui, o pessoal vem, eu anoto, passo e pronto. Eu percebi que eu podia ajudar mais, eu podia fornecer mais do que eu estava fornecendo para o serviço. Quando a gente fala de Revelando São Paulo, a gente não fala sobre, eu recepciono grupo, você é palco, você vai fazer a parte de administração, você é produtor, você é culinária, a gente não vê assim. A partir do momento que a gente passa o portão e entra dentro do espaço onde acontece o Revelando São Paulo, eu não sou mais Igor, eu sou Revelando São Paulo, a gente é uma equipe só, uma família só. A gente presta, o Revelando São Paulo é um festival da cultura tradicional paulista, esse ano já ocorreu em Iguape. A última edição foi em São José dos Campos, agora em junho, em julho, foi em julho a última edição, já passou por Iguape; em setembro vai ter a edição Capital. Foi feito um em, acho que foi no Alto Ribeira, não estou recordando a cidade certa, porque é assim, teve um ano que foram seis Revelandos. Esse ano, pelo que me parece, são quatro Revelandos, só que vão ter durante o ano. É assim, acabou o Revelando daqui, eu já, nesse ano de 2011, eu fiquei com a parte de produção, eu fiz a parte de pré-produção, aonde eu ia me comunicando com os grupos que vinham, com a coordenação de produção, que é a “Abaçaí Cultura e Arte”, que a sede deles é lá em São Paulo, onde eles veem toda a questão do mapa cultural paulista, é uma pelo que eu entendo, pelo que eu sei, é uma ONG onde eles prestam serviço à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, Virada Cultural, Mapa Cultural e Revelando São Paulo.
R – Congadas, com os Moçambiques, com as folias de reis, com a questão do fandango, é toda uma questão cultural que você consegue, você tenta transmitir tudo isso no Revelando São Paulo em cinco dias. Em São Paulo é diferente porque você junta todos os Revelandos em um só. Ele, todos os anos, aconteceu no Parque da Água Branca, lá na Barra Funda. O ano passado ele aconteceu no Parque do Trote, lá em na Vila Guilherme. Aí lá é maior, a proporção é maior, você vai ver os jongos, ver toda a questão dos jongos. Esse ano teve um diferencial que foi a questão dos quilombolas, esse ano, os quilombolas, fizeram um estande aqui, falando sobre os quilombos, então isso que é o Revelando São Paulo. Cada vez mais, você conhecendo essa cultura tradicional paulista.
P/1 – A gente ta filmando, não a gente pausou.
(risos)
P/1 – Igor, a gente tava falando do Revelando São Paulo. Você participou da produção, né? Qual foi, como foi esse ano, conta para gente aí como foi você lá, Este dia, a programação.
R – Então, recebemos a programação dias antes, para a gente ir organizando as planilhas, porque a gente recebe muita coisa também da Abaçaí, que é a produtora do Revelando. Aqui em Iguape, a gente trabalha com a Abaçaí Cultura e Arte e com a produção daqui de Iguape. A produção aqui tem as pessoas que produzem, junto ao Departamento de Cultura e Eventos, e os auxiliares de produção, que é o pessoal que dá assistência às pessoas que trabalham na culinária, às pessoas que trabalham no artesanato, tem o pessoal que faz a limpeza de todo o recinto, porque o Revelando São Paulo, uma das coisas que é falado em todos os Revelandos, é que lixo e beleza não combinam. Então, a gente tem que zelar por isso, sempre olhando, sempre vendo, o pessoal da limpeza sempre organizado, sempre procurando, aonde que pode ter lixo, “ah, olha ali tem tal latão”, essa preparação, para quem é produtor, essa preparação é a questão do palco.
P/1 – Vem pronta, a programação?
R – A programação é feita pela Abaçaí.
P/1 –Te dão a programação, você entra em contato com os grupos?
R – É, a gente desmembra essa programação e setoriza. Por exemplo, tantas pessoas que vão ficar na recepção de grupos, tantas pessoas vão ficar no palco, tantas pessoas vão atender a culinária, tantas pessoas vão atender o artesanato, tem o pessoal que trabalha na cozinha, porque todos os grupos que vêm, eles recebem o tíquete de alimentação, eles vêm aqui, almoçam,
recebem lanche, jantam. Então, é assim, os grupos que vêm, a gente tem que estar totalmente preparado para receber esses grupos. Tem grupos que viajam durante 9 horas para chegar aqui, a apresentação deles dura 20 minutos, então a questão do produtor é essa. A gente prepara as pessoas que vão lidar com o público, para confortar essas pessoas, para que o Revelando seja a casa deles, seja ali a apresentação deles, “ah, eu to em casa, eu tenho que estar bem”. O Revelando São Paulo é uma grande família, a gente fala, porque as coisas acontecem, imprevistos acontecem, mas a gente tem que estar sempre zelando pela programação, sempre zelando pelas pessoas para que estejam de forma confortável aqui no evento. E o Revelando é marcado pela chegada da Nossa Senhora Aparecida. É uma imagem que é do santuário de Aparecida, lá de Aparecida mesmo, ela vem e passa pelas cidades que participam do Revelando. Por exemplo, aqui em Iguape, é o Vale do Ribeira e algumas cidades do interior de São Paulo; então, ela vai e tem esse roteiro. O inicio do Revelando é marcado pela chegada dela; então ela chega, normalmente aqui em Iguape por barco, vem da cidade de Ilha Comprida, que é próxima daqui, é recebida e ela passa pela cidade quase inteira e chega ao recinto do Centro de Eventos, onde dali em diante tem a solenidade e começa o Revelando São Paulo. Isso vai repetir em todas as cidades que acontece o Revelando. Esse ano em São José dos Campos que foi diferente, porque é o 10º Revelando São Paulo em São José dos Campos, então foram 10 dias; no 3º dia que a imagem chegou, mas ela segue toda uma programação, igual aqui em Iguape. Ela fica, visita as comunidades aqui de Iguape, então é uma forma. Eles falam que o Revelando é um incentivo da paz, porque a gente recebe pessoas de religiões diferentes, pessoas
do islã, pessoas umbandistas, tem os indígenas, você vai, tem os muçulmanos, os harecrishinas, você consegue conciliar todas as religiões em um evento onde pode-se ver que o catolicismo prevalece. Porque
ele é marcado pela chegada de Nossa Senhora. Existem roteiros, existem programações girando em torno disso, São João, noite de São João. Aqui em Iguape a gente faz a fogueira, tem a procissão do fogaréu, onde é usado um estandarte pintado em mil oitocentos e pouco, sabe, você vai mexer com as Coroas do Divino, com a Festa do Divino, e ao mesmo tempo você vai lidar com um público que não é católico, e tudo isso acontecendo, isso que é pregado: a questão da paz, porque o Revelando São Paulo, em São Paulo, é marcado, o primeiro dia, no Revelando São Paulo Capital é estendida a bandeira da paz, onde, em 2009, todos os representantes de todas as igrejas, de todas as religiões, se uniram em um grande ritual, receberam a Nossa Senhora e todos estavam juntos de mãos dadas, para ser feito esse ritual. Então isso é Revelando São Paulo, a união de todos os grupos, de todas as raças, de todas as religiões num evento só.
(Pausa)
P/1 – Igor, só pra entender, então esse Revelando tem uma relação com a sua organização católica, por exemplo? E com ONGs que ajudam, mais a Secretaria, mais a Prefeitura..
R – Então, é assim, o Revelando é feito pela Abaçaí Cultura e Arte, pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e pela produção do Município de Iguape. Esse ano, desde o ano passado, o IPHAN também vem colaborando, tem algumas fundações que trabalham junto, mas mais com a questão de organização. A questão de produção é a Abaçaí junto com o Revelando São Paulo, com a produção daqui de Iguape.
P/1 – Igor, essa entrevista aqui a gente vai vendo a sua relação com o trabalho, a sua relação com a cidade. E em relação à natureza, Igor, como é que você se relaciona aqui. É um lugar muito privilegiado nesse sentido. Como que você se relaciona com a natureza aqui do entorno?
R – Então, eu nunca tive muito costume assim de fazer trilhas, fiz poucas vezes, fiz acho umas 3 ou 4 vezes, mas a questão da natureza, sou muito assim admirador. Às vezes eu saio, quando, às vezes, quando eu tenho tempo de sair , dar uma volta, próximo à orla, ver a questão do manguezal, ou, às vezes, quando eu vou tocar, na Juréia, que é aqui, você vai passar pela Icapara, você vai ver toda a questão do morro, você chegar lá, tem a praia, então é assim, eu sou mais um observador. Observador e admirador, mas, assim, não sou muito de ir no mato, assim de “vou pegar alguma”, “ah, vamos lá”, não sou muito fã disso.
P/1 – Me fala: e toda essa discussão sobre posse de terra, criação do Parque da Reserva, como é que isso chega em você ou na sua família, ou nos seus amigos, o que que o pessoal discute sobre isso?
R – Então, aqui, sim, no meu posicionamento, eu acho certo essa questão da preservação da área ambiental, ser protegida, tal. Aqui em Iguape, teve a questão das terras devolutas. Teve um tempo, um juiz deu tudo terra devoluta; então, é tudo meio terra sem dono. Aqui em Iguape houve um tempo que era assim, mas agora já tem, depois de muito tempo, já, hoje já tem, seus donos. Mas essa questão da Reserva Ambiental, sou a favor da fiscalização, às vezes as pessoas só veem “ah, é a Reserva, estou próximo à Reserva, dentro da Reserva”, mas a gente mesmo, tando numa área próxima a áreas de preservação, muitas vezes a gente não vai para fiscalizar, a gente só vai pra falar que a gente esta dentro ou que a gente faz parte, mas acho que se a gente está dentro e faz parte, temos o dever e a obrigação de fiscalizar, e as pessoas se esquecem de fazer isso.
P/1 – Mas isso ta na discussão dos amigos, seus amigos discutem isso? É uma coisa que o iguapense discute, essa relação da Reserva ou com a cidade ou como melhorar isto?
R – Então, isso afeta às vezes as discussões, porque, como aqui existem as leis, para questão de pescaria, também mesmo para
a questão ambiental, é um tema que cai em discussão, um tema que as pessoas, que quem é interessado corre atrás para saber, o que é. Quando cai assim em discussão, normalmente meus amigos, a gente conversa bastante sobre isso, para ter uma articulação, ter uma opinião própria também, que não adianta a gente ver as coisas só por fora, a gente tem que conhecer mesmo, a gente procura se informar, para se, um dia se for preciso, a gente estar a par de todas as informações.
P/1 – Você participou de alguma coisa em relação a isso? Alguma movimentação, assembleia?
R – Não. Nunca participei, agora que eu tenho esse maior envolvimento junto à prefeitura, então, agora que eu estou começando, sempre fui meio curioso na da questão de cultura, de arquitetura, de meio ambiente, mas nunca participei muito ativamente.
P/1 – Você imagina aqui na cidade daqui a uns 10 anos?
R – Bom, eu penso igual o pessoal fala, vai estar no mesmo, as características dela, não vão deixar, essa questão do acolhimento, do povo, a questão dos casarões, acho que isso, devido à influencia do IPHAN, da CONDEPHAT, dos trabalhos que a prefeitura tem feito, acho que isso tem cada vez mais a melhorar. E a cidade, ela vai continuar com as mesmas características. Eu penso que, se eu for embora e voltar, eu vou ver Iguape do mesmo jeito. Mas, assim, do mesmo jeito da questão histórica, cultural, das raízes que tem a questão de que se um dia aqui vai ter mesmo, como é cogitado de empresas, de fábricas, acho que isso pode até acontecer, mas isso eu ainda não consigo enxergar, Iguape com todo esse, toda essa questão.
P/1 – Você tocou nessa coisa das raízes, qual que é essa identidade do iguapense? Qual a identidade iguapense? Como ele é?
R – Então, foi como eu falei, o iguapense é o faz tudo, às vezes tem alguns que têm tempo ruim: “ah, vamos fazer?”, “ah, não tenho tempo, não estou a fim, não quero, não posso”, mas o iguapense é uma pessoa que ele vai topar os desafios, se for preciso ele vai correr atrás, eu vejo o iguapense assim. Sim, tem as suas minorias, que só sabem querer falar mal, só querem criticar, mas, se você quiser se afundar, aí é pior, você tem que ver, eu vejo, eu, como iguapense, eu vejo assim, o que eu puder ajudar, eu vou estar pronto para ajudar, e muitos iguapenses pensam como eu, é assim que eu penso.
P/1 – E esse fato de você pensar que daqui a 10 anos vai encontrar igual, isso você acha interessante, positivo ou você gostaria de ver transformações?
R – Então, é como eu falei, daqui a 10 anos provavelmente a questão cultural e das raízes, isso provavelmente eu vou ver da forma igual, a questão da preservação dos casarões, da preservação ambiental, da cultura caiçara, da influência, da culinária. Então acho que isso vai continuar igual, mas eu não consigo ver Iguape como uma cidade que vai, assim, uma cidade que se sustenta por empresas que trabalham aqui, por fábricas que forem abertas. Eu acho que, se um dia for embora e voltar daqui a 10 anos, eu não vou encontrar isso. Eu vou ver Iguape com mais ou menos a mesma cara, com seu desenvolvimento através do turismo, através da religião, cada vez melhorando mais, que é isso que tem e que provavelmente vai acontecer.
P/1 – Tem alguma coisa que a gente não perguntou, que você gostaria de comentar, alguma história que você viveu, com relação aos seus trabalhos, com relação à cidade, tem alguma coisa que você gostaria de?
R – Não, acho que falei até demais.
P/1 – Está certo. O que você achou de contar um pouco assim?
R – Achei bom, porque é difícil a gente ter essa questão de você chegar e falar sobre a vida, sobre a questão cultural, sobre a vida do caiçara, tanto que, quando você pergunta, a gente fica meio assim, porque não é um, a gente ver é fácil, a gente comentar é que é difícil, da questão do jeito do caiçara, mas achei bom, sim.
P/1 – Então, pessoal, alguma pergunta? Então, Igor, em nome da equipe, eu gostaria de agradecer a disponibilidade, esse tempo para gente. Obrigado.
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R - De nada, tamo aí.
FIM
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